@jrvicenteTN: Sobre o futuro das revistas

Tempo de leitura: 3 min

O FUTURO DAS REVISTAS:

Para onde vai a Editora Abril?

Por Luciano Martins Costa, edição 659, para o programa radiofônico do OI, Observatório da Imprensa

14/9/2011

sugerido pelo @jrvicenteTN, via twitter

Movimentações recentes no comando da Editora Abril, como a contratação do banqueiro Fabio Barbosa para a presidência do grupo, e a compra, pela família Civita, do complexo de cursos e publicações Anglo Latino, têm estimulado suspeitas de que o grupo estaria se preparando para desidratar o setor de revistas.

Consolidada a aquisição do Anglo, por R$ 600 milhões, acertada em meados de 2010, o negócio ainda causa curiosidade entre especialistas, como deixou escapar na terça-feira (13/9) um experiente professor da Fundação Getulio Vargas.

Afinal, para que a Editora Abril iria querer um sistema educacional que é na verdade uma franquia que oferece cursos e vende apostilas?

Em primeiro lugar, não se trata de um negócio da Abril, mas da família Civita. Perspectivas pouco animadoras quanto aos sucessores de Roberto Civita teriam convencido o controlador do grupo editorial a investir em educação, um negócio muito mais promissor do que o de revistas.

Segundo mostrou o recente encontro da associação do setor, a ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas), o cenário vai levar a mudanças radicais na organização das editoras, com uma provável fragmentação dos grupos de interesse, o chamado público das revistas.

A pulverização dos títulos, induzida pela necessidade de buscar recursos em nichos cada vez mais específicos, tem aumentado perigosamente a complexidade da gestão do grupo Abril.

Os esforços para a qualificação de editores em técnicas de administração não têm dado resultados, simplesmente porque jornalistas, em geral, não são preparados para outra coisa que não jornalismo.

Jornalistas que atuaram em outros setores da economia, em cargos de diretoria, sabem o abismo que separa seus colegas editores dos executivos oriundos das áreas financeira, industrial ou de serviços.

Sem um herdeiro que possa ser qualificado como gênio, e sem ter tido a sorte de ser, ele mesmo, um clone do pai, o patriarca Victor, Roberto Civita tem poucas garantias de ver prosperar ou mesmo permanecer sua complicada rede de publicações.

Mas as revistas estão acabando?

Não exatamente. Mas as mudanças que estão ocorrendo no setor vão se acelerar de uma forma jamais vista antes no mercado. Títulos tradicionais vão desaparecer subitamente, e certos temas serão quase exclusivamente lidos em plataformas digitais.

Na rota do Titanic

Volta, então, a pergunta que foi feita aqui na última terça-feira: o que o banqueiro Fábio Barbosa foi fazer na Editora Abril?

Ele já declarou aos editores que nada sabe do negócio de revistas. Mas Barbosa e Civita sabem que isso não tem a menor importância, porque ele não está na Abril para salvar as publicações – ele virou presidente do grupo para salvar o capital da família Civita.

No encontro em que foi apresentado aos editores do grupo Abril, Barbosa disse que, como não conhece o setor, talvez seja capaz de fazer perguntas que os jornalistas já esqueceram.

Bobagem: para fazer seu serviço, ele não precisa saber o que é uma boa pauta. Ele vai fazer o que é sua especialidade: obter o máximo de resultado financeiro no que resta de vida a alguns produtos, preparar a abertura de capital do outro negócio – o de educação – e observar a lona do circo de revistas murchar.

Roberto Civita já colecionou grandes feitos em sua carreira de executivo-empresário: perdeu a TVA, vendida para a Telefonica, viu o Brasil Online ser absorvido pelo UOL e estimulou a transformação da revista Veja, que já foi um dos principais patrimônios da imprensa brasileira, em um título Murdoch.

A Abril vive de um punhado de revistas sem qualquer relevância, a maioria voltada para assuntos de menor importância para as necessidades estratégicas de uma empresa do seu porte. As revistas de negócios, que já tiveram grande influência, foram transformadas em manuais de auto-ajuda para gerentes e são consideradas um dos elos mais frágeis do sistema de publicações de papel – porque os jovens executivos preferem se informar em seus aparelhos digitais e têm acesso a dezenas de alternativas setoriais no formato tradicional, como as revistas customizadas e as publicações de nicho.

Do conjunto de bravos e esforçados editores não saem ideias inovadoras capazes de criar novos títulos, simplesmente porque a empresa matou, ao longo dos últimos anos, a cultura de inovação.

A homogeneidade das redações desestimula a competição criativa, acomoda os profissionais, gera vícios na produção dos textos e no desenho das páginas, como pode observar qualquer leitor atento de revistas.

Não há gênio humano capaz de conduzir a bom porto um transatlântico como o grupo Abril.

Leia também:

Laurindo Lalo Leal: Internet assusta os poderosos

Ignacio Ramonet: Nasce uma nova era na mídia

Novas mídias tem Casa Grande e Senzala

Maurício Machado: A outra jabuticaba que o Brasil inventou


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Joe

Será isso uma luz no fim do túnel???
Será que a "desidratação" não está ligada a venda das operações da Dinap no Rio e em SP, por exigência do Cade. Como ter lucro sem a distribuidora????Como controlar o IVC (Intituto verificador de Circulação?)
A mercado editorial é terrível, poucos se salvam. Ninguém quer pagar nada( salários, jobs e etc), só tem estagiário nas redações, fique feliz se conseguir receber o piso.
Por falar em piso, por onde anda o sindicato dos jornalistas??? A Falha de SP tem inúmeros ""Freelas" fixos, irregularidades trabalhistas aos montes.
Cade o sindicato e suas ridículas multas????
O negócio é ótimo, vc abre uma editora pega um monte de estagiário, paga metade do piso de jornalista, para fazer ótimas matérias releases ou google. E depois de uns oito anos ( talvez) o sindicato passe lá para dar uma multinha qualquer….
Estranho, que com toda a discução sobre a regulamentação da mídia, ninguém fale sobre o monopólio da Dinap na distribuição de revistas no pais. Como só existe uma distribuidora no país inteiro???? ( tem algumas pequenas, mas que só atingem as bancas de grandes centros, tipo Paulista(Av), aeroportos e etc.
Difícil viu…..

NilvaSader

O PROJETO POTIRON/EDUCAP

convida para
MESA DE DEBATE:

“JORNALISMO E FORMAÇÃO DA PAUTA NA BAIXADA SANTISTA”
com KÁTIA FIGUEIRA, CARLOS RATTON FERREIRA e LINCOLN CHAVES

PÚBLICO-ALVO: vestibulandos, universitários e profissionais das áreas de JORNALISMO, COMUNICAÇÃO e demais interessados em PLURALISMO e LIBERDADE CIVIS

LOCAL: Paróq. N. Sra. Aparecida – Santos / SP
av. Afonso Pena, 614, em frente à praça Senador Corrêa

DIA: 16 de SETEMBRO de 2011, sexta-feira HORA: 19h30

ENTRADA FRANCA

PALESTRANTE: KÁTIA FIGUEIRA
Membro do Coletivo Estadual dos Blogueiros Progressistas de São Paulo, é líder comunitária e ativista digital há mais de dez anos. Também é palestrante sobre formação política em diversos fóruns, debates, cursos e oficinas, para empresas e políticos. Entre em contato com a rede de blogueiros pelo: &lt ;http://encontrosp.blogspot.com/>.

PALESTRANTE: CARLOS RATTON FERREIRA
Diretor do Sindicato dos jornalistas profissionais de Santos e Vale do Ribeira, é jornalista diplomado, árduo defensor dos direitos da categoria na região. Mantém o diário-eletrônico &lt ;http://arquivorbaixada.blogspot.com/>.

PALESTRANTE: LINCOLN CHAVES
Repórter do jornal BoqNews, colaborador das páginas-eletrônicas Trivela (na coluna sobre futebol português), Olheiros.net e da revista Placar. Formado em Jornalismo pela UniSanta, é pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte pela FMU/SP.

ALEX

Olha só como as coisas funcionam nos bastidores do PIG: http://blogdobemvindo.blogspot.com/2011/09/sucess

Deixe seu comentário

Leia também