Jeferson Miola: Simples assim, Lula manda e as Forças Armadas obedecem

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Lula, em ato público realizado em Maceió (AL), no dia 17 de junho de junho de 2022. Foto: Ricardo Stuckert

Simples assim, Lula manda e as Forças Armadas obedecem

Por Jeferson Miola, em seu blog

A expectativa a respeito da escolha do ministro da Defesa e dos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica está no mesmo nível da ansiedade – e da histeria – do mercado financeiro acerca da definição dos ministros da área econômica.

Na montagem do governo Lula I [2003/2006], a definição do ministro da Defesa transcorreu com naturalidade; sem sobressaltos. O anúncio do titular da Pasta, embaixador José Viegas, somente aconteceu em 23 de dezembro de 2002, no último lote de anúncios do ministério.

No contexto brasileiro atual, contudo, a questão militar e a gestão econômica são os dois assuntos mais sensíveis do processo de transição do governo eleito.

Lula organiza e monta seu terceiro governo flanqueado, por um lado, pelas cúpulas militares; e, por outro lado, por setores poderosos do capital. E é, ainda, restringido pelo esquema corrupto do orçamento secreto do Congresso Nacional.

A histeria do mercado em relação à política econômica do governo Lula III tem forte caráter especulativo.

Não deixa de ser hipócrita a gritaria dos ventríloquos do mercado com o futuro econômico do país diante do desastre legado pelo governo militar de Bolsonaro, que deixa as finanças do país em ruínas, a economia devastada e uma realidade de emergência social e humanitária.

No fundo, “deus-mercado” sabe que Lula conduzirá a economia e as finanças do país com competência e equilíbrio, mas mesmo assim aperta a chantagem para barganhar o aumento dos seus privilégios fiscais-orçamentários e avançar nos interesses estratégicos do capital.

A relação governo-mercado será de tensão permanente e de disputa aberta pela apropriação privada dos fundos públicos.

O mercado não dará trégua ao governo, sobretudo depois do “costume” adquirido a partir do golpe de 2016, que propiciou um padrão pornográfico de ganhos, exploração e acumulação de capital.

A questão militar, porém, deverá ser tão ou mais crítica e decisiva para a governabilidade do governo Lula quanto a pressão econômica.

O enfrentamento adequado da problemática militar, por isso, será vital para a própria sobrevivência da democracia e para a preservação do poder e da institucionalidade civil.

Ficou evidente até para observadores mais incrédulos que as cúpulas militares acalentam um projeto de poder militar que guarda contradições insolúveis com a democracia.

A contestação do resultado das urnas e o estímulo a que hordas fascistas, integradas por oficiais da reserva e, inclusive, por militares da ativa, promovam atos antidemocráticos e criminosos nas áreas de administração militar, é um atestado inequívoco da participação das Forças Armadas na gestação do ambiente de baderna e caos no país.

O comunicado ilegal de 11 de novembro e a ameaça de abandonarem os postos de comando para não baterem continência a Lula, que a partir de 1º de janeiro de 2023 será o comandante supremo das Forças Armadas, confirmam a perspectiva conspirativa e golpista dos atuais comandantes militares.

Uma disputa decisiva está sendo travada neste momento na transição do governo.

Os militares tentam emplacar o ministro da Defesa e os comandantes do seu agrado para continuarem exercendo a tutela da democracia e um delirante “Poder Moderador”. Como servidores públicos fardados, os militares arvoram para si prerrogativas incompatíveis com regimes democráticos civis.

Seria um equívoco fatal o governo eleito escolher um ministro da Defesa que o general e vice-presidente Hamilton Mourão e quejandos consideram alguém “muito bem visto pelas Forças Armadas”.

O governo Lula não foi eleito para materializar planos de um oficialato conspirador e golpista.

O Brasil espera que Lula nomeie para o ministério da Defesa um ministro que lidere o esforço de despolitização, despartidarização, profissionalização e modernização das Forças Armadas para que o país possa contar com uma defesa eficaz ante qualquer agressão estrangeira.

Não está em consideração se os militares aprovam ou reprovam as decisões e escolhas do governo que será empossado. Não está em debate se eles gostam ou desgostam de tais escolhas.

Como servidores públicos, os militares têm apenas duas opções: ou obedecer, ou então obedecer e cumprir as decisões do governo que assume o comando do país. Ponto.

Aos militares cabe unicamente observar o princípio da hierarquia e disciplina.

Como já nos ensinou o famoso “general da Morte”, é muito simples: “um manda e outro obedece”. É assim mesmo: há quem comanda, e há quem é comandado.

Os comandantes comandam e os comandados obedecem aos comandos dos comandantes; cumprem as ordens de superiores hierárquicos.

Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica comandam as respectivas tropas. E quem comanda os comandantes das três Forças é o comandante supremo das Forças Armadas, ou seja, o presidente da República, conforme estabelece o inciso XIII do artigo 84 da Constituição brasileira, que os nomeia.

Lula foi eleito pela soberania popular para exercer o comando supremo das Forças Armadas do Brasil.

Seria absolutamente impróprio e ilegítimo Lula ter de se submeter a imposições ou a condicionalidades absurdas, interpostas pelos militares.

As escolhas do Lula na questão militar definirão não somente a viabilidade futura do governo que assume em 1º de janeiro, mas a sobrevivência da democracia e do regime civil.

Lula é privilegiado, pois tem à mão alternativas importantes para o ministério da Defesa, como o ex-ministro do STF e da Defesa Nelson Jobim, o professor e especialista em questões militares Manuel Domingos Neto, o senador eleito Flávio Dino, dentre outros.

A única alternativa que Lula jamais deverá adotar é aquela que traduz o interesse das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.

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Comentários

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Zé Maria

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Juiz de Direito da 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu (PR)
recebe Denúncia do Ministério Público e determina
que Assassino de Petista será julgado por Júri Popular.
[Fonte: Chico Alves/UOL]
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-Perseguição ou Vingança Contra Bolsonarista?
-Não. É só o Exercício Constitucional do “Devido
Processo Legal” no “Estado Democrático de Direito”.
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abelardo

Eu votei em Lula, em todas as suas candidaturas a presidência da república. Nunca deixei de votar, nunca deixei de propagar sua candidatura, nunca deixei de defender Lula e nunca deixei de debater, em todas as oposições que os contrários a Lula me criticaram. Não acredito e tenho certeza de que Lula não se submeterá a qualquer capricho ou ameaça, de quem quer que seja. Lula é e sempre será o guerreiro, o combatente e o líder do povo. Ainda assim, vale lembrar, entre outras razões, que eu e milhões de eleitores e admiradores de Lula confiamos que ele não dará ouvidos aos derrotados, que querem defender seus jabaculês usando a velha tática de forçar a barra, para querer influir nas escolhas dos ministérios do governo Lula. Contudo, se o inacreditável viesse acontecer em algum momento de seu governo e Lula fraquejar e nos decepcionar, da minha parte estará encerrada a imensa admiração que tenho por ele. Nós, eleitores fiéis e dedicados, tivemos nos últimos 6 anos muitas lutas intensas e desgastantes, porque sabemos que ele nos representa, como sempre representou, desde os tempos em que era o nosso líder sindical. A garantia da governabilidade quem faz é a autoridade do presidente e das forças institucionais da constituição republicana. Não aceitem cair o canto da sereia que lhe fazem, caso contrário eles o farão sair pela porta dos fundos, sem dó e sem piedade. Estamos juntos, companheiro Lula, e nenhuma mão será largada em mais uma caminhada para a glória.

Zé Maria

“O artigo 286 do Código Penal [*] determina ser crime a incitação
a um golpe militar.
Além dos malucos nas portas dos quartéis, Malafaia gravou vídeo ontem defendendo exatamente isso.
E agora, Zambelli, que já deveria ter sido presa por seu crime
na véspera da eleição, faz o mesmo.”
https://twitter.com/PabloVillaca/status/1598068739811217408

“Quando uma lei é continuamente desrespeitada
sem que haja consequências para os criminosos,
esta leniência por si só é incentivo para que a
prática se torne hábito.
E nestes casos não há nem necessidade de
interpretação;
Zambelli e Malafaia pediram LITERALMENTE
um golpe militar.”
https://twitter.com/PabloVillaca/status/1598069186127097856

“Não é possível que o país [a Imprensa]
siga com aparência de normalidade
quando há uma extrema-direita
assumidamente pregando golpe
militar porque perdeu a eleição.
Não interessa se será atendidoa em
seus desvarios criminosos ou não (não);
é FUNDAMENTAL punir quem prega
ruptura democrática.”
https://twitter.com/PabloVillaca/status/1598069952447418368

[*] https://www.legjur.com/legislacao/art/dcl_00028481940-286
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14197.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm

FASCISTAS , RACISTAS,
NÃO PASSARÃO!
CADEIA NELES!

Zé Maria

A esta altura dos acontecimentos, é mais importante saber quem vai
ser o Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência.

É de lá de dentro que estão vindo as Ordens para o Golpe contra Lula.
Tem que limpar aquele Monturo que está Cheio de Milicos Golpistas.

    Zé Maria

    E parece que o ex-General que Chefia o GSI
    não quer deixar o Gabinete em 1º de Janeiro.
    E continua insuflando a Massa Amorfa dos QGs.

    Zé Maria

    .

    Primeiro-Sargento da Marinha,
    que fez Ameaças de Morte [“a
    qualquer um que fizesse o ‘L’,”]
    trabalha na Divisão Administrativa
    do Gabinete de Augusto Heleno (AH),
    ex-General, atual Chefe do GSI.

    “O General [AH] sabe que eu tô aqui
    [em frente ao QGEx em Brasília]
    e eu falei que tem bastante gente,
    tem gente da Segurança e tudo.” [!!!]

    “Quem faz o ‘L’ é tiro na cabeça.
    Não estou falando isso de
    brincadeirinha não. É sério,
    meu irmão. Quem faz o ‘L’
    é terrorista. Tem que morrer
    mesmo, ou mudar ou morrer,
    porque não tem jeito uma
    pessoa dessa.”

    “Tem um monte de colega omisso.
    Tem gente aqui nesse grupo,
    tem grupo de fora; meu prédio
    tem 17 moradores, dos 17, seis
    fazem o ‘L’. Nós precisamos saber
    quem é quem, porque a guerra
    civil [o Genocídio] vai rolar.”

    [Reportagem:
    Fabio Serapião
    Marianna Holanda
    Matheus Teixeira]

    Detalhe:
    Uma das Atribuições do GSI
    é realizar a Segurança do
    Presidente da República.

    .

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