Jeferson Miola: O fascismo que habita o Brasil

Tempo de leitura: 3 min

O fascismo que habita o Brasil

Por Jeferson Miola, em seu blog 

A vitória épica do Lula em 30 de outubro não extirpou o fascismo que habita o Brasil.

Seria muito ingênuo, aliás, se esperar alguma solução mágica e instantânea para desafio tão complexo e de raízes históricas profundas.

O fascismo habita o Brasil desde tempos longínquos; encontrou terreno fértil e se entranhou com facilidade por meio duma elite racista, escravocrata, patriarcal e truculenta como a brasileira.

Em momentos como o atual, de agudo conflito distributivo, a saída capitalista “drástica” com o fascismo é sempre uma “tentação” cogitada por uma oligarquia dominante pouco afeita à democracia, mas muito apegada ao desejo indomável e pornográfico de acumulação – que o diga o celeuma em torno da PEC do Bolsa Família.

Isso explica porque setores do grande capital, beneficiários da pilhagem fascio-bolsonarista, só tardiamente decidiram embarcar na “Arca de Noé” da democracia simbolizada na candidatura Lula/Alckmin.

Lula, o petismo e a esquerda equivalem ao judeu, ao cigano, ao comunista e ao gay da Alemanha nazista dos anos 1930; são os inimigos que precisam ser exterminados.

Os fascistas que barbarizam o país já estavam entre nós; pré-existiam de modo latente muito antes de assumirem essa forma orgânica e militante atual, agressiva e radicalizada.

Os fascistas já estavam aqui há muito tempo, não são seres extraterrestres; eles frequentam e dividem conosco o mesmo meio social, familiar, escolar e profissional.

O fascismo está profundamente entranhado na sociedade brasileira. E tem agentes infiltrados nas instituições de Estado – PGR, MP’s, PF, PRF, polícias militares, Forças Armadas, judiciário, universidades federais etc.

Moro e Dallagnol, assim como outros juízes, procuradores, policiais, fiscais e desembargadores, são exemplos notórios da atuação militante de agentes fascistas que instrumentalizam seus cargos públicos para imporem o projeto de poder da extrema-direita.

Bolsonaro é um vetor do fascismo; ele deu vez, voz e representação aos ressentidos e rancorosos.

Ao “abrir a tampa da cloaca”, Bolsonaro liberou na arena pública essa energia até então contida no subterrâneo das plataformas digitais. Ainda não se conhece fórmula fácil para se devolver a pasta de dente de volta no tubo.

O bolsonarismo, facção fascista hegemônica no Brasil, tem um líder carismático, miliciano, militarista, ligado ao fanatismo religioso e conta com a adesão de amplas massas populares, não apenas de setores médios.

Nas últimas semanas recrudesceu a violência fascista contra eleitores, apoiadores do Lula e contra jornalistas, artistas, políticos, juízes e ministros do TSE e STF que não endossam as práticas antidemocráticas e criminosas das hordas fascistas.

Passaram a pipocar, também, ações de bolsonaristas armados, que prefiguram a formação de milícias fascistas.

Enquanto essas atrocidades fascistas não forem exemplarmente punidas com base na Lei e seus perpetradores não forem presos, o vandalismo e a violência fascistas deverão escalar degraus.

A partir de 1º de janeiro o bolsonarismo já não mais poderá dispor da máquina poderosa de governo pela qual avançavam a construção de um projeto de poder reacionário, arcaico e autoritário, na perspectiva de uma contrarrevolução fascista.

Esta é uma grande notícia para a sobrevivência da cambaleante democracia brasileira. Caso o governo militar fosse reeleito, o Brasil já estaria mergulhado nas trevas.

É previsível que, desde a vitória do Lula, Bolsonaro tenha se descapitalizado politicamente.

Os eventos de violência e de terror fascista protagonizados pelas hordas bolsonaristas devem ter afugentado uma parcela significativa dos 58 milhões de eleitores não-bolsonaristas [muitos deles antipetistas] que votaram em Bolsonaro.

Ainda assim, no entanto, o bolsonarismo continua sendo a principal facção da extrema-direita brasileira e, também, um elo de importância estratégica na engrenagem extremista e fascista internacional.

A capacidade de liderança do Bolsonaro no próximo período dependerá, porém, da superação de inúmeros percalços que ele enfrentará na esfera criminal.

Independente disso, contudo, o bolsonarismo deverá fazer uma oposição combativa e destrutiva ao governo Lula/Alckmin.

O fascismo continua vivo, engajado, combativo, armado e afrontando o Estado de Direito.

O empenho para a contenção do fascismo será uma tarefa permanente, que demandará anos de esforço coordenado da sociedade brasileira, mais além de um mandato de quatro anos de governo, para a desfascistização do Brasil em moldes semelhantes ao processo de desnazificação empreendido pela Alemanha pós-nazista.

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Roberto Amaral: Qual república queremos?

Vladimir Safatle: Anistia nunca mais


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Comentários

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Zé Maria

Uma Paulada de Realismo do
Jornalista Luiz Carlos Azenha.
Segue o Fio da Meada:
https://twitter.com/luizazenha23/status/1597920893489278979

    Zé Maria

    Inda se a Mídia Local
    fosse Nacional
    E não Estrangeira …

    Zé Maria

    .

    “Golpe de 2016 desmontou o orçamento público federal
    com a lógica do clientelismo e mandonismo no gasto ‘secreto’
    e do coronelismo na desoneração fiscal.
    Só em 2022, 6 partidos dirigiram 81% das emendas do relator [RP9],
    sendo 1/3 dos recursos repassados a apadrinhados de parlamentares.”

    Economista, Professor e Pesquisador MARCIO POCHMANN
    Integrante do GT Economia / Gabinete de Transição / Gov LULA

    .

    Zé Maria

    .

    “O deslocamento do centro econômico dinâmico do mundo
    do Ocidente para o Oriente impacta América Latina e Caribe
    que perdem participação na distribuição dos investimentos
    globais, pois diminuiu de 14%, em 2013, para somente 9%,
    em 2021.
    Urge mudar as economias da rota neoliberal.”

    MARCIO POCHMANN
    GT Economia
    Gabinete de Transição
    Governo LULA (2022)
    https://twitter.com/MarcioPochmann/status/1597911133247410176

    .

Zé Maria

.

“Tenho acompanhado as notícias
acerca do crime de Aracruz
e as angústias só aumentam.
Entre elas, o tratamento do caso
como algo isolado e a associação
mais direta com a saúde mental
ao invés do nazismo.
Fico com a sensação que estamos
nada preparados para enfrentar
tudo isso!”

“A pesquisadora @MichelePradoBa
pontuou em suas redes algumas
questões importantes que reproduzo
partes:”

“Deveriam prestar atenção que esse
atentado de extremismo violento
ideologicamente motivado de
extrema direita trouxe marcadores
que desviam do padrão de outros
do mesmo tipo”

“Traços do crime que a autora chama atenção:
A) foi em 2 escolas, o que indica o objetivo
de obter o que eles chamam de “alta pontuação”.
AP significa o maior número de mortes que
conseguirem causar;
B) não optou por morte em confronto policial
e nem suicídio;
C) voltou pra casa e agiu como se nada tivesse ocorrido;
D) nos marcadores estéticos foi acrescentada a estética
militar; apagou suas pegadas digitais pouco antes do
atentado;” e,
“por fim, em uma subcultura online extremista,
peguei um comentário de um indivíduo que
mencionou algo que indica que ele sabia do
planejamento do atirador com antecedência”.

“A autora reafirma que esse não é um caso isolado!
Fechar os olhos para a complexidade da questão
representa um grande risco!”

CAMILA VALADÃO (PSOL/ES)
Vereadora de Vitória/ES
Deputada Estadual Eleita
https://twitter.com/CamilaValadao50/status/1597628533257695232
https://twitter.com/CamilaValadao50/status/1597628535015100417
https://twitter.com/CamilaValadao50/status/1597628536990597121
https://twitter.com/CamilaValadao50/status/1597628539041640451
https://twitter.com/CamilaValadao50/status/1597628541121998850
https://twitter.com/CamilaValadao50/status/1597628543977934849

https://twitter.com/MichelePradoBa/status/1597584595251531777

.

Nilton Carvalho

As forças armadas brasileiras se tornou um exemplo de vergonha nacional. Infelizmente dão uma demonstração de antidemocracia, covardia e conivência com a bandidagem.
forças armadas brasileiras entra para a história como uma das maiores vergonhas que o mundo já assistiu,

Zé Maria

O NeoFascismo continuará operando no Brasil, com ou sem Bolsolão.
Porque é o Autoritarismo Militar que opera a tese do Inimigo Interno.
Aliás, a Malta Fascista já largou de mão o Bolsolão, assim que perdeu.

https://twitter.com/tesoureiros/status/1596910725691318275

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