Jeferson Miola: Otan só perdura porque é uma arma dos EUA contra Rússia e China para manter seu poder no mundo

Tempo de leitura: 4 min
Apesar de o secretário de Estado dos EUA, James Baker, ter prometido, em 1990, a Mikhail Gorbachev que a OTAN não se expandiria ''nem uma polegada para o Leste", 14 novos países ingressaram na organização a partir de 1997. Eles estão em cor laranja neste mapa: Estônia (1), Letônia (2), Lituânia (3), Polônia (4), República Checa (4), Eslováquia (6), Hungria (7), Romênia (8), Eslovênia (9), Croácia (10), Montenegro (11), Albânia (12), Macedônia do Norte (13) e Albânia (14).

OTAN, que ainda existe porque é útil aos EUA, está na origem da crise

Por Jeferson Miola, em seu blog

A OTAN é um dos tantos esqueletos obsoletos da Guerra Fria que sequer deveria ainda continuar existindo no século 21.

Em termos lógicos e racionais, esta aliança, que é um braço militar dos EUA no Atlântico Norte, deveria ter sido extinta no mesmo instante que o Pacto de Varsóvia desapareceu, em fevereiro de 1991.

A OTAN só continua existindo, entretanto, porque é instrumental e útil aos EUA. Por intermédio desta Organização intercontinental, os EUA concretizam seus interesses estratégicos, aumentam sua influência e domínio territorial no leste da Europa, ameaçam a segurança e a defesa da Rússia e estabelecem um contraponto geopolítico à China.

Não parece curioso que a OTAN, que é integrada pelo Canadá e EUA[1], tenha avançado e incorporado praticamente todo território europeu, com exceções como a Bielorrússia, a Rússia e a Ucrânia?

Se o objetivo da OTAN é expandir ao máximo seus domínios sem incluir a Rússia, significa que um dos propósitos da OTAN é justamente se opor à Rússia.

Os EUA e seus aliados europeus descumpriram as promessas e compromissos de não-expansão territorial da OTAN com o fim da Guerra Fria. Desde 1997 a OTAN incorporou 14 países que antes integravam ou que se desmembraram de outros países do antigo Pacto de Varsóvia.

Dentre estes 14 países, três deles são ex-repúblicas soviéticas, sendo que dois deles, a Estônia e a Letônia, fazem fronteira com a Rússia, como mostra o mapa:

Do ponto de vista geopolítico, geoestratégico e militar, esta mudança no mapa faz muita diferença e alarma a Rússia, como alarmaria qualquer país embretado desta maneira.

Com a dissolução da União Soviética, a Rússia perdeu 5 milhões de quilômetros quadrados e mais da metade da população, cerca de 150 milhões de habitantes. E agora se vê inteiramente flanqueada, à oeste, por um cinturão de países que aderiram à OTAN.

Por isso, seria perfeitamente esperável que a Rússia reagisse a essa mudança da geografia política regional como de fato reagiu. Afinal, é uma potência nuclear que se sente acuada e ameaçada.

Nos últimos anos, a Rússia não só recuperou seu poderio militar, como hoje inclusive possui um arsenal imbatível de mísseis intercontinentais hipersônicos. Por isso, neste enfrentamento com os EUA e aliados europeus, Putin se empenha no exercício do poder dissuasório.

Como ensinou o Conselheiro de segurança dos EUA Zbigniew Brzezinski, a Ucrânia é crucial para a segurança, para a defesa e para o futuro geopolítico da Rússia. Os EUA sabem perfeitamente que a adesão da Ucrânia à OTAN significaria, portanto, a ultrapassagem de uma linha divisória considerada inaceitável por Moscou.

O presidente Joe Biden e os governos europeus desprezaram os apelos russos dos últimos oito anos e o ultimato de Putin em dezembro passado acerca da militarização da Ucrânia e sua integração à OTAN. Ao contrário disso, agiram como se ansiassem pelo conflito e, devido a esta postura, têm responsabilidade pela sua instalação.

Por outro lado, governo ucraniano descumpriu o Protocolo de Minsk, de 2015. Contou nisso com a conivência da União Europeia, que testemunhara a assinatura do referido acordo.

O governo da China tem atuado na crise com a moderação e serenidade que faltam aos EUA e a seus aliados europeus que, ao invés de contribuírem para uma solução negociada para o conflito, apostam na escalada do conflito militar e da guerra, como declarou a presidenta da Comissão Europeia Ursula von der Leyen.

Defendendo a posição de neutralidade da China, o ministro de Relações Exteriores Wang Yi declarou que:

A China afirma que a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas e protegidas e os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas devem ser observados seriamente. Esta posição da China é consistente e clara, e se aplica igualmente à questão da Ucrânia [aqui].

Wang acrescenta que “As preocupações legítimas de segurança de todos os países devem ser respeitadas … [e] as exigências legítimas de segurança da Rússia devem ser levadas a sério e devidamente tratadas”.

O ministro das Relações Exteriores da China ainda lembrou:

Vimos como a OTAN agiu para pressionar a Rússia e destruiu a antiga Iugoslávia no passado. Se não houvesse essas pressões concretas de segurança e os destacamentos militares da OTAN em torno do território russo, Moscou não precisaria realizar operações militares tão arriscadas para responder à ameaça da OTAN.

E, por isso, defende que “a Ucrânia deve funcionar como uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, não como uma fronteira em grande confronto de poder”. Wang clama pelo diálogo para “formar um mecanismo de segurança europeu equilibrado, eficaz e sustentável”.

Ao Global Times, o diretor do Departamento de Estudos Europeus do Instituto de Estudos Internacionais da China Cui Hongjian disse que

Se a crise da Ucrânia for tratada principalmente pela Europa, e não pelos EUA e pela OTAN, talvez uma negociação pacífica já teria sido realizada muito antes de a Rússia perder a paciência e lançar operações militares. Pelo menos, não seria tão ruim como é agora.

A OTAN tenta expandir continuamente seus domínios no leste da Europa porque é uma arma dos EUA para enfrentar a Rússia e a China e conservar seu poder imperial no mundo.

A OTAN, que ainda existe porque é útil aos interesses globais e estratégicos dos EUA, é parte da crise e, em consequência, obstáculo para a superação negociada e equilibrada da mesma.

[1] A Guiana Francesa também integra a OTAN, pois é uma região ultramarina da França – eufemismo chique dos franceses para nominar a colônia que eles, os modernos, civilizados e superiores aos latino-americanos, euroasiáticos e chineses, ainda mantêm em pleno século 21.

Situada no nordeste da América do Sul e fazendo fronteira com o norte do Brasil, do ponto de vista formal a Guiana Francesa pode ser base de arsenal nuclear para eventual intervenção estadunidense e da OTAN no continente.

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Comentários

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Zé Maria

Excerto 2

[A China] defende que “a Ucrânia deve funcionar
como uma ponte entre o Oriente e o Ocidente,
não como uma fronteira em grande confronto
de poder”.

    Zé Maria

    Assim deveria ser, deveras,
    num Mundo Ideal, de Paz.
    No Real não é, pois há
    um País Belicoso: EUA.

    Zé Maria

    https://pbs.twimg.com/card_img/1498767160440668160/lHuzP0MA?format=jpg&name=small
    https://pbs.twimg.com/card_img/1498719864000757763/gq_UflzH?format=jpg&name=small

    17/01/2022
    Desde 2015, a CIA [EUA] está municiando
    o Terrorismo Neonazista na Ucrânia

    Por Branko Marcetic (no original, em inglês);
    Tradução: Cauê Seignemartin Ameni;
    Em Jacobin

    O governo dos EUA tem um histórico bem documentado de apoio a grupos extremistas como parte de uma panóplia de desventuras na política externa, que inevitavelmente acabam voltando e explodindo na cara do público norte-americano.

    Na década de 1960, a CIA trabalhou com radicais cubanos anti-Fidel Castro que transformaram Miami em um centro de violência terrorista.

    Na década de 1980, a agência apoiou e encorajou os radicais islâmicos no Afeganistão, que iriam orquestrar o ataque de 11 de setembro anos depois [em 2001].

    E, na década de 2010, Washington apoiou os rebeldes não tão “moderados” da Síria que acabaram causando uma série de atrocidades entre civis e forças curdas que deveriam ser aliados dos EUA na região.

    Com base em um novo relatório, parece que em breve poderemos adicionar outro conluio a essa lista de lições fatalmente não aprendidas: neonazistas ucranianos.

    De acordo com reportagem recente do Portal Yahoo! News (*), desde 2015, a CIA treina secretamente forças na Ucrânia para servir como “líderes insurgentes”, nas palavras de um ex-oficial de inteligência, caso a Rússia acabe invadindo o país.

    Funcionários atuais estão alegando que o treinamento é puramente para coleta de inteligência, mas o ex-funcionário que falou com o Yahoo! disse que o programa envolvia treinamento em armas de fogo, camuflagem, entre outras práticas paramilitares.

    Dados os fatos, há uma boa chance de que a CIA esteja treinando nazistas, literalmente, como parte desse esforço.

    O ano em que o programa começou, 2015, também foi o mesmo ano em que o Congresso dos EUA aprovou uma lei de gastos que incluía centenas de milhões de dólares em apoio econômico e militar à Ucrânia, que foi expressamente modificado para permitir que esse apoio fluísse para milícias neonazistas no país, como o “Regimento [Pelotão, Batalhão] Azov”.

    De acordo com o The Nation na época, o texto do projeto de lei aprovado em meados daquele ano continha uma emenda explicitamente barrando “armas, treinamento e outras assistências” ao Azov, mas o comitê da Câmara encarregado pelo projeto foi pressionado meses depois pelo Pentágono para remover a frase do texto, dizendo que era falsa e redundante.

    Apesar da sua íntima relação com o nazismo – um ex-comandante afirmou certa vez que a “missão histórica” da Ucrânia é “liderar as
    raças brancas do mundo em uma cruzada final por sua sobrevivência … contra os untermenschen [subhumanos] liderados pelos semitas”
    – o Batalhão de Azov foi incorporado à Guarda Nacional do país em 2014, devido à sua eficácia no combate aos separatistas russos.
    Armas norte-americanas fluíram para a milícia, oficiais militares
    da OTAN e dos EUA foram fotografados se reunindo com eles,
    e membros da milícia falaram sobre seu trabalho com treinadores
    dos EUA e a falta de triagem de antecedentes para eliminar os
    supremacistas brancos.

    Diante de tudo isso, não seria surpreendente que os neonazistas de Azov tenham sido treinados no programa clandestino de insurgência da CIA.
    E já estamos vendo os primeiros sinais de bumerangue da história se repetir.

    “Vários indivíduos de grupos de extrema direita nos Estados Unidos
    e na Europa buscaram ativamente relações com representantes
    da extrema direita na Ucrânia, especificamente a Guarda Nacional
    e sua milícia associada, o Regimento Azov”, afirma um relatório
    de 2020, do Centro de Combate ao Terrorismo da Academia Militar
    dos EUA de West Point.
    “Indivíduos baseados nos EUA falaram ou escreveram sobre como o treinamento disponível na Ucrânia pode ajudá-los em suas atividades paramilitares.”

    Uma declaração do FBI (***) de 2018 afirmou acreditar “que o Azov
    tenha participado de treinamento e radicalização de organizações de
    supremacia branca sediadas nos Estados Unidos”, incluindo membros
    do movimento supremacista branco “Rise Above” que foi processado por ataques planejados contra manifestantes em eventos, incluindo
    o comício “Unite the Right” de Charlottesville.

    Embora pareça que o atirador [Racista] do Massacre da Mesquita
    de Christchurch [na Nova Zelândia] não tenha viajado para a Ucrânia,
    como afirmou, ele claramente se inspirou no movimento de extrema
    direita de lá e usou um símbolo usado por membros do Azov durante
    o ataque.

    (https://www.yahoo.com/news/cia-trained-ukrainian-paramilitaries-may-take-central-role-if-russia-invades-185258008.html)*

    (https://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/ukraine/11025137/Ukraine-crisis-the-neo-Nazi-brigade-fighting-pro-Russian-separatists.html)**

    (https://www.mintpressnews.com/fbi-neo-nazi-militia-trained-by-us-military-in-ukraine-now-training-us-white-supremacists/251687)***

    Íntegra:

    https://jacobin.com.br/2022/01/a-cia-esta-municiando-o-terror-neonazista-na-ucrania/

Zé Maria

Excerto

“Os EUA e seus aliados [comparsas] europeus descumpriram as promessas e compromissos
de não-expansão territorial da OTAN com o
fim da Guerra Fria.
Desde 1997 a OTAN incorporou 14 países que antes
integravam ou que se desmembraram [*] de outros
países do antigo Pacto de Varsóvia [denominada
pela OTAN/EUA de ‘Cortina de Ferro’].
Dentre estes 14 países, três deles [Estônia, Letônia
e Lituânia] são ex-repúblicas soviéticas, sendo que
dois deles, a Estônia e a Letônia, fazem fronteira
com a Rússia.”

* [ Eslovênia, Croácia Macedônia do Norte e Montenegro
integravam a antiga Iugoslávia que fazia fronteira com a Albânia. A antiga Tchecoslováquia se desmembrou em República Tcheca (Chéquia ou Tchéquia) e Eslováquia, e
fazia fronteira com a Alemanha Oriental que foi anexada
pela Alemanha Ocidental – que já era membro da OTAN – (re)unificando Alemanha e, por conseguinte, restabelecendo
a configuração do território alemão de antes da 2ª Guerra.

Da Antiga Iugoslávia, a OTAN ainda está de olho na Bósnia
Herzegovina, na Sérvia e em Kosovo.

E das antigas Repúblicas Soviéticas, só falta para a OTAN
anexar, do Lado Europeu, a Ucrânia, a Moldávia e Belarus (Bielorrússia).

Depois de dominar a Ucrânia e colar as Bases Militares na
Rússia, a anexação dos outros Países será só questão de
tempo para a OTAN fechando assim o cerco na Europa e abrindo caminho para a Ásia pelo Mar Negro.

A partir daí, a OTAN/EUA incorpora as ex-Repúblicas Soviéticas
da Geórgia, da Armênia e do Azerbaijão, instalando
as Bases nas Barbas dos Aiatolás Iranianos, e ainda
leva o Mar Cáspio de Brinde. É moleza ou quer mais? ]

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