Fórum Popular de Saúde de SP repudia internação compulsória

Tempo de leitura: 3 min

Manifesto do Fórum Popular de Saúde de São Paulo

A internação compulsória de usuários de drogas em situação de rua foi instalada no Rio de janeiro e 2011 e, agora, está prevista para acontecer também em São Paulo, a partir do dia 21 de janeiro.

Esclarecemos que a internação compulsória já existia antes, prevista em lei, porém como medida tomada em casos pontuais e específicos, respaldada por ordem judicial, indicada apenas quando a pessoa está pondo em risco sua própria vida ou a de terceiros.

Atentamos para o fato de que o que está sendo feito hoje é diferente, criou-se uma política de massas para a internação generalizada e arbitrária, o que abre precedentes para ações autoritárias que representam um retrocesso na conquista histórica da humanidade por direitos democráticos.

A internação compulsória surge agora como um sequestro a céu aberto da parcela mais pobre da população. Sabemos que não serão os dependentes da classe média, muito menos da classe alta que serão forçados a se internar, o que a caracteriza como uma política claramente higienista.

Esclarecemos também que esta política ignora a particularidade dos indivíduos. Uma internação é indicada somente para dependentes, minoria dentro da população de rua. Pessoas que fazem uso ocasional ou abusivo serão internadas da mesma forma. Uma generalização como essa não é capaz de contribuir para o problema da drogadicção e claramente não é feita com essa intenção.

É sempre mais fácil culpar uma substância do que olhar seriamente para a complexidade causadora e mantenedora da exclusão social de pessoas alijadas de seus direitos básicos. Se a intenção é “cuidar”, por que os planos estatais não incluem garantia do acesso à moradia, trabalho, educação, saúde e cultura?

A “guerra às drogas”, ou nesse caso mais especificamente a “guerra ao crack” – como se fosse possível guerrear contra uma substância e não contra pessoas –, mais uma vez é usada como pretexto para ataques estatais à população pobre, jovem e negra. Quando não considerados criminosos e colocados em reclusão nos cada vez mais lotados presídios, são considerados doentes e isolados em abrigos psiquiátricos ou entidades conhecidas por comunidades terapêuticas, muitas delas suspeitas de promoverem torturas físicas e psicológicas contra os usuários.

Denunciamos o uso do discurso do cuidado para aplicar uma política que não serve aos interesses da maioria da população, mas visa limpar terreno para os lucros de segmentos do empresariado (que futuramente retornarão os favores do governo com doações para suas campanhas eleitorais) sob o falso pretexto da preocupação com a população de rua. Após o suposto tratamento, as pessoas serão jogadas novamente nas ruas, na mesma realidade de antes, sem nenhum apoio, não resolvendo o problema da dependência.

Entendemos também a política da internação compulsória como mais uma das inúmeras formas hoje praticadas de repasse de dinheiro público a entidades privadas, em muitos casos às comunidades terapêuticas, fazendo-o sair do controle e da fiscalização popular.

Declaramos que a população em situação de rua vive para além das drogas, responde sim por si própria, é capaz e deve ter o direito de escolher quando e como fará seu tratamento, devendo, portanto, ser tratada com a mesma dignidade de qualquer outro ser humano.

Essa política governamental não se configura como cuidado, mas como uma violência do Estado à população. Não vamos legitimá-la.

Declaramos total repúdio a políticas repressivas como estas. Não há solução imediata para o problema da dependência. Mas há outras alternativas.

Reivindicamos educação e saúde públicas de qualidade e moradia digna para a população não precisar morar nas ruas. Reivindicamos tratamento público e gratuito humanizado aos dependentes de substâncias psicoativas, por meio de mais investimento na rede de assistência social e saúde, fortalecendo os CAPS e adotando ações de redução de danos como políticas públicas.

Por dignidade à população de rua, nos colocamos também em luta e dizemos não à internação compulsória.

Janeiro de 2013

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Comentários

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igor

Trabalho com internacao involuntaria a 5 anos e isso e otimo
e se alguem tiver alguma duvida sobre a internacao involuntaria e so ligar 019 8311 6385 tim falar com igor

Dr. Rosinha: Patentes, um novo modelo de colonização « Viomundo – O que você não vê na mídia

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Otto

O fato é que os porra-loucas destes “fóruns cidadãos” dispõem de excelentes planos de saúde e clínicas de primeira linha para quando um ente querido dependente necessitar de internação. O discurso da boca pra fora é chamar todo mundo de “fascista” e “higienista” e deixar o povo à míngua, recebendo (quando muito)alguma atenção em doses homeopáticas.

Paulo Kliass: Sistema de saúde precisa inverter prioridades « Viomundo – O que você não vê na mídia

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lulipe

Sempre existirão os “do contra”, que falam, falam,tem os 15 minutos e não apresentam alternativas executáveis.Nas questões de saúde pública e segurança geralmente são aqueles teóricos das salas refrigeradas que vivem em um mundo fictício pouco conhecendo da realidade.O melhor é sempre fazer o contrário do que eles indicam ou pregam!!!

    Lucas

    não apresentam alternativa executável?? Alternativa não executável é esse mundo das fantasias que pretende internar todos os usuários de crack para resolver o problema. Que tal criar do nada mais de 1.000 leitos na cidade de São Paulo. Quantos já temos mesmo?

    Não é nada viável construir aparelhos de saúde pública na cidade, como os CAPS-ad, previstos por LEI e em DEFICIT na cidade de São Paulo. Executável mesmo é ignorar a lei e os investimentos na saúde pública e colocar todo o dinheiro para clínicas privadas que vão torturar religiosamente os usuários e vomitá-los de volta para as ruas e para a miséria, para então voltarem de novo à clínica e fazerem o caixa dessas clínicas girar.

    lulipe

    Se você, caro Lucas, conhecesse o programa em questão, não escreveria tanta bobagem.Desafio você a mostrar onde, no programa,fala-se em internar todo viciado em crack???Só os casos mais graves de dependência química poderão sofrer internação involuntária (com consentimento da família) ou compulsória (sem necessidade de autorização de parentes).É bom que se diga que toda e qualquer internação terá acompanhamento de Juízes, do MP e da OAB.Deixe um pouco de lado o radicalismo ideológico e procure pensar de forma mais abrangente e menos apaixonada!!!

FrancoAtirador

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Simão Bacamarte fazendo escola em SP.

Por Betho, no Boilerdo

O meu temor é que isto vire uma indústria e por trás desta indústria estejam clínicas particulares de saúde mental, que serão as grandes beneficiadas dessas internações forçadas.

Se é para internar pela força, vamos começar pelo próprio governador de São Paulo que se parece com Simão Bacamarte, personagem de O Alienista de Machado de Assis.

Quem garante se daqui algum tempo não teremos internações forçadas por delitos de opinião?

(http://boilerdo.blogspot.com.br/2013/01/simao-bacamarte-fazendo-escola-em-sp.html)
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TEMPORÃO AO 247: “NÃO SE PODE ACEITAR HIGIENISMO”

Sanitarista e ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão entra na polêmica sobre decisão do governador Geraldo Alckmin de autorizar internação compulsória de viciados em crack em São Paulo; “Se for apenas para tirar o problema da vista das pessoas, a medida será inócua e contra os direitos das pessoas”

247 – O sanitarista e ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão se somou aos protestos dos que são contra a autorização, dada pelo governo de São Paulo, para a internação compulsória de viciados em crack. “Isso pode passar a ideia de higienismo, que serve apenas para tirar um problema da vista das pessoas”, disse ele ao 247. “Da maneira como isso está sendo feito, somos contra, apesar de toda a complexidade do problema”. A autorização de internação compulsória foi determinada pelo governado Geraldo Alckmin, do PSDB. Temporão é filiado ao PT.

O ex-ministro não considera suficiente a autorização da família e de médicos para a internação de viciados contra a vontade deles. “Isso é pouco. Acho que o Ministério Público também deveria ser chamado a acompanhar essas internações. O ideal seria a sociedade debater mais, formar um grande foro para tratar essa questão”.

Temporão admite que a solução para a situação dos viciados é bastante complexa. “O crack é um flagelo que assola o País, mas os males causados pelo alcoolismo, por exemplo, são muitos maiores, e deles pouco se fala”. Para Temporão, “há posições respeitáveis dos dois lados dessa questão, a favor e contra internação compulsória, mas nos moldes como está sendo feita em São Paulo desperta a suspeita de higienismo. Não dá para concordar”.

http://www.brasil247.com/pt/247/poder/91255/Tempor%C3%A3o-ao-247-%E2%80%9CN%C3%A3o-se-pode-aceitar-higienismo%E2%80%9D-Tempor%C3%A3o-247-N%C3%A3o-pode-aceitar-higienismo.htm

João Vargas

O manifesto confunde população de rua com os zumbis que se transformaram os comsumidores de crak. Dizer que estas pessoas respodem por si próprias é desconhecer a realidade. Nesta situação elas só respodem ao apelo do vício e fazem qualquer coisa para poder comprá-lo. É uma situação de calamidade pública e o Estado tem obrigação de intervir e achar uma solução. Uma coisa é certa: com discursos como este acima não se resolverá nada.

    angelo

    Sem-teto internado volta pra rua. Continua sem-teto. Continua nada resolvido.

    Sem casa, falar em reinserção social só podem estar de sacanagem.

    Irônico paradoxo: a postura ‘zumbi’ pelo menos chama mais atenção do que a abandono e fome.

    Pra falta de moradia com mínimas condições básicas ninguém esteve nem aí nas últimas décadas. A súplica de Pelé no milésimo gol foi ouvida e ignorada.

    MariaC

    O que foi… foi!

    Mas se quiserem evitar mais crack, é obrigar, com leis aos pais manterem suas crias na escola. ( que seja umaescola de qualidade e dia todo)
    Isso durante todo o ensino básico e médio.( não falo das coisinhas esquisitas chamadas de escolas) E passar o bicho direto para um emprego.( Isso se houver emprego)
    Se o migrante chega e se deita esperando comida, o assistente social tem que estar lá e ( caso raro, pois não deveria haver tantos migrantes)
    catar os poucos e inseri-los nos empregos criados com o dinheiro do FAT. Acabar com a farra de dar didnheiro do BNDS para empresas fazerem farras.

Geysa Guimarães

E o que eles sugerem, deixar tudo como era dantes, no quartel de Abrantes? Sim, porque as proposições apresentadas só serão exequíveis em décadas, se forem!
Ainda que a medida seja de governo tucano, que não seja aplaudida, mas entendida.
Higienista? Frequentemente leio ou converso com mães desesperadas porque não conseguem internar seus dependentes. A internação compulsória vai alcançar os mais pobres, óbvio, o resto tem família em condição de correr atrás.

    Vinicius

    Não sugerem nada, minha cara, é parte da técnica revolucionária atacar toda e qualquer medida do poder constituído. Tanto é que no Rio os mesmos movimentos não deram um pio, pois lá são aliados. A questão é luta política, os viciados são só a massa de manobra do momento.

    Geysa Guimarães

    Isso é terrível.
    Ora, o que é bom é sempre bom, em qualquer lugar e em qualquer partido.
    Às favas com luta política!

    Edfg.

    Comentário perfeito. Atacam tudo, o tempo inteiro, mesmo que com teses contraditórias para a mesma situação. Qualquer um que tenha lido um pouco da bíblia da esquerda acadêmica brasileira, Gramsci, sabe do que você está falando. É tido pela hegemonia cultural, estúpido.

Urbano

Está bom, vá lá que seja que vocês dependentes de drogas aceitem a compulsória… Agora, fiquem bem atentos! Nada de banheiro coletivo, hein???

Ana Cruzzeli

O Alckmin nunca quis tratar o problema com maturidade, ele quer é fazer a limpeza humana da cidade para mostrar que bom desempenho

AGORA ESSA PARTE É MUITO INTERESSANTE…

¨Entendemos também a política da internação compulsória como mais uma das inúmeras formas hoje praticadas de repasse de dinheiro público a entidades privadas, em muitos casos às comunidades terapêuticas, fazendo-o sair do controle e da fiscalização popular.¨

Alckmin querendo engordar a caixinha privada de saúde com a desculpa do tratamento dos drogados?

E eu achando que o cabra usaria a rede publica para essas internações!!! Isso mostra que o buraco é mais embaixo. Esse Alckmin é caso perdido mesmo e mais agora que o Serra pelo visto vai ficar com a pasta da Saúde que a tal CRIATIVIDADE TUCANA na gestão será muito mais imaginativa.

    Rodrigo Leme

    Se usa a rede pública, é linchado por sobrecarregar o atendimento. Se usa a privada para liberar a pública, é linchado por engordar o bolso de empresário.

    Aí, na campanha vem alguém do PT que diz que vai acabar com isso, é eleito e dá continuidade ao que já tinha. Que nem o fim da inspeção veicular na cidade, ne? Agora é “tipo fim”.

    Jotace

    Prezada Ana Cruzzeli,
    Magnífico o Manifesto do Fórum Popular cuja divulgação pelo blog é mais uma valiosa contribuição ao exercício da Democracia. Aqui gostaria de assinalar que articipo plenamente de tua opinião. “Limpeza” de cidades sempre foi um apanágio de governos fascistas, como o foi o de Carlos Lacerda, que chegou a ser apelidadado de “mata-mendigos” no antigo estado da Guanabara. Por sua vez, Jânio Quadros, aspirante a ditador e ídolo da classe média paulista, ao ter sido denunciado comprovadamente pela própria filha por atos de corrupção (ela chegou a publicar o número de conta secreta que o larápio tinha na Suiça), simplesmente a internou a título de tratamento para doença mental. Como você bem o disse a adoção do internamento compulsório como objetiva o Alckmin, além de fomentar a corrupção, representa um seríssimo atentado aos Direitos Humanos que será dirigido especialmente aos excluídos como assinalado também no Manifesto. Pela gravidade que apresenta a pretensão do Alckmin, no meu entender deveria até ser denunciada aos organismos internacionais. Cordial abraço, Jotace

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