Daniel Valença: Quando o atalho é o pior caminho para se superar o golpe de 2016

Tempo de leitura: 3 min

Quando o atalho é o pior caminho

por Daniel Valença, especial para o Viomundo

Amplos setores progressistas se indignaram com a nota do PT que, apesar das críticas incisivas a Aécio, atacava a decisão do STF de afastá-lo de suas funções no Senado.

Em geral, três foram as linhas de raciocínio, dos que criticaram a posição da direção petista:

a) Aécio é líder da direita e “bandido”, então qualquer decisão é legítima;

b) A nota termina por dar munição à grande mídia e à ideia-força de que “são todos iguais”, então “queima” o partido perante a “opinião pública”;

c) O afastamento de Aécio ajudaria a alterar a correlação de forças no país.

Pelas três alternativas, portanto, é secundário se a decisão do STF é constitucional ou não, se está ou não em conformidade com o artigo 53 da Constituição de 1988.

Se não bastasse, tais pessoas, que antes não criticavam o republicanismo que contribuiu para o golpe de Estado de 2016, misturam alhos e bugalhos e crêem que foi, uma vez mais, “republicanismo em momento de quebra da ordem democrática, que exige pulso firme”.

Defender a legalidade, neste caso, não é “republicanismo”.

Republicanismo é permitir que PF e MPF ajam de maneira política e ilegal, devido ao “princípio da autonomia”, como se interesses de classe não representassem.

Republicanismo é crer que um golpe de Estado não ocorreria, tendo em vista a inexistência de crime de responsabilidade, e, a partir daí, tomar decisões aptas a perder a única força capaz de deter um golpe de Estado empresarial – a base social composta pela classe trabalhadora.

Mas, no momento em que setores do sistema de justiça se politizam e atuam abertamente fora da lei, no momento em que altos postos das forças armadas dizem que “ou se acaba com os corruptos ou interviremos para limpar o país”, apoiar o STF, que se omitiu e contribuiu para o golpe, em uma decisão flagrantemente inconstitucional, é fortalecer o “princípio” de que, frente à corrupção, todas as armas são válidas, inclusive a ilegalidade pela via institucional.

Começa-se pelo Aécio — “O primeiro a ser comido” –, mas o objetivo final é o Lula, são os sindicatos, são os movimentos sociais, são o PT e demais partidos de esquerda, é a esquerda, é o povo.

Desde que a esquerda existe, desde que marxistas, anarquistas, blanquistas, ousaram lutar contra a exploração, desde que, em 1848, pela primeira vez na história, a classe trabalhadora começou a edificar seu próprio projeto de sociabilidade, a perda da legalidade nunca foi boa notícia para quem vive do seu trabalho.

Não que ela por si resolva os problemas aos quais marxistas e demais correntes de esquerda se debruçam; mas, sem ela, os que lutam pela emancipação da humanidade sempre se encontraram em situação ainda mais árdua.

Não há caminho fácil para a resolução da crise de Estado brasileiro. Há um ano, houve quem acreditou que acordos conservadores para presidências da Câmara e do Senado fossem uma solução; de lá para cá, vimos todo tipo de aberração, capaz apenas de trazer mais ilusão, decepção e confusão à base social progressista.

Porém, uma vez mais, a única saída possível é organizar as classes trabalhadoras e criar um sentimento nacional-popular — nos dizeres de Gramsci — capaz de impor uma nova hegemonia e fazer refluir as burguesias que articularam o golpe de 2016 e seus “tentáculos” que o implementaram, inclusive os setores politizados do sistema de justiça.

O golpe de Estado de 2016 se trata da maior restauração conservadora desde 1964, e não serão atalhos os caminhos aptos a superá-lo.

Daniel Araujo Valença, professor de Direito da Ufersa e coordenador do Gedic – Grupo de Estudos em Direito Crítico, Marxismo e América Latina

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Olaria

Brasil, teu nome é traição, por Arkx
O Jornal de todos Brasis
Brasil, teu nome é traição, por Arkx

Publicado no Blog do Nassif

ARKX

SEX, 06/10/2017 – 15:48

Brasil, teu nome é traição, por Arkx

uma cadeira sempre vazia. uma cadeira vazia se torna a grande questão. talvez a resposta não venha de quem nela estaria sentado, ou poderia senta-ser. seja como for, a foto é um símbolo de nossa época: o Pacto à la Brasil sendo firmado, não com sangue mas sim cerveja, nos fundos de um boteco qualquer. então, a cadeira vazia ali está justamente para ficar vazia. uma garantia aos demais, revezando-se nas outras duas cadeiras, que a Justiça jamais compareceria aquele encontro. com esta certeza, mesmo não retratados na foto, todos os demais estiveram naquela mesa de fundo de bar: PGR e STF, Temer e Aécio, Gilmar Mendes e Sérgio Moro, FHC e o embaixador dos EUA, Serra e Jorge Paulo Lemann, e também, como não, Lula, o PT a CUT e a Frente Brasil Popular. e porque não também setores militares. Brasil, teu nome é traição;

o colapso atual não é obra de amadores. assim como nosso subdesenvolvimento, o colapso atual foi meticulosamente preparada desde a Constituição de 1988. a “Constituição Cidadã”, apesar de seus inúmeros avanços, não passou de outro Pacto à la Brasil, sem remover o entulho autoritário foi firmada com o sangue dos torturados e desaparecidos pela Ditadura Civil-Miltar. um pacto sempre renovado com a indecorosa participação de Lula e do PT. como no impeachment de Collor, quando a cúpula do partido não se poupou de comparecer ao beija mão de Roberto Marinho. um ano depois, em 1993, o escândalo dos anões do orçamento foi o gênesis do pacto de governabilidade agora demolido pela Lava Jato. apesar de usarem cartões premiados da Loteria Federal para legalizar as comissões recebidas, a sorte grande vinha mesmo é do propinoduto das empreiteiras. Lula e o PT optaram então pelo conchavo de cúpula, por julgarem ser inevitável sua vitória nas eleições do ano seguinte. esqueceram de combinar com FHC e o Plano Real;


as caravanas passam para que os cães permaneçam imóveis. seja qual for seu destino de chegada, a Caravana de Lula pelo Nordeste ficará como um dos mais belos momentos de nossa História: o emocionante reencontro de Lula com o Povo Brasileiro. neste reencontro os dois Lulas se apresentam com toda sua força: o Lula político e o Lula símbolo. entretanto, os dois participam da mesma Caravana, ao mesmo tempo e percorrendo os mesmos lugares, mas separados por um infinito no tempo e no espaço. o problema com o Lula político não é sua opção por acordos e conciliações, mas sua ferrenha oposição a qualquer outra possibilidade. como se não houvesse alternativa. a mesma fórmula consagrada pelo neoliberalismo: TINA (There Is No Alternative). o Lula político jamais quis acordo com aqueles à sua Esquerda, sempre impôs submissão incondicional. o Lula político reduz toda a vitalidade da Caravana a uma pré campanha eleitoral, impedindo que torne um potente motor de mobilização social contra o golpe. submetendo ainda mais uma vez o movimento social ao calendário eleitoral, engessando-o na via institucional. um campanha eleitoral para um eleição incerta na qual ele nem sabe se poderá legalmente se candidatar. mas sempre se colocando como o único que pode “salvar o Brasil”, muito embora sem jamais apresentar um programa mínimo claro para que isto se viabilize. o Lula símbolo se atira nos braços do povo, de onde jamais deveria ter saído, desde as memoráveis assembleias da Vila Euclides, passando pelas Diretas Já e a campanha de 1989. o Lula símbolo é aquele com o qual o povo se identifica como “um dos nossos”. e aqui está o ponto crucial: não se trata de “nos representa”, e sim “é um dos nossos”. então surge a insuperável contradição, embora seja autenticamente “um dos nossos”, não é assim que o Lula político pensa e age efetivamente. o Lula político sempre se impôs e manipulou o Lula símbolo. mas quanto mais se atira nos braços do Povo Brasileiro, mas o Lula símbolo se fortalece. em situações limites, como a que vivemos com o golpe, as contradições se acirram e tendem a um desenlace;

vai uma cervejinha aí? vivemos os mais perigosos dos tempos: a queda inexorável de um Império, o mais poderoso Império já constituído em toda a História: o Império do Caos. este Império está ruindo. sofremos no Brasil os impactos desta queda. como era previsível, Trump falhou miseravelmente em drenar o pântano e fazer com que o Império voltasse a ser uma nação entre as nações, ainda que numa posição hegemônica. Trump foi a última tentativa do próprio establishment de resgatar os EUA enquanto nação, mas para isto o Império deveria se sacrificado. só pelo lema “America First” os EUA seriam grandes novamente. ao invés disto, o Império vai destruir o que restou dos EUA, inclusive, lá como aqui, a legitimidade residual do sistema político. os EUA estão experimentando em sua própria casa aquilo que o Império tanto e tantas vezes já fez pelo mundo. na demolição controlada do Brasil o Comando em Chefe do golpe é um Comitê Anglo-SioNazi. jamais poderiam admitir que o Brasil se tornasse um dos principais tijolos dos BRICS, para a construção de um mundo multipolar. daí o atual presidente do BC brasileiro, nascido em Israel e onde viveu até os 10 anos de idade, e o Ministro da Fazenda Henrique Meirelles com sua cidadania norte-americana. assim como o mais rico dos banqueiros do mundo ainda é um desconhecido para a maioria de seus “compatriotas” brasileiros, são hoje propriedade do bilionário Lemann três dos mais tradicionais ícones da economia dos EUA: Burguer King, Budweiser e Heinz. Cunha e Temer, com sua gangue de ladrões e os mais de 300 picaretas no Congresso e no Judiciário, são apenas a ponta do iceberg do Deep State no Brasil. os CEO são: Lemann, Armínio Fraga, Goldfajn, Safra, Setúbal & Marinho, Steinbruch, Henrique Meirelles;

enfim, o caos e o banho de sangue. prossegue em estado avançado a decomposição do Brasil, um país em vias de desaparecimento. para viabilizar o Pacto à la Brasil, nenhum preço é alto demais. por toda parte e vinda de todos: traição é o nome deste jogo jogado. a Ex-querda prossegue com sua política como se estivesse negociando algum tipo de acordo, mas que na verdade nunca esteve em qualquer mesa de negociação, pois o outro lado não quer mais negociar, quer rendição incondicional e extermínio completo. nenhuma surpresa com a delação de Palocci, é apenas o coroamento de toda uma trajetória de traições sucessivas que desde 1989 o Lulismo comete. a “classe média” Lulista debita os maiores problemas políticos brasileiros à própria “classe média”, da qual se julga não fazer parte, e a Globo, a qual está sempre assistindo em suas muitas TV espalhadas pela casa. é o melancólico resultado de 13 longos anos infantilizando e pauperizando o debate político. o Império enlouqueceu definitivamente. novo crash financeiro se aproxima, ainda mais violento do que em 2008. o capital fictício girando no mercado altamente especulativo precisa se fixar em ativos concretos. por isto o Brasil foi colocado à venda: todo um continente a ser expropriado e ocupado. em julho de 2017: “As As operações overnight corresponderam a 98,3% do total das operações compromissadas, com médias diárias de R$1,1 trilhão e de 6.284 operações.”. terra, água e energia são os ativos cobiçados para neles ancorar o capital improdutivo. vai ter fome, violência, caos social, desagregação, doenças. o Brasil ruma para se tornar um mix de Grécia, Colômbia e Síria. arruinados pelo mercado financeiro especulativo, dominados pelo narcotráfico e destruídos pela guerra civil. não esperem pelo banho de sangue. porque desta vez, por toda parte, o sangue já está jorrando pelas veias abertas do Brasil. e a realidade chegou naquele ponto que deixa humilhada a mais fanática das teorias da conspiração.

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