Álvaro Sólon de França: Piratas sociais atacam a Previdência

Tempo de leitura: 3 min

Previdência ajudou 23 mi a sair da linha de pobreza

por Álvaro Sólon de França*, no Repórter Sindical, via e-mail

A Previdência Social brasileira completou, dia 24 de janeiro, 90 anos. Construída pelos ideais daqueles que nutrem a esperança sublime de viverem numa sociedade livre, justa e solidária, a longevidade da Previdência Social tem sua explicação nos valores sobre os quais está sedimentada: a solidariedade entre as pessoas e as gerações, e a justiça social.

A Previdência Social é, hoje, o maior programa de redistribuição de renda existente no País.

Ela combate a pobreza, reduz as desigualdades sociais e regionais, corrige injustiças ao garantir a cidadania, impulsiona as economias locais, evita o êxodo rural. É, enfim, uma verdadeira âncora social no Brasil.

Apesar de toda a sua importância para a sociedade brasileira, a Previdência Social tem sido vítima, ao longo dos anos, de todos os tipos de ataques perpetrados pelos piratas sociais de plantão.

Mas o que os piratas sociais teimavam em esconder agora está escancarado em todas as pesquisas sobre pobreza, divulgadas recentemente: a expansão da Previdência Social – Regime Geral de Previdência Social administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS – foi um dos principais fatores da redução da pobreza nos últimos anos.

Pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstra de maneira insofismável que os benefícios previdenciários são arma fundamental no combate à pobreza e na melhoria da distribuição de renda, comparáveis aos impactos de programas sociais. Nas famílias rurais, a renda de quem vive em lares com idosos é 44% maior do que nas residências sem velhinhos, por causa da aposentadoria.

No campo, nas casas sem aposentados, 82% das crianças são pobres. Mas, nas residências com idosos, a proporção de crianças pobres recua para 68%.

A aposentadoria dos idosos sustenta ou ajuda a apoiar cerca de 2 milhões de famílias na zona rural, segundo levantamento de 2005. Em suma, os benefícios previdenciários foram fundamentais para que 24 milhões de pessoas superassem a linha de pobreza.

Nos últimos anos o Brasil passou por pelo menos duas mudanças, que atuaram de maneira importante sobre a pobreza, que foram: a criação de milhões de novos postos de trabalho, com carteira assinada, e a expansão do pagamento de benefícios pela Previdência Social.

Em 2011, segundo dados da Pnad/IBGE, 51,26 milhões de brasileiros viviam abaixo da linha de pobreza (linha de pobreza = meio salário mínimo). Se não fosse a Previdência, esse número seria de 74,97 milhões de pessoas, ou seja, a Previdência foi responsável para que 23,71 milhões de pessoas deixassem de ficar abaixo da linha de pobreza.

Outros dados relevantes estão retratados na publicação A Previdência Social e a Economia dos Municípios(Anfip. 6ª edição), com base nos dados de 2010, que demonstram que: em 3.875 dos 5.566 municípios brasileiros avaliados (69,06%), o volume de pagamento de benefícios previdenciários efetuados pelo INSS supera o FPM – Fundo de Participação dos Municípios.

Esses dados são altamente representativos de uma realidade que não pode ser ignorada: a Previdência Social reduz as desigualdades sociais e exerce uma influência extraordinária na economia de um incontável número de municípios brasileiros. E há ainda outro aspecto que não pode deixar de ser mencionado: em maio de 1982, em 40% dos municípios brasileiros, ou seja, em 4.589 municípios, o pagamento de benefícios era superior à arrecadação previdenciária no próprio município, o que nos remete à evidente conclusão de que a Previdência reduz as desigualdades regionais de forma bastante acentuada.

Mas, para atingir este patamar, ao longo de mais de oito décadas, a Previdência Social, graças à sociedade brasileira, resistiu aos ventos privatizantes oriundos do Fundo Monetário Internacional, que atingiu, de maneira brutal, inúmeros países, principalmente na América Latina.

Também resistiu aos ataques perpetrados pelos “consultores de plantão”, travestidos de arautos da modernidade, mas a serviço da banca financeira nacional e internacional, apregoando, de tempos em tempos, a falência do sistema previdenciário brasileiro, fundado na solidariedade entre as pessoas e as gerações. Além disso, suportou inúmeras crises financeiras que solaparam previdências privadas mundo afora.

Por isso, conclamo toda sociedade brasileira que continue defendendo e fortalecendo a Previdência Social, tornando-a cada vez mais pública e eficaz, para que, em breve, possamos erradicar a pobreza no Brasil, e, assim, participar da sociedade que todos almejamos: livre, justa e solidária.

*Álvaro Sólon de França é presidente da Anfip (Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil)

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Comentários

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Apavorado por Vírus e Bactérias

É um trabalho imenso e eficiente para amparar os idosos e suas famílias. No entanto, o idoso que ganha salário mínimo, principalmente nos municípios e estados desgovernados por partidos como o PSDB, que não recebem os benefícios do Minha Casa Minha Vida, têm em sua maioria que pagar aluguel. Vivem em casas insalubres e caras, pois o PSDB não deixa entrar o Programa que beneficiaria milhões de idosos. Com isso, sofrem com a falta de tudo, pois o salário mínimo não cobre aluguel e despesas com alimentação e remédios. O Governo Federal tem que atacar profundamente a questão da moradia do idoso, para sanar esse grave problema.

Maria A.

Muito bom, o artigo e o trabalho que o INSS vem fazendo.

Ramalho

A ideia de que aposentados do regime geral de previdência social (RGPS) são mantidos por trabalhadores na ativa, dando a entender de que os hoje aposentados são sustentados pelo favor dos hoje na ativa, não passa de mentira maquiavélica.

É mentira porque trabalhadores – e respectivos empregadores – recolhem, compulsoriamente durante dezenas de anos, parcela substancial dos salários à previdência, para criar a poupança cujos rendimentos servem exatamente para garantir suas aposentadorias. Portanto, o trabalhador aposentado vive daquilo que poupou – juntamente com seus empregadores – durante sua fase ativa.

A ideia é maquiavélica porque tem o claro intuito de contrapor trabalhadores na ativa a inativos, o dividir para manipular. A divisão tem o propósito de aviltar ainda mais as aposentadorias, e, assim, abrir caminho para as tais “previdências privadas”, de triste memória, haja vista os montepios falidos que há por aí – muita gente, especialmente da classe média, está a cair no golpe, de novo. Essencialmente, a tática não difere em nada dda de outras investidas neoliberais usadas para desmontar o ensino, a saúde e, até, a segurança públicos, sempre com o intuito de alimentar a insaciável voracidade privatista.

Quanto aos trabalhadores rurais aos quais foi reconhecido o direito à aposentadoria, trabalhadores que não contribuíram para suas aposentadorias, trata-se de amenizar ainda que tardiamente os estragos da elite rural irresponsável que os manteve em regime de escravidão, ou semiescravidão. Estes empregadores criminosos deveriam arcar solitariamente com os ônus das aposentadorias de seus ex-escravos. Ao invés disto, porém, os encargos têm sido de aposentados do RGPS (especialmente aqueles cujas aposentadorias são superiores a 1 SM, os mais prejudicados) e da sociedade em geral. Portanto, aposentados e a sociedade em geral vêm contribuindo para saldar o gigantesco débito da elite rural com seus ex-escravos.

A Previdência não é, no geral, um sistema assentado na solidariedade como às vezes se pensa, mas em leis atuariais: o aposentado não vive do favor do trabalhador na ativa, mas da poupança que fez. Contudo, especificamente no caso da elite rural, o sistema é, sim, um sistema baseado na solidariedade, na solidariedade de todos à elite rural, livrando-a da gigantesca dívida que tem com seus ex-escravos.

Marcelo de Matos

Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 81, físico, professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha, escreve hoje sobre o lucro das farmacêuticas: “A absurda margem de lucro da indústria de medicamentos sustenta um esquema de persuasão, para não dizer corrupção”. Relata fatos ocorridos no governo Fleury (1991/1994), mas, que ocorrem há muito mais tempo e continuam a ocorrer nos dias de hoje: “Nenhuma dessas ações, em si, constituiria uma ilegalidade, pois os preços dos medicamentos comprados pela secretaria eram idênticos aos vigentes, aprovados pelo governo federal. A questão era a escolha dos patenteados, em detrimento de versões similares mais baratas. O conjunto de compras somou cerca de US$ 300 milhões. Os documentos foram todos assinados por bagrinhos. Se prevalecesse, então, a doutrina atual dita domínio do fato do STF, haveria tubarões na rede”. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/91632-os-lucros-das-farmaceuticas.shtml

H. Back™

E agora os piratas sociais atacam o que restou de bom que é o Funpresp.
Parece “remake” de filme (muito ruim por sinal) feito no início do século passado e cujo final não foi nada feliz para a classe trabalhadora. O enredo conta a história da classe trabalhadora brasileira que começou a pensar no seu futuro, isto é, como viveria na velhice. Cada classe de trabalhadores, com os seus sindicatos, começou a montar o seu próprio fundo de pensão. Iniciou-se com dois fundos de pensão: o dos comerciários – IAPTEC; e dos industriários – IAPI. Com a Lei Elói Chaves unificaram todos os fundos de pensão e criaram um único gerenciador: o INPS. Só que os recursos foram usados no desenvolvimento da infra-estrutura industrial do país: rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, comunicações e energia elétrica, etc. Depois da maior parte da infra-estrutura já consolidada, os primeiros beneficiários de seus respectivos fundos (agora já unificados) começaram a fazer jus às suas tão sonhadas aposentadorias. Com o passar do tempo, a população foi envelhecendo e começaram os primeiros déficits na conta previdência; isto é, o excesso de despesas sobre as receitas. Um certo cidadão da elite de Higienópolis, tomou as rédeas do problema e “resolveu” a questão. Disse que aquilo tudo não era correto, inclusive chamando os beneficiários de vagabundos. Criou uma lei que reformava a previdência social, e fez tudo para que voltasse como era no início, cada classe de trabalhadores com os seus sindicatos organizando e administrando os seus próprios fundos. Agora as mesmas idéias são defendidas por políticos da nova geração! Será que não aprenderam que um enredo ruim sempre vai gerar um filme ruim?

H. Back™

É sem dúvida o melhor mecanismo de distribuição de renda, pois os recursos são distribuídos de forma proporcional e homogênea por todo o país.

Scan

Excelente artigo.

MariaC

Muitas pessoas defendem a Seguridade Privada e até tentam enganar dizendo que é uma Previdência com aposentadoria. Porém na hora de se aposentarem essas pessoas procuram o velho e bom INSS.Pois as privadas são mera poupança inclusive descontam a taxa de administração e outras, antes de devolver o capital sem nenhuma aposentadoria.

Félix Gomes da Silva

Parabéns pelo artigo.Sei de seu trabalho junto à Previdência desde épocas de ouro do HGG. Sempre com bons projetos.Fico feliz mesmo em saber que sua maneira de pensar está ajudando, na atualidade, a mudar nossa concepção sobre a Previdência, desmascarando e mostrando a história nojenta desses Piratas Sociais.
Artigo maravilhoso. Escreva mais e sempre.

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