Diário de Guadalajara (5)
por Luiz Carlos Azenha
O México vulgar é o de Cancún e Acapulco. Destinos turísticos de norte-americanos carentes de praia, que praticam durante as férias estudantis o esporte de beber e passar mal, com doses de sexo recreativo entre os dois. Diz-se, por aqui, que é o México para ‘escapar’ do México.
O México profundo, por assim dizer, fica em Oaxaca, mas não apenas.
Na mídia pop Jalisco, o estado em que me encontro, é onde “tudo começou”: os mariachi e a tequila, entre outros. Todos os demais estados mexicanos, se você perguntar, argumentarão no mesmo sentido. O verdadeiro Brasil, dependendo do ponto-de-vista, pode estar em São Paulo, no Rio ou em Alagoas.
A riqueza do México está, justamente, em sua diversidade. País de duas costas, com um mundo que se abre ao sul e um vizinho que o ‘traga’ rumo ao Norte.
Conversando com o produtor do show de abertura dos Jogos Panamericanos, fiquei agradavelmente surpreso com o fato de que ele se dispôs, pelo menos, a ouvir os ‘locais’.
Com todas as concessões feitas ao espetáculo e à audiência, pelo menos trouxe para dentro do evento Frida Kahlo, Orozco e Lila Downs.
Os maldosos dizem que Frida foi apenas mulher de Diego Rivera e Trotsky, mas acho que isso é expressão machista.
Ou que Orozco não se compara a Rivera, mas os mexicanos não concordam e, vendo os murais dele no Hospício Cabañas, em Guadalajara, é tocante a força com que expressa sua visão da Conquista.
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De ascendência ao mesmo tempo escocesa e mixteca, casada com um norte-americano, alternando a vida entre os Estados Unidos e Oaxaca, Lila Downs parece expressar várias dessas ‘esquinas’, que refletem ao mesmo tempo o México e a América Latina contemporâneas.
É como se o Gilberto Gil e o Caetano Veloso, músicos muito mais talentosos que ela, decidissem beber em nossa origem guarani, xavante e ianomâmi.
Como o México sempre anda à nossa frente, esperemos que um dia isso genuinamente aconteça no Brasil.
Lila é a voz de Frida, o filme, o que talvez explique como foi parar em um evento voltado para o grande público. Lila é ‘chique Hollywood’ e ‘world music’, mas ainda assim acaba expressando os dilemas de um país que parece eternamente sujeito a forças que escapam de seu controle, em eterno transe e trânsito.
É um bom sinal que os três, que lidaram de forma criativa com estas forças, sejam escolhidos para representar, ainda que superficialmente, o México.
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