As entrevistas de Fernando Haddad e José Serra ao SPTV

Tempo de leitura: 7 min

Carlos Tramontina: Boa noite, candidato.

Fernando Haddad: Muito boa noite, Tramontina.

Tramontina: O diretório nacional do PT se reuniu aqui em São Paulo para dar apoio e aplausos a José Genoino e a José Dirceu um dia depois de eles serem condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa no processo do mensalão, assim como os seus colegas da direção do PT. O senhor também apoia e aplaude José Dirceu e José Genoino?

Haddad: Olha, eu sou candidato a prefeito de São Paulo e como chefe do executivo paulistano eu devo respeito ao Supremo Tribunal Federal. Eu não acompanhei o processo porque coincidiu exatamente com a campanha eleitoral. Nós não tivemos um dia de não coincidência entre o calendário e outro. Inclusive, acho que acabou prejudicando um pouco a discussão sobre a cidade. Mas eu entendo que o presidente Lula indicou o procurador-geral que fez a denúncia, indicou o procurador-geral que conduziu a denúncia, indicou oito dos 11 ministros que julgaram o processo. Então, eu penso que, do ponto de vista institucional, nós devemos respeito ao Supremo Tribunal Federal. E temos que aguardar a condução dos trabalhos até o julgamento do chamado mensalão do PSDB de Minas, porque aí o Supremo vai dar uma prova cabal de que foi imparcial, de que julgou todos os partidos de forma igual, o PSDB, o PT, o DEM e todos os partidos que foram envolvidos neste episódio.

Tramontina: Candidato, nos últimos quatro anos da sua gestão à frente do Ministério da Educação, de 2008 a 2011, São Paulo recebeu nenhum centavo para investimento em convênios e programas educacionais. Por que o senhor não intercedeu a favor dos estudantes paulistanos?

Haddad: Ao contrário, Tramontina. Nós fizemos o maior programa de inclusão social da história da educação em São Paulo. O número de bolsistas do Prouni em São Paulo é o maior do país; o número de bolsistas em São Paulo supera o número de alunos da Universidade de São Paulo, da USP, que é a universidade mais antiga do Estado de São Paulo. Contudo, a Prefeitura, não só na educação como em várias outras áreas do governo, não respondeu aos editais que foram publicados de vários ministérios. Não trouxe as UPAs para São Paulo, que são AMAs 24 horas mais bem equipadas que as AMAs paulistanas; não trouxe a Universidade Federal para a Zona Leste. Dependia apenas da desapropriação do terreno. O prefeito ficou três anos prometendo a desapropriação e não o fez. Estamos há um ano e meio esperando a desapropriação de um terreno na Zona Norte para levar um instituto federal, que é a combinação de uma Etec com uma Fatec na Zona Norte, a Prefeitura também não o fez, e a Prefeitura desprezou R$ 250 milhões para a construção de 172 creches.

Tramontina: Mas o senhor como ministro…

Haddad: Quero dizer…

Tramontina: Pois não.

Haddad: Quero dizer ao cidadão paulistano que se eu for eleito prefeito, cada centavo que o governo federal colocar à disposição da cidade eu vou buscar, porque é um direito seu. Eu não vou me comportar como se comportou o prefeito Kassab e o seu secretário da educação, que nunca fez um único pedido de verba e quando fez alegou não preencher um formulário eletrônico para não receber um direito que é seu.

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Tramontina: Mas como ministro o senhor não poderia já ter se antecipado a isso que o senhor disse que vai fazer como prefeito e ter intercedido para implantar, para fazer, essa parceria?

Haddad: Vocês fizeram uma matéria no SPTV, questão de quase dois anos atrás, vocês fizeram uma matéria em que eu dizia: ‘O recurso está disponível para as creches’. E o secretário do Kassab, que é vice na chapa do Serra, foi entrevistado. Recupere o vídeo. Ele vai dizer: ‘Eu não tenho terrenos para construir as creches que o Haddad está colocando à disposição da cidade’. Você acha, paulistano, que é justo um secretário da Educação alegar falta de terreno numa das maiores cidades do país para não receber R$ 250 milhões do governo federal? Isso está gravado nessa emissora. E você poderá colocar a público o que ele disse naquela ocasião.

Tramontina: Candidato, a última vez que o PT esteve à frente da Prefeitura de São Paulo foi com Marta Suplicy, que criou a taxa do lixo, a taxa da luz, o IPTU progressivo. Mas aquela gestão foi reprovada pela população ao não reelegê-la prefeita. Que lições o PT tirou daquela experiência, daquela reprovação, e o que o senhor faria diferente da dela?

Haddad: Você veja que o tempo passa e as pessoas aprendem. Todo mundo aprende muito com as eleições. Nós aprendemos, a população aprende. Em recente pesquisa divulgada pelo Datafolha, a ex-prefeita Marta foi considerada…

Tramontina: Nós temos 30 segundos.

Haddad: …foi considerada a melhor ex-prefeita da cidade de São Paulo. Então nós temos um aprendizado e eu quero dizer que não aprovaremos nenhuma taxa. E eu prometo acabar com a taxa da Controlar, que foi criada pelo Kassab, na minha opinião uma taxa abusiva, num contrato que está sob suspeita do Ministério Público. Representando mais de R$ 1 bilhão de prejuízo para a cidade.

Tramontina: Candidato, muito obrigado pela presença aqui no estúdio do SPTV. Boa noite.
Haddad: Boa noite.

*****

Carlos Tramontina: Boa noite, candidato.

José Serra: Boa noite, Tramontina, muito prazer te ver aqui.

Tramontina: Muito obrigado. Em entrevistas o senhor criticou a produção de um kit anti-homofobia pelo MEC na gestão Haddad. Quando era governador, o senhor distribuiu à rede de ensino um guia contra o preconceito. Por que criticar a ação do oponente agora?

Serra: Porque não tem nada a ver um com o outro. O guia contra o preconceito era um guia contra o preconceito de classe, de raça, de cor, de tamanho, se a pessoa é gorda ou não é, contra o bullying em geral, inclusive com relação ao preconceito relativo à orientação sexual. É algo que feito desde 96 e nunca teve problema, nunca teve reclamação, e mais ainda, é uma coisa dirigida aos professores, para eles orientarem, etc. O kit do Ministério da Educação, na verdade, eu nunca levantei o assunto, eu sempre reagi a perguntas da imprensa. Ele foi suspenso pela presidente Dilma porque era considerado desastroso. O próprio Fernando Haddad quando ministro, ou depois de ser ministro, também disse “não, de verdade, o kit estava ruim”. E o pior é que custou R$ 800 mil, o próprio TCU está cobrando isso, foi uma coisa malfeita e que não era de combate bem a preconceito, era de indução a comportamentos. Por exemplo, dizia o seguinte: se você tiver duas opções sexuais, se você gostar de homem e gostar de mulher, é uma vantagem para você porque aumenta 50% tua chance de ter programa no fim de semana. Isso em um kit que vai para crianças acima dos 11 anos de idade. Francamente, não tinha cabimento. Aliás, tinha também um erro de porcentagem, porque no caso seria 100%. Isso não é um kit educativo, pedagógico, era uma coisa estragada. Agora, a própria presidente Dilma disse isso e o próprio Fernando Haddad reconheceu. Essa é a situação, são duas coisas que não dá para comparar. E minha preocupação é com o dinheiro também que foi gasto nisso, R$ 800 mil para nada, pela incompetência de tocar esse assunto.

Tramontina: Candidato, uma das maiores queixas da população é em relação à falta de médicos, principalmente nos bairros mais distantes do Centro. A Prefeitura aumentou os salários, mas isso não resolveu o problema. Como atrair esses profissionais?

Serra: Olha, a Prefeitura aumentou, com o apoio do estado, seis mil médicos no serviço municipal, mesmo assim falta médico em São Paulo. Nós vamos ter que ver condições especiais, até de transporte, até de moradia para plantão, para que eles possam ficar nos lugares mais distantes. Mas eu tenho também uma proposta que vai facilitar essa situação: nós vamos pegar 30 das AMAs que existem em São Paulo e transformar em AMAs 24 horas, com o que facilita indiscutivelmente o atendimento, duplica e facilita também a presença do médico porque ele pode fazer um plantão mais prolongado. Já tem 17 AMAs 24 horas e nós vamos fazer mais 30. As AMAS foram unidades de saúde que eu introduzi em São Paulo e no Brasil, foi uma novidade. Atendem 10, 11 milhões de pessoas por ano e a gente vai adotar essa medida de expansão para amenizar o problema da falta de médico.

Tramonina: Um dos maiores problemas da cidade é a falta de segurança. Agora, existem muitas ruas escuras. Existem muitos bairros mal iluminados. Por que a Prefeitura não consegue garantir para a população esse serviço essencial da iluminação?

Serra: No final do primeiro ano de governo, se eu for prefeito, essa questão está resolvida. Já tem plano, já tem um caminho. O que acontece: São Paulo tem 550 mil pontos de iluminação. Três por cento tem problemas. Mas 3% é muito. São mais de 15 mil. Então, isso tem que ser atacado também. Iluminação não pode ser, “não, 90% vai bem, etc e tal”. Tem que ser 100%. Agora hoje já tem um esquema encaminhado, eu já mandei calcular, averiguei, eu mesmo estudei. Em um ano, não vai ter problema de ponto escuro em São Paulo. Isso eu posso garantir porque eu sei como resolver. Aliás, minha especialidade é resolver problemas na vida pública.

Tramontina: Nos últimos oito anos, primeiro com o senhor, depois com Gilberto Kassab como prefeitos, a população nunca deixou de reclamar da falta de linhas de ônibus na periferia, de ônibus que atrasa, de ônibus superlotados. Por que a Prefeitura tem falhado neste aspecto?

Serra: Porque entram 500, 700 automóveis por dia, o que cria problema para trânsito. O que que eu fiz como governador e que vou apoiar muito como prefeito? Monotrilho, que é um trem de metrô que anda em um trilho só. Já em um em construção até Cidade Tiradentes. Já tem outro que vai passar aqui perto da Globo que vem do Jabaquara e vai até o Morumbi. Tem outro que irá até o Jardim Ângela. Na hora que nós fizermos uma rede de Metrô…

Tramontina: Eu peço que o senhor conclua porque nosso tempo está esgotado

Serra: Perfeito. Na hora que nós fizermos uma rede de Metrô embaixo da terra e em cima nós vamos ter base para poder enfrentar, de verdade, o problema do trânsito que por enquanto tem de ser enfrentado através de medidas, de corredores, de sinalização, etc. A solução estrutural está a caminho.

Tramontina: Muito obrigado, candidato, pela presença no SPTV. Muito boa noite.

Serra: Eu que agradeço. Obrigado a você.

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