Regina Camargos: Juros altíssimos, economia paralisada, povo sufocado. Até quando o BC vai esticar a corda?

Tempo de leitura: 3 min
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Por Regina Camargos

Arte: Regina Camargos e Pedro Carvalhaes

Por Regina Camargos*

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) é o órgão que decide a taxa de juros básica da economia brasileira – a famosa Selic.

O presidente do BC e alguns de seus diretores integram-no.

A cada 45 dias, os membros do Copom se reúnem e definem a Selic e sua evolução, considerando projeções sobre a inflação, situação das contas públicas, da economia brasileira e internacional. 

A última reunião foi na semana passada, dias 22 e 23 de março.

O Copom manteve a estratosférica Selic de 13,75%, a maior taxa de juros do mundo.  

No comunicado após a reunião, a justificativa foi a necessidade de controlar a inflação.

Disse, ainda, que pode elevar a taxa, caso a inflação não caia nos próximos meses e não se aproxime da meta estabelecida para este ano, de 3,25%.

Essa meta, porém, é demasiadamente baixa, já que a inflação em 2022 foi de 5,90%.

Isso nos preocupa demais, pois a manutenção ou até elevação dos juros vai impactar na retomada da economia.

O comunicado diz que a trajetória da taxa de juros depende, entre outros fatores, da situação das contas públicas e das propostas do novo regime fiscal para controlar os gastos do governo.

Com exceção, é claro, do pagamento de juros aos que têm recursos aplicados em títulos da dívida pública, conforme também comentei num artigo anterior.

Decisão do Copom: prudência ou pressão do mercado financeiro?

O Governo Lula esperava que o BC começasse a reduzir a taxa de juros, ainda que de forma gradual.

Portanto, a decisão do Copom frustrou as expectativas.

O pior é que o Banco Central não demonstra preocupação com a possibilidade de uma recessão – a terceira, desde 2015.

Caso ela ocorra, será devastadora para a cambaleante economia brasileira, que mal conseguiu respirar após a pandemia.

Entre dezembro de 2021 e agosto de 2022, o aumento da taxa de juros no Brasil ocorreu de forma muito intensa e rápida. saltou de 9% para 13,75%, patamar em que se encontra até agora.

Nesse período, houve também forte alta de inflação, que começou a ceder em agosto de 2022, quando a taxa de juros atingiu seu patamar atual de 13,75%.

Ou seja, o BC poderia ter baixado gradualmente a taxa de juros a partir de setembro de 2022. Entretanto, insistiu em mantê-la elevada. 

É fato que há muitas incertezas e instabilidades no cenário econômico mundial devido à persistência de uma inflação mais elevada nos países desenvolvidos e à recente crise bancária nos EUA e na Suíça.

Diante desse quadro, vários bancos centrais, especialmente o norte-americano, também decidiram elevar suas taxas de juros.

Por enquanto, o Brasil não está passando por essas turbulências externas.

A inflação está em queda há vários meses e não há nenhum sinal de crise bancária.

Mas, um estudo divulgado pelo próprio BC em outubro de 2022 alertou para o início de uma crise de crédito já em 2021 devido ao aumento da inadimplência, principalmente entre as pequenas e médias empresas e as famílias.

Ela foi causada pelos efeitos nefastos da pandemia sobre a economia, entre eles, a queda no nível do emprego e da renda.

É quase certo que essa situação tenha piorado em 2022 devido ao aumento dos juros.

Além disso, 2023 começou com a descoberta do rombo das Lojas Americanas que tinha dívidas bilionárias com grandes bancos brasileiros.

Há ainda rumores no mercado financeiro de que existem outras grandes empresas no comércio varejista em situação semelhante.

A quebra dessas megaempresas atingirá milhares de outras que forneciam produtos a elas.

Em resumo, no Brasil, as ameaças à economia vêm de diferentes lados.

Do “lado real”, isto é, das empresas e famílias afetadas pelas consequências da pandemia e  da intensa elevação dos juros.

Isso significa, em outras palavras, forte risco de recessão.

Mesmo tendo todos os elementos para tomar uma decisão mais compatível com os riscos que efetivamente ameaçam a economia brasileira no momento, o Copom decidiu manter o remédio amargo do juro alto e sugere que pode aumentá-lo, se o governo não apresentar uma proposta de regime fiscal palatável ao mercado financeiro.

Há razões para suspeitar que a decisão do Copom não é tão técnica assim.

Existe indisfarçável pressão do órgão sobre o Presidente Lula e o Ministro Haddad para se curvarem ao pensamento único do mercado financeiro.

A alegada persistência de pressões inflacionárias é apenas a justificativa técnica formal para manter os juros tão altos.

Lula, Haddad e sua equipe não terão vida fácil nos próximos meses.

Tomara que estejam preparados para os próximos embates dessa batalha na qual está em jogo um futuro mais digno e próspero para o povo brasileiro.

*Regina Camargos é economista e consultora.

Leia também:

Jeferson Miola: Banco Central, bunker da oposição, rapinagem do orçamento público e sabotagem

Paulo Nogueira Batista Jr.: A economia é um risco para o governo Lula?; vídeo

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Regina Camargos

Economista e consultora


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Zé Maria

#ForaCamposNeto
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https://twitter.com/i/status/1642181740688023552

Reportagem do Jornalista Brian Mier
para o Noticiário de TV “Do Sul” da
@teleSURenglish:

https://twitter.com/BrianMteleSUR/status/1642181740688023552

Zé Maria

Com um Congresso Nacional e a Mídia Venal predominantemente Neoliberais,
a Tendência é de que a Proposta de Novo Regramento Fiscal seja Piorada.

Zé Maria

Thread:
https://twitter.com/JulianeFurno/status/1642520745925386243

“Sobre o Novo Arcabouço Fiscal.

Estamos, no Movimento Brasil Popular, para soltar uma reflexão coletiva,
mas já adianto alguns pontos.
A análise tem dois pontos de comparação:
se comparado ao Teto de Gastos, o novo arcabouço fiscal tem pontos
importantes de avanço.”

“Garante que os gastos públicos SEMPRE tenham crescimento real,
inclusive independentemente do ciclo econômico.
Um avanço até mesmo em relação as regras anteriores pró cíclicas
de resultado primário.”

“Como não constitucionaliza uma regra, permite maior flexibilidade
e discricionaridade da política econômica, além do fato de que
o patamar dos reajustes é o da PEC da transição, portanto muito
mais elevados do que os valores de 2016, por exemplo.”

“No entanto, se a comparação for com o financiamento do Estado
que nós precisamos, a regra está muito aquém.
O limite de gastos de 2,5% da variação da receita pode fazer o gasto
público ter trajetória declinante com relação ao PIB.”

“Além disso, esse montante – ainda que coloque o gasto em 19% do PIB
– é muito menor do que as variações reais de crescimento das despesas
primárias nos governos Lula, Dilma 1 e até mesmo FHC (na média anual).”

“O investimento não ter ficado de fora da regra também é uma questão
importante.
Estamos em um período de desaceleração e com carências acumuladas.
A taxa de investimento está na sua menor marca.
A receita teria que crescer muito para ‘sobrar’ o suficiente.”

“O investimento público terá que ser uma variável motor da retomada.
Até porque o investimento público não concorre – pelo contrário – ele
estimula o investimento privado, criando condições para um crescimento
sustentado da economia brasileira, com mudança na estrutura produtiva”

Economista JULIANE FURNO

Zé Maria

O Centro da Meta de Inflação para este ano (2023) de 3,25% foi fixado pelo Guedes em 2020, com Intervalo de Tolerância entre 1,75% e 4,75%.

Totalmente fora da Realidade Econômica Atual.

E o que é pior: já deixou Prevista uma Redução da Meta para 2024.

Zé Maria

No Mês de Fevereiro deste Ano (2023),
o Comércio foi [por enquanto]* o Único Setor da Economia Brasileira
que mais demitiu do que contratou trabalhadores
com Carteira Assinada,
segundo Pesquisa Mensal do CAGED: (http://bit.ly/40LUJPf)
.
.
*[Daqui a alguns dias serão os Demais.]
.
.

Zé Maria

O Tesoureiro de Banco que está Presidente do Banco Central teve a capacidade e o disparate de dizer na Mídia Venal que para atingir o Centro da Meta de Inflação (3,5%) a SELIC deveria estar em 26,5%.

Mais um Motivo para mudar a Meta de Inflação para um Patamar Razoável, tipo 4,5% ou 5%.

Zé Maria

Alta de 1% na Selic gera aumento de R$ 38 bilhões na dívida; dinheiro poderia ser destinado para combate à fome

Estimativas de especialistas apontam que, para cada 1% de aumento na taxa de juros, a dívida líquida do setor público cresce R$ 38 bilhões.
Esse valor equivale a quase três vezes o orçamento mensal do Bolsa Família – em janeiro, o programa custou R$ 13,38 bilhões.

Equivale, também, a quase quatro vezes as despesas do Minha Casa, Minha Vida – R$ 10 bilhões.

Isso tudo pensando-se em um ponto percentual de aumento; mas o aumento, de fato, foi de 13,75% no último período.

Conforme o economista Márcio Pochmann, o impacto na dívida líquida do setor público foi de R$ 446,5 bilhões.

Em artigo no Valor, o economista André Lara Rezende demonstrou que, ao retirar dinheiro essencial para investimentos sociais e para a expansão da capacidade produtiva do país,
o Banco Central privilegia o rentismo, favorece super ricos que detêm títulos da dívida pública.

Com juros mais altos, sobem os lucros desse grupo, em uma interminável ciranda financeira que cresce às custas da miséria dos mais vulneráveis, que penam com a falta de investimentos sociais e com as dificuldades no desenvolvimento da economia, incluindo a geração de empregos.

O economista Ricardo Franzoi, vinculado ao Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), falou sobre o assunto no programa Contraponto, na RádioCom Pelotas.

Franzoi disse que a recessão, no atual contexto, é “uma bomba que vai explodir”, e que o debate está sendo vencido “por aqueles que financiam a grande mídia”, ou seja, os especuladores.

O economista tratou de algumas das justificativas que vêm sendo dadas pelos defensores da alta taxa de juros aplicada no Brasil, refutando uma a uma.

Ele lembrou que a inflação nos Estados Unidos e na Europa é maior do que no Brasil, mas a taxa de juros é menor.

Também afastou o medo da hiperinflação e de uma possível corrida especulativa, com investidores deixando o Brasil em caso de redução da taxa Selic – Franzoi explicou que o Brasil tem uma grande reserva em dólar, construída nos dois primeiros mandatos de Lula, o que funciona como uma salvaguarda nesse sentido.

Disse, ainda, que o Brasil tem um custo da máquina pública muito parecido com o de países com economias semelhantes, e que tampouco a economia está aquecida o suficiente para gerar algum risco inflacionário.

Com tudo isso, defendeu, não há justificativa plausível para uma taxa de juros tão alta:

“Se a gente ver todas essas justificativas que eles apresentam, nada tem a ver com a realidade”, explicou.

“A verdade é que a turma que ganha muito dinheiro por nós termos uma taxa de juros tão alta se acostumou, vive disso, se acostumou com isso.
E essa turma é quem financia a grande imprensa.

Em cinco anos ela dobra a sua riqueza com essa taxa de juros.
Então ela pode ficar sentada no sofá, sua riqueza vai continuar aumentando”, criticou Franzoi.

Para ele, assim, é preciso que se perceba que o presidente do Banco Central, Campos Neto, é um adversário, e como tal deve ser tratado:

“O presidente do Banco Central é um bolsonarista que está fazendo terrorismo contra um governo que está tentando mudar a política econômica.
O que está ali não é um presidente do Banco Central com autonomia, mas um adversário, que fez propaganda para o Bolsonaro, que defende o Guedes, que quer que o Haddad faça o mesmo que o Guedes fazia, quer que corte da saúde, da educação, da segurança.
Adversário não se convence, adversário se combate”, concluiu.

Assista à Manifestação do Economista Ricardo Franzoi:

https://youtu.be/gBVz6g-OCHY

[SINTRAJUFE]

Zé Maria

“Lei 179/21
O BC tem por objetivo fundamental assegurar a estabilidade de preços.
O Presidente e os Diretores do BC serão exonerados (…)qdo apresentarem comprovado e recorrente desempenho insuficiente p/ o alcance dos objetivos do BC.
*3º ano consecutivo a inflação estoura a meta!”

https://twitter.com/Gleisi/status/1641463140792647682

Portanto …

.

Zé Maria

Detalhes da Pesquisa CAGED

Mês 02/2023: http://bit.ly/40LUJPf

Zé Maria

http://pdet.mte.gov.br/images/Novo_CAGED/2023/202302/Admiss%C3%B5es.jpg

http://pdet.mte.gov.br/images/Novo_CAGED/2023/202302/Desligamentos.jpg

http://pdet.mte.gov.br/images/Novo_CAGED/2023/202302/Saldo.jpg

Segundo dados do CAGED, no Mês de Fevereiro/2023 foram gerados 1.949.844 Empregos Com Carteira Assinada, diante de 1.708.059 Demissões.

Saldo Mensal Positivo de 241.785 Novos Empregos com CTPS Assinada.

Em Janeiro/2023, o Número Total foi de 1.898.285 Empregos Gerados,
enquanto o número de Desligamentos no Mês foi de 1.813.714 Demissões,
com Saldo Positivo de 84.571 Novos Empregos com Carteira de Trabalho Assinada.

http://pdet.mte.gov.br/novo-caged

Zé Maria

“Quando tem que ter o juro alto?
Quando se está com excesso de consumo.
Alguém aqui está com excesso de consumo,
a não ser farmácia?
Não tem excesso de consumo, pelo contrário,
então não tem razão do juro estar isso.”
“Onde já se viu o juro estar a 13,75%?
Eu estou gritando em tudo quanto é lugar,
não tem cabimento!”

Empresária Luiza Trajano
Presidente do Conselho de Administração
da Magazine Luiza.
Integrante do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social (CDES).
No South Summit, em Porto Alegre/RS.
29/03/2023.

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