Túlio Muniz em Fortaleza: Quando a polícia é o bando

Tempo de leitura: 3 min

Ferido em Fortaleza (foto repproduzida do UOL)

“Provocadores” e “infiltrados”: quando a polícia é o bando.

por Túlio Muniz*

A manifestação em Fortaleza neste dia 19 de Junho, antes do jogo das seleções brasileira e mexicana, só não reproduziu um único ponto de discórdia entre institucionalidade e população que se vê Brsil afora: em Fortaleza, o preço da passagem do transporte público não é, necessariamente, o carro chefe da revolta.

A passagem de ônibus aqui é de R$ 2,20, isso por conta de aumento recente, no apagar das luzes do governo do PT que ficou oito anos à frente da Prefeitura. E desde sábado, 15 de Junho, funciona a principal promessa eleitoral do prefeito atual, do PSB, o “Bilhete Único”, onde o usuário tem duas horas para pegar quantos ônibus quiser pagando apenas uma tarifa.

Afora isso, a manifestação reproduziu aspectos que vêm sendo registrados em todo o país: saúde, educação e, sobretudo, o despreparo e desrespeito da polícia no enfrentamento a manifestações, e a consequente reação desproporcional dos policiais diante de provocações de reduzidíssimo contingente de manifestantes.

Contra paus e pedras arremessados por alguns poucos, a polícia respondeu com balas de borracha (uma excrescência que deveria ser banida) e gases de pimenta e lacrimogêneo que acabaram por atingir milhares de manifestantes, todos instalados no sentido contra vento (inclusive este que lhes escreve).

Começou às 10h a concentração das 50 mil pessoas (estimativas da PRF, com a qual concordo), a cerca de um quilometro do estádio onde o jogo ocorreria. Às 11h seguramente havia pelo menos 10 mil pessoas no inicio da Av. Alberto Craveiro, principal acesso ao estádio. Às 12h em ponto a massa avançou cerca de 500 m na avenida, onde se instalara a primeira barreira policial.

Durante cerca de meia hora os manifestantes apelavam à não violência, inclusive com gritos de “Ou ou ou, a greve da polícia o povo apoiou”, referência à greve da PM entre dezembro de 2011 e janeiro de 2013. Ocorre que nas barreiras desta quarta estavam o Batalhão de Choque e a Cavalaria da PM cearense, setores que menos aderiram à greve.

É certo que alguns manifestantes atiraram paus e pedras mas, reitero, um número inexpressivo diante do contingente de manifestantes os mais variados,o que se expressava em cartazes, roupas, faixas, gritos, desde “#vempraruacristão” (sic) num cartaz manual a adolescentes com caras pintadas e camisetas com Bob Esponja, adolescentes punks, militantes do MST e do movimento Crítica Radical (de Fortaleza, anti institucional, embora não anarquista).

Visivelmente, a massa era composta um grande contingente da chamada “classe média”, estudantes ou não, que não suporta mais a violência crescente em Fortaleza nos últimos dez anos (o Mapa da Violência de 20012 situa a cidade como a quinta do país onde mais se mata).

Quando se defronta com uma polícia que deveria garantir a segurança pública com o mesmo vigor que combate à manifestações populares, é imprevisível o que está por vir. Como imprevisível foi o desfecho do protesto, com a massa bloqueando a BR 116 no seu trecho urbano que é o principal acesso à cidade e um dos principais ao estádio.

Como imprevisível será a reação do governador Cid Gomes, apupado por todos os presentes, em uníssono, como “Cid, ditador”, diante da truculência policial, essa sim a provocação infiltrada na manifestação. Se o governador  endossou ou não a desnecessária ação policial, terá de lidar com os deméritos do protesto, aprofundando ainda mais o descrédito à política estadual de segurança. Se até Neymar postou críticas a ação do governo no twitter, imaginem as urnas em 2014. Imaginemos depois da Copa.

*Historiador com Graduação (2003) e Mestrado (2005) pela UFC, na qual  atualmente é pesquisador recém-doutor   no Programa de Pós-Graduação em História. Doutor (2011) pela Un. de Coimbra, Portugal. Jornalista Profissional (Mtb 4844jp24/55).

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Comentários

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Edno Lima

Sugrio ao autor do texto que da próxima vez convoque a militância petista para proteger o patrimônios público , o privado e para que mantenha a ordem. Julgo que o missivista deva juntar-se à eliite petista para que juntos seja formem uma nova polícia que funcione nos moldes que a esquerda deseja, uma nova PM que enfrente distúrbios e vandalismo lançando, não spray de pimenta ou gás lacrimogênio, mas sprays com fragrância do campo; que não mais use projéteis de borracha ( essa excrecência ), mas passe a disparar pétalas de rosas ou bombons da Cacau Show, tal qual o mundo civilizado faz.

    Saçuober

    Surgiro ao comentarista, diferenciar alhos de bugalhos, a manifestação foi orquestrada por PSOL, PR, PSDB, PSTU e REDE.

Saçuober

O autor esqueceu de dizer que queimaram uma viatura pública, que muitas pessoas que já tinham adquirido ingressos, ficaram impossibilitadas de assistirem o jogo no estádio.
O autor esqueceu de dizer que os organizadores expuseram idosos e crianças a violências, pois eram sabedores que poderia haver conflitos.

Saçuober

o autor esqueceu de falar que as agressões iniciais partiram de vândalos integrantes do movimento, esqueceu de falar que existiam políticos do Psol, do PR, etc, participando de um movimento apolítico.

Saçuober

O autor do texto enfatiza o aumento da tarifa em 10%, no final da administração petista de oito anos, deixou de falar que foi por decisão judicial, que o pt no inicio da administração, Fortaleza tinha a maior tarifa entre as capitais do país, entregou após oito anos como a menor, que criou a tarifa social aos sábados e domingo, durante os oito anos da administração do pt, só ocorreu este reajuste por determinação judicial.

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cid elias

Bem, deixa ver se entendi… a tal juventude do feicebuqui tem todo direito de se manifestar, obstruir passagens, depredar, etc.; MAS acha que quem quer ver um jogo da seleção pode ser agredido. É isso? Vários relatos dão conta disso, inclusive do kfourhi, que temeu pelos ocupantes do ônibus onde estava. Manifestação pacífica sim; mas essa que está aí não me representa.

    Hilton

    Cid Elias se das pessoas q foram apenas para assistir o jogo foram agredidas, garanto q não foram pelos manifestantes, pelo contrario, quando eram identificadas pessoas q iam apenas ao jogo, os manifestantes indicavam um caminho fora do rota do manifesto, ate pq eles não tinham nada a ver e principalmente zelando pela segurança deles.

Alexandre Fontenele

Desconfio de movimentação popular apoiada pela Globo e os barões da mídia. No tempo das Diretas Já a Globo se referia ao comício da Sé em São Paulo como um dos eventos comemorativos do aniversário da cidade. Vários movimentos foram ignorados pelo Jornal Nacional, Fora Collor, contra as privatizações da Vale do Rio Doce e sistema Telebrás vendidas a preço de banana podre aos “testas de ferro dos tucanos” Daniel Dantas (ligado aos tucanos de SP e PFL da Bahia) e Benjamin Steinbruch (ligado principalmente a Tasso Jereissati, do qual o irmão Carlos abocanhou a Telemar com dinheiro emprestado do BNDES). A Globo apoiou a Marcha com Deus e a família pela democracia. Da qual acabou em Golpe de Estado contra Jango em 1964. Fechou as câmeras para as grandes corrupções do país como Proer e Banestado. Cuidado estudantes que não viveram aquela época, vocês podem está sendo objeto de manipulação.

Marcos C. Carvalho

Essa polícia do Ceará tem algum trunfo contra o governador Cid Gomes. Como é que um estado pobre compra uma quantidade enorme de Toyota SW4 (um carro de luxo, que poucos podem ter) que custa mais de 150.000,00 para patrulhar ruas? Aí tem mutreta e das grossas.

Marcelo

Uma boa síntese: Manifestações em Fortaleza – ESPN Brasil http://www.youtube.com/watch?v=4mVsodD0aY0

Valdeci Elias

Pelo que entendi ,eles vão anular o voto em 2014. Pois não tem partido e são contra a politica.

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