Saul Leblon: Grunhidos dos finos revelam despreparo para o futuro

Tempo de leitura: 5 min

O 1% é voraz e grunhe em defesa de seus interesses

20/06/2014 – Copyleft

Cinco derrotas e um lance decisivo

Da ampliação da democracia depende a sorte das famílias assalariadas, a repartição da renda e a cota de sacrifícios em um novo ciclo de crescimento.

por Saul Leblon, na Carta Maior

Muitas vezes, a janela mais panorâmica de uma época não se  materializa no indispensável esforço conceitual para descortinar a sua essência, mas em um evento simbólico catalisador.

O passo seguinte da história brasileira carece ainda dessa síntese que contenha as linhas de passagem para um novo ciclo de desenvolvimento.

A  simplificação analítica, o simplismo ideológico são incompatíveis com essa sinapse entre o velho e o novo, projetando-se mais por aquilo que dissipam do que pelo que agregam.

Nenhum polo do espectro político está imune a essas armadilhas. Mas até pela supremacia do seu poder emissor é o conservadorismo que tem liderado o atropelo da tentativa e erro nesse embate.

Durante meses,  por exemplo, o imperativo ‘não vai ter Copa’ – e tudo aquilo que ele encerra de denuncismo derrotista —  reinou soberano  na mídia como uma metáfora esperta  do ‘não vai ter Dilma’.

Quando os fatos desmentiram a pretensa equiparação do Brasil a um Titanic  — a Copa , independente da seleção, é um sucesso de público, de infraestrutura e de qualidade esportiva —   partiu-se para algo mais  explícito.

O camarote vip do Itaú  – o banco central do conservadorismo – entrou em cena para mostrar os sentimentos profundos da elite em  relação ao país.

Repercutiu, mas não pegou.

Embora o martelete midiático tenha disseminado a bandeira do antipetismo bélico, a ponto de hoje contagiar setores populares, como admite  — e  sobretudo adverte —   o ministro Gilberto Carvalho,   o fato é que esse trunfo conservador  não reúne a energia necessária para  inaugurar  uma nova época.

A grosseria dos finos exala, antes, seu despreparo  para as tarefas do futuro.

Não quaisquer tarefas.

O país se depara com uma transição de ciclo econômico marcada por uma correlação de forças instável, desprovida de aderência institucional, ademais de submetida à determinação de um  capitalismo global  avesso a  outro ordenamento que não  o vale tudo dos mercados.

Um desaforo tosco é o que de mais eloquente as ‘classes altas’ tem a dizer sobre a sua capacitação para lidar com esse supermercado de encruzilhadas históricas.

Não é o único senão.

Nas últimas horas ruiu também a simbologia conservadora da retidão heroica e antipetista, atribuída  à figura de Joaquim Barbosa.

Na última 3ª feira, o presidente do STF  jogou a toalha respingada de ressentimentos, ao abandonar a execução da AP 470.

Não sem antes  grunhir, em alemão, o menosprezo pelas questões mais gerais da construção da cidadania no país.

‘Es ist mir ganz egal’, sentenciou sobre as cotas reclamadas por negros e índios no Judiciário.

‘Para mim é indiferente; não estou nem aí’.

Esse, o herói dos savonarolas de biografia inflamável.

Seria apenas o epitáfio de um bonapartismo destemperado, não fosse, sobretudo, a versão germânica da indiferença social.

A mesma inscrita no jogral dos  que se avocam à parte e acima daquilo que distingue uma nação de um ajuntamento humano: a pactuação democrática de valores e projetos que selam um destino  compartilhado.

O particularismo black bloc enfrenta agora seu novo revés no terreno da inflação.

Seja pela eficácia destrutiva da maior taxa de juro do planeta (em termos nominais o juro  brasileiro só perde para o da Nigéria), seja pelo espraiamento das anomalias climáticas no mercado de alimentos, o fato é que os principais índices de inflação desabam.

E com eles a bandeira ‘popular’ de Aécio e assemelhados.

Mas há uma variável ainda mais adversa ao conservadorismo no plano  da economia política.

O fato de o país viver um quadro de pleno emprego dá ao campo progressista um trunfo inestimável na negociação de um novo ciclo de crescimento.

Uma coisa é negociar com trabalhadores espremidos em filas de desempregados vendendo-se a qualquer preço.

Outra, fazê-lo em um mercado em que a demanda por mão-de-obra cresceu mais que a população economicamente ativa nos últimos anos.

O conjunto fragiliza um  certo fatalismo com devotos dos dois lados da polaridade política, que encara as eleições como uma formalidade incapaz de alterar  o calendário do arrocho, com o qual o país teria um encontro marcado após as eleições.

Tudo se passa, desse ponto de vista, como se houvesse uma concertación não escrita à moda chilena que tornaria irrelevante o titular da Presidência, diante dos limites impostos pela subordinação do Estado aos  imperativos dos mercados local e global.

É essa, um pouco, a aposta  da candidatura Campos, que se oferece à praça e à banca como a cola ambivalente  capaz de dissolver os  dois lados da disputa em um tertius eficiente e confiável.

O fato de ter fracassado até agora não implica o êxito efetivo do campo progressista em se libertar da indiferenciação que  rebaixa o papel da democracia na definição do futuro.

Os desafios desse percurso não podem ser subestimados.

De modo muito grosseiro, trata-se de modular um estirão de ganhos de produtividade (daí a importância de se fortalecer seu principal núcleo irradiador, a indústria, ademais da infraestrutura e da educação) que financie novos degraus de acesso à cidadania plena.

A força e o consentimento necessários para conduzir esse ciclo — em uma chave que não seja a do arrocho —  requisitam um salto de discernimento e organização social que assegure o mais amplo debate sobre metas, prazos, compromissos, concessões, conquistas  e  salvaguardas.

Não se trata, portanto, apenas de sobreviver  à convalescência do modelo neoliberal.

O que está em jogo é erguer  linhas de passagem para um futuro alternativo à lógica do cada um por si, derivada de determinações históricas devastadoras que se irradiam da supremacia global das finanças desreguladas, para todas as dimensões da vida, da economia e da sociabilidade em nosso tempo.

A dificuldade de se iniciar esse salto advém, em primeiro lugar, da inexistência de um espaço democrático de debate  em que os interesses da sociedade  deixem de figurar apenas como um acorde dissonante no monólogo da restauração neoliberal.

Cada um por si, e os mercados por cima de todos, ou a árdua construção de um democracia social negociada?

É em torno dessa disjuntiva que se abre a janela mais panorâmica da encruzilhada brasileira nos dias que correm.

Da ampliação da democracia participativa depende o futuro dos direitos trabalhistas, a sorte das famílias assalariadas, a repartição da renda e a cota de sacrifícios entre as classes sociais na definição de um novo ciclo de crescimento.

É essa moldura histórica que magnifica a importância da Política Nacional de Participação Social anunciada agora pelo governo.

Para que contemple as grandes escolhas do nosso tempo, porém, é  crucial que o governo não se satisfaça em  tê-la apenas como um aceno de participação ou um ornamento  da democracia.

Os desafios são imensos. Maior, porém, é a responsabilidade do discernimento que sabe onde estão as respostas e tem o dever de validá-las.

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Antonio Machado: Doutor não enxerga veneno nas páginas do jornal que lhe paga salário


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Cláudio

… “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

PIMENTA

Aécio age como um idiota e diz para seus aliados “sugarem” o Governo
25 de junho de 2014 | 21:14 Autor: Fernando Brito

Do Estadão, agora há pouco:

“O senador Aécio Neves (MG), candidato do PSDB à Presidência, afirmou nesta quarta-feira, 25, que novos dissidentes da base de apoio do governo vão aderir à sua candidatura. Segundo o tucano, o governo não percebeu ainda esse movimento porque esses aliados ainda vão “sugar um pouco mais” antes de anunciarem sua adesão à sua campanha. Aécio disse concordar com a estratégia desses supostos futuros aliados.

“Eu digo: façam isso mesmo. Suguem mais um pouquinho e depois venha para o nosso lado”, disse essa tarde, em Brasília“.

Não sei se gravaram a declaração.

Se o fizeram, isso é um petardo em sua própria candidatura.

Seus aliados, a partir de agora, são os “sugadores” do governo.

E, claro, irão para junto dele pensando em sugar também.

Que maravilha ter um adversário como Aécio Neves.

Faz-me lembrar o “Tio” Ivo, um “coroa” (como eu sou agora) da vila de subúrbio onde morei, que , cardíaco, jogava de “beque parado” nas peladas da garotada e, dependendo de quem pegava a bola no outro time gritava lá de trás:

– Larga! Deixa sozinho que este a natureza marca!

Ah, Aécio, que maravilha é a força da natureza, que explode dentro da gente e acaba mostrando como a gente pensa e é.

PIMENTA

Dilma cria empregos
a mão cheia !​

Chora, Arrocho Neves, chora ! Muda o salário mínimo ! Muda o Bolsa Família !

Saiu no Portal Brasil :

Geração de empregos formais no governo Dilma supera marca de 5 milhões

De janeiro de 2011 a maio de 2014, o emprego formal cresceu 11,47%, somando 5.052.710 de vagas e média mensal de 123.237 novos postos de trabalho

O Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mede a geração de postos de trabalho com carteira assinada no País, registrou a criação de 58.836 vagas em maio, valor que representa crescimento 0,14% em relação ao estoque do mês anterior. O número é o saldo entre 1,849 milhão de admissões e 1,790 milhão de desligamentos em maio, informou nesta terça-feira (24) o Ministério do Trabalho e Emprego (M.TE).

Com o resultado de maio, a geração de empregos formais no governo Dilma Rousseff superou a marca de 5 milhões. “No período de janeiro de 2011 a maio de 2014, ocorreu um crescimento de 11,47% na geração de postos formais de trabalho alcançando 5.052.710 empregos criados, uma média mensal de geração de 123.237 postos de trabalho com carteira assinada”, informou o ministério.

O Caged revela também que no acumulado do ano (janeiro a maio) houve expansão de 1,34% no nível de emprego, equivalente ao acréscimo de 543.231 postos de trabalho. Se considerados os últimos 12 meses, o aumento foi de 867.423 postos de trabalho, correspondendo à elevação de 2,15%. Com relação a maio do ano passado, no entanto, o saldo de maio significa uma queda de 18,3%.

Trajetória positiva no cenário mundial

Os dados foram apresentados pelo ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, que destacou a média de empregos gerados mensalmente no Brasil. “Nós atingimos cinco milhões de empregos no atual governo e vamos continuar gerando novos postos de trabalho. Mantivemos uma ótima média mensal de 123 mil empregos. Mesmo com a falta de empregos no mundo, o Brasil continua sua trajetória positiva de geração de postos de trabalho”, ressaltou.

A geração de 5.052.710 no período de 2011 a 2014 demonstrado pelo Caged foi resultado originado da expansão generalizada dos vários setores de atividades econômicas, com destaque para os setores de Serviços (+2.554.078 postos), seguido do Comércio (+1.140.983 postos), da Construção Civil (+580.023 postos) e da Indústria de Transformação (+510.544 postos).

Em nível geográfico o destaque foi para o estado de São Paulo que respondeu pela criação de 1.349.271 postos de trabalho, o que representou cerca de 27% do saldo líquido do Brasil.

Números de maio

No mês de maio, foram gerados 58.836 empregos formais, um crescimento de 0,14% em relação ao estoque do mês anterior. O aumento mantém a trajetória de expansão, com um total de 1.849.591 admissões no mês e os desligamentos atingindo 1.790.755, o que resultou no resultado positivo no mês, sendo o segundo e o maior montante já registrado para o período, respectivamente, o que denota a capacidade da economia de manter o número de contratações em patamar expressivo a despeito do número de desligamentos.

O mercado formal apresentou expansão do emprego em seis setores da economia, tendo quatro deles demonstrado melhor desempenho em relação aos dados de maio de 2013.

Em termos absolutos, os setores responsáveis pelo desempenho positivo no mês foram a Agricultura (+44.105 postos ou +2,79%, ante saldo de +33.285 postos em maio de 2013); o setor de Serviços (+38.814 postos ou + 0,23%, ante 21.154 postos em maio de 2013); e a Construção Civil (+2.692 postos ou +0,08%, ante uma redução de 1.877 postos no mesmo mês do ano anterior).

A Indústria de Transformação, com o declínio de 28.533 postos (-0,34%), foi o setor que mais contribuiu para o desempenho mais modesto no mês de maio.

Estados

Os dados por recorte geográfico mostram que em quase todas as regiões brasileiras ocorreu elevação no nível de emprego, com destaque para a região Sudeste com geração de 51.136 postos; a Centro-Oeste, que gerou 7.765 postos e a região Norte com criação de 4.327 postos de trabalho.

Entre os estados, 17 elevaram o nível de emprego, com destaque para o estado do Pará, com geração de +5.204 postos ou +0,66%, apresentando saldo recorde para o período dentre todas os estados, decorrente do desempenho positivo em quase todos os setores com destaque para a Construção Civil que gerou 4.846 postos; Minas Gerais com geração de 22.925 postos ou +0,53% e São Paulo que criou no mês 13.201 postos ou +0,10%.

roberto

Quem xinga e ofende nunca tem razão e perde. Quem mostra serviço e é educado,ganha sempre.
Resultado da eleição futura: Oposição Xingadora 0 x 10 Governo trabalhador

Edgar Rocha

Partindo da premissa do jogo político circunscrito às instâncias democráticas, mesmo que capengas como as de nosso país, faz todo sentido manter a esperança na continuação do processo iniciado no governo Lula, ainda que cheio de percalços, contradições e adiamentos.
Mas, de que vale tudo isto que foi dito, se as regras do jogo é que estão sendo ameaçadas, com a possibilidade de que o referido “evento simbólico catalisador” venha a romper a crosta da História como um momento de revelação das forças conservadoras, refratárias às conquistas e à continuidade da construção da democracia real? O que se coloca como ameaça no momento não é a derrota política nas urnas somente. Esta seria um mal menor. O que tem preocupado é o sumiço da urna antes que possamos depositar-lhe nossas escolhas. Enquanto cidadão comum e anônimo, tenho repetido inúmeras vezes um dicurso baseado na sensação epidérmica que cada cidadão periférico tem sentido em seu cotidiano. O frio corta a pele dos que estão menos agasalhados, antes que possa ser sentido pelos que não tiram o “sobretudo”. O avanço negligenciado do crime organizado, suas relações pra lá de íntimas com o conservadorismo, seus tentáculos espalhados por todas as representações, o apoio institucional velado e ignorado pelos que gozam de alguma proteção insititucional, a administrção dos lucros por parte de agentes de suposta proteção, a corrupção disseminada em todos os níveis em favor do crime organizado, o discurso anti-direitos humanos, a cooptação quase integral da nova geração, a expansão de paradigmas sociais que corroboram a lógica do mais forte, a interação do poder econômico globbalizado, do crime e das instituições… Querem mais motivos pra temer um colapso social? Que outros motivos precisamos elencar para entendermos de uma vez por todas que o preço a pagar pela omissão diante deste quadro é o de que todas as possibilidades políticas – sejam estas referentes a uma eventual vitória, sejam a uma derrota nas urnas – venha a se tornar completamente obsoleta e desnecessária? Tem-se falado tanto em Jango… sua deposição foi àquela época o evento simbólico catalisador de toda uma conjuntura negligenciada pelos que acreditam nas forças do jogo democrático. Será que esperam cair o raio no mesmo lugar, a fim de acomodarem-se novamente à condição de párias? Heróis, porém, párias. Seria esta a utopia dos que não enxergam ou, tentam “contemplar” estas forças subterrâneas no jogo político? Seriam tão ingênuos (ou malandros) quanto parecem? Pois, neste jogo entre o subterrâneo e o que podemos ver, só restam a desconfiança em relação aos que ignoram aparentemente os sinais de desabamento, na certeza de que a casa que ruirá não será a sua. Talvez pensem que a vida dos que estão prestes a serem soterrados seja um sacrifício ao qual eles, os representantes ideológicos, estão dispostos a fazer em nome de sua vaidade e de sua imagem arqutípica da eterna vítima do poder. Tudo em defesa de seu casteilnho de cartas: o reino das ideologias.

Serapião

Sabemos que no nosso mundo capitalista – não há outro – para se ter sucesso há a necessidade de ser competitivo e competente, e fazer isso com o mínimo de energia despendida possível. A China é competente. Dizem que tem 300 milhôes de ricos e 1 bilhão de pobres, que os sustentam. A equação fica: 3 para 1. Lá, a classe trabalhadora é explorada – no sentido estrito – pelos empresários, funcionários do governo. O sistema é comunista, opressor, para o lado de dentro; e capitalista, livre, para fora. Um caso de dupla personalidade.
No Brasil, nós temos sindicatos livres, a imprensa livre e uma Constituição democrática. Esses são bens que devemos preservar para podermos voltar a crescer, sem seguir o exemplo chinês.

    Mário SF Alves

    Com licença, Serapião, e sobre a análise expressa no texto do Saul Leblon, o que você diria?
    Você concorda com ele?

    Hell Back

    Não sei porque têm-se a mania de comparar alguma coisa com a China! Cada país tem as suas particularidades. Um modelo que serve aqui, não pode ser aplicado lá e vice-versa. São coisas diferentes. Até nos modelos econômicos acontece o mesmo.

Gilson

Sábias Palavras

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