Professora da Universidade Federal do PR é alvo de racismo em mercado de Curitiba; ela fez BO e irá às últimas consequências; vídeo e fotos

Tempo de leitura: 4 min
Professora Lucimar Rosa Dias coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação para as Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foto: Reprodução de vídeo

As advogadas voluntárias Tânia Mandarino, Giuliana Alboneti e Liliana Cotinho de Assis acompanharam a professora Lucimar à Delegacia para fazer o Boletim de Ocorrência contra o Mercado Rei do Queijo, em Curitiba. Foto: Lara Sfair

Da Redação

Na noite dessa sexta-feira (06/03), a Câmara Municipal de Curitiba realizou sessão solene para celebrar o  Dia Internacional da Mulher, comemorado neste 8 de março.

As vereadoras homenagearam 31 mulheres que se destacaram em diferentes setores.

As indicadas pela Professora Josete (PT) foram Lucimar Rosa Dias, Leonete Maria Spercoski Ribas, Karollyne Nascimento e Maria Meira.

Este vídeo mostra a fala delas na cerimônia.


A foto abaixo registra Lucimar, toda feliz, recebendo o prêmio da vereadora Josete.

Lucimar Rosa Dias é professora. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação para as Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Mal sabia Lucimar que 14 horas após festejar o prêmio seria alvo do racismo e discriminação que ela tanto denuncia.

Seguranças do Mercado Rei do Queijo,em Curitiba,  acusaram-na de roubo.

O Rei do Queijo é no anel central de Curitiba, próximo ao Mercado Municipal.

“Lucimar ficou assustada, nervosa, surpresa, confusa, ficou sem saber se ia pra casa ou voltava ao mercado, se gritava ou corria, se chorava ou xingava”, conta Lara Sfair, jornalista voluntária do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia, em artigo publicado na página do CAAD.

Lucimar contatou então sua rede de apoio e foi atendida por advogadas voluntárias.

Foi feito o Boletim de Ocorrência (na íntegra, ao final).

A professora Lucimar está decidida a ir às últimas consequências.

Racismo é crime!

O Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR apoia-a integralmente: Professora Lucimar, sua luta é nossa luta!.

Na véspera do dia da mulher, homenageada decide levar as últimas
consequências a resposta ao que elas sentem na pele todos os dias

Professora foi vítima de um dos crimes mais comuns e menos notificados do País

por Lara Sfair, na página do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD)

Sábado de sol em Curitiba, a Professora Lucimar Rosa Dias pegou sua bolsa, sua ecobag e foi comprar ingredientes pro almoço festivo do filho que agora é universitário e queria comemorar com os amigos.

Feliz pela boa fase na vida privada, lembrava da linda noite anterior, na Câmara Municipal, a cerimônia em que recebeu homenagem pelo Dia da Mulher.

Entrou no mercado, escolheu os produtos, colocou na ecobag, foi pro caixa, despejou na esteira, pagou e colocou de volta na sacola ecológica.

Só aceitou sacolinha plástica pros pães do lanche da tarde, que não cabiam na dela.

Voltando pra casa a pé, não havia andado duas quadras quando foi abordada de forma brusca por três homens, dois com o uniforme do mercado de onde saíra.

O terceiro, à paisana, acusou-a de ter roubado no mercado: um cliente havia avisado e eles “conferiram nas gravações em vídeo”. E exigiam que ela se submetesse a eles, que confessasse que roubou, que voltasse para acertar contas. Ou eles chamariam a guarda municipal.

Lucimar ficou assustada, nervosa, surpresa, confusa, ficou sem saber se ia pra casa ou voltava ao mercado, se gritava ou corria, se chorava ou xingava. Disse que chamassem a guarda sim. Mostrou a notinha do mercado, conferiu as compras e pagamentos.

O trio não se contentou, um deles arrancou a nota das mãos dela e enfiou as próprias mãos dentro da ecobag, sem licença ou respeito.

Queria saber da caixa de barras de cereais (devidamente registrada e paga, como exibia a nota de compras). Queria saber o que ela roubou. Queria que ela se submetesse. Que se humilhasse. Afinal, se alguém disse que ela roubou e se eles viram nas câmeras…

A professora voltou ao Mercado Rei do Queijo. Voltou para mostrar que comprou e pagou tudo que comprou.

Voltou para entender se a acusação era mais do mesmo. Constatou que era. Que sempre é. Não havia vídeo, não havia roubo, não havia nada além do que sempre há desde que ela nasceu: preconceito. Racismo. Discriminação.

A professora chamou racismo de racismo, e ouviu que “não denegrimos ninguém, os donos até são morenos”.

Indignada, ela explicou que “denegrir” é um termo racista. E que não existe “moreno”: ou é branco ou é preto ou é pardo.

Lucimar coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação para as Relações Étnico-Raciais (ErêYá) do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UFPR, que integra o Programa de Pós-Graduação em Educação da linha de pesquisa Diversidade, Diferença e Desigualdade Social em Educação.

São teorias de uma prática cotidiana, que ela não suporta mais. Nenhuma mulher negra suporta mais.

Lucimar foi acolhida por clientes do estabelecimento. Algumas mulheres perceberam o que estava havendo e a abraçaram.

Um rapaz filmou e entregou o vídeo a ela. O próprio gerente quando se deu conta do tamanho da violência cometida quis entrar na fila do abraço – que Lucimar educadamente recusou. Uma moça ofereceu carona e foi com o pai levá-la em casa.

A professora chamou suas colegas, que chamaram advogadas voluntárias.

Depois de horas de conversa, a decisão foi tomar as medidas legais e denunciar a violência sofrida. Racismo é crime. Registrado BO na delegacia de Polícia, Lucimar tem um desejo para este 8 de março: respeito pelas mulheres, sobretudo pelas mulheres negras.

Que estes episódios se tornem públicos, sejam denunciados, tenham conseqüência. Até que deixem de existir.

Que ninguém seja julgado ou condenado por estereótipos perpetuados em uma sociedade hipócrita.

Chega de racismo!

Lara Sfair é assessora voluntária de Comunicação do CAAD.


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Comentários

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DAGMAR

PEÇO PERDÃO A PROFESSORA LUCIMAR PELA CRUELDADE QUE SOFREU……..IMAGINO O QUE AS PESSOAS SOFREM………JOVENS AO ENTRAREM EM SHOPPING………LOGO SEGURANÇAS FICAM COLADOS……PERSEGUEM………NUM PAÍS DE MAIORIA NEGRA……….MUITA CRUELDADE……..

marola

Todo apoio a professora, mas denegrir NÃO É um termo racista, não sei de onde tiraram essa idiotice.

Claudia Queirós

“A carne mais barata do mercado é a carne negra”, canta a maravilhosa Elza Soares! 2020 e uma professora universitária é vítima de racismo após realizar compras em mercado de Curitiba! 2020 e muitos negros são mortos nas periferias, simplesmente porque são negros! Moro na cidade mais negra do Brasil, na África fora da África e pergunto, até quando?

abelardo

Se existe algum tipo de competência em governos autoritários, fascistas e escravocratas é na disseminação do racismo, do preconceito, da intolerância e do ódio. Pessoas fracas de espírito e carentes de uma educação familiar educativa, onde se ensina a importância do respeito, da tolerância e o que é igualdade de direitos e deveres, se tornam vulneráveis presas dos ditadores de plantão. Daí é que surgem a maioria das pessoas, que vem a se tornar espécies manipuladas, onde muitas cometem suas barbáries por persuasão e/ou adestramento cerebral, e algumas outras por já possuir a consciente maldade e a intencional má fé. Porém, se houvesse por parte dos governantes o interesse em combater essas odientas barbáries bastava implantar um sistema educacional orientado para também para ensinar o que é civismo, respeito, racismo, igualdade de direito e de raça. Possivelmente a truculenta ação de abuso, de violência, de Intolerância e racismo tenha uma grande dose de influência dessas tenebrosas influências, sem contar com as que já carregam de berço.

a.ali

Professora Lucimar, meu maior respeito e é assim que se faz! esses racistas só vão aprender qdo. forem expostos e doer na parte mais sensível do corpo: o bolso!

Zé Maria

As vezes a gente se pergunta
como. pode a Melanina causar tanto Efeito numa Alma Doente e Suja.

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