Caro Azenha,
Tomo a liberdade de reproduzir aqui, na íntegra, o texto de uma das diretoras do Sindicato dos Professores de Ipatinga e, ao mesmo tempo, denunciar o que vem acontecendo em minha cidade e que, como é prática dos governos mineiros, a impren$a não “pode” divulgar.
Obrigada.
Kátia, professora na cidade de Ipatinga MG
Desde o anúncio de que as diretoras do Sind-UTE/MG – subsede de Ipatinga, Cida Lima e Feliciana Saldanha iniciaram uma ‘GREVE DE FOME’ contra o descaso da administração municipal com a Educação, seus profissionais, pais, mães e alunos, tem ouvido diversas análises e indagações.
A principal delas tem relação com os efeitos desse ato. Os questionamentos são decorrentes da constatação de um assombroso grau de irresponsabilidade política e falta de sensibilidade da administração municipal com as demandas populares.
Além disso, a sociedade capitalista vê sempre a vida como um ato de sobrevivência, o trabalho como batalha para ganhar o pão e a relação humana como concorrência. Numa cultura assim, a luta coletiva e a busca do bem comum parece ser mais do que utopia. Parece ingenuidade, falta de maturidade política.
Neste contexto, importa a seguinte indagação: Qual o significado político do ato pacifista e extremado, materializado pelas companheiras Cida e Feliciana, através de uma greve de fome?
Nas guerras contemporâneas os combatentes utilizam armas atômicas, químicas e biológicas, um arcabouço repressivo aniquilador de vidas, com um poder de destruição sem paralelo na história da humanidade. Nesta luta, em defesa da Educação e de uma série de postulados construídos ao longo das últimas décadas pelo movimento docente, lançamos mão apenas da crença mobilizadora. Uma verdadeira profecia de fé e confiança no futuro.
Apoie o VIOMUNDO
Nossas companheiras apresentam-se, assim, movidas por ideias, sensibilidade e amor pela vida… no limite de suas forças.
Quem diria que os rumos da greve dos educadores de Ipatinga, bem como a simulação da abertura ao diálogo, iria conduzir-nos nos dias de hoje, a revitalizar uma das mais terríveis artes de que é capaz o ser humano: A ARTE DA FOME. Tal como o protagonista kafkiano, elas também o fazem por falta de gosto para as comidas existentes, dieta com gosto de opressão, sem possibilidade de escolha — preparada no tacho das mais nefastas disputas políticas.
No gesto de Cida e Feliciana os educadores de Ipatinga dizem em uníssono: Privo-me da comida porque me privam da palavra que tem fome de ser. Privo-me da comida porque tentam tirar-me os direitos, o salário, o respeito, a dignidade e a autoestima. Tenho fome de verdade. Tenho fome de saber. Tenho fome de justiça.
Grande abraço,
Leida Tavares
coordenadora do Departamento de Formação do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE)




Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!