Professora Kátia: A greve de fome em Ipatinga

Tempo de leitura: 2 min

Caro Azenha,

Tomo a liberdade de reproduzir aqui,  na íntegra, o texto de uma das diretoras do Sindicato dos Professores de Ipatinga e, ao mesmo tempo, denunciar o que vem acontecendo em minha cidade e que, como é prática dos governos mineiros, a impren$a não “pode” divulgar.

Obrigada.

Kátia, professora na cidade de Ipatinga MG

Você tem fome de quê?

Desde o anúncio de que as diretoras do Sind-UTE/MG – subsede de Ipatinga, Cida Lima e Feliciana Saldanha iniciaram  uma ‘GREVE DE FOME’  contra o descaso  da administração municipal com  a Educação, seus profissionais, pais, mães e  alunos, tem ouvido diversas análises e indagações.

A principal delas tem relação com os efeitos desse ato. Os  questionamentos são decorrentes   da constatação  de um assombroso grau de irresponsabilidade  política e falta de sensibilidade  da administração municipal  com  as demandas populares.

Além disso, a sociedade capitalista vê sempre a vida como um ato de sobrevivência, o trabalho como batalha para ganhar o pão e a relação humana como concorrência. Numa cultura assim, a luta coletiva e  a busca do bem comum  parece ser mais  do que  utopia. Parece ingenuidade, falta de maturidade política.

Neste contexto, importa  a seguinte indagação:  Qual o significado  político do ato pacifista e extremado, materializado  pelas companheiras Cida e Feliciana, através de uma greve de fome?

Nas guerras contemporâneas os combatentes utilizam armas atômicas, químicas e biológicas, um arcabouço repressivo aniquilador de vidas, com um poder de destruição sem paralelo na história da humanidade. Nesta luta, em defesa da Educação e  de uma série de postulados construídos ao longo das últimas décadas pelo movimento docente, lançamos mão  apenas da  crença mobilizadora. Uma verdadeira profecia de fé e confiança no futuro.

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Nossas companheiras apresentam-se, assim, movidas por ideias, sensibilidade  e amor pela vida… no limite de suas forças.

Quem diria que os rumos da  greve dos educadores de Ipatinga, bem como a simulação da abertura ao diálogo, iria conduzir-nos nos  dias  de hoje, a revitalizar uma das mais terríveis artes de que é capaz o ser humano: A ARTE DA FOME. Tal como o protagonista kafkiano, elas  também o fazem por falta de gosto para as comidas existentes, dieta com gosto de opressão, sem possibilidade de escolha — preparada no tacho das mais nefastas disputas políticas.

No gesto de Cida e Feliciana os educadores de Ipatinga dizem em uníssono: Privo-me da comida porque me privam da palavra que tem fome de ser. Privo-me da comida porque tentam tirar-me os direitos, o salário, o respeito, a dignidade e a autoestima. Tenho fome de verdade. Tenho fome de saber. Tenho fome de justiça.

Grande abraço,

Leida Tavares
coordenadora do Departamento de Formação do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE)

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