Polícia apreende “arte degenerada” em Campo Grande

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O quadro e os deputados que nos livraram da “perdição”; o coronel David é aliado de Jair Bolsonaro

Polícia vê incentivo à pedofilia e apreende quadro exposto no Marco

Obra estava no espaço de arte desde junho deste ano, mas só agora provocou polêmica

Marta Ferreira e Guilherme Henri, Campo Grande News

A Polícia Civil apreendeu nesta tarde o quadro “Pedofilia”, que estava em exposição no Marco (Museu de Arte Contemporânea), no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande.

Apesar de estar no lugar desde junho, só hoje a mostra gerou denúncia à DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), por deputados estaduais que enxergaram apologia à pedofilia nas obras.

O delegado que foi ao local, Fabio Sampaio, acatou o argumento e apreendeu uma das obras, alegando que há incitação ao crime.

Antes mesmo da polícia chegar ao local, a direção do museu já havia imposto censura para menores de 18 anos à exposição. Além disso, a sala onde ocorre a mostra recebeu película escura nos vidros das portas.

Coordenadora do Museu, Lucia MontSerrat, afirmou que estava triste com o episódio. Indagada se vê problema no quadro, ela respondeu que vê, na verdade, uma denúncia à sociedade.

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A imagem reproduz a figura de um homem, com o órgão genital aparente, e uma criança em tamanho menor. A menina tem olhos grandes. Como figura de fundo, está um olho. A pintura também tem escrita a frase: o machismo mata, violenta e humilha.

Polêmica

O movimento contra a exposição “Cadafalso”, da artista plástica mineira Alessandra Cunha Ropre, foi o centro de acalorados debates na sessão da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, nesta quinta-feira, 14.

Os deputados classificaram a obra da artista como promoção “de sacanagens e desrespeito à família e aos bons costumes”.

A exposição da artista mineira, que segundo os parlamentares apresenta entre outras coisas cenas de pedofilia e de masturbação, está no Marco desde o mês de junho, mas só agora os parlamentares deram conta do seu conteúdo, a poucos dias do encerramento previsto para o dia 17 deste mês.

Quem levantou o tema na Assembleia Legislativa foi o deputado Lídio Lopes (PEN, foto abaixo).

Ele disse que questionava uma exposição do Santander Cultural, em Porto Alegre, que acabou cancelada sob a acusação de fazer promoção de pedofilia, zoofilia e blasfêmia.

No término da sessão três deputados Paulo Siufi (PMDB), Herculano Borges (Solidariedade) e Coronel David (PSC) denunciaram a exposição formalmente na Depca (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente).

NOTA DE REPÚDIO

A comunidade cultural representada pelo Fórum Municipal de Cultura de Campo Grande vem manifestar seu repúdio à retirada da obra da artista Alessandra Cunha Ropre do Museu de Arte Contemporânea de MS em Campo Grande.

O gesto mostra a arbitrariedade dos que se julgam “guardiões” da moral e dos bons costumes, uma extremada posição do pensamento ultraconservador que não oferece chances ao diálogo e ao entendimento do que sejam obras de arte.

Conforme a curadora do Marco, a exposição visa a denúncia contra a pedofilia e alerta para os males que isso possa causar.

As obras pictóricas, são um reflexo de nosso tempo e suas contradições.

As linguagens da arte são diversas, ampliam a construção do conhecimento e a liberdade criativa.

As telas de Alessandra despertam debate, e nada justifica a censura porque limita a criação artística e a liberdade de pensamento.

A exposição que já possuía recomendação para pessoas acima de 12 anos, é uma obra hermética, só bem interpretada após acurado olhar e não representa ofensa à moral, aos bons costumes, e muito menos é pornográfica como querem nossos zelosos representantes estaduais que, tardiamente, resolveram imitar o Banco Santander que proibiu a exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” em Porto Alegre.

O Fórum se coloca ao lado da artista, da gestora do MARCO, da categoria e de todos os cidadãos que prezam pela arte e pela liberdade, lembrando que estamos alertas, por que é por aí que começa um processo de censura que está atingindo diversas manifestações culturais.

Pelas liberdades individuais, coletivas, artísticas e respeito à Constituição Federal.

Leia também:

Ropre, autora do quadro: É denúncia ao machismo!

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