PM paulista inventa lei: Protesto, só com líder identificado

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IR E VIR?

Policiais militares encurralam protesto contra prisão de ativistas na avenida Paulista

Repetindo tática utilizada em protestos anteriores, policiais fazem cordão em torno de manifestantes e não permitem saída de marcha sem que movimentos apontem lideranças formais

por Gisele Brito, da RBA publicado 26/06/2014 20:30, última modificação 26/06/2014 21:40

São Paulo – Cerca de 300 pessoas realizaram ato político nesta quinta-feira (26) na Avenida Paulista, região central de São Paulo, para exigir a libertação dos ativistas Fábio Hideki e Rafael Marques, presos na última segunda-feira (23) por policiais civis enquanto participavam de uma manifestação contra a Copa do Mundo. Eles foram detidos separadamente, mas acusados de associação criminosa por terem sido identificados como adeptos da tática black bloc.

Entidades de direitos humanos criticam ainda as prisões por suspeitarem que a informação da polícia, de que foram encontrados artefatos explosivos com os ativistas, é falsa: vídeos de celular registraram o momento da prisão de Hideki, e, quando os policiais revistam sua mochila, não fazem menção a ter encontrado nenhum material perigoso. Já Marques teria sido preso sem nenhuma mochila, bolsa ou sacola onde poderia portar tais objetos.

“Mas não é só pelos dois ativistas. Não importa neste momento o que eles pensam, quais as suas ideologias, etc. Eles são vítimas de um Estado que forja descaradamente acusações. Trata-se de um ataque a toda a população, um ataque às mínimas liberdades democráticas! “, afirma o texto de convocação para o ato, no Facebook.

Militantes da frente “Se Não Tiver Direitos, Não Vai Ter Copa”, do Comitê Popular da Copa, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Fanfarra do Mal e outros coletivos tentaram dar início a uma marcha, mas foram impedidos pela Polícia Militar: em número muito superior ao de manifestantes, e com batalhões da cavalaria, do Choque e da Rota, os policiais repetiram a tática de cercar o movimento e impedir sua livre movimentação pela rua.

Entre as palavras de ordem que nortearam a manifestação, estava a Ditadura Não e críticas ao secretário de segurança pública, Fernando Grella. “Num Estado Democrático tais ações arbitrárias seriam, sem dúvida, motivo suficiente para justificar a saída do Secretário de Segurança Pública Fernando Grella, bem como dos policiais militares e civis diretamente responsáveis pelas ações repressoras dos últimos meses”, dizia o texto-manifesto.

O coronel Pignatari, comandante da operação na Avenida Paulista, impôs a condição de que apenas se os movimentos presentes indicassem lideranças a serem responsabilizadas por eventuais delitos, seria possível realizar a passeata.

Manifestantes negaram-se a aceitar a condição da PM, e foram cercados pela cavalaria sob o vão do Masp a partir das 18h, e seguiram assim até o fim da movimentação. A preocupação era com novas prisões consideradas “arbitrárias”. Além disso, coletivos horizontalizados, de orientação anarquista e, por definição, sem hierarquia, negaram-se a eleger líderes.

Manifestantes negaram-se até a dar entrevistas à imprensa, com medo de que fossem identificados posteriormente pela polícia como porta-vozes dos movimentos por sua aparição em reportagens. Nos últimos meses, a polícia tem recorrido com frequência à tática das detenções preventivas de ativistas, para evitar sua participação em atos políticos.

A argumentação de que a Constituição Federal não exige que haja lideranças formais para a realização de protestos não demoveu a PM, que cedeu apenas após a intervenção do padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, que acompanhava a manifestação. Ele conseguiu liberar uma faixa da Avenida Paulista, diretamente em frente ao Masp, por 40 minutos, das 19h20 às 20h. Nesse ínterim, os primeiros manifestantes começaram a deixar o local.

Quando a “trégua” acabou, a própria polícia havia fechado a avenida pela maior parte do tempo: as faixas no sentido Paraíso foram ocupadas pela cavalaria, duas viaturas da Tropa de Choque e PMs com armaduras. No sentindo Consolação, um batalhão da Tropa de Choque e PMs no meio-fio da calçada. Alguns policiais da cavalaria e do Choque estavam sem identificação em suas fardas, e apresentavam uma câmera acoplada ao uniforme ou à armadura para registrar imagens dos manifestantes durante o ato.

No final da manifestação, ativistas independentes acusavam o movimento Território Livre de terem cedido às pressões da polícia. “Eles foram embora com medo de serem presos. Mas companheiros nossos, inocentes, estão presos e nós estamos aqui, tendo nosso direito de manifestação negado. Vamos ficar”, afirmou um deles que não quis se indentificar.

Restaram menos 10 manifestantes sentados no chão da avenida. Por volta das 21h, os últimos remanescentes aceitaram liberar a pista. Homens da Tropa de Choque permaneceram isolando o vão do Masp quando só havia advogados, observadores legais e jornalistas sob o museu. Segundo o grupo Advogados Ativistas, não houve prisões durante a manifestação.

PS do Viomundo: Um punhado de simpatizantes petistas assiste a tudo isso calado, quando não explicitamente aplaudindo a PM; é uma “aliança tática” com a direita em nome de preservar a Copa. Enquanto isso, a PM “normaliza” o arbítrio, que eventualmente será usado lá na frente contra a esquerda e toda e qualquer manifestação popular. A isso se chama fazer aliança com o diabo.

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Comentários

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Antônio

Não vejo surpresa no modo operante da pm paulista, pelo secretário que tem, outra atitude não seria esperado. Quanto a acordos, não é o partido que faz, é o eleitor que obriga a se fazer comqualquer um. Numa democracia, todo candidato eleito representa alguém, pessoas que, gostem ou não, são cidadãos, a saída é o acordo ou a derrota, tanto que a eleição se define em 80% no último dia, que a lei determina, que seja feita as coligações.

Regina Braga

Aberrações cognitivas por todos os lados…sei que a direita é implacável mas se a esquerda não for diferente, torna-se a pp direita um pouco píor.Pois em nome das conquistas feitas todos os crimes podem ser cometidos.Que coisa mais feia…união mais louca!

Fernando

PT – PM – FIFA

União sinistra que incomoda muita gente

Edgar Rocha

Não é isto que chamam de pragmatismo político? Por outro lado, tem muito petista disputando voto no meio universitário, dando apoio velado a muitas manifestações oportunistas desde junho de 2013. É o que se subentende com o PS do Viomundo (‘um punhado de simpatizantes petistas assiste a tudo isso calado’… o outro toma as dores, então?). Isto também não é pragmatismo político? Há outros petistas que teimam em denunciar a ação a polícia e o crime organizado na periferia, embora haja outros dispostos a ‘dialogar com o diferente’ e acolhê-los até nos quadros do partido (preciso dizer o nome?) Mais pragmatismo? Tudo isto não é ‘aliança tática’? (ia me esquecendo do Maluf)
De tática em tática, a identidade petista se assemelha cada vez mais ao “Retrato de Dorian Grey”. A cada ferimento curado, uma mácula a mais em sua imagem oculta, porém real.

Adilson

Respondendo ao VS: um punhado de simpatizantes assisti isso caldo…

Por qual motivo os simpatizantes petistas devem se envolver nisso se nas manifestações de junho de 2013 foram expulsos dos protestos. Por qual motivo os simpatizantes petistas devem se envolver nisso se os movimentos de extrema esquerda vivem atacando o PT e com isso ajudando a direita. O PT e os simpatizantes petistas são alvos todos os dias da mídia, da direita e da extrema esquerda e nunca encontrou a solidariedade de nenhum desses. Inclusive, os simpatizantes petistas vivem sofrendo ameaças nas redes sociais por anti petistas, tanto de direito como de extrema esquerda e ninguém se solidariza com eles.

    José

    Cada qual é responsável pelas suas manifestações. Boa parte dessas passeatinhas ridículas não tem foco nenhum e são usadas para xingar a Dilma, criticar a copa, divulgar inverdades etc. Por que o PT tem que apoiar isso? O que esses partidecos já fizeram para defender o PT das arbitrariedades do Joaquim Barbosa?Nada. Até faixas chamando petistas de ladrões já levaram por aí.

    Abolicionista

    Ou seja, tudo se resume a uma disputa sectária. Desculpe, mas pra mim ser de esquerda e ser cidadão é mais do que reduzir a política a uma disputa futebolística, no ampli sentido da expressão…

    Antonio

    O PT é alvo da mídia porque o PSDB paga poupudas assinaturas de jornais e revistas e também de propaganda na tv e suspeita-se sem licitação. O dinheiro público dos estados para combater o PT. E também porque o PT cresce.

    sandra

    todo esse pessoal que sai gritando, nas manifestações, contra o governo do PT, só do PT, que foi o único a ouvi-los. só sabem gritar: dilma VTC, haddad VTC. pra alegar apartidarismo, igualam PT a PSDB. quando a porrada acontece vão todos chorar no PT, ou melhor, na dilma. os que descem a porrada são preservados. mas o PT e seus representados, tão lá, sim, defendendo-os. não é culpa se tem petista que não quer dar a outra face. PQP. e o PT, só tomando porrada por dar ouvidos a essas porras. VTNC

Leo V

Sugestão de publicação:

“Marcelo Freixo entrevista Rafael Vieira, o único brasileiro preso nas manifestações de junho de 2013. Rafael é morador de rua, negro e foi detido pela posse de uma garrafa de Pinho Sol, considerada pela polícia, pelo delegado, pelo promotor e pelo juiz um coquetel molotov. Rafael está preso há um ano.”

https://www.youtube.com/watch?v=ftjGNczaoNI

Leo V

O PS do Viomundo disse o que eu gostaria de ler, ou melhor, o que tenho dito com outras palavras por aí.

Eu acrescentaria, estão aplaudindo o mesmo estado de exceção que mantém a cupula do PT na prisão, num julgamento claramente político.

Leo V

http://www.spressosp.com.br/2014/06/25/ditadura-padrao-alckmin-conheca-fabio-hideki-preso-politico-em-sao-paulo/

Ditadura padrão Alckmin: conheça Fábio Hideki, preso político em São Paulo
25/06/2014

O militante foi preso na última manifestação contra a Copa do Mundo, em São Paulo, por supostamente portar explosivos; vídeo mostra que Fábio não carregava consigo nenhum objeto ilícito

Por NINJA

Após o término da manifestação do dia 23 de junho, em São Paulo, Fábio Hideki Harano foi preso por policiais civis à paisana sob a acusação de associação criminosa, incitação ao crime, porte de explosivo e suposta posse de um coquetel molotov.

Segundo o Secretário de Segurança Fernando Grella, “É a resposta da lei para esses indivíduos”. Curiosamente, a revista pessoal realizada por mais de dois policiais em frente às câmeras não encontrou qualquer objeto ilícito, muito menos um explosivo. O Secretário de Segurança, em mais uma prova do paradoxo legal de nossas forças de segurança, incentiva sua polícia a praticar crimes para que crimes não sejam praticados.

(ver aqui video da prisao e uma entrevista com Fabio em outra manifestação: https://www.youtube.com/watch?v=1uuIUlzy4VI )

A prisão desse manifestante pacífico ocorre em um momento muito delicado para o país, e mostra mais uma vez que a Constituição Federal não é parte do treinamento de nossas corporações militares. Objeto de crítica em diversos órgãos de Direitos Humanos nacionais e internacionais, a polícia política mostra que continua nas ruas do país.

O Judiciário, na contra mão das declarações de Grella, tem se demonstrado cauteloso e desconfiado quanto o material apresentado pela Polícia Civil, que vem tentando imputar a qualquer pessoa a qualidade de ”black bloc”. Parlamentares paulistas também estão acompanhando o caso de perto. A insuficiência de provas contra Fábio e a declaração do Padre Julio Lancelotti, que diz ter visto um flagrante forjado, colocam ainda mais suspeita sobre as ações recorrentes de nossa política pública de segurança.

Eva

E os blackblock dão a desculpa perfeita para a intervenção acintosa. Esses blocs não são cultura nacional. Eles só atrapalham.

Daniel Gullino

Acha bizarra a conivência de boa parte do PT (políticos e militantes) com tantos abusos da PM. E olha que é em São Paulo, governada pelo PSDB (como se o PMDB do Rio fosse diferente do PSDB na prática, mas enfim…).

O Viomundo é um dos poucos dos “blogs progressistas” que divulgam esse arbítrio, parabéns!

Márcio

Medonho, muito medonho.

E chega a ser asquerosa a conivência das velhas esquerdas.

A PM pode passar por cima de nós agora, mas é a história quem vai passar por cima de PT e cia.

    Leo V

    Exato.

    Secretaria de DH federal não vê e não enxerga o que está acontecendo durante a Copa.

    O Ministro da Justiça só vem a público para replicar o discurso da repressão.

    edu

    A PM que nunca foi flor que se cheire (lembremos que ela foi criada pela Ditadura Militar para combater o “inimigo interno”) agora tem um ótimo argumento para exercer seu autoritarismo dado pelos movimentos que saíram às ruas com uma postura autoritária: “não vai ter Copa”. Deram alimento ao monstro.

    Leo V

    Então os movimentos que foram às ruas contra privatizações e outras políticas nefastas à população também tinham bordões autoritários e fomentaram a repressão… Bela lógica.

    A repressão está caindo sobre indígenas, manifestações por transporte gratuito, contra remoções na Copa…

    Só falta agora vc dizer que a culpa do estupro é da vítima.

    Helena

    Concordo. A história não perdoa. Traição não pode ser perdoada.

Urbano

É a puliça de boston copiando a justiçazinha de boston; que beleeeeza… Ainda bem que há a contrapartida dessa situação, ou seja, há a polícia e a justiça íntegras e competentes.

Leo V

Apesar da prisão do manifestante Fabio ter sido filmada, e com várias testemunhas, mostrando que a prisão foi ilegal e que nada foi encontrado com ele (video publicizado); a Justiça além de não liberta-los, condena-os (essa é a palavra), à prisão preventiva. Enquanto isso uma manifestação pela libertação desses presos políticos é impedida de ocorrer em São Paulo, com cerco da polícia na concentração. Advogado de movimento social é preso com violência. Prisões arbitrárias e “preventivas” de manifestantes em inúmeras capitais. Inquéritos políticos de Porto Alegre à Goiânia, passando por São Paulo. Polícia sendo utilizada contra greves no Rio, São Paulo, Natal… Uso de munição letal contra manifestantes (no centro do Rio e São Paulo, algo que continua sendo comum nas periferias)
Não me recordo de ter vivido momentos tão generalizados e profundos de suspensão de direitos políticos nos últimos 30 anos.

Aí quando se apresenta proposta de participação popular em conselhos de governo, não sei se é para rir ou para chorar. O simulacro de democracia.

    Abolicionista

    Faltou dizer que reabilitaram a “lei de segurança nacional”, dos tempos da ditadura…

Alex Back

Viva a nova ditadura!

Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei.

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