Mário Augusto Jakobskind: Uma aula de manipulação

Tempo de leitura: 3 min

O Globo: exemplo de manipulação

Por Mário Augusto Jakobskind, no sítio Direto da Redação, via blog do Altamiro Borges

O Globo está cada vez mais extremado em matéria de pensamento único. Continua inconformado com a decisão da Suprema Corte de Justiça da Venezuela confirmando que o presidente Hugo Chávez não precisava tomar posse necessariamente no último dia 10. Mas é impressionante, o jornal da família Marinho a cada dia se supera em matéria de jornalismo ideologizado.

Para se ter uma ideia a que ponto chegaram os editores, na quinta-feira (10), página 28, apareceu uma foto de uma mulher cozinhando e a legenda dizia o seguinte: “Desabastecimento. Uma mulher cozinha sob a vigilância de um poster de Chávez – população já enfrenta problemas de escassez de produtos alimentícios na Venezuela”.

Seria uma legenda digna de humor ao estilo de O Pasquim se o texto não fosse criado de forma realmente séria. O sério virou ridículo

O Globo, claro, como impresso, tem o direito de fazer o que quiser, até mesmo em matéria de jornalismo de baixa qualidade, como tem demonstrado em suas edições diárias. Mas o que não pode ser aceito é transferir a manipulação da informação para os canais de televisão controlados pela família Marinho. E colocar, por exemplo, Arnaldo Jabor dando o recado do Instituto Millenium, para criticar de forma ignorante o presidente Hugo Chávez, com o claro objetivo de demonizá-lo.

Televisão é uma concessão pública e não pode ser utilizada pelos proprietários para o esquema de lavagem cerebral, como acontece também diariamente nos informativos das emissoras da família Marinho.

O desespero das Organizações Globo em relação ao que acontece na Venezuela chega as raias do absurdo. Convocam os colunistas de sempre, que seguem a pauta do Departamento de Estado e do Instituto Millenium. Qualquer crítica ao que acontece em matéria de manipulação da informação é geralmente respondida, quando respondida, como restritiva à liberdade de imprensa e de expressão.

As Organizações Globo convocaram também figuras do espectro ideológico do grupo, como Ives Gandra e Ophir Cavalcanti, presidente da OAB, para criticar a decisão da Justiça da Venezuela.

E o governo de Dilma Rousseff também não foi poupado por sua posição admitindo que a Venezuela adotou uma solução democrática na questão da posse de Chávez.

Como se todo esse exemplo de jornalismo absolutamente parcial não bastasse, as Organizações Globo até anteciparam a morte do presidente Hugo Chávez. Torcem visivelmente para que isso aconteça. E aí se perdem também, pois se Chávez incomoda vivo, morto vai ser incomodar ainda mais a direita carcomida.

Mas detrás de tudo isso se esconde o fato de as Organizações Globo, o Departamento de Estado, os colunistas de sempre, regiamente pagos, e as oligarquias latino-americanas temerem um fato real, qual seja, o caráter irreversível da Revolução Bolivariana.

Eis aí a causa principal do comportamento aético das Organizações Globo, ou seja, o temor que mesmo se Chávez não puder completar o novo mandato designado pelo povo, a Revolução Bolivariana continuará. Não tem mais volta.

A direita venezuelana, que continua jogando todas as suas cartas em Enrique Capriles, perde eleição e quer aproveitar a atual situação para ver se consegue reverter o fato histórico do novo tempo que representou a ascensão de Hugo Chávez.

E, como prova ainda da maior parcialidade das Organizações Globo, em um dos editoriais desesperadores, o jornal tenta comparar os acontecimentos atuais na Venezuela com um episódio ocorrido na vigência da ditadura no Brasil, quando o vice Pedro Aleixo foi impedido pelos militares de assumir no lugar do general de plantão Costa e Silva.

O Globo conta com a falta de memória de parte dos seus leitores e omite o fato de que sempre apoiou a ditadura e, como diria Leonel Brizola, ”engordou na estufa da ditadura”.

Em relação ao que acontece em matéria de manipulação de informação nas emissoras de televisão e rádio das Organizações Globo, mais do que nunca é preciso que o Brasil retome a discussão sobre o controle social da mídia, para que a democracia avance neste país, porque, sem isso, não se pode afirmar que no Brasil a democracia é cem por cento.

Esse debate não pode ser jogado para debaixo do tapete, como querem as poucas famílias que controlam as emissoras de televisão do país.

Nesse sentido, espera-se que a Presidenta Dilma Rousseff siga o exemplo de Cristina Kirchner e aceite enfrentar a questão.

Primeiro, a continuidade do debate amplo pela sociedade brasileira, por sinal já iniciado.

Depois, um posicionamento do Congresso e, finalmente, vontade política do Executivo para não evitar que haja avanço no setor.

Resta saber o que pensa sobre o tema o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.


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Comentários

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Marcus Vinicius

e por falar em manipulação, a Globo apronta mais uma… http://www.youtube.com/watch?v=KAmTYRWM48c

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ricardo silveira

“Esse debate não pode ser jogado para debaixo do tapete, como querem as poucas famílias que controlam as emissoras de televisão do país.” Mas, não são só donos dos meios de comunicação e os seus sabujos, a presidenta Dilma também acha que o controle da comunicação deve ser feito pelo controle remoto. E viva a democracia da casa grande!

abolicionista

Até quando nós brasileiros teremos de engolir esse tipo de sapo, Sra. presidenta?

Gilberto Silva

A Globo não tem colunistas , tem Calunistas , não tem expecialistas ….tem Leituristas …que só repassam a opinião deles….os filhos do Dr ??? Roberto…

nona fernandes

Manipular é muito, mas muito fácil.Dia desses estive observando e comparando uma mesma notícia, que,para o povão tem sentido quase oposto, apenas por causa das palavrinhas “só e já”. O jornal do SBT deu, “O governo federal investiu “só” dois bilhões na Segurança Pública, este ano”. Um site, que não me lembro o nome, deu, “O governo federal “já” investiu dois bilhões na Segurança Pública,este ano.

henrique de oliveira

A Globo só fala para 4% da população ou seja a elite vagabunda que se acha grandes coisas , o resto da população tem tv a cabo e dinheiro para sair de casa e não vê mais novelas e bbbs , esse é o desespero.

    denis dias ferreira

    Como no Brasil se manipulam dados e números. Não é apenas a Globo que falsifica o real para aconchegá-lo aos seus interesses. Onde esse ilustre leitor foi buscar esses míseros 4% de audiência? Por favor, sr. Henrique, cite as fontes de onde o sr. extraiu essas informações, para que eu possa conferir a autenticidade e veracidade desses dados.

Mardones Ferreira

Dilma coleciona controle remoto. Só o povo fará o governo se mover. Isso é mais claro do que qualquer amanhecer.

Quem fez omelete na Ana Maria Braga e festejou com a Folha jamais imitará a Cristina Kirchner!

Wagner

A resposta para a pergunta do articulista é simples: O Ministro não pensa.

H. Back™

Caramba! Essa emissora de detritos de maré baixa já ultrapassou os limites do bom senso! Não sabe fazer uso da aplicação correta da razão para julgar ou raciocinar em cada caso particular da vida. Perdeu – ou nunca teve – a faculdade de discernir entre o verdadeiro e o falso.

paulo roberto

E a Dona dilma econtiuna enchendo o bolsos desses golpistas…

Guanabara

A maioria dos brasileiros não sabe diferenciar fato de opinião. Também não sabe o que é uma concessão pública. Na verdade, há uma enorme massa de analfabetos políticos e até mesmo funcionais. Como querer uma mobilização pública de massa pela democratização dos meios de comunicação se o BBB ainda tem a audiência que tem, fora a quantidade de indivíduos que gostaria de participar do programa?

Somos uma minoria nesses sites. Muitos para quem falo sobre esses assuntos simplesmente não se interessam ou estão tão teleguiados que já não tem mais qualquer condição de vir a pensarem criticamente.

Eu, particularmente, só vejo caminho pela educação pesada da população. Educação não só de ensinar a ler e escrever, mas a pensar, principalmente, questionar. Mas os governos não fazem o investimento necessário, caso contrário, perderão eleitorado. O prefeito de Nova Iguaçú acabou de ganhar aumento de mais de 100% dado pela Câmara recém empossada. O que se ouve do povo? Caso tenham tomado conhecimento, provavelmente no máximo um “que horror” ou “que absurdo”. E assim segue a nossa democracia. Democracia?

Apolônio

Já estou cansado de escrever e dar minha opinião nos diversos blogs progressistas. Não adianta ficar cobrando da Presidenta, do PT, do Ministro das comunicações de não enviarem a lei de regulação e democratização da mídia. Acho que determinados escritores, blogueiros, sindicatos, associações, deveriam focar todas as suas energias num seminário apenas para um só assunto, convocar alguns juristas que tenham o mesmo ideário e criar um projeto de lei de iniciativa popular, aos moldes da lei de ficha limpa, trazendo no seu bojo, a regulamentação e democratização da mídia. Com isso coletar milhões de assinaturas e mandarmos para o Presidente do Congresso. Aí, sim, obrigaríamos o Congresso a discutir o assunto. Tenho certeza que alguma coisa sairia. Melhor do que ficar falando, lamuriando e apontando culpados. Em minha opinião a Dilma não manda tal projeto, porque, Ela sabe que não tem maioria confiável e sólida para uma empreitada dessas. Se Ela tentar, o tal projeto pode não passar, devido às pressões midiáticas e Dilma ficar numa posição fragilizada. Essa inciativa tem que vir de baixo para cima. Vamos parar de ficar queixando e lamentando. Nós ainda temos uma boa parte dos movimentos sociais conosco, é só trabalhar nesta ideia e colocá-la para funcionar. Tenho a acrescentar, que caso o projeto passe, no Congresso, ele, ainda pode ser questionado no STF, acho até com relativo sucesso. Mas. num projeto de lei de inciativa popular, ficaria muito esquisito por parte da grande mídia questionar, como também os senhores Congressistas, até mesmo os membros do Supremo. Pois o tal projeto não é de nenhum deputado, nem tão somente da Presidente, mas do povo. Aí, o buraco é mais em baixo.” Todo poder emana do povo e em nome dele, deve ser exercido”.

Messias Franca de Macedo

Justiça do Rio: a TV Globo joga em casa; mas Kamel está derrotado pela história
publicada terça-feira, 15/01/2013 às 18:23 e atualizada terça-feira, 15/01/2013 às 18:23
no blog escrevinhador
Jornalista Rodrigo Vianna

##################################

… Desagravo magistral, a postura do Rodrigo Vianna demonstra, cabal e concretamente, toda a autenticidade e intrepidez deste egrégio jornalista, escrevinhador de nós todos defensores das liberdades, da civilidade e da justiça social…
NOTA: com todo o respeito – e objetivando, apenas, sugerir um ato simbólico -, recomendo, humildemente, que seja elaborado um documento no qual os signatários contribuiriam com um valor no sentido de colaborar para o pagamento desta indecorosa “indenização”! Todos aqueles que se sentem igualmente “réus” neste vergonhoso e estúpido processo!…
… Independentemente de qualquer coisa, parabéns, emérito e conspícuo jornalista brasileiro Rodrigo Vianna! Por fim, gostaria de ressaltar que o seu texto publicado acima serve, também, como bálsamo a lavar as nossas almas!…

Felicidades!

Hasta la Victoria Siempre!

Messias Franca de Macedo e família
Bahia, Feira de Santana
BRASIL – em homenagem ao ínclito, competente, autêntico e impávido jornalista brasileiro Rodrigo Vianna

J Souza

Até recentemente achava que deveria haver lei de meios também no Brasil.
Mas, ultimamente, tenho concordado com o Lula e a Dilma. Agora acho que não deve haver!

O poder eleitoral da mídia golpista vem diminuindo a cada ano, e isto talvez reflita a queda de audiência da TV aberta e a queda na circulação dos jornais.
E a prova disto são as três derrotas consecutivas da mídia golpista nas três últimas eleições presidenciais. E ainda podemos somar a estas a derrota da mídia golpista na disputa da prefeitura de São Paulo.

Acho que se o PT sair do poder não será por causa da mídia golpista, mas por erros políticos e de governo do próprio partido. E um desses erros seria acatar as diretrizes neoliberais da mídia golpista. Se Lula se salvou em 8 anos, foi justamente por seguir sua consciência e seu próprio plano de governo, ao invés de seguir os “comandos” dos colunistas da mídia golpista.

Acho que os benefícios de um embate com a mídia golpista não compensaria o desgaste político, do ponto de vista eleitoral, embora concorde que traria benefícios à sociedade em termos ideológicos, pois a qualidade da mídia golpista é sofrível.

Acho mais importante, no momento, discutir a distribuição das verbas públicas em publicidade e patrocínios de eventos na mídia, o que talvez possa trazer benefícios mais imediatos. A regulação da mídia também pode ser discutida, mas sem pressa.

    Abel

    Assino embaixo. O que realmente implicaria no fim da mídia golpista seria a redivisão das verbas publicitárias do governo. Como eu costumo dizer, ainda é cedo para 2015…

    Dinis

    Estou totalmente de acordo, se a lei de midia fosse a melhor opção, Lula e Dilma já teriam feito. É melhor deixá-los espernear e perder eleição.

Nedi

bernardo? / ele NÃO PENSA!!!

ProfeGélson

Pois é…e a chefe, nada???

FrancoAtirador

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TAGs: MÍDIA BANDIDA & MONOPÓLIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO UNILATERAL

Justiça do Rio: a TV Globo joga em casa; mas Kamel está derrotado pela história

Se Kamel pensava em calar ou intimidar seus críticos, vai se dar mal. Esse processo vai ajudar a mobilizar aqueles que lutam contra os monopólios de mídia. Vai ajudar a escancarar a hipocrisia daqueles que na ANJ e na SIP pedem “ampla liberdade de crítica”, daqueles que usam Institutos Milleniuns para exigir “que não se criem travas ao humor como ferramenta de crítica”, mas que fazem tudo ao contrário quando são eles os objetos da crítica e do humor.

O artigo é de Rodrigo Vianna, no ESCREVINHADOR, via Carta Maior(*)

Na praça Clóvis/Minha carteira foi batida/Tinha vinte e cinco cruzeiros/E o teu retrato…
Vinte e cinco/Eu, francamente, achei barato/Pra me livrarem/Do meu atraso de vida
(Paulo Vanzolini, “Praça Clóvis”)

Um advogado amigo costuma dizer: “no Rio, a Globo joga em casa”.

Hoje, tivemos mais uma prova. Ano passado, fui condenado em primeira instância, num processo movido pelo diretor de Jornalismo da Globo, Ali Kamel. Importante dizer: a juíza na primeira instância não me permitiu apresentar testemunhas, laudos, coisa nenhuma. Acolheu na íntegra a argumentação do diretor da Globo – sem que eu tivesse sequer a chance de estar à frente da meritíssima para esclarecer minhas posições.

Recorremos ao Tribunal de Justiça, também no Rio. Antes de discutir o mérito da ação, pedimos que o TJ analisasse um “agravo retido” (espécie de recurso prévio) que obrigasse a primeira instância a ouvir as testemunhas de defesa e os especialistas de duas universidades que gostaríamos de ver consultados na ação.

O Tribunal, em decisão proferida nessa terça-feira (15/01), ignorou quase integralmente nossa argumentação. Negou o agravo e, no mérito, deu provimento apenas parcial à nossa apelação – reduzindo o valor da indenização que a meritíssima de primeira instância fixara em absurdos 50 mil reais. Ato contínuo, certos blogs da direita midiática começaram a dar repercussão à decisão. Claro! São todos fidelíssimos aos patrões e ao diretor da Globo, na luta que estes travam contra outros jornalistas.

Sobre esse processo, gostaria de esclarecer alguns pontos. Primeiro, cabe recurso e vamos recorrer!

Segundo, está claro que Ali Kamel usa a Justiça para se vingar de todos aqueles que criticam o papel por ele exercido à frente da maior emissora de TV do país. Kamel foi derrotado duas vezes nas urnas: perdeu em 2006 (quando a Globo alinhou-se ao delegado Bruno na véspera do primeiro turno, num episódio muito bem narrado pela CartaCapital, naquela época) e perdeu em 2010 (quando o episódio da “bolinha de papel” foi desmascarado pelos blogs e redes sociais). Contra as quotas, contra o Bolsa-Família, contra os avanços dos anos Lula: Kamel é um dos ideólogos da direita derrotada. Por isso mesmo, era chamado na Globo de “Ratzinger”.

Em 2010, Ali Kamel virou alvo de críticas fortes (mas nem por isso injustas) na internet. Deveria estar preparado pra isso. Dirige o jornalismo de uma emissora acostumada a usar seu poder para influir em eleições. Passadas as eleições de 2010, Kamel muniu-se de uma espécie de “furor processório”. Iniciou ações judiciais contra esse escrevinhador, e também contra Azenha (VioMundo), Marco Aurélio (Doladodelá), CloacaNews, Nassif, PH Amorim… Todas praticamente simultâneas. Estava claro que Kamel pretendia mandar um recado: “utilizarei minhas armas para o contra-ataque; não farei o debate público, de conteúdo, partirei para a revanche judicial”.

Advogados costumam dizer que em casos assim “o processo já é a pena”. Ou seja: o processante tem apoio da maior emissora do país, conta com advogados bem pagos e uma estrutura gigantesca. O processado (ou os processados) são jornalistas e blogueiros “sujos”, sem eira nem beira. O objetivo é sufocar-nos (financeiramente) com os processos.

Está enganado o senhor Ali Kamel. Aqui desse lado há gente que não se intimida tão facilmente.

Não tenho contra Kamel nada pessoal. Conversei com ele sempre de forma civilizada quando trabalhei na Globo. Troquei com ele alguns emails cordiais – como costumo fazer com todos colegas ou chefes. Kamel utilizou um desses e-mails pessoais na ação judicial, como se quisesse afirmar: “ele gostava de mim quando estava na Globo, deixou de gostar quando saiu da Globo.”

Ora, a questão não é pessoal. Tinha por Kamel respeito, até que comprovei de perto algumas atitudes estranhas (vetos a matérias), culminando com a atuação dele na cobertura do caso dos “aloprados” na eleição de 2006. Na época, eu trabalhava na Globo. Saí da emissora por causa disso. E passei a não mais respeitar Ali Kamel profissionalmente. O discurso que ele fazia na Redação antes de 2006 (“todos podem ser ouvidos, há espaço para crítica”) era falso. Quem criticou ou dissentiu foi colocado na “geladeira” e “expurgado”. Isso está claro. Azenha, Marco Aurelio Mello, Carlos Dornelles e Franklin Martins estão aí para mostrar…

De resto, a utilização de e-mails (estritamente pessoais) numa ação não é ilegal. Mas mostra o grau apurado de ética de quem os utiliza como ferramenta da luta política e judicial.

No meu caso, a acusação é de ter “espalhado” pela internet que ele seria um “ator pornográfico”. Quem lê os textos que escrevi neste blog sobre a infeliz homonímia (um ator pornô nos anos 80, aparentemente, usava o mesmo nome que ele – Ali Kamel) logo percebe: em nenhum momento disse que Ali Kamel (o jornalista) seria o Ali Kamel (ator pornográfico). Não afirmei que eram a mesma pessoa nem neguei que o fossem. Não sabia, e isso pouco importava. Apenas usei a coincidência como mote para a crítica, em textos claramente opinativos: pornográfico, sim, é o jornalismo que Ali Kamel pratica tantas vezes à frente da Globo. Foi essa a afirmação que fiz em seguidos textos. Muitas vezes, de forma bem-humorada.

Na apelação ao Tribunal, mostramos como seria importante a juíza de primeira instância ter consultado especialistas em Comunicação (indicamos ao menos dois) para entender a diferença entre opinião e informação. E para entender a centralidade do uso do humor na crítica política.

Mostramos em nossa defesa, ainda, como o impoluto comentarista (e ex-cineasta) Arnaldo Jabor utilizou-se de mote parecido no título de um livro que fez publicar: “Pornopolítica”. Se há uma “pornopolítica”, por que não posso falar em “jornalismo pornográfico”?

Só a Globo e seus comentaristas podem recorrer a metáforas? Parece que sim. Especialmente no Rio de Janeiro. No Rio, a Globo joga em casa.

Vamos recorrer aos tribunais de Brasília. Não que eu tenha grandes esperanças de ver magistrados na capital federal a enfrentar o diretor de Jornalismo da Globo. Mas vou utilizar as armas que tenho.

Mais que isso: se Kamel pensava em calar ou intimidar seus críticos, vai se dar mal. Esse processo vai ajudar a mobilizar aqueles que lutam contra os monopólios de mídia no Brasil. Vai ajudar a escancarar a hipocrisia daqueles que na ANJ e na SIP pedem “ampla liberdade de crítica”, daqueles que usam Institutos Milleniuns para exigir “que não se criem travas ao humor como ferramenta de crítica”, mas que fazem tudo ao contrario quando são eles os objetos da crítica e do humor.

Kamel pode até ganhar no Rio. Pode ganhar no STJ, STF, CNJ, SIP, ANJ, sei lá onde mais. Mas perderá na história. Aliás, já perdeu. Na testa dele está o carimbo (justo ou injusto? o público pode julgar…) de “manipulador de eleições”. Manipulador frustrado, diga-se. Porque segue a perder. No Brasil, na Venezuela, na Argentina…

A Justiça quer que eu pague 20 mil, 30 mil ou 50 mil pro Ali Kamel? Acho absurda a condenação. Mas se for obrigado, eu pago até com certo gosto. Levo lá no Jardim Botânico o cheque pra ele. Ou entrego no apartamento onde ele vive, de frente pro mar na zona sul – palco, vez ou outra, de brigas com os vizinhos que também acabam na Justiça.

Essa condenação, que ainda lutarei para reverter, lembra-me a belíssima letra de Paulo Vanzolini – com a qual abri esse texto…

Tudo bem, Kamel, se você e a Justiça fizerem questão, eu pago! Só que seguirei a fazer – aqui – o contraponto ao jornalismo que você dirige.

Tudo bem, Kamel, se você e a Justiça fizerem questão, esgotados todos os recursos, eu pago!

Eu pago. Vê-lo derrotado frente à história: não tem preço.

(*) Publicado originalmente no Blog de Rodrigo Vianna.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21507

edu marcondes

Acredito que o ministro Paulo Bernardo responderia: “nada a comentar. No momento estamos pensando em estudar o assunto”

Jânio Cruz

Paulo Engavetanardo, não sei o que esse petista desbotado faz no governo. O mesmo serve para o Zé dudu cardoso, ministro da Justiça, sem ideias e sem voz.

Mineirim

Prezado Mário Jakobskind, creio que não nos “resta saber o que pensa sobre o tema o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo”. Já sabemos, e não é nada bom!

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