Lelê Teles: Sobre rolezinhos no país da apartação

Tempo de leitura: 4 min

SOBRE ROLEZINHOS NO PAÍS DA APARTAÇÃO

por Lelê Teles, via e-mail

Existem dois Brasis e um deveria servir apenas para servir ao outro. É o modo de pensar da Casa Grande.

Quando os pobres ousam romper o limite entre esses dois mundos, a Big House exige que eles sejam colocados em seu devido lugar.

Todos nos lembramos da “invasão” suburbana às praias da Zona Sul carioca no início dos anos 90. Ao som de funk, as galeras passaram a procurar o seu lugar ao sol.

Deram de cara com uma triste constatação: o sol nasce para todos, mas para ter sombra e água fresca o cabra tem que ter pedigree.

Os banhistas passaram a reclamar do barulho, da farofagem, da música alta e da cara feia dos suburbanos.

TVs e Jornais procuravam explicar o “fenômeno”, vocalizando o pensamento da classe média: isso estava ocorrendo porque os pobres estavam sem opção de lazer nas periferias.

Conversa mole. Os ricos, mesmo com variadas opções de lazer, não deixavam de tomar um solzinho e jogar altinho à beira mar.

O que se pretendia dizer é que ali não era lugar pra favelado e que pobre deve se divertir na periferia, ora bolas, jogando biboquê, bola de gude e golzinho.

Imagina se todo suburbano resolve dar um rolê na praia?

Garotinho ouviu a grita e em 2001 construiu o Piscinão de Ramos, uma praia artificial para os pobres.

Volta e meia a TV está por lá, ridicularizando a diversão da moçada, rindo do sorriso deles, humilhando o povo ali mesmo onde ele deve ser humilhado.

A mesma forma sutil de apartação se vê em relação ao trânsito.

Com o crescimento do poder de compra e do acesso ao crédito, os pobres passaram a comprar carro, inclusive zero, ou melhor, um ponto zero.

E “invadiram” o espaço sagrado da burguesia.

Hoje, a madame é obrigada a parar sua pick up importada ao lado de vários corsas e pálios nos engarrafamentos. Onde já se viu tamanho absurdo?

Perplexos com essa “invasão” de pobres, a “sociedade” motorizada chegou a uma ridícula conclusão: os “populares” resolveram andar de carro próprio porque o governo não oferece a eles um transporte público de qualidade.

E a burguesada passou a cobrar do poder público mais investimento em transporte coletivo, mas até agora nenhuma madame botou sua pic up à venda.

No fundo o que querem é que as domésticas, os garçons e os porteiros voltem a andar de ônibus. É muito desaforo pobre dando rolê de carro próprio.

Sem falar na grita de que nossos aeroportos agora estão se parecendo com rodoviárias, cheios de uma gente marrom.

Os pobres “invadiram” o espaço aéreo. Nem no ar agora é possível se livrar dessa gente.

Por que não duplicam logo as rodovias e colocam ar condicionado nos ônibus interestaduais?

Sem falar que eles “invadiram” também o espaço virtual. Os pobres teimam em estar por toda a parte. Como faz?

Quando o Brasil descobriu as redes sociais, os pobres não tinham acesso à internet, e o Orkut virou o paraíso da ostentação da burguesada viajada.

Aí vieram as lan houses e os filhos das domésticas passaram a postar fotografias tomando banho em caixas d’água.

Foi a gota d’água. Causou desconforto essa “invasão” cibernética.

Os ricos trataram logo de inventar uma rede antisocial chamada Elysiants. Para postar fotos tomando champanhe nesse Orkut da Big House, o cabra tinha que ser milionário e desembolsar cerca de cinco mil dólares para ser aceito.

Mas o aumento do poder de compra tirou a pobreza das lan houses e os jovens da periferia já tinham o seu próprio computador em casa.

O Orkut bombou.

Sem poder entrar pro Elysiants, a classe média correu pro Facebook (run to the hills).

No face, a burguesada inventou um coro para afugentar e segregar a periferia: “volta pro orkut”.

É aquela velha história, você sai da favela, mas a favela não sai de você.

Na Big House estão sempre procurando mostrar que ali não é o seu lugar.

O diabo é que os pobres insistem.

Agora, resolveram dar rolezinhos em shopping centers, veja você.

Os manos se acharam no direito de calçar um mizuno, botar um bonezinho na cabeça, um bermudão, top e shortinho e andar de escada rolante, refrescar-se em ar condicionado, lamber vitrines e lamber uma casquinha do Mac Donalds.

Não deu outra. Como na “invasão” às praias, a burguesada em coro tentou explicar o “fenômeno”: isso está ocorrendo porque o governo não investe em diversão na periferia, sem opção de lazer, dizem eles, os suburbanos vieram parar nos shoppings.

Por que esses caras não vão simplesmente andar de carrinho de rolimã, jogar golzinho na rua, brincar de polícia e bandido, jogar bola de gude?

Por que não surge um Garotinho e constrói logo um Shoppingzão de Ramos?

O curioso é que esse é o mesmo país que chorou a morte de Mandela, o negão boa praça que ao invés de tomar o poder dos brancos, decidiu dividir com eles.

Aqui, os brancos não querem compartilhar nada com os pretos, nem fotos no Facebook.

O Brasil é o país da apartação social e quer cada um no seu quadrado.

Mas o povo não aceita mais ser segregado, quer pertencer, fazer parte.

É como se dissesse, você pode não entrar na favela, mas a favela entra em você.

Leia também:

Alexandre Barbosa Pereira e os rolezinhos: em busca de visibilidade


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Comentários

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roberto

Rolesista na verdade é o ninja que foi às passeatas de junho para roubar e saquear,aproveitando a brecha que deixaram para a bandidagem. Pobre,que agora já é classe média não precisa combinar no Face pra fazer rolê, ele vai no shopping ,compra, faz um lanche e vai embora. Os rolezinhos são pra roubar e saquear. Quem está apoiando, vai fazer isso até ser roubado e levar um soco na cara ou uma facada ao passear num shopping. A partir daí ele vai ser contra, só que não vai adiantar mais, o que ele vai ter que fazer é ficar em casa e deixar a marginalia passear.
Apoiar isso não é ser democrata e sim otário.

Mauro Assis

Qualquer baderna nesse país agora vira fenômeno social… faço ideia de quantas teses de sociologia, antropologia e quetais serão produzidas (devidamente sustentada com dinheiro público, claro!) para explicar o fenômeno nas próximas décadas…

    Mauro Assis

    PS: as tais teses serão escritas, claro, em Paris, bien sûr…

FrancoAtirador

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HUMOR

O ROLEZINHO DO PSTU NO PIAUÍ

Dirigentes do PSOL e PCB criticam PSTU por se aliar com PSDB

Por Maria Frô

Achei que tinha visto de tudo…

(http://www.youtube.com/watch?v=1K3ZMCfsdG4)

http://mariafro.com/2014/01/16/dirigentes-do-psol-e-pcb-criticam-pstu-por-se-aliar-com-psdb

Mauro Bento

Muito legal ficar charlando sobre o “rolezinho”.
Enquanto isso ninguém discute a responsabilidade do Judiciário no sistema penintenciario e nem o aumento da taxa de juros pelo COPOM.
Cada dia uma nova manchete com novo assunto parece o PIG.

    Mauro Bento

    Sr. Luiz Carlos Azenha.
    Não fiz uma crítica pessoal a este espaço que considero realmente democrático e progressista.
    Não tenho formação nenhuma na área de comunicação, não poderia pautar um jornal ou BLOG nem sei se outro formato que buscasse aprofundar e esgotar uma determinada pauta seria viável.
    Apenas lancei a reflexão pois acredito que a busca pela democratização de “los Médios” talvez passe não só pela forma mas também pela estrutura rompendo com a dinâmica que há que se reconhecer é comum na grande imprensa comercial.
    Além disso sou grato pela oportunidade de participar escrevendo minhas “besteiras” no seu BLOG livremente.
    Já fui convidado sutilmente a me omitir no blog do playboy do Facebook por defender o direito dos black-blocs e discutir as contradições que observo no Lulo-petismo e saiba que fui educado e gentil o suficiente ao ponto de não recordar ao Sr.Faceblog que na manifestação dos Sem Mídia em frente à Globo(rebatismo da ponte Jornalista Vladimir Herzog) os mesmos bloconeros estavam lá dando uma força.
    De novo, não acusei seu BLOG de nenhuma similaridade com o PIG,e sou realmente GRATO por poder espressar livremente minha visão pessoal sobre os assuntos políticos aqui apresentados.
    Fraternas Saudações Democráticas.

    Lelê Teles

    olha aí.

    Horridus Bendegó

    Sr, considerando o aspecto explosivo do movimento Rolezinho, reputo-o mais premente do que o atual aumento das taxas de juros e o nosso sistema penitenciário, cujo padrão inumano não fica nada a dever a muitas condições de vida de cidadãos honestos e… livres.

    Pescoços logo rolerão…

    Mauro Bento

    Explosivo??? Quer dizer pólvora ??? Onde ??? Não vi não !
    Na periferia a PM explode bastante contra os honestos e livres.
    Pescoços já rolaram mas foi em Pedrinhas, ou não ???
    Quanto ao aumento da taxa Selic, a ver…

    Luís Carlos

    Pescoços também rolaram em Pinheirinho, em Campinas (esta semana com 9 mortes chacinados) na periferia de SP em 2012/13 sob a suposta guerra contra o PCC que comandam penitenciárias de SP, etc…

FrancoAtirador

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Editorial Carta Maior

Daslu, Danuza e ‘Dá o fora!’

Os filhos do porteiro da Danuza resolveram ir ao shopping center.
E a justiça de SP autorizou guardas a dizer-lhes: -Dá o fora!

Por Saul Leblon

O Brasil tem cerca de 500 shoppings centers.

O conjunto fatura R$ 184 bi por ano, ocupa mais de 11 milhões de m2 – uns 2. 200 campos de futebol; emprega 870 mil pessoas.

Em 40 anos, desde 1996 quando surgiu o primeiro até 2006, foram erguidos 350 shoppings no país; de lá para cá a expansão foi geométrica e ininterrupta. Nos últimos sete anos surgiram mais 120.

Outros 30 estão previstos para inauguração em 2014.

O país inteiro – capitais e interior — foi tricotado por esses centros de compra e lazer que tem a cara e a permeabilidade da estrutura social erguida pelo capitalismo por essas bandas.

A rede de shoppings foi planejada para nuclear um público alvo da ordem de 40 milhões de pessoas.

O Brasil tem mais de 190 milhões de habitantes: 150 milhões estão fora.

Uma parcela dos excluídos agora quer entrar.

O rolezinho é uma evidencia da pressão exercida na parede do dique.

Quem quer entrar entende (com ou sem razão) que o Brasil limpo, organizado, atraente, refrigerado, seguro, iluminado, rico, antenado, onde faísca la dernier cru do consumo e, vá lá, bonito, para os padrões dominantes, está lá dentro.

Não nas ruas desoladoras e escaldantes das periferias conflagradas onde vive a maioria dos integrantes do rolê.

Pode-se – deve-se – discordar da matriz de valores que atribui a um bunker do consumo o padrão de sociedade desejável para viver e se divertir.

Mas há razões para isso.

Um dado sugestivo: até o ano passado, apenas 13,5% dos municípios brasileiros dispunham de uma secretaria voltada exclusivamente para a cultura.

Tê-la não é garantia de grande coisa.

Mas a escala da ausência emite um sinal da atenção dispensada a uma área que fala diretamente à juventude –e poderia oferecer-lhe um ponto de fuga à pulsão consumista, diuturnamente martelada ao seu redor.

Esforços de investimento público tem sido feitos nessa direção.

O número de cidades com bibliotecas, por exemplo, saltou para 98% em 2012, praticamente universalizando esse equipamento, restrito a 70% delas até 1999.

Mas uma biblioteca convencional, de mobiliário imaginável e acervo presumível, em qualidade e quantidade, será um espaço suficiente para satisfazer as expectativas de desfrute, encontro e lazer de quem adere a um rolezinho?

Em 2007, o governo criou um Programa para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult).

Através do BNDES já financiou a construção ou a reforma de 259 salas de cinema.

Mas a maioria dos cinemas do país fugiu igualmente para o interior dos shoppings por conta da insegurança que também despovoou praças e jardins, capturados pelo consórcio drogas & desmazelo.

Apenas 10% dos municípios brasileiros dispõem de cinemas atualmente.

Pesquisa desta semana do Ibope informa que as ‘classes’ C e D bateram recorde de horas diante da televisão em 2013: média de seis horas e 40 minutos. Por dia.

E convenhamos, não dá para imaginar que todo mundo vá se reunir numa lan house, presente, aí sim, em 82% da malha urbana e, de fato, encontrável em qualquer bairro ou favela por mais pobre que seja.

O espaço virtual tem limites.

O rolezinho se vale da capilaridade digital para convocar os encontros , mas representa ele mesmo (felizmente) a insuficiência da realidade virtual na vida humana.

A dupla insuficiência – material e virtual – misturada a uma revolta difusa, temperada de hormônios e apimentada com o deboche e o anseio por identidade olha em volta e enxerga o quê?

Enxerga aquilo que distraidamente ou de forma deliberada foi sendo construído nas entranhas da velha malha urbana, e para cujo declínio contribuiu ao inocular a decadência no pequeno comércio, a escuridão no jardim, a solidão no centro velho e o sucateamento do (parco) equipamento público.

O shopping center, a nova cidade brasileira.

Prefiguração do sonho neoliberal, ela materializa um ordenamento coletivo onde tudo é privado (leia o blog do Emir, nesta pág).

Por definição, a cidade da mercadoria é o jazigo da cidadania.

Não só.

O anestesiante paradigma de ‘eficiência’ do shopping engorda o descompromisso com que a elite consumidora encara seus deveres em relação ao espaço coletivo ao seu redor.

Por que, enfim, pagar mais pelo IPTU se já tenho o que quero e o que a cidade numa terá no shopping –ainda que esse adicional corresponda, por dia, a uma fração do preço de um cafezinho do Starbucks no Iguatemi?

O rolezinho sacode o pilar dessa ordem excludente deixando aflorar um conflito que há muito incomoda o conforto das elites.

Quem não se lembra do ‘transtorno’ que a vizinha favela Funchal causava ao Vaticano dos shoppings centers no Brasil, a famosa Daslu – 20 mil m2 de pura ostentação, gastos médios de U$ 15 mil/mês por cliente e uma sonegação de imposto de estupendo R$ 1 bilhão?

Ou do desabafo da socialite Danuza Leão, na Folha, em dezembro de 2012?

Inconsolável com o Brasil do PT, a então colunista lamentava como ficou difícil “ser especial” nesses tempos em que “todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais” — musicais na Broadway, por exemplo, que graça tem se “por R$50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir”.

Os filhos do porteiro da Danuza resolveram agora ir ao shopping.

E a justiça de SP autorizou seis deles a dizer-lhes: ‘Dá o fora!’.

Esse é o capítulo da novela brasileira nos dias que correm.

As raízes desse enredo de paralelas que agora se cruzam em conflito aberto na porta de santuários do consumo remetem à mutação inconclusa verificada no país desde 2003.

Qual seja, a pobreza caiu pela metade; o mercado de trabalho atingiu as franjas do pleno emprego; o salário mínimo ganhou quase 60% de poder de compra, acima da inflação.

A desigualdade continua obscena, mas as placas tectônicas se moveram.

Privilégios obcecados em preservar um ordenamento social patológico defendem como virtude macroeconômica restituir as fronteiras do conflito original aos marcos do cordão sanitário instituído nos anos 90.

O superávit fiscal ‘robusto’ para assegurar o ganho dos rentistas é um desses marcos.

Outro: o salto adicional nas taxas de juros, até encostar a faca recessiva na garganta da massa ignara.

A crispação em torno dos rolezinhos mostra o quanto será difícil devolver a pasta de dente ao tubo da história.

Nesse empurra-empurra, subjacente à disputa presidencial de outubro, há nuances que dizem respeito diretamente à esquerda.

O ‘rolezinho’ denuncia uma dimensão da luta política rebaixada nos últimos anos na conta da ilusão economicista de que o holerite e o crescimento resolviam o resto.

São imprescindíveis, diga-se.

Mas o discernimento histórico que requer a longa construção de uma sociedade justa e virtuosa nunca será um dote intrínseco à conquista do legítimo direito de viajar de avião, ou comprar bens duráveis a crédito, nem tampouco uma qualidade imanente a governantes eleitos pelos pobres.

Erguer essas linhas de passagem é tarefa das organizações progressistas que se propõem a mudar as formas de viver e de produzir em sociedade.

É delas a obrigação de associar à luta econômica sua contrapartida de ideias emancipadoras que ampliem o horizonte subjetivo para além do consumismo individualista.

Do contrário, o futuro ficará emparedado entre o horizonte do rolezinho e o interdito do dinheiro graúdo.

No limite, ambos poderão se unir em torno de um tênis Nike, contra uma repactuação mais arrojada do desenvolvimento que implique outra modulação do consumo.

O mais difícil na luta pelo desenvolvimento é produzir valores, dizia o saudoso Celso Furtado, em palavras de atualidade inexcedível.

Não apenas esse, mas sobretudo esse passo a esquerda deve ao Brasil.

E não parece recomendável adiá-lo mais uma vez ‘para depois da próxima eleição’.

(http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/Daslu-Danuza-e-Da-o-fora-/30012)
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Fabio Passos

Os leitor do PiG tão inconsoláveis.
Os mano tão comprando os mesmos produtos que antes apenas os serviçais da casa-grande tinham acesso. E ainda frequentam os mesmos lugares… rsrs

O preconceito e racismo dos eleitores do psdb nunca esteve tão evidente.

J Souza

Como o próprio texto diz ao falar sobre os ricos na praia, não é questão de opções de lazer. E nem o “fenômeno” vai ser resolvido com a construção de praças ou quadras. Quem já foi jovem (!!!) sabe do que estou falando…
Muitos jovens, acredito que não a maioria, querem se destacar mais do que os outros, querem fazer coisas diferentes, querem ser inovadores, não só em coisas boas, alguns em coisas ruins também… E assim, uns queimam índios, uns picham, uns quebram vitrines depois de jogos, uns se vestem de forma estranha.
Felizmente, a maioria dos jovens usa essa energia e a inspiração da juventude em prol de si mesma, e alguns até em prol da comunidade em que vive, ou até de toda a sociedade.

Paulo

Isto que é capitalismo, força motriz da única revolução que, no longo prazo, funciona!
Viva a ostentação do rolezinho e do rolezaum…

Mizuno por mil pratas e calça jeans por 300 pilas…

A esquerda chora.

    Luís Carlos

    Funciona? Quem chora não é a esquerda, mas os reação da direita que choram por ver “seu espaço invadido” pela periferia. Chora burguesada. Não saber dividir e conviver dá nisso, só egoísmo e intolerância.

    Luís Carlos

    “Os reaça” disse.

Maria do Rosário Amparado de Aragão

Pode parar,meu amigo. Uma coisa é uma coisa e a outra coisa ,a outra coisa. Nada ver. Vale salientar que não fazemos parte da elite. O Shopping Interlagos fica na PERIFERIA ,na zona Sul de São Paulo. Aqui a elite não habita. Aqui pessoas desesperadas,idosos,cadeirantes,mulheres com crianças no colo,apavoradas,berrando de terror…uns passando por cima dos outros,lojistas trancando portas…tumulto. pessoas tão ou mais pobres que eles. Lamento a inversão de valores que tem sido adotada por quem levanta a voz para defender o caos. Lamento por esses jovens,sinceramente. É preciso refletir muito sobre isso. Essa miséria difere da outra…essa miséria não está condicionada ao poder aquisitivo de cada um não. Essa é outro tipo de miséria. é o mais completo descaso ao direito do outro. fossem todos brancos e trilhardários ,a miséria não seria outra… Uma professora mal remunerada que apanha dentro da sala de aula,não faz parte da elite…pense nisso…

FrancoAtirador

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Almeidinha: “Fujam para Miami. Os bárbaros chegaram”

Todo mundo sabe como devemos nos comportar no shopping:
como bons almofadinhas. Lugar de baderna é baile funk…

Por Matheus Pichonelli, na CartaCapital

Vou confessar uma coisa: não estou acostumado com a fama.
Mas ser astro das redes sociais e ter dado entrevista em programa de apresentador misógino de tevê fizeram de mim um rosto conhecido nos lugares onde a civilização já chegou.
Por exemplo. Durante as férias, andava pelas ruas de Miami, onde posso comprar por um preço civilizado um perfume que no Brasil é vendido com taxas e impostos de odores bárbaros, quando fui reconhecido por um fã:

-Oi, você não é aquele almofadinha da internet?

A expressão soou como um sopro quentinho de um leite com pera no inverno: estava em casa.

Um almofadinha reconhece o outro pelo olhar: e o meu, em evidência, atravessou a fronteira.
Sim: é bom sentir essa sensação. E é bom saber que somos muitos.

O almofadinha, para quem não sabe, é o sujeito ignorado na escola pelo simples fato de ser superior.
Nós sentávamos na frente da sala, levávamos maçãs para os professores, guardávamos nossos brinquedos intactos nas prateleiras, entupíamos nossos cabelos de gel e voltávamos para casa com o uniforme impecável.

Éramos diferenciados da barbárie protagonizada pelos outros meninos, que saíam em debandada quando mal tocava o sinal do intervalo, e se espalhavam no pátio para improvisar uma atividade bárbara chamada futebol, que coloca marmanjos bárbaros a correr e suar como bárbaros e levantava suspiros das meninas bárbaras da nossa classe (algumas até jogavam com eles).
Alguns andavam de skate. Outros cantavam funk. Ou rap. Ou dançavam. Muitos chegavam até a fumar drogas.

Aqueles bárbaros se reuniam todo fim de semana nas casas bárbaras uns dos outros.
Faziam, claro, barbaridades: pescavam, corriam, rebolavam para conquistar as presas, pintavam os cabelos, os rostos, acendiam as fogueiras das churrasqueiras ou saíam em bando por aí.
Eu me perguntava qual a diferença entre eles e os índios e sabia, no fundo, que Deus estava vendo aquela zuera toda.

Como não era adepto da barbárie, geralmente minha existência passava desapercebida: os bárbaros não enxergam civilidade nem os civilizados; muito menos os nossos esforços civilizatórios para levar luz e discrição onde imperava o caos e a baderna.
Mas, de vez em quando, esses mundos entravam em choque.
Como quando pegaram minha lancheira e usaram como bola.
Em vez de chorar, liguei para casa; em dez minutos, o problema estava equacionado:
vi meu algoz ser levado pelas orelhas até a sala da inspetora, onde só não confessou ter sido o autor do disparo contra o arquiduque Francisco Ferdinando.
Desde então nunca mais fui convidado para as festas da classe.
Mas na minha lancheira nunca mais ninguém mexeu.

Se me ressinto? Jamais.
Enquanto eles dançavam e cantavam músicas de artistas bárbaros, eu me preparava para subir na vida.
Foi quando virei um almofadinha, na linguagem dos bárbaros para designar os superiores.
Naquela época, encontrei um terreno fértil: o shopping da cidade, onde a maioria dos bárbaros da cidade só podia frequentar uma vez por ano.

Foi no shopping que me deparei com o ápice do processo civilizatório:
não havia buzina nem calor nem vendedor de placas-sanduíche falando alto, vendendo e comprando ouro, expondo preços de frutas, alianças, promoções em voz alta e alto-falantes (nada mais bárbaro do que carro de som para vender pamonha).
Pelo contrário: tudo era claro, higienizado, apetecível, moderno, importado.

Bons tempos aqueles…

Hoje há shoppings em tudo quanto é canto e qualquer um pode entrar.
Construíram shoppings na periferia, mas não deu certo:
foi como dar uma metralhadora a um bicho-do-mato.

Malditas escolas públicas, maldita inclusão digital!

A baderna do “rolezinho” mostra que os tempos mudam, as classes ascendem, mas algumas sentenças são intocáveis:
pobre quando vê doce se lambuza.

Todo mundo sabe que shopping não é lugar de baderna.
Lugar de baderna é baile funk. É na zona. Na casa da mãe. Até no pátio da escola.
Todo mundo sabe como devemos nos comportar no shopping: como bons almofadinhas.
Almofadinha não anda em grupo.
Almofadinha não vai ao shopping para ver menina.
Almofadinha vai ao shopping com os pais e ganha presente quando se comporta.
Almofadinha anda na linha.
Almofadinha não volta para casa com a roupa suja ou o rosto suado.
Almofadinha não corre.
Almofadinha sabe usar o talher.
Não faz guerra de batatinha.
Não brinca de pega-pega.
Não fala em voz alta.
Não tem o DNA da barbárie
que transforma um simples ato de desobediência
(ao guarda, ao professor, ao pai) um objetivo em si.
Almofadinha gosta da ordem.
Gosta do progresso.
Gosta da evolução.
Gosta de armas contra quem não sabe andar na linha como ele.

Mas almofadinha não têm mais lugar: o fundão da classe chegou ao pátio;
chegou aos condomínios; chegou aos aeroportos e agora quer invadir os shoppings.
Não nos resta outra alternativa se não viajar até um país civilizado,
espécie de América Latina que deu certo, para nos sentir civilizados.

É necessário ficar longe da baderna toda para ser reconhecido, para dar autógrafo a outros almofadinhas em um lugar limpo e livre dos incapazes de reconhecer a própria inferioridade – sem inveja da civilização porque está no coração da civilização.

Um lugar onde, enfim, podemos exercer nosso direito à almofadagem em paz.

(http://www.cartacapital.com.br/sociedade/almeidinha-fujam-para-miami-os-barbaros-chegaram-ao-shopping-1801.html)

NÃO É PELA COR DA PELE OU PELO VESTUÁRIO
QUE SE MEDE RESPEITO, DIGNIDADE E CARÁTER

simas

Rudi,
Lembro de vc; lembro de vc, nos tempos do Sarney, qdo a carne de boi sumiu do mercado. Vc passou a frequentar o Rio das Pedras, pra comprar carne, das melhores, fresquinha… Lembra? Vc chegava em um daqueles carrões, se aboletava nos balcões do Zé, do açougue, junto com os paraíbas. Lembra? Era o único lugar no Rio, em q se comprava o filé pra madame… Eu lhe conheci, melhor, por lá, tentando burlar o “look out”, geral, dos seus pares.
Engraçado, vc. Se for o caso, até admite frequentar uma favela, qdo necessário manter ou sustentar suas conveniências… Agora, o oposto, não; é altamente peçonhento p’rocê, conviver com semelhantes de baixa renda, mais humildes.
Agora, compreendo, claramente, pq razão Deus achou de nos enviar Cristo, na última tentativa de curar esse egoísmo, doentio, das elites… Não havia dúvidas; durante todo o tempo, diante de todas as oportunidades, só mesmo nos enviando um Cristo… com a Missão Salvadora. Pois, nem assim, a arrogância foi eliminada. Vc está ai, firme e forte, sacaneando.
Abraço, fraterno

Fabio Passos

Parte da classe média – adestrada pelo PiG – transborda em preconceito e racismo… desprezam o povo e não aceitam a ascensão social da massa trabalhadora.
Sabemos quem são e o que defendem.
Que se lasquem… a periferia tem o direito de ir ao shopping. rsrs

    lukas

    Direito de ir,sim. Mas por que fazer arruaça? Bela maneira de combater o preconceito. Eles estão confirmando o preconceito de que pobre não sabe se comportar.

    Parece que não sabem mesmo. Espero que me provem o contrário.

renato

Como eu estou feliz de ver o povo mais contente, mais alegre, mais namorador, mais restaurante, mais saúde, mais carros, mais geladeiras, mais
“não tô nem aí”, mais farofa, mais protetor solar, mais sorvete, mais macrame no braço, mais skate, mais boné mano….é uma festa..
Só não vê quem não quer…
Pode não querer ver, mais vai engolir!!!!

rudi

OH Lelé, pára com isso. Chópi não é lugar só de burguês. Até eu vou lá. Rolezinho é demonstração de força. É tumulto organizado. É intimidação programada. Freud explica. Queria te ver no meio duma correria daquelas e depois vir com um papo políticamente correto destes.

    rodrigo

    (…) Rolezinho é demonstração de força. (…) É intimidação programada.

    Me diz uma coisa então? A política de extermínio da população nas periferias de todo Brasil é o quê?

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