Kenarik Boujikian: ‘Surpresa’ de Roseana com crise é inconcebível

Tempo de leitura: 6 min

Desembargadora Kenarik Boujikian pasma até agora com  a surpresa da governadora do Maranhão com a crise no sistema prisional no Estado

por Conceição Lemes

Nos últimos dias, as atrocidades no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, Maranhão, ganharam o noticiário. Em 17 de dezembro de 2013, quatro presos foram assassinados, sendo três decapitados. Ao todo, desde o início de 2013, 62 detentos foram mortos no estado .

Essas tragédias, porém, não são exclusividade de Pedrinhas nem do Maranhão. Elas se repetem em presídios de todo o Brasil.

Levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) registrou, de fevereiro de 2012 a março de 2013, 121 rebeliões e 769 mortes em 1.598 estabelecimentos do País, além de 2.772 lesões corporais. Uma média de 2,1 mortes por dia dentro dos presídios.

“Os fatos ocorridos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas não nos surpreendem, pois não se trata de algo novo e a situação só vem se agravando lá”, afirma a desembargadora Kenarik Boujikian, presidenta da Associação Juízes para a Democracia (AJD).

“Surpreendente é a reação da governadora Roseana Sarney. Onde ela esteve nos últimos anos? Em Marte? Isso só mostra o descaso do Estado em relação à questão prisional.”

Nessa quinta-feira 9, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), disse  que se surpreendeu com a crise no sistema prisional no estado que administra. Foi por aí que comecei a entrevista com a desembargadora Kenarik Boujikian, presidenta da Associação Juízes para a Democracia (AJD).

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Viomundo – A governadora Roseana Sarney (PMDB) disse nessa quinta-feira 9 que se surpreendeu com a crise no sistema prisional do Maranhão. A senhora se surpreendeu?  

Kenarik Boujikian — Claro que não! Os fatos ocorridos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas não nos surpreendem, pois não se trata de fato novo e a situação só vem se agravando lá. É a mesma penitenciária que, em 2002, teve uma rebelião que deixou 27 detentos mortos.

Surpreendente, para dizer o mínimo, é a reação da governadora do Maranhão. Onde Roseana Sarney esteve nos últimos anos? Em Marte? Isso só mostra o descaso do Estado em relação à questão prisional. Estou pasma até agora com a declaração dela. É inconcebível!

Veja bem. Em 2006, a Vigilância Sanitária do Estado do Maranhão emitiu relatório condenando as condições de salubridade desse presídio. O juiz Fernando Mendonça interditou-o parcialmente. Decidiu pela proibição de ingresso de qualquer preso a qualquer título nas unidades prisionais daquele complexo prisional até que a equação de uma vaga por preso fosse alcançada. Os dados recentes, porém, mostram que essa decisão não foi aplicada e os problemas apontados pelo juiz maranhense somente se intensificaram.

Além disso, esta espécie de fatos não ocorre só no complexo de Pedrinhas.

Em novembro de 2010, tivemos a morte de 18 presos em Pinheiros, também no Maranhão. O que foi feito para se garantir ao menos a vida das pessoas que lá estão entulhadas? Nada!

Há um pacto social que permite ao Estado usar a força e prender as pessoas. Mas esse mesmo pacto prevê que este mesmo Estado tem obrigações com os detidos e com a população. Só que há um total descumprimento do pacto pelo Estado. Esquece-se que um dia todas as pessoas presas sairão detrás dos muros.

Viomundo — Hoje o foco da mídia está principalmente em Pedrinhas, mas penitenciárias em São Paulo, Rio de Janeiro, Piauí, Espírito Santo já foram palco de ações violentas e mortes de detentos. O problema é nacional?

Kenarik Boujikian — Os fatos se repetem de norte a sul do Brasil. Lembremos alguns  mais conhecidos.

Por exemplo, a rebelião no Presídio Urso Branco, em Porto Velho (RO), em 2002, com 27 mortos. O Massacre do Carandiru, em São Paulo, em 1992, quando 111 detentos foram assassinados pela tropa de choque da Polícia Militar. O caso da Penitenciária Central de Porto Alegre, construída para receber 1.984 pessoas, mas que atualmente abriga 4.591.

São situações em que o Brasil foi levado a julgamento na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Mas tão grave quanto esses casos que chegaram ao conhecimento do público em geral é o cotidiano das prisões, a invisibilidade do sistema. O descaso é generalizado e infinito o número de violações aos direitos humanos cometidos dentro do sistema prisional.

Viomundo — A violência nos presídios está ligados a que fatores? Qual o peso das facções criminosas?

Kenarik Boujikian — A violência no sistema carcerário tem sua origem mais densa na própria ação/omissão do Estado. Os mutirões carcerários indicam uma série de violações que ocorrem em presídios.  Particularmente, o que se constata é que o poder estatal não assegura aos presos condições de respeito à dignidade humana.

O cumprimento da pena em celas superlotadas, fétidas, escuras, úmidas, sem colchões,  sem espaço, água imprópria ao consumo humano  pode ser classificada como cruel e degradante. Esse quadro é agravado pela negação dos direitos do preso, como direito ao trabalho, ao estudo, ao recebimento de visitas, de alimentação,  de votar,  etc…

Por certo que, diante da ausência do Estado, as facções se fortalecem e ocupam o lugar, do jeito que bem entendem. E isso também ocorre Brasil afora.

Viomundo – Há décadas eu ouço falar da superpopulação dos presídios. Basta construir mais presídios?

Kenarik Boujikian — Já está provado que apenas construir prisões não solucionará a questão da superlotação carcerária. É só ver os números brasileiros.  O que nós temos é o gradativo aumento do número de presídios e de encarceramento, em níveis alarmantes para homens e ainda maiores para as mulheres.

Viomundo – Mas a mídia reforça a ideia de que prisão é solução para todo tipo de criminalidade e que as penas devem ser maiores.

Kenarik Boujikian – Os estudos e os dados mostram que isso é mentira.

Viomundo – Quantas vagas têm os complexos penitenciários do Brasil?

Kenarik Boujikian  — Segundo dados de dezembro do Sistema de Informações Penitenciárias (Infopen) do Ministério da Justiça, 548 mil pessoas compõem a população carcerária no Brasil, mas os complexos penitenciários dispõem de apenas 310,6 mil vagas.

Viomundo — Não está na hora de se discutir para valer penas alternativas para crimes de menor gravidade? Elas poderiam ser parte de uma solução de longo prazo?

Kenarik Boujikian — Essa é uma solução possível, mas não só as penas alternativas, como também a quantidade das penas, melhoria do sistema, fortalecimento das Defensorias Públicas, etc…

Em geral, as pessoas não têm a menor noção do significado que é ficar um dia na prisão.

Viomundo — Está cada vez mais presente no Brasil o discurso, amplificado pela mídia, em favor do endurecimento penal, prisão perpétua, Rota na rua, redução da maioridade penal… O endurecimento penal por si só reduziria a criminalidade?

Kenarik Boujikian — O endurecimento penal, em todas as suas formas, como a criação de novos crimes, penas maiores, regime de pena mais grave, não reduz a criminalidade.

O exemplo bem vivo entre nós é o da chamada lei de crimes hediondos, que estipulava que a pena deveria ser cumprida em regime fechado. Passado um tempo, verificou-se que as prisões estavam superlotadas, aumentava o número de presos.

Portanto, a lei não serviu para que as pessoas não praticassem crimes.

Outro tema que volta e meia vem a tona é a questão da redução da menoridade penal, o que sequer é possível, diante da rigidez da norma constitucional.

Viomundo – Como a mídia poderia ajudar?

Kenarik Boujikian — Penso que a mídia tem o papel de contribuir para construir uma sociedade justa e solidária. Deve expender esforços para o aprofundamento da democracia, que somente será alcançada quando os direitos civis, políticos sociais e econômicos  forem concretizados.

Neste contexto, é importante fornecer dados para população sobre os efeitos da prisionalização, o funcionamento do sistema, as verdades e mentiras sobre as consequências de endurecer as penas.

O que parece é que a imprensa apenas fomenta as soluções hipócritas.

Um exemplo bem concreto. Fala-se muito em proibição de uso de telefones para impedir a atuação do crime organizado. Alguém em sã consciência pode dizer que não entram celulares nas prisões? Alguém pode assegurar que é o telefone que vai impedir o funcionamento do crime organizado?

Os telefones entram no sistema prisional e aqueles que não têm acesso — a maioria dos presos — ficam nas mãos dos que têm. Não seria mais lógico e razoável que se instalasse telefones públicos nas prisões, como existe em outros países?

Viomundo – A mídia gritaria contra.

Kenarik Boujikian — Certamente isso irá escandalizar algumas pessoas, mas o fato é que com a permissão, a grande maioria dos presos, que usa o telefone para falar com a família, não ficaria à mercê dos presos que conseguem os celulares.

Este é apenas um exemplo singelo da falta de racionalidade do sistema.

O fato principal é que é indispensável repensar os conceitos de crime, justiça e pena. Sem essa revisão séria, com o olhar voltado para o que ocorre dentro dos muros, isso jamais será alcançado.

Leia também: 

Luciano Martins Costa: Mídia expressa o medo que a elite sente do povo

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Comentários

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jair almansur

Dra kenarik. E Sao Paulo, o seu estado. Foram 12 mortes so ontem. Para a imprensa tudo bem. Sao mortes do bem, do PSDB.

H.Back

O mundo da política é assim mesmo. Faz parte do cotidiano presenciarmos os descalabros políticos que acontecem pelo Brasil afora.

Mário SF Alves

“Viomundo – Como a mídia poderia ajudar?

Kenarik Boujikian — Penso que a mídia tem o papel de contribuir para construir uma sociedade justa e solidária. Deve expender esforços para o aprofundamento da democracia, que somente será alcançada quando os direitos civis, políticos sociais e econômicos forem concretizados.”
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Simples e contundentes assim.

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Simples. Infelizmente prevalece a máxima do “se podemos complicar, por que simplificar”

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Basta-nos a Constituição, oh! estúpidos. Bastam-nos os direitos e deveres preconizados nela. Direitos e deveres constitucionalmente assimidos por vocês mesmos oh! estúpidos representantes do regime Casa-Grande-Brasil-Eterna-Senzala. Basta-nos isso.
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E aí? O que tem de esquerda ou de esquerdismo nisso?

O juízo da extrema direita cabe num dedal.

Mário SF Alves

Conceição Lemes,

Penso que o Quadro 1, para efeito de melhor entendimento, deveria correlacionar os índices considerados/integridade física dos presos com a demografia e população carcerária regional, não?

Claro, e se possível, associá-los com o regime de gestão prisional dominante, se estatal, semi-estatal ou privatizado.

E ficamos por aí mesmo, já que seria impossível medir a influência ou não do PCC ou CV.

james

Desembargadora Kenarik Boujikian pasma???? Pasma?! Como se não tivesse nada a ver com a situação? Ela integra a justiça brasileira, tida e conhecida como omissa, corrupta, lenta, que facilita as coisas para os ricos e pune, apenas, os 4P: pobres, putas, pretos e petistas :o)

    Conceição Lemes

    James, vc talvez nunca tenha ouvido falar na Associação Juízes para Democracia (AJD), presidida atualmente pela doutora Kenarik e uma de suas fundadoras. A AJD luta efetivamente pela preservação dos direitos dos pobres, das putas, petistas, dos indígenas, dos moradores do Pinheirinho… Procure se informar mais sobre a AJD. Além disso, releia o texto. A doutora Kenarik está pasma com a declaração da governadora que disse ter sido surpreendida pela crise no sistema prisional. Se ler o texto até o final e não apenas a legenda da foto vai descobrir isso. abs

FrancoAtirador

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ROLEZINHO NO SHOPPING E O APARTHEID À MODA PAULISTANA

“Quem essa ‘negrada da periferia’ pensa que é,
para adentrar assim em nosso Shopping Center?”
“CASSETE NELES!”



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O Direito Constitucional de Dar um Rolé

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

Não pode ser considerado nem como uma pálida sombra de justiça a concessão recente pelo Poder Judiciário de uma liminar que gerou algumas das cenas mais bizarras que estes olhos cansados pela visão de tantos absurdos ao longo da vida já puderam contemplar.

Apesar de esses fatos terem sido amplamente divulgados, antes de ir ao ponto há que revisitá-los.

O Shopping JK Iguatemi, em São Paulo – onde mais poderia ser? –, conseguiu liminar que o autorizou a impedir a entrada em suas instalações de “adolescentes desacompanhados”. A punição por desobediência, 10 mil reais.

A tal liminar estendeu-se automaticamente a outros shoppings da grande São Paulo e de algumas cidades do interior do Estado.

Em um desses espaços abertos ao público, situado no bairro suburbano de Itaquera, ao contrário do que ocorreu no JK Iguatemi os manifestantes do movimento “rolezinho” não ficaram só na promessa e efetivamente compareceram, o que fez com que fossem agredidos pela polícia.

Apesar da truculência policial no shopping da periferia, foi no do bairro nobre paulistano que a discriminação se fez sentir com mais força. Seguranças faziam uma “triagem” de quem podia e de quem não podia entrar – em Itaquera, pelo menos os jovens puderam entrar, ainda que só para poderem ser expulsos no tapa.

As imagens podem esclarecer quem podia ou não entrar nos shoppings protegidos por liminar. Mostram uma “triagem” presumivelmente baseada em critérios inconstitucionais como traços físicos.

Manifestações violentas têm ocorrido por todo país e este blog tem criticado esse tipo de ação. Contudo, nunca o direito de reunião e manifestação.

Enquanto alguém não comete vandalismo ou qualquer outro crime, não pode ter sua presença impedida em locais abertos ao público como sói ser um shopping. É inconstitucional. Aliás, fazer uma triagem para permitir o ingresso do cidadão em algum local baseada nos critérios que as fotos acima revelam, é criminoso.

Segundo o artigo 5º, inciso XVI da Constituição Federal, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização”.

“Rolezinho” é uma corruptela do substantivo masculino rolé. Trata-se de uma gíria antiga, que já era usada em São Paulo quando este blogueiro cinquentenário ainda era tão adolescente quanto esses que foram humilhados, discriminados e que tiveram seus direitos de cidadãos violados.

Rolé, segundo o Houaiss, significa “realizar um pequeno passeio”. Trata-se de direito constitucional e foi infringido, acima de por qualquer outro, por medida cautelar visivelmente inconstitucional, amparada nos preconceitos de quem pediu e de quem concedeu.

*

Do leitor Andrauss

“…
DIREITO CONSTITUCIONAL DE IR E VIR VIOLADO. (Shoping é local aberto ao público e NÃO é excessão!)
….
CONSTRANGIMENTO ILEGAL E DANO MORAL INEGAVÉIS….

DESREISPEITO AO ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCETE… (Adolescante NÃO é obrigado a transitar em locais públicos somente na presença dos pais…)
….
….
ADVOGADOS DE PLANTÃO! TÁ CHEIO DE CLIENTES ESPERANDO PARA AJUIZAREAM AÇÕES E GANHAREM RIOS DE DINHEIRO EM INDENIZAÇÕES !!!!!.


MINISTÉRIO PÚBLICO! Não vão defender o direito público não ????? Preferem defender o preconceito explicito e virarem ‘as costas para a LEI ?


CORREGEDORIA DO JUDICIÁRIO E POLÍCIA: Juiz e policial podem agir contra a lei ?

Direito de IR e VIR é claúsula pétrea da CONSTITUIÇÃO e suprime leis abaixo desta….

” A liberdade de locomoção é um desdobramento do direito de liberdade e não pode ser restringido de forma arbitrária pelo Estado, de forma que deve-se respeitar o devido processo legal para que haja esta privação. O devido processo legal é um princípio explicito na Constituição Federal cujo objetivo é criar procedimentos para as relações jurídicas oferecendo aos governados uma segurança jurídica quanto aos seus direitos Art. 5º, LIV. A privação desta liberdade deve se dar por ordem escrita e fundamentada. Art. 93, IX, CF. ”

“Quando esta liberdade é violada podemos nos utilizar do Habeas Corpus (HC), remédio jurídico utilizado para proteger o direito de ir e vir ou daqueles que sentem que este direito encontra-se ameaçado e pode ser utilizado para os casos mais remotos como, por exemplo, portelas estabelecidas em pequenas ruas sem saída tendo em vista que as ruas são públicas, mesmo que isso promova segurança para os moradores que ali residem. O STF tem julgado nesse sentido.”

(fonte: http://brunaluisa.jusbrasil.com.br/artigos/112114831/direito-de-ir-e-vir-liberdade-de-locomocao?ref=home“)

http://www.blogdacidadania.com.br/2014/01/o-direito-constitucional-de-dar-um-role
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    Lukas

    Convido a todos os leitores de Viomundo a levarem suas famílias aos shoppings quando houver um rolezinho. Os casados, levem esposas e filhos; os solteiros, as namoradas.

    Quem tem medo do povo é a direita. Tá na hora de vocês provarem isto.

    Mário SF Alves

    Certo. Reducionismo é esse o meu nome, diria o Lukas.
    ________________________________
    Prezado Lukas,

    Primeiro sugiro um melhor entendimento do que se convencionou chamar de povo. Após isso, nada como uma relida nos bons livros de História do Brasil. A começar pelos que tratam da escravidão no Brasil e a subsequente “abolição”. Se de tudo a questão ainda perdurar como dúvida, considere o papel desempenhado pelo PiG durante esses últimos anos de desinformação geral.
    _______________________________________
    Ah, considere também a globalização das drogas. Tem uma que, inclusive, viaja de popóptero.

    Mário SF Alves

    Ora, companheiro, a Gloebbels e as demais congêneres do PiG são apenas caixa de ressonância de algo muito, muito, maior.
    ________________________________
    “…o patrão deles, de todos eles, é a Casa Grande¹…”
    ________________________________
    Ou seja: o poder. O poder de fato. É isso.
    _________________________________________________
    Jamais esqueça-se disso. Estamos falando do Mal. O Mal que só é o Mal pra quem ele faz mal; ou seja, para a imensa maioria da população.
    _____________________________________________________________

    ¹¹Por Casa Grande, entenda-se:

    A pior elite do mundo, radicada no Brasil e a “long time ago” a serviço da maior elite do mundo, a elite EEUU Spyware & Co.
    ___________________________________________________________________
    E, antes que alguém reclame, tá, reconheço. A inglesa e outras elites-corporations, também.

RicardãoCarioca

Acessei o site da Caixa agora http://www.caixa.gov.br/ e lá na 1a página tem um comunicado que tenta esclarecer uma reportagem da Isto É. Será que agora a Caixa vai pagar milhões em anúncios nessa revista para explicar?

Pois é assim que o PiG opera: Primeiro mete o pau, depois o governo, via instituição atacada, enche o atacante de dinheiro público, para tentar limpar a barra entre os seus leitores (como se isso resolvesse alguma coisa, pois quem lê o PiG tem a opinião formada, não pensa por si).

    Mário SF Alves

    É. O grande pequeno homem Mercadoantes que o diga. Vasilinou geral.

Romanelli

Rosane diz que a violência aumentou pq o Estado esta mais rico, atraindo mais gente.

Ainda tem esquerzóide que mesmo depois de anos de crescimento, distribuição de renda e geração de emprego, diz que o problema esta na miséria.

Tem lunático que culpa só o trafico.

E ninguém entende que o problema esta na cultura, no social, na malemolência e malandragem insufladas ..na falta de LEIS, no excesso de atenuantes, na burocracia da justiça.

Quase ninguém percebeu que só 6% dos nosso crimes são esclarecidos e que 50% dos nosso detentos (embora a maioria mereça) esta preso sem ter tido julgamento

..enquanto isso as mortes por assassinato alcançaram 60 mil num ano ..100 mil em TODA América Latina, sendo que nós somos só 30% da população (parabéns pra nóis).

Sim, faltam presídios, mas falta diminuição da maioridade tb, assim como falta uma pena mais produtiva, obrigando estes apartados a contribuírem, trabalhando de graça, pruma sociedade que não tem dinheiro pra manter todos eles ..e justo prum setor que precisa DOBRAR o número de vagas no CP.

Pior que no meio desta quizumba toda ainda vem “desesperados” que querem o liberou geral pra a maconha, ou até pra todas as outras drogas, esquecendo-se aqui que:

-traficante não vai ficar bonzinho do dia pra noite
-que droga VAGABUNDA e mais barata vai sempre surgir
-que excesso de tributo encarece e não compensa os custos e os danos pra saúde (vide cigarro e álcool por exemplo)

Educar, educar é a solução, e não pela escola ou via lares DESAGREGADOS e sem a menor condição ..isso deveria ser feito em cadeia, cadeia de TV por exemplo, assim como com as campanhas anti tabagismo.

Enfim, às vezes nem sei pq me bate tanto desanimo..

    Romanelli

    OX e crack são os grandes candidatos que prometem tomar o mercado da maconha pelo preço (droga altamente cancerígena, que gera alteração comportamental, dano irreversível ao cérebro e paranoia)

    Mas não são só estas não ..uma que esta barbarizando chama-se Krokodil, veja abaixo alguns dos seus efeitos e pense, o que merece um sujeito que induz ou ganha pra fornecer este veneno a outro ser ?

    http://www.youtube.com/watch?v=9AT3FfUtvyI

    sinceramente ? eu prefiro 1 milhão de traficantes presos a 3 milhões de zumbis perambulando por nossas ruas, e você ?

    Esta estória de se liberar traficante pra sobrar mais vagas em nossos presídios nada mais é do que “jogarmos a toalha”, deixarmos de fazer o que tem que ser feito só pq isso nos gera trabalho, desafios ..viver custa, e manter a ordem, a qualidade de vida da sociedade, também

    Mário SF Alves

    Misturando droga com a Grande Política, caro Romanelli?
    ____________________________
    Pelo visto, só pode dar nisso:

    Krokodil… e muito, muito, desânimo.
    __________________________________________
    Calma, companheiro! Calma.

Taiguara

Ninguém, em sã consciência, há de ter coragem de defender o descalabro e a insanidade que impera no sistema carcerário do maranhão. Mas, ha cerca de quatro/cinco anos, em Terras Imperiais do Baladeiro do Baixo Leblon, outrora denominada Minas Gerais, já em seu segundo reinado, e, tendo à frente da secretaria de Segurança Pública o INCENSADO Antônio Anastasia, foram INCENDIADOS, em duas etapas, TRINTA E TRÊS DETENTOS em delegacias de polícia do interior do Estado. Pelo que se tem notícia, até hoje não foram apuradas responsabilidades. A cobertura da mídia amestrada, em relação à barbárie patrocinada por agentes do Estado não teve 1% da cobertura que a mesma está dispensando, JUSTIFICADAMENTE, aos horripilantes acontecimentos no presídio de Pedrinhas. Não se viu ou ouviu, à época da carnificina tucana, nenhum pedido de intervenção no Estado como fazem agora os jornalões tucanos. Mais uma vez fica explícita a indignação seletiva e a partidarização da imprensa amestrada.

FrancoAtirador

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O fato principal é que é indispensável
repensar os conceitos de crime, justiça e pena.”

Pesquisa encomendada pela CNA, da senadora ruralista Katia Abreu (ex-PFL),

realizada em outubro de 2011 pelo IPESPE, junto à Classe Média do Brasil,

indicou que 81% defendem a diminuição da maioridade penal para 16 anos,

60% o estabelecimento da pena de morte para ‘assassinos’

e 46% a pena de morte para ‘assaltantes’ [!!!].

(http://www.canaldoprodutor.com.br/sites/default/files/A_CLASSE_C_BRASILEIRA_21112011_versaoFinal.pdf)
(http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/12/29/a-classe-media-chegou)

Porém, um crime que é considerado, por Lei, imprescritível e inafiançável

é justificado por essa mesma Classe Média como “só uma brincadeira”…

Rede MamaTerra, via Portal Áfricas

Na página do “Mercado Livre” foram publicados estas fotos [abaixo] colocando à venda crianças e jovens negras e negros ao preço de R$ 1,00

Apesar de centenas de reclamações de clientes, a administração da página “Mercado Livre” cuidou mais em deletar comentários de clientes indignados e deixar comentários nazistas além de ter duas mil curtidas de aprovação no Facebook.

(http://www.portalafricas.com.br/sitio-mercado-livre-faz-propaganda-racista-e-anuncia-venda-de-maninas-e-meninos-negros-por-1-real/#.UtHVWtK-pIY)


    Mário SF Alves

    “Pesquisa encomendada pela CNA, da senadora ruralista Katia Abreu (ex-PFL),
    realizada em outubro de 2011 pelo IPESPE…”
    ________________________________
    E dá acreditar nisso?

    Ainda que tendo em conta o peso do PiG na questão, penso que nem assim.

    Agora, que existe sim um envenenamento de almas¹ por debaixo dos panos, claro que existe.

    ¹Na ausência de uma discussão honesta sobre o problema, predomina sobre essas almas, outras almas – a grande maioria – pignaneadas ou capitaneadas pelo PiG e adjacências igualmente cretinas.

Mauro Bento

Por que esta surpresa,o Carandiru 111 já foi esquecido???

snd

terceirização: a maneira mais fácil de se desviar dinheiro público:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,maranhao-dobra-gasto-com-prisao-terceirizada-,1116385,0.htm
http://noticias.r7.com/cidades/interesse-do-governo-do-ma-e-terceirizar-e-corrupcao-mesmo-diz-sindicato-dos-agentes-penitenciarios-09012014
http://blog.jornalpequeno.com.br/johncutrim
e a veja ainda tem coragem de culpar a dilma:
http://www.brasil247.com/pt/247/maranhao247/126556/Ap%C3%B3s-Ana-Clara-Veja-pede-estadista-contra-o-crime.htm
http://www2.planalto.gov.br/imprensa/noticias-de-governo/ministerio-da-justica-lanca-programa-nacional-de-apoio-ao-sistema-prisional
vale lembrar que segundo esses reaça a prisão dos mensaleiros traria paz e justiça ao brasil, o brasil nunca mais seria o mesmo, mas não, tem que prender todo o PT.pqp. o maranhão é governado há uns 45 anos pelos sarney e nós aqui, há uns 20 anos pelo tucanato, mas como são paulo sempre é o mais adiantado do brasil, foi por isso que o PCC saiu daqui pra lá, ou seja, a gente tá sempre dando o “exemplo” pro resto do brasil. e o PT é sempre o errado, mesmo que aqui em são paulo o PMDB seja aliado dos tucanos

francisco pereira neto

O judiciário não é um poder independente?
Porque a indignação?
O STF não tem tomado prerrogativas do legislativo ao judicializar ações deste por omissão?
Joaquim Barbosa não impediu a cobrança progressiva do IPTU na capital paulista?
Então o judiciário que comece a construir presídios com o seu orçamento.
O que eles querem? Só condenar o PT?

    Eunice

    Errado.

    Não falta dinheiro em lugar nenhum. A grana vaza pra todo lado no Brasil.

    Prender não resolve. Essa é a questão.

    O que se deve fazer e já estou com nojo de repetir é dividir a renda nacional em melhores proporções e criar escolas integrais e decentes e seguro desemprego que funcione e não seja essa farsa.

    O cara tem duas opções quando perde o emprego, roubar ou se deitar na rua e pedir. E há o crime normal, mas é pouco. A maioria é decadência gradual e falta de garantias do estado.

    Simples: se 25% dos jovens de 15 a 18 estão fora da escola, e fora do trabalho também é claro que vão fazer algo para ganhar uns trocos, e depois se especializam dentro das prisões.

    No dia em que a cara-de-pau acabar o crime acaba.

FrancoAtirador

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Entrevista: KARINA BIONDI, antropóloga

Íntegra da entrevista com a antropóloga Karina Biondi,
publicada na Revista Ciência Hoje – CH 310 (dezembro/2013)

Por Cássio Leite Vieira, na Revista Ciência Hoje – CH/RJ

Em entrevista à CH, a antropóloga Karina Biondi analisa esse fenômeno social complexo, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que proibiu nas prisões o craque, a agressão, o estupro, as mortes sem autorização, o porte de facas e até palavrões.

Este ano, quando completa o 10º aniversário de sua hegemonia nas prisões paulistas – estima-se que hoje tenha influência em torno de 90% das cerca de 150 delas – e de sua refundação, quando acrescentou o ‘Igualdade’ ao lema ‘Paz, Justiça e Liberdade’,
o PCC lançou a ameaça de uma ‘Copa do Mundo do Terror’ [- será mesmo que foi o PCC que lançou o lema? Ou terá sido um bode expiatório preventivo?* -],
caso seus membros sejam transferidos para o isolamento, como prometem as autoridades de segurança em retaliação a um suposto plano para matar o governador Geraldo Alckmin.

A CH entrevistou a antropóloga Karina Biondi, da Universidade Federal de São Carlos, para entender esse fenômeno social complexo, que proibiu nas prisões o craque, a agressão, o estupro, as mortes sem autorização, o porte de facas e até palavrões.

Autora de ‘Junto e misturado: uma etnografia do PCC’ (São Paulo: editora Terceiro Nome, 2010), Biondi há anos pesquisa o assunto, que lhe surgiu como tema de mestrado e doutorado,
depois da prisão do marido – inocentado, após quase seis anos aguardando julgamento [!!!]–,
quando passou a visitar prisões paulistas.

Ciência Hoje: Parece difícil definir o PCC. Usa-se facção, grupo, associação, coletivo etc. Como a senhora o definiria?

Karina Biondi: Realmente, é difícil oferecer algo que pudesse fornecer uma moldura a um fenômeno tão complexo.
Já o caracterizei como um coletivo, quando tomei de empréstimo esse conceito de outro autor, para me desvencilhar da ideia de ‘crime organizado’.
Mas a melhor definição é a que os próprios integrantes oferecem: o PCC é um movimento.
E isso quer dizer que não obedece a limites espaciais, que não adquire formas definidas.
Toda a terminologia usada por seus integrantes remete a essa definição: quando alguém (geralmente um ‘correria’) ingressa no PCC, diz-se que ‘entrou para a caminhada’; as diferenças que o PCC expressa são denominadas ‘ritmo’; quando se pretende alcançar um objetivo, procura-se ‘levar a ideia adiante’.
De fato, em minha pesquisa, deparei-me com um PCC que não se restringia ao conjunto de seus integrantes, que estava presente mesmo onde não havia nenhum membro e que se apresentava de formas variadas a depender do ponto de vista adotado.
É possível dizer que não existe um, mas vários PCCs possíveis e que só se efetuam na medida em que acontecem.
Por isso, em vez de definir ou pressupor o PCC como força exterior que molda os indivíduos que a integram, passei a me esforçar para descrever como esse movimento acontece, como sua existência é alimentada pelas relações mais sutis, cotidianas, triviais.

Ciência Hoje: O PCC foi fundado em meados da década de 1990. Há uma década, depois de enfrentar facções, obteve sua hegemonia nas prisões paulistas. O que levou a população carcerária a aderir majoritariamente ao PCC?

Karina Biondi: O índice de mortes nas prisões era bastante elevado quando do surgimento do PCC, cuja expansão não se deu sem muito derramamento de sangue.
Mas, à época, o PCC era apenas um dos vários agrupamentos que disputavam espaço nos estabelecimentos penais, e a força física não era um diferencial seu.
Como se diz, era uma época do ‘cada um por si’, em que ‘vencia o mais forte’.
Nessa situação, aliada à força física – o que os presos chamam ‘disposição’ –, as ideias que propagavam eram muito sedutoras:
estabelecer tanto a ‘paz entre os ladrões’ – para dar fim às extorsões, à violência sexual, exploração e às mortes por banalidades comuns no ambiente prisional – quanto a ‘guerra contra a polícia’ – cujo objetivo principal seria lutar contra o que os presos chamam ‘opressão carcerária’.

Ciência Hoje: A senhora diria que a ‘paz entre os ladrões’ foi fruto de um ou mais fundadores que perceberam que as energias, forças e vontades da população carcerária – então, em situação caótica, na base do ‘cada um por si, que vença o mais forte’ – poderiam ser canalizadas contra um inimigo comum: o Estado e sua polícia?

Karina Biondi: Mais do que ser fruto dos fundadores, é efeito de uma série de acontecimentos:
as repercussões do massacre do Carandiru;
o crescimento vertiginoso da população carcerária no estado de São Paulo;
a transferência desse enorme contingente para longe dos olhos da maioria da população paulista;
o recrudescimento das práticas penais – cujo ponto alto foi, posteriormente, a criação do Regime Disciplinar Diferenciado.
O sucesso da ideia de ‘paz entre os ladrões’, por sua vez, não pode ser dissociada das reações do Estado – como transferências e isolamento dos que eram considerados líderes – e do que, na antropologia, costumamos chamar ‘política do cotidiano’ ou ‘pequena política’, ou seja, as mais triviais relações travadas cotidianamente.
Foram elas as determinantes para a atual dinâmica do PCC.

Ciência Hoje: Há 10 anos, ocorreu a ‘refundação’ do PCC, quando Marcos
Willians Herbas Camacho (Marcola) acrescentou a ‘Igualdade’ ao ‘Paz, Justiça e Liberdade’. Como se deu essa transição?

Karina Biondi: Naquela época, a liderança do PCC era centralizada nos fundadores, que estavam no topo de uma hierarquia do tipo piramidal – com postos de generais e soldados – e davam a palavra final para qualquer decisão.
Mas, segundo os presos, ‘o poder subiu à cabeça’ dos fundadores, que passaram a oprimir os demais presos.
O descontentamento de muitos integrantes frente a essas práticas levou a uma tomada de poder e à exclusão dos antigos líderes-fundadores, que, considerados ‘malandrões’ – aqueles que exploram outros presos –, foram repudiados e mandados para o ‘seguro do seguro’.
Marcola, que sempre negou o papel de líder, distribuiu a liderança e acabou com o modelo piramidal.
A adição da ‘igualdade’ ao lema só veio reforçar esse movimento de dissolução da hierarquia piramidal.
Não sei se é possível atribuir essa adição exclusivamente a Marcola.

Ciência Hoje: Tanto ‘irmãos’ (membros do PCC) quanto ‘companheiros’ (não
membros) parecem seguir um código que lembra uma ‘ética da vida carcerária’. O mais intrigante é que essa ética não carrega em si nem leis rígidas, nem punições e, por vezes, é seguida mesmo em prisões sem membros do PCC. Era assim antes de Marcola instituir [SIC] que todos agora são ‘de igual’?

Karina Biondi: É importante dizer que a igualdade não é algo que se instala por decreto. Os efeitos de sua incorporação ao lema do PCC não foram vistos de imediato nas práticas cotidianas e até hoje não se dão homogeneamente em todas as prisões.
A ‘igualdade’ não é algo que se estabelece sem tensões;
é um ideal que, para se manter como tal, precisa ser incessantemente buscado.
Essa busca faz com que, por exemplo, nenhuma decisão seja tomada de forma isolada, levando todos os assuntos a serem amplamente discutidos.
Além disso, não só desobriga à obediência – ‘ninguém é obrigado a nada’, dizem com frequência –, mas também serve como ferramenta para coibir relações de mando e obediência – afinal, quem ‘manda’ ou quem ‘obedece’ se mostram desiguais e passam a ser malvistos.
Assim, se Marcola tivesse instituído a igualdade, ele estaria tomando uma ‘atitude isolada’, que revela uma desigualdade.
Antes da igualdade, a estrutura vertical obrigatoriamente colocava relações de mando e obediência, com leis e punições mais rígidas – que posteriormente foram consideradas ‘opressões’ oriundas do próprio PCC.

Ciência Hoje: O lema ‘Paz, Justiça e Liberdade’ parece ter sido inspirado no Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. Qual a relação entre PCC e CV?

Karina Biondi: No início, os comandos não só compartilhavam o mesmo lema, mas também tinham uma aliança.
Um integrante do PCC era tratado como ‘irmão’ em ‘cadeias do CV’ e vice-versa.
Há cerca de 10 anos, essa aliança foi suspensa – o que não impede parcerias ou comercialização de produtos entre seus integrantes.
Na mesma época, a incorporação da ‘igualdade’ ao lema do PCC colocou uma diferença fundamental entre os comandos, especificamente ao que se refere à ideia de estrutura hierárquica que mencionei antes.

Ciência Hoje: O PCC discrimina algum tipo de presidiário, como estupradores e pedófilos?

Karina Biondi: Em geral, o PCC não aceita, nas cadeias em que está presente, estupradores, pedófilos, parricidas, policiais e outros profissionais ligados à segurança pública ou privada, membros de comandos rivais e assassinos de crianças.
Todos esses são chamados ‘coisa’ e, impedidos de ficar no ‘convívio’ com os outros presos, são encaminhados para o ‘seguro’ ou para cadeias reservadas para abrigá-los.
Por vezes, não são aceitos nem nos ‘seguros’, principalmente quando estes estão ocupados por presos que, embora procurem permanecer ‘na disciplina do Comando’, cometeram uma falta no ‘convívio’.

Ciência Hoje: Qual a relação do PCC com as comunidades das áreas onde ele atua fora dos presídios?

Karina Biondi: A atuação do PCC nas comunidades não é homogênea.
Como dizem, ‘cada quebrada tem um ritmo’, e há muitos fatores que fazem esse ‘ritmo’ variar.
Há lugares em que o PCC faz melhorias de infraestrutura em áreas comuns;
em outros, há distribuição de cestas básicas, brinquedos em datas comemorativas, auxílio para compra de remédios ou para reforma dos imóveis.
Mas a forma com a qual ele se faz mais presente nas comunidades é na manutenção da ‘disciplina’ do próprio PCC.
Assim como se deu nas cadeias, os moradores afirmam que a qualidade de vida nas ‘quebradas’ melhorou bastante depois da chegada do PCC e atribuem a ele a redução dos homicídios – nítida nas estatísticas oficiais.
Se, por um lado, a manutenção da ‘disciplina do Comando’ garante sua hegemonia no local, por outro, a igualdade permite que os moradores cobrem dos ‘irmãos’ uma boa gestão.
Assim, aqueles que ‘não dão uma atenção’ são criticados, e entrevista se passa a dizer que ‘a quebrada está largada’, ou seja, que o PCC não está fazendo o que deveria fazer para que ‘a quebrada se mantenha na disciplina’.

Ciência Hoje: Sabe-se que a renda do PCC vem da venda de drogas. Como
ele lida com concorrentes nas ruas?

Karina Biondi: Embora existam pontos de venda de drogas que são do PCC, nem todo ‘irmão’ é traficante e nem todo traficante é ‘irmão’.
Como o PCC não monopoliza o comércio de drogas – qualquer proibição desse comércio contrariaria o ‘de igual’ –, a concorrência é meramente econômica: valem as práticas de mercado, como preço e qualidade da mercadoria.
Entretanto, se os concorrentes forem pessoas de outros comandos, eles nem são vistos como concorrência mercantil.
São ‘coisa’, e a disputa passa a ter outra ordem que não a comercial.

Ciência Hoje: Há indícios [SIC] de que o PCC tenha planos de ter um braço político, como a máfia?

Karina Biondi: Até onde sei, não há planos políticos no PCC.
Pelo contrário, nas últimas eleições, recolhi relatos de preferências partidárias bem divergentes, bem como expressões de total desprezo à política partidária.

Ciência Hoje: Por sinal, a máfia dá apoio financeiro aos familiares de seus membros presos ou mortos. Há algo similar no PCC?

Karina Biondi: Já ouvi relatos sobre assistência a essas famílias, mas, como tudo no PCC, não é uma lei válida em todas as ocasiões.
É sempre fruto de debates para definir ‘o certo’.

Ciência Hoje: Recentemente, o PCC disse [SIC]* que faria a ‘Copa do Mundo do Terror’, caso alguns de seus membros fossem transferidos para o isolamento.
A senhora acha que esse tipo de ação (isolamento) enfraquece o PCC?
Essas ameaças não seriam apenas forma de pressão política para forçar uma negociação entre o PCC e o Estado?

Karina Biondi: Desde o surgimento do PCC, a transferência e o isolamento de supostos líderes tiveram resultado inverso ao esperado:
contribuíram para a expansão do PCC;
alimentaram um sentimento de solidariedade com os presos isolados;
reforçaram ‘a luta contra a opressão carcerária’;
e, principalmente, obrigaram o PCC a buscar alternativas para que sua existência e atuação não dependessem desses líderes.
Disso, resulta a atual dinâmica do PCC, que não se configura como monolítico, e cuja atuação não depende de lideranças.
Assim, nem sempre a opinião de alguém que o poder público considera líder é aceita pelos demais presos e, assim, nem sempre expressa a posição do PCC como um todo.
Isso, sem dúvida, dificulta não só as investigações, mas também qualquer ação para repreender sua atuação.
Não sei dizer se essa ameaça é ou não uma tentativa de negociação com o Estado.
Mas isso coloca em evidência a falta de canais para diálogo entre presos e poder público.
A recusa de diálogo por parte do Estado não faz outra coisa senão gerar episódios violentos.

(http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2013/310/pdf_aberto/entrevista310.pdf)
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    FrancoAtirador

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    Leia também:

    Entrevista com a pesquisadora Karina Biondi na Carta Capital

    Por Bruno Huberman – publicado 03/08/2010

    (http://www.cartacapital.com.br/sociedade/fechado-com-o-comando)
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    Le Monde Diplomatique
    Edição 36 – Julho 2010

    Resenha do Livro

    JUNTO E MISTURADO: UMA ETNOGRAFIA DO PCC
    Karina Biondi, Ed. Terceiro Nome

    (http://www.diplomatique.org.br/resenhas.php?edicao=36)
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    FrancoAtirador

    Mário SF Alves

    Prezado Franco,

    Tô admirado com essa pessoa, a antropóloga Karina Biondi.

    Até onde pude perceber, ela não desconversou, não tergiversou, não mergulhou, não fez concessões e não compactuou. Brilhante.
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    Será ela também assim em entrevistas a outras mídias? Ou melhor, será que seria convidada/convocada para entrevistas na mídia fora da lei?

Francisco

O governo federal disponibilizou dinheiro para reformas no sistema prisional que está, em alguns casos, há anos mofando na conta.

Tem dinheiro para fazer e não faz!! É preguiça misturada com descaso, é foco total na próxima eleição, como se não fosse preciso governar bem para ser reeleito.

O Maranhão não é o único caso. Sergipe e Rio, dentro outros, estão na mesma situação.

Seria maravilhoso se a imprensa no Brasil fosse livre e monitorasse as dotações orçamentárias que a União disponibiliza e ficam pegando bolor nas contas.

A cada dia que passa mais tenho desprezo pela ideia de federalismo no Brasil. Já pensou se os estados e municípios realmente tivessem a autonomia tributária que reivindicam?

Quem precisa de intervenção é o Brasil INTEIRO.

Mas o único agente que teria preparo para fazer melhor do que vem sendo feito é a União. É ruim da Globo admitir que se o metrô de São Paulo e Bahia fosse feito pelo governo federal seria feito melhor e mais eficientemente…

    FrancoAtirador

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    E esse descaso e incompetência nos Estados e Municípios

    não se restringe apenas à segurança pública e correlatas,

    mas se estende a todas as áreas: Saúde, Educação, Transporte…

    A estadualização e a municipalização dos serviços públicos

    dominados pelas oligarquias feudais e empresariais locais (*)

    destruíram qualquer possibilidade de administração racional.

    Só com a interveniência federal direta se mudará essa situação.

    (*) Os Vereadores, Prefeitos e Governadores de hoje
    serão os Deputados Federais e Senadores de amanhã.
    .
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    Estado do Maranhão devolveu perto de R$ 24 milhões à União,
    quase metade dos recursos recebidos do Governo Federal em 15 anos,
    por não ter conseguido executar, em tempo hábil, os projetos
    de construção de um presídio e de duas cadeias públicas.

    10/01/2014 – 17h10

    Maranhão devolveu quase metade dos recursos
    recebidos em 15 anos para construir presídios

    Alex Rodrigues
    Repórter da Agência Brasil

    Brasília – Apesar de enfrentar, há anos, o problema da falta de vagas em suas prisões, o governo do Maranhão devolveu quase R$ 24 milhões à União por não ter conseguido executar, em tempo hábil, os projetos de construção de um presídio e de duas cadeias públicas. Juntas, as cadeias de Pinheiro e de Santa Inês e o Presídio Regional de Pinheiro acrescentariam 681 vagas ao sistema carcerário maranhense.

    De 1998 a 2012, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, e o governo do estado assinaram nove convênios para construção de presídios, entre eles os três que tiveram os projetos cancelados. Juntos, os nove convênios totalizam R$ 50.749.830,00. Subtraídos os R$ 23.962.399,00 devolvidos ao Depen, o governo estadual aplicou pouco mais de R$ 26 milhões dos recursos federais recebidos por meio de contratos assinados nos últimos 15 anos – alguns deles ainda estão em vigor e há obras em andamento. Existem ainda contratos que beneficiam o sistema carcerário maranhense, com o aparelhamento de unidades prisionais, realização de mutirões de execução penal e instalação de centrais de acompanhamento de penas alternativas.

    Os contratos não cancelados destinam recursos para as seguintes obras: construção das penitenciárias de João Lisboa (R$ 1 milhão, em 1998) e de São Luís (R$ 2,061 milhões, em 2000); do Presídio Regional de Pedreiras (R$ 1,581 milhão, entre 2001 e 2002). Em 2007, foram assinados os contratos para a construção da Penitenciária de Imperatriz (R$ 6,508 milhões), da Penitenciária Feminina de Pedrinhas, em São Luís (R$ 9,446 milhões), e para ampliação do Presídio de São Luís (R$ 5,641 milhões).

    De acordo com dados do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA), o estado fechou o ano passado com 2.562 vagas a menos que o número de detentos. Em 19 de dezembro de 2012, a população carcerária maranhense chegava a 5.466 pessoas. Desse total, 1.555 cumpriam pena em delegacias. Conforme revelou à Agência Brasil o juiz da Vara de Execuções Penais Fernando Mendonça, indicado para assumir a coordenação do Grupo de Monitoramento Carcerário do tribunal, há mais de 12 mil mandados de prisão à espera de cumprimento no estado.

    Em nota, o governo maranhense informou ter devolvido os R$ 17 milhões necessários à construção da Cadeia Pública de Santa Inês e os R$ 5,314 milhões destinados à construção da Cadeia Pública de Pinheiro, porque, até março do ano passado, o Depen ainda não tinha definido a maneira como o Executivo estadual poderia usar os mais de R$ 22 milhões. Segundo o governo maranhense, o impasse surgiu enquanto se discutia se as duas unidades deveriam ser construídas pelo método convencional ou em módulos. Os dois convênios assinados com o Depen tinham caráter emergencial.

    Em abril, a Secretaria estadual de Justiça e Administração Penitenciária (Sejap) apresentou ao Depen um novo projeto de construção modular das unidades. Pendências técnicas e burocráticas impediram a aprovação das propostas, retardando o início das obras. No fim de junho, venceu o prazo legal para que os recursos empenhados até 31 de dezembro de 2011, e ainda não gastos, fossem aplicados.

    “Ou seja, não foi uma devolução, mas sim um cancelamento”, diz o governo estadual na nota, assegurando ter projetos para construção de mais nove presídios, como a Penitenciária de Imperatriz, obra para a qual foi assinado um convênio de R$ 6,5 milhões, ainda em 2007, e que, de acordo com o governo estadual, já está com 80% da obra concluída. “Os convênios para Pinheiro e Santa Inês foram atingidos por uma lei geral que desconsiderou a excepcionalidade dos casos e uma longa sequência de impedimentos que inviabilizaram o prosseguimento do projeto”. Procurado para comentar o cancelamento do contrato de construção do Presídio de Pinheiro, o governo maranhense ainda não se manifestou.

    Segundo o Ministério da Justiça, o dinheiro repassado ao governo maranhense desde 1998 permitiu que a Sejap criasse 2.285 vagas prisionais. Os recursos empenhados a partir de 2011 são provenientes do Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional. Em 2013, no entanto, o governo estadual e o Depen não assinaram novos contratos ou convênios.

    Edição: Nádia Franco

    (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2014-01-10/maranhao-devolveu-quase-metade-dos-recursos-recebidos-em-15-anos-para-construir-presidios)
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Gerson Carneiro

Passou para o outro lado do muro, ninguém mais se importa. E a sociedade inteira acha que eles estão no lugar que merecem estar. E como perdem o direito a voto, reforça ainda mais o desinteresse.

    FrancoAtirador

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    Um adequado Resumo da Ópera Trágica

    inspirada no Caos Nosológico Social

    que constitui esta Era de Iniqüidade.
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james

Roseana: “O Maranhão está violento porque está ficando rico”. Aos maranhenses: se ela quebrar uma perna, tem que ser sacrificada.

Como será viver nesses países com elevado IDH?

1 – Irlanda (0,968)
2 – Noruega (0,968)
3 – Austrália (0,962)
4 – Canadá (0,961)
5 – Irlanda (0,959)
6 – Suécia (0,956)
7 – Suíça (0,955)
8 – Japão (0,953)
9 – Holanda (0,953)
10 – França (0,952)

Municípios com pior renda per capita do país estão no Maranhão, segundo IDH das cidades

IDH do Maranhão: INCOMPETÊNCIA ou DESINTERESSE?

    Marco

    PT e seus amigos e suas estratégias

Bacellar

IncAbível.

Elias

Realmente a cabeça da governadora Roseana Sarney deve estar “em Marte”. No Maranhão é que não está. As mortes cotidianas e decapitações em Pedrinhas são notícias internacionais que envergonham o Brasil. Só uma governante alheia à vida e aos direitos da pessoa humana deixaria Pedrinhas chegar a esse ponto. A velha frase “com amigos assim, não precisamos de inimigos” vem bem a calhar neste momento. A política é a arte de engolir sapos, mas certos sapos são duros de engolir.

Malvina Cruela

resumindo: nada se pode fazer para conter criminosos psicopatas que são apenas vitimas da insensibilidade da zelite e temos de esperar o juizo final quando todos seremos julgados perante o senhor e justiça será feita a todos..enquanto isso salve-se quem puder…genios voltem para a garrafa pelamordideus..qualquer garrafa pq parecem borachos mais que tudo.

Marat

Temos muitos coronéis no Brasil, que mandam com mão de ferro em seus feudos. Eis alguns deles:
– Sarney;
– Mendes;
– Serra;
– Magalhães.
E muitos outros mais. O Brasil precisa se modernizar.

lukas

O Maranhão é refém dos Sarney.

    Leandro

    E o PT também.

    Mário SF Alves

    É isso. O PT entrou de penetra nessa festa. Não fosse isso, porém, e em se tratando de Brasil, talvez não entrasse em festa nenhuma.
    ____________________________
    E só para recordar: teve a festa do caixa dois, lembra? Era exclusiva pra os amigos do rei, ou seja, do regime Casa-Grande-Brasil-Eterna-Senzala.
    ____________________________________
    Ah, esse PT. Menino levado esse.

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