IstoÉ: A face aparente do propinoduto tucano

Tempo de leitura: 4 min

BRASIL | N° Edição: 2295 | 08.Nov.13 – 20:50 | Atualizado em 11.Nov.13 – 02:54

Justiça chega aos homens do propinoduto

Agentes públicos denunciados por IstoÉ têm bens bloqueados e Ministério Público confirma o pagamento de propina

Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas, na IstoÉ

O esquema de superfaturamento de licitações no Metrô paulista e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) durante os sucessivos governos tucanos à frente do Estado de São Paulo tornou-se oficialmente um caso de Justiça.

Em decisão proferida na quinta-feira 7, o juiz criminal Marcelo Costenaro Cavali atendeu a um pedido do Ministério Público Federal e da Polícia Federal e decretou o bloqueio de aproximadamente R$ 60 milhões em bens e contas bancárias de cinco pessoas e três empresas relacionadas com o cartel da área de transportes sobre trilhos.

A tramoia causou prejuízo de ao menos R$ 425 milhões aos cofres públicos paulistas.

Além da filha de um dos envolvidos, entre os alvos constam o lobista Arthur Teixeira e três ex-executivos da CPTM: Ademir Venâncio de Araújo, João Roberto Zaniboni e Oliver Hossepian Salles de Lima.

Para o Judiciário, há elementos contundentes que revelam que, em troca de suborno, eles usaram de suas atribuições para beneficiar empresas interessadas em contratos públicos.

O esquema foi denunciado com exclusividade por ISTOÉ em julho passado. Desde então, 19 reportagens esmiuçaram o funcionamento do propinoduto tucano, que se perpetuou pelas gestões dos governadores Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.

Em uma das reportagens de capa, sob o título “Todos os homens do propinoduto tucano”, ISTOÉ revelou em primeira mão o envolvimento de Ademir Venâncio – que agora está com os bens bloequeados – no esquema.

Pessoas ligadas à investigação dizem que a lista de beneficiários da fraude crescerá nas próximas semanas com a realização de novos depoimentos e cruzamentos de dados.

O bloqueio de bens, porém, já serviu para avançar sobre a peça-chave do esquema: o lobista Arthur Teixeira. Investigado também pelo MP da Suíça pelos crimes de corrupção internacional e lavagem de dinheiro, ele é considerado o principal operador do propinoduto.

Em seu despacho, o juiz Marcelo Cavali disse que Arthur e seu irmão, Sérgio Teixeira (morto em 2011), recebiam comissões de acordo com os pagamentos feitos pela CPTM às empresas do cartel e repassavam, via doleiros, parte das quantias a agentes públicos “e, eventualmente, a outras pessoas ainda não identificadas”.

Para isso contavam com empresas de consultoria de fachada no País e no Exterior, como as offshores uruguaias Gantown e Lareway e as brasileiras Constech e Procint, que tiveram os seus bens bloqueados.

Praticamente todas as companhias do cartel recorreram aos serviços dos irmãos. Não à toa, em sua decisão o juiz ressalta o papel das firmas de Teixeira.

“Sobre quaisquer valores recebidos por empresas de titularidade de funcionários públicos responsáveis pelos processos licitatórios relacionados ao Metrô de São Paulo, repassados pela Procint e Constech, paira uma elevada suspeita de proveniência ilícita”, afirma Cavali.

No entanto, mais do que um mero intermediário de dinheiro, a denúncia da PF e do MPF mostra que Arthur Teixeira tinha voz ativa no esquema de corrupção. Ele alertava as companhias sobre novos projetos a serem licitados e organizava até a forma como elas participariam da disputa.

Outro alvo do bloqueio judicial de bens foi Ademir Venâncio de Araújo, ex-diretor de engenharia e obras da CPTM. Conforme denúncia feita por ISTOÉ, publicada a partir do relato de um ex-executivo do conglomerado alemão Siemens, ele mantinha encontros regulares em casas noturnas com dirigentes das companhias do cartel.

Lá, fornecia informações internas sobre licitações e acertava como as empresas iriam se associar para conquistar contratos com as empresas públicas. Foi assim no caso da Linha 5 do metrô paulista, antiga Linha G da CPTM. A obra é alvo de investigação por superfaturamento.

Chama a atenção das autoridades o fato de, logo após deixar o cargo na CPTM, Araújo ter aberto uma empresa de consultoria: a Focco Tecnologia e Engenharia, que recebeu cerca de R$ 2 milhões da francesa Alstom, uma das principais beneficiadas no contrato da Linha 5.

“Seriam correspondentes ao pagamento de propinas. Determino o sequestro de montante”, diz o pedido judicial. Na decisão, o juiz chega a questionar o fato de o ex-executivo prestar consultoria a uma empresa que venceu processo licitatório realizado por ele.

“É como se este magistrado, depois de absolver determinados réus, após se exonerar ou aposentar, passasse, logo em seguida, a receber valores por lhes prestar consultoria em outros feitos criminais”, salienta o juiz, que também bloqueou bens da empresa de Venâncio.

Ex-sócio de Ademir Venâncio na Focco, João Roberto Zaniboni foi igualmente alvo da medida judicial. Diretor de operações da CPTM entre 1999 e 2003 (gestões Mário Covas e Geraldo Alckmin), Zaniboni é investigado também na Suíça.

Uma conta chamada de “Milmar” no Credit Suisse foi abastecida com US$ 836 mil, o equivalente a R$ 1,8 milhão, durante o período em que ele trabalhou na estatal paulista e assinou o contrato da Linha 5 do Metrô de São Paulo.

Somente em um depósito, efetuado em 27 de abril de 2000, Zaniboni recebeu US$ 103,5 mil do lobista Arthur Teixeira, valor que teria como origem o caixa da francesa Alstom.

Para as autoridades brasileiras, Zaniboni cometeu crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Também foram registrados pagamentos de outras empresas do cartel diretamente a ele ou a empresas em que era sócio, como a Getran Consultoria. Nela, dividia o quadro societário com Oliver Hossepian Salles de Lima.

Presidente da CPTM entre 1999 e 2003, Oliver Hossepian foi alvo de bloqueio de bens pelo fato de a Getran Consultoria ter recebido valores das empresas do lobista Arthur Teixeira, o que caracterizaria “vantagens indevidas recebidas em razão do mau uso da função pública”.

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A crítica de Zé Dirceu à política de juros


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Comentários

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luith santos -Goethe-Br.

…-escre ví ainda a pouco um comentário…:o que fizeram do mesmo ?…

    Conceição Lemes

    Luith, o seu comentário nao chegou até nós.Lamento. abs

Blindagem dos tucanos inclui promotor em cargo público, denuncia deputado – Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] IstoÉ: A face aparente do propinoduto tucano […]

Randolfe quer anular a deposição de João Goulart – Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] IstoÉ: A face aparente do propinoduto tucano […]

jõao

FIQUE SABENDO: TJMG confirma: Aécio Neves é réu por desvio de R$ 4,3 bilhões da saúde.

Saiu na Revista Fórum:

Governador de Minas Gerais é acusado de não cumprir o piso constitucional do financiamento do SUS entre 2003 e 2008

Por três votos a zero, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) decidiu que o senador Aécio Neves continua réu em ação civil por improbidade administrativa movida contra ele pelo Ministério Público Estadual (MPE).

Aécio é investigado pelo desvio de R$ 4,3 bilhões da área da saúde em Minas e pelo não cumprimento do piso constitucional do financiamento do sistema público de saúde no período de 2003 a 2008, período em que ele foi governador do estado. O julgamento deverá acontecer ainda esse ano. Se culpado, o senador ficará inelegível.

Desde 2003, a bancada estadual do PT denuncia essa fraude e a falta de compromisso do governo de Minas com a saúde no estado. Conseqüência disso é o caos instaurado no sistema público de saúde, situação essa que tem se agravado com a atual e grave epidemia de dengue.

Recurso

Os desembargadores Bitencourt Marcondes, Alyrio Ramos e Edgard Penna Amorim negaram o provimento ao recurso solicitado por Aécio Neves para a extinção da ação por entenderem ser legítima a ação de improbidade diante da não aplicação do mínimo constitucional de 12% da receita do Estado na área da Saúde. Segundo eles, a atitude do ex-governador atenta aos princípios da administração pública já que “a conduta esperada do agente público é oposta, no sentido de cumprir norma constitucional que visa à melhoria dos serviços de saúde universais e gratuitos, como forma de inclusão social, erradicação e prevenção de doenças”.

A alegação do réu (Aécio) é a de não ter havido qualquer transferência de recursos do estado à COPASA para investimentos em saneamento básico, já que esse teria sido originado de recursos próprios. Os fatos apurados demonstram, no entanto, a utilização de valores provenientes de tarifas da COPASA para serem contabilizados como investimento em saúde pública, em uma clara manobra para garantir o mínimo constitucional de 12%. A pergunta é: qual foi a destinação dada aos R$4,3 bilhões então?
Pig @NetoSampaio

Julio Silveira

Se tem uma coisa que não consigo entender (pra ser sincero fica difícil engolir), é como os caras chegam, primeiro, a um patrimônio desses que ostentam já dito como incompatíveis com seus ganhos nesta nesta vida, para só depois de tanto acumulo serem investigados. Acho muito suspeito que só agora tenham sido expostos, no mínimo devem ter pisado na bola com muitos alguéns. A cumplicidade e a parceria aí foi grande e mais uma vez demonstra como funciona a corte, para aqueles que estão lá.

    Maria Thereza

    A cumplicidade deve envolver muita gente mesmo, porque qualquer cargo de confiança tem que apresentar a declaração do IR todo ano. Então, vai da moça do cafezinho até quem tem o domínio do fato.

    guru

    É por isso que os corruptos escondem o dinheiro roubado no exterior ou nas mãos de laranjas. Se a casa cair, adeus Teresa. O capitalismo é o fermento da corrupção e os seus defensores ou são ingênuos ou tem o DNA para roubar o alheio.

    Gerson Carneiro

    Uma dica é observar há quanto tempo estão no Poder em São Paulo e conjuntamente analisar o comportamento da imprensa, MPE e Poder Judiciário em relação a eles.

    Gerson Carneiro

    Sem deixar de fora as Assembleias Legislativas (estadual e municipal).

    Dudu Cartucho

    O MP está investigando, acontece que…sabe como é…documento esquecido em pasta errada…

Mardones

Ainda bem que tem investigação na Europa também para ajudar a justiça brasileira a não esquecer inquéritos nas gavetas erradas.

Luís Carlos

Tucanos em polvorosa. Com propinoduto tucano sendo desmontado e apurações saneadoras de Haddad na prefeitura de SP, tucanos e seus parceiros nos grandes veículos de comunicação estão desesperados com eleição estadual 2014. Se Padilha ganhar, e há considerável chance disso acontecer, a população ficará sabendo de outras ações do ” modus operandi” tucano. Já estariam tentando apagar rastros de irregularidades?

Jose Mario HRP

A churrascaria politica recebeu novos cortes:
Picanha com alho a La Kassab, Coxão duro a Cerra Chirico e Cupim Alckimin!
Churrasco de tucano/PEFELE, tchÊ!

Jose Mario HRP

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/11/corte-interamericana-se-instala-no-brasil-para-julgar-caso-da-colombia.html

Vamos levar o mensalão lá?
Tá mais do que na hora de desmascarar o G. Mendes e o J. Quinzim!

Marcos K

A mim só resta uma dúvida, cruel, diga-se: no caso do propinoduto paulista vai valer a teoria do “domínio do fato”?

    Maria Thereza

    Esconder (ou esquecer) documentos, já fizeram. Faltam as ilações, para mostrar que não é bem assim. Se fossem de outro partido, já era prova provada.

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