Fátima Oliveira: “Marta Suplicy escolheu ser proscrita dos círculos arejados e progressistas da política”

Tempo de leitura: 4 min

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por Conceição Lemes 

Com o seu voto a favor do impeachment, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) ajudou a derrubar a presidenta Dilma. Mas também jogou toda a sua história na lata do lixo.

Em 13 de maio de 2016, dia seguinte ao golpe, o tamanho do estrago ficou escrachado.

Michel Miguel Elias Temer Lulia anexou o Ministério da Cultura ao da Educação, entregando-o ao Democratas, na pessoa do deputado federal Mendonça Filho (DEM-PE).

O Mídia Ninja fez um diagnóstico, arrasador, preciso, que diz tudo:

Graças ao voto da senadora Marta hoje o Brasil acordou sem Ministério da Cultura. Onde havia Juca Ferreira, agora há Mendonça Filho, do Democratas.
O DEM foi contra o ProUni
O DEM foi contra o FIES
O DEM foi contra o ENEM
O DEM foi contra destinar 50% do fundo do pré-sal pra Educação
O DEM foi contra 75% dos royalties pra Educação
O DEM sempre foi contra os 10% do PIB pra Educação
O DEM entrou no STF contra as cotas
O DEM entrou no STF contra terras quilombolas
O DEM entrou no STF contra o conteúdo nacional na Lei da TV Paga
Parabéns, senadora Marta Suplicy, por seu crime contra a Democracia, a Educação e a Cultura do Brasil! Sua participação no atentado político que assassinou o MinC não vai ter perdão.
#‎MartaTraidoraDaCultura

Um ministério de homens brancos, sem mulheres nem negros.

Aliás, o primeiro governo sem mulheres desde o general Ernesto Geisel (1974-1979).

Questionado por jornalistas sobre a ausência de mulheres no primeiro escalão do governo interino Temer, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que “não foi possível” preencher os cargos com presença feminina: “A composição de ministérios foi feita a partir de sugestão de partidos”.

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Michel Miguel Elias Temer Lulia fez do ministério o que uma de suas cúmplices na mídia, a golpista Veja, defende ser uma mulher de verdade: “recatada, pura e do lar”.

Portanto, mulheres “de verdade” não cabem em qualquer ministério Temer.

Tanto que Marta foi literalmente para o escanteio. Sequer saiu na foto principal do bando de machistas do ministério Temer. Triste fim, para uma oportunista, que só tem olhos para o seu projeto pessoal. Ou seja, para o seu próprio umbigo.

Com a grita do pessoal  área cultural, Temer decidiu criar a Secretaria da Cultura e colocar uma mulher à frente.

Nesse sábado, quem sempre esteve acostumada a dar ordens, se prestou ao reles papel de mulher de recado do governo Temer para Marília Gabriela.

Deu no Glamurama:

Foi Marta Suplicy a incumbida de transmitir o convite para que Marília Gabriela aceitasse ocupar a secretaria de Cultura no governo Temer. Com isso seriam resolvidas duas questões: ter um órgão separado cuidando da Cultura e uma mulher no ministério. A tarde inteira desse sábado foi um vai e vem tentando convencer a apresentadora, que no início da noite avisou Marta que ela não poderia aceitar no momento. Agradeceu muito o convite, mas disse não. (por Joyce Pascowitch)

Tudo em nome de projeto pessoal de voltar a ser prefeita de São Paulo, agora pelo PMDB.

No artigo “Pelo Brasil!”, publicado na Folha de S. Paulo na sexta-feira 13, após desonrar  o voto de milhares de eleitores, a senadora golpista disse na caradura:

A hora é de aplacar os ânimos e de construirmos, juntos, o amanhã em torno dos interesses do Brasil. O enfrentamento e a luta política esgotaram-se.

(…) Vamos, todos, virar a página das disputas e divisões que não cabem mais.

Chegou o momento do alinhamento e do esforço por uma verdadeira agenda nacional. Não cabem sectarismos, rancores nem ressentimentos.

(…)

O padre  José Oscar Beozzo responde à Marta Suplicy no site do Centro de preparação e atualização de agentes de pastoral para o Brasil e para a América Latina (Ceseep), do qual é diretor.  Beozzo, segundo Leonardo Boff, é um dos intelectuais da Igreja mais bem preparados que ele conhece, pois é teólogo, sociólogo, historiador.

O artigo de Beozzo fere de morte o discurso hipócrita e desonesto de Marta:

Parabéns, senadora Marta Suplicy, pelo seu artigo na Folha de São Paulo, com seu apelo “Pelo Brasil” e pela união em torno ao governo interino de Michel Temer e ao seu programa de ordem e progresso.

A guerra sem tréguas movida ao governo da presidenta Dilma acabou.
Instauremos a ordem e a paz dos cemitérios.

Para salvaguardá-las, que as mulheres banidas do ministério formado só por homens, não protestem mais: abandonem a cena pública, voltem aos seus afazeres domésticos e calem a boca; que os negros e negras, maioria da sociedade brasileira deixem as ruas e praças e retornem, nesse 13 de maio, à invisibilidade das senzalas; que os sem terra se conformem com a dilatação e dominação do latifúndio e parem de lutar por reforma agrária e por terra para quem trabalha; que os sem teto, se acomodem debaixo das pontes e viadutos, até que a policia os enxote; que estudantes não ocupem mais as escolas por educação de qualidade e pela merenda roubada.

Que a luta contra as desigualdades de gênero, raça, cor e classes sociais cesse por completo, pois o governo da Casa Grande decretou que a Ordem é sua prioridade e que a luta por igualdade de direitos e oportunidades desapareceu de sua agenda e do programa da senadora por São Paulo e candidata à Prefeitura da cidade, Marta Suplicy.

Na entrevista que deu ao Fantástico no domingo, aliás, Temer mencionou um certo “mundo feminino”, como se homens e mulheres não compartilhassem o mesmo planeta e, apesar das óbvias distinções, não tivessem um mundo em comum a governar. É este o novo “líder” de Marta.

A médica e escritora Fátima Oliveira, do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho Consultivo da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe, foi fundo.

“Ao fazer opção pela volta aos ideais partidários de sua classe de origem — a burguesia paulistana –, no essencial, a senadora Marta Suplicy escolheu ser uma pessoa proscrita dos círculos arejados e progressistas da política, seja de movimentos sociais, como o feminismo, ou de partidos de esquerda”, diz Fátima ao Viomundo.

“O seu retorno ao ninho original foi acompanhado de uma fixação venenosa e vingativa contra qualquer ideia que, minimamente, acene cidadania”, prossegue.  “Ela reoptou ser contra as mais sentidas aspirações populares e democráticas e não perde oportunidade de se declarar  uma inimiga.”

“Assim sendo, Marta Suplicy merece nosso solene silêncio, inclusive nas redes sociais”, arremata Fátima Oliveira. “Não devemos dar plateia para ela, que é o que ela mais gosta.”

Decididamente, Marta Suplicy é hoje uma mulher à la Temer.

Leia também:

Mulheres em marcha em São Paulo denunciam governo interino de Temer por machismo

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