Economistas contra ‘campanha pela austeridade sob coação’

Tempo de leitura: 3 min

tavares

Economistas pelo desenvolvimento e pela inclusão social

sugerido pela Conceição Oliveira e pelo Pedro Paulo Zahluth Bastos

A campanha eleitoral robusteceu a democracia brasileira através do debate franco sobre os rumos da Nação. Dois projetos disputaram o segundo turno da eleição presidencial.

Venceu a proposta que uniu partidos e movimentos sociais favoráveis ao desenvolvimento econômico com redistribuição de renda e inclusão social.

A maioria da população brasileira rejeitou o retrocesso às políticas que afetam negativamente a vida dos trabalhadores e seus direitos sociais.

É de se esperar que o pluralismo de opiniões fortaleça nossa democracia depois da pugna eleitoral. Desde 26 de outubro, contudo, a difusão de ideias deu a impressão de que existe um pensamento único no diagnóstico e nas propostas para os graves problemas da sociedade e da economia brasileira.

Sem o contraponto propiciado pela campanha e pelo horário eleitoral gratuito, os meios de comunicação propagaram quase exclusivamente a opinião que a austeridade fiscal e monetária é a única via para resolver nossos problemas.

Isto vai na contramão da opinião de economistas de diferentes matizes no Brasil, mas reverbera o jogral dos porta-vozes do mercado financeiro.

Estes defendem solucionar a desaceleração com a “credibilidade” da adesão do governo à austeridade fiscal e monetária, exigindo juros mais altos e maior destinação de impostos para o pagamento da dívida pública, ao invés de devolvê-los na forma de transferências sociais, serviços e investimentos públicos.

Subscrevemos que este tipo de austeridade é inócuo para retomar o crescimento e para combater a inflação em uma economia que sofre a ameaça de recessão prolongada e não a expectativa de sobreaquecimento.

O reforço da austeridade fiscal e monetária deprimiria o consumo das famílias e os investimentos privados, levando a um círculo vicioso de desaceleração ou mesmo queda na arrecadação tributária, menor crescimento econômico e maior carga da dívida pública líquida na renda nacional.

Entendemos que é fundamental preservar a estabilidade da moeda. Também somos favoráveis à máxima eficiência e ao mínimo desperdício no trato de recursos tributários: este tipo de austeridade, sim, denota espírito público e será sempre desejável.

Rejeitamos, porém, o discurso dos porta-vozes do mercado financeiro que chama de “inflacionário” o gasto social e o investimento público em qualquer fase do ciclo econômico.

Tampouco compreendemos o argumento que associa a inflação ao gasto público representado por desonerações que reduzem custos tributários e subsídios creditícios que reduzem custos financeiros.

A inflação, aliás, manteve-se dentro da meta no governo Dilma Rousseff a despeito de notáveis choques de custos como a correção cambial, o encarecimento da energia elétrica e a inflação de commodities no mercado internacional.

A austeridade agravou a recessão, o desemprego, a desigualdade e o problema fiscal nos países desenvolvidos mesmo tendo sido acompanhada por juros reais baixíssimos e desvalorização cambial.

No Brasil, a apreciação cambial estimulada por juros reais altos aumenta o risco de recessão, ao acentuar a avalanche de importações que contribui para nosso baixo crescimento.

É essencial manter taxas de juros reais em níveis baixos e anunciar publicamente um regime fiscal comprometido com a retomada do crescimento, adiando iniciativas contracionistas, se necessárias, para quando a economia voltar a crescer.

A atual proporção da dívida pública líquida na renda nacional não é preocupante em qualquer comparação internacional.

O que nos preocupa é a possibilidade de recessão e a carência de bens públicos e infraestrutura social reclamada pela população brasileira.

Atendê-la não é apenas um compromisso político em nome da inclusão social, é também uma fronteira de desenvolvimento, estímulo ao crescimento da economia e em seguida da própria arrecadação tributária.

Esta opinião divergente expressa por parte importante dos economistas brasileiros não pode ser silenciada pela defesa acrítica da austeridade, como se o mantra que a louva representasse um pensamento único, técnico, neutro e competente.

Um dos vocalizadores desse mantra chegou a afirmar que um segundo governo Dilma Rousseff só seria levado a caminhar em direção à austeridade sob pressão substancial do mercado, o que chamou de “pragmatismo sob coação”.

Esperamos contribuir para que os meios de comunicação não sejam o veículo da campanha pela austeridade sob coação e estejam, ao contrário, abertos para o pluralismo do debate econômico em nossa democracia.

Maria da Conceição Tavares (UFRJ)

Luiz Gonzaga Belluzzo (UNICAMP e FACAMP)

Ricardo Bielschowsky (UFRJ)

Marcio Pochmann (UNICAMP)

Pedro Paulo Zahluth Bastos (UNICAMP)

Rosa Maria Marques (PUC-SP)

Alfredo Saad-Filho (SOAS – Universidade de Londres)

João Sicsú (UFRJ)

Maria de Lourdes Mollo (UNB)

Vanessa Petrelli Corrêa (UFU)

Carlos Pinkusfeld Bastos (UFRJ)

Alexandre de Freitas Barbosa (USP)

Lena Lavinas (UFRJ)

Luiz Fernando de Paula (UERJ)

Hildete Pereira Melo (UFF)

Niemeyer Almeida Filho (UFU)

Frederico Gonzaga Jayme Jr. (UFMG)

Jorge Mattoso (UNICAMP)

Carlos Frederico Leão Rocha (UFRJ)

Rubens Sawaya (PUC-SP)

Fernando Mattos (UFF)

Pedro Rossi (UNICAMP)

Jennifer Hermann (UFRJ)

André Biancarelli (UNICAMP)

Bruno De Conti (UNICAMP)

Julia Braga (UFF)

Ricardo Summa (UFRJ)

Frederico Katz (UFPE)

Cristina Fróes Borja Reis (UFABC)

Luiz Carlos Delorme Prado (UFRJ)

Fernando Sarti (UNICAMP)

Ramon Garcia Fernandez (UFABC)

Eduardo Fagnani (UNICAMP)

Leia também:

Caio Castor: O protesto contra a crise hídrica


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Comentários

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FrancoAtirador

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Vídeo Imperdível

O Professor Luiz Gonzaga Belluzzo deu uma Aula

de Economia no Programa Painel da GloboNews TV,

que derrubou o Tripé Mises/Friedman/Hayek:

Deixou o Tucano Samuel Pessoa de boca aberta,

o neoliberal Simão David Silber desnorteado

e obrigou William Waack a mastigar a gravata,

quando mencionou que o ELEITORADO NORTE-AMERICANO

DECIDIU AUMENTAR O VALOR DO SALÁRIO-MÍNIMO VIGENTE,

hoje estipulado em US$ 1,2 mil (R$ 2,7 mil) por mês,

POR MEIO DE PLEBISCITO ocorrido poucos dias atrás

conjuntamente com as ELEIÇÕES dos Representantes

para Câmara e Senado nos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.

Gonzaga Belluzzo ainda observou que, lá, o reajuste

foi aprovado inclusive pelos eleitores republicanos.
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A partir de 23’35” do vídeo:

(http://globosatplay.globo.com/globonews/v/3753174)
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Leia também:

EUA REALIZARAM 146 PLEBISCITOS E REFERENDOS NAS ELEIÇÕES DE 2014

(http://www.oab.org.br/noticia/27800/eua-realizaram-146-plebiscitos-e-referendos-nas-eleicoes-desta-semana)
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Marcelo

Essa política NEOLIBERAL vitimiza os pobres: juros altos (rentismo para os ricos), aumento da gasolina, aumento da energia, previsão de corte de pensões, abono salaria e seguro desemprego, aumento da miséria, perda do grau de investimento… Essa DIREITA vai acabar com o Brasil. VIVA DILMA, VIVA CORAÇÃO VALENTE.

    tiago carneiro

    O coração valente, aparentemente, só no Jingle. Muito bonito, diga-se de passagem.

    Mas, infelizmente, acho que a coragem dela ficou nos porões da ditadura.

José Souza

Em uma das primeiras aulas de economia aprende-se que o desenvolvimento se faz com produção, distribuição e consumo. Observem que não entra o “financeiro” nessa lista. Não pode entrar porque trata-se de atividade acessória, não principal. Esse é o problema a enfrentar. Há que se nomear para o Min. da Fazenda alguém que conheça de desenvolvimento. A turma do “financeiro” só entende de taxa de juro e câmbio e desenvolvimento vai muito além disso. Espero que a Presidenta Dilma tome a decisão correta e não siga as opiniões que lhe estão sendo oferecidas para levar ao cargo da Fazenda alguém cuja especialização seja o “mercado financeiro”.

Julio Silveira

Pena que os cidadão não tem o direito de escolher os nomes para os Ministérios. Daqui para frente, terminada as eleições, restará a papinha para o povo engolir, papinha essa que poderá ter conteudo ou por outro lado fazer definhar a fé dos cidadãos, causadas pelas consequencias, boas ou más, que esses, super importantes, colaboradores da presidenta, possam impor a cidadania.

O Mar da Silva

Dilma deve escolher entre ser uma Hollande de saias ou uma Jango. Com a vantagem de hoje a esquerda estar mais afeita aos interesses do Brasil.

Siga o modelo de Jango e não se dobre ao mercado.

Sagarana

Dilma, não se renda à vontade de Lula, não aceite Henrique Meirelles.

    JoãoP

    Dilma não pode esquecer que sua vitória dependeu essencialmente do voto progressista.
    O mercado e seus Meirelles foram derrotados, democraticamente.

    Sagarana

    Tomara!

FrancoAtirador

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PARA DERRUBAR A CASA GRANDE E A SENZALA

No Brasil, infelizmente, se Perpetua uma Ditadura Civil

no Coronelismo e no Latifúndio, em Cartéis e Oligopólios.

A Casa Grande e a Senzala ainda estão em pé.

A Democracia Representativa pelo Voto Direto, por si só,

não é Suficiente para uma Mudança nas Relações Sociais.

É preciso uma Ação Governamental Regulatória Incisiva,

principalmente no que se refere à Comunicação Social,

à Relação Capital-Trabalho e à Função Social da Propriedade,

nos seus mais Amplos Aspectos, tal como enunciou, em certo Dia

de Iluminação Espiritual, o Magnânimo Dom Pedro Casaldáliga:

“Não haverá Paz na Terra, não haverá Democracia
que mereça resgatar este Nome Profanado,
se não houver Socialização da Terra no Campo e do Solo na Cidade,
da Saúde e da Educação, da Comunicação e da Ciência”.

E, para tanto, não é preciso Nenhuma Revolução Armada.

A Constituição Federal está aí, esperando por ser Cumprida,

para finalmente derrubarmos a Casa Grande e a Senzala

e Construirmos uma Morada Verdadeiramente Democrática:

Constituição Federal – CF – 1988

Art. 5º – Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:

XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;

Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano

e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,

conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I – soberania nacional;

II – propriedade privada;

III – função social da propriedade;

IV – livre concorrência;

V – defesa do consumidor;

Art. 220 – …

§ 5º – Os meios de comunicação social

não podem, direta ou indiretamente,

ser objeto de monopólio ou oligopólio.

[CUMPRA-SE!]
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(http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf220a224.htm)
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    Mário SF Alves

    É isso. É a Carta Magna, esteio da civilização democrática brasileira, que determina. E não há outro modo – institucional – de fazer valer princípios civilizatórios, portanto:

    CUMPRA-SE!

Sagarana

O Brasil tem quase US$ 400 bi de reservas. Dilma vai se render à lógica do mercado? Francamente!

FrancoAtirador

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Luiz Gonzaga Belluzzo na Fazenda!

Marcio Pochmann no Planejamento!

Maria Luisa Fattorelli no Banco Central!

Franklin Martins nas Comunicações!

Luis Nassif na SECOM!

Roberto Requião na Agricultura!

João Pedro Stédile no Desenvolvimento Agrário!
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Abreu

Bravo!!! É confortador descobrir que há vida inteligente fora do círculo de giz, do espartilho, da marmitex e do pretinho básico das soluções clássicas, que já foram brilhantes como meu carro já foi zero quilômetro. Parafraseando Guimarães Rosa, o que o momento brasileiro “quer da gente é coragem”. Coragem intelectual, com muita responsabilidade, mas CORAGEM! E essa lista de assinaturas respeitáveis mostrou que tem esse atributo.

    Sagarana

    Isso mesmo, CORAGEM CORAÇÃO VALENTE!

mz

Essa é a discussão principal, as duas propostas de políticas econômicas precisam estar na mesa para debate público e de alto nível. A pauta da corrupção, embora importante, deveria ser mais efetiva do que espetaculosa, serve de cortina de fumaça para os temas essenciais.

Messias Franca de Macedo

SENSACIONAL! BOMBA! EXTRA!…

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FOLHA DEMITE COLUNISTA MAIS ALINHADA COM O PSDB

Reestruturação da Folha atinge um ícone do colunismo político: a jornalista Eliane Cantanhêde, que se notabilizou pela má vontade com o PT e a presidente Dilma Rousseff; no início do ano, ela anunciou um apagão inexistente; na Copa, jogou no time da torcida contrária; nas eleições, não escondeu sua posição pró-tucanos; em fase de corte de gastos, a Folha já demitiu cerca de 25 profissionais nos últimos dias

6 DE NOVEMBRO DE 2014 ÀS 20:57

(…)

CACHOEIRA – perdão, ao falho -, FONTE: http://www.brasil247.com/pt/24

Francisco

“Esta opinião divergente expressa por parte importante dos economistas brasileiros não pode ser silenciada pela defesa acrítica da austeridade, como se o mantra que a louva representasse um pensamento único, técnico, neutro e competente.”.

Ótimo. No entanto, entendam o problema (politico, não econômico): durante quantos minutos e dias consecutivos se tratará dessa abordagem (esta sim, argumentada e tecnica) na midia em horário nobre?

O PT se descolou das massas, nem foi tanto (embora tenha sido um pouco) pelas politicas vacilantes. Foi porque do PT só sobrou o rosto do governante (uma imagem oficialista) e o que a midia coloca numa moldura e chama de “petralha”. O PT sumiu da vida do Brasil. Desapareceu.

A recente campanha pelo plebiscito reunio 7 milhões de assinaturas e teve 0,000001% da repercussão midiatica que tiveram os mil e quinhentos analfabetos politicos que seguiram Lobão durante duas horas, se muito.

O núcleo do problema é que a ação politica do PT reduz o Poder de 7 milhões a menos Poder que 1.500. Eu (e acredito que a massa eleitoral do PT) não quer saber de quem é a culpa, ou se os Marinho são “malvados”.

Resolva!!! Foi para isso que votamos da primeira vez há DOZE ANOS e seria muita cara de pau reclamar da pressa do eleitor petista. DOZE ANOS para enquadrar a corrupção, o monopólio da midia, uma reforma politica e a tributação dos ricos. Na boa? O eleitor que ainda vota no PT só o faz porque PSOL e PSTU são muito pequenos. É por absoluta falta de opção. O eleitor petista sabia (há doze anos) e sabe ainda que do lado de lá não sairá combate a corrupção ou reforma politica. O anarquismo é fruto da aus~encia de alternativas institucionais, só isso.

O PT faz uma Norte Sul e não faz essas reformas? Não faz porque? Não pode ou não quer? As pessoas querem acreditar, mas precisa dar algo de institucional e estruturalmente concreto de mudança. É a inação do PT que está sobrando a brasa do anarquismo e do facismo.

Em politica não há vácuo.

O problema não é Economia é Economia politica.

PS O PT quer (QUER MESMO) o Poder? A mim me passa a sensação de não querer com tanta convicção. Se o PT fosse o namorado de uma gatinha o que ela diria do PT no dia seguinte é que ele é sem entusiasmo e impotente (sem tesão). Estaria mentindo?

    Renato Delgado

    Segundo reportagem da Revista Piauí, a relação de Dilma e Lula não é destituída de conflitos. Os conflitos entre Dilma e PT então, estão ficando cada dia mais evidentes. Nós, eleitores petistas, desejamos uma guinada à esquerda (veja artigo de Ciro Gomes na Carta Capital). E agora estamos no momento da decisão: ou Dilma bota um nome do mercado financeiro na Fazenda e Kátia “Motosserra” Abreu na Agricultura ou segue a lista que um camarada apresentou aí acima. Chega de alianças espúrias em nome da governabilidade, isso já passou de vergonhoso. Chega de alimentar as cobras, porque, assim que derem por falta de alimento, não vão hesitar em cravar as presas.

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