O Globo abraça versão de Janaína Paschoal, omite informações e sugere que Lula ajudou a demitir promotor
Tempo de leitura: 3 minConselho do MP determina demissão de procurador que investiga Lula
Defendido por Janaína Paschoal, Douglas Kirchner é acusado de agredir mulher
POR ANDRÉ DE SOUZA, em O Globo, sugerido por Márcio Muniz, que se disse enojado
05/04/2016 17:55 / atualizado 05/04/2016 18:24
BRASÍLIA — Por 12 votos a dois, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) determinou a demissão do procurador da República Douglas Kirchner, um dos responsáveis pela investigação que analisa se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticou tráfico de influência no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Kirchner é acusado de ter batido na ex-mulher sob influência de uma religião evangélica da qual não faz mais parte.
A defesa nega as acusações e promete recorrer da decisão no próprio CNMP e, se necessário, até mesmo na Justiça. Segundo a advogada dele, Janaína Paschoal — uma das autoras do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff —, o procurador só será considerado demitido quando não houver mais possibilidade de recurso dentro do CNMP.
O caso de Kirchner aparece nos áudios de Lula gravados pela Polícia Federal (PF) com autorização do juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, e divulgados no mês passado. Em conversa com o ex-ministro de Direitos Humanos e atual diretor do Instituto Lula, Paulo Vannuchi, na manhã de 27 de fevereiro de 2016, o ex-presidente diz que é preciso ir para cima dele.
— Nós vamos pegar esse de Rondônia agora, eu vou colocar a Fátima Bezerra (senadora do PT do Rio Grande do Norte) e a Maria do Rosário (deputada do PT do Rio Grande do Sul) em cima dele — afirmou Lula, que ainda disse:
— Ele batia na mulher, levava a mulher no culto religioso, deixava ela sem comer, dava chibatada nela, sabe? Cadê as “mulher de grelo duro” lá do nosso partido?
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Na noite do mesmo dia, em conversa com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), Lula voltou ao assunto:
— Agora o companheiro Wadih Damous (deputado pelo PT do Rio de Janeiro) tem a história do promotor de Rondônia, que pegou um caso meu agora, que a mulherada tem que ir para cima dele. Terça feira tem que trucar o Janot (o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chefe do MPF) e triturar.
Detalhes sórdidos do caso, em documento oficial do MPF, que O Globo desconsiderou
Nesta terça-feira, Janaína pediu que as pessoas envolvidas no diálogo fossem ouvidas pelo CNMP, mas a solicitação foi negada.
— É impossível ignorar o forte teor dos áudios, em que o ex-presidente pede para trucidarem o promotor de Rondônia — disse Janaína ao GLOBO.
O relator, o conselheiro Leonardo Henrique Cavalcante Carvalho, foi favorável à demissão de Kirchner, assim como outros 11 conselheiros. Eles entenderam que houve violência contra a ex-mulher do procurador. Apenas Walter de Agra Júnior e Esdras Dantas de Souza discordaram. Kirchner se tornou procurador em maio de 2014. O primeiro depoimento da ex-esposa foi em julho, fazendo referência a fatos supostamente ocorridos em fevereiro daquele ano.
Janaína apontou alguns problemas no processo. Segundo a advogada, um documento desfavorável a Kirchner foi anexado ao caso depois que a ela já tinha se pronunciado, ou seja, houve um cerceamento da defesa. Destacou também que ele foi absolvido em alguns órgãos do Ministério Público, como o Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF). Lembrou ainda que a própria ex-mulher de Kirchner negou o primeiro depoimento que prestou acusando o procurador.
PS do Viomundo: A Globo não noticiou no Jornal Nacional o discurso pró-impeachment de Janaína diante da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
O Globo não apresentou detalhes das denúncias feitas contra o promotor Kirchner em Rondônia, não descreveu a estratégia de Janaína de tratar do assunto como sendo um caso de “liberdade religiosa”, nem disse que Janaína acredita que Douglas Kirchner é um “perseguido político”.
O promotor, é importante frisar, foi parceiro da revista Época, das Organizações Globo, nas acusações de que Lula seria um lobista internacional. Está claro, assim, que a família Marinho age para defender o promotor e a advogada que propôs o impeachment de Dilma — ao fazer isso, preserva não só sua causa, mas também sua publicação.
No áudio abaixo, da 1h43m57seg até 2h00m18seg, você pode ouvir a conclusão da comissão de sindicância na voz da subprocuradora geral Ela Wiecko: são 16 minutos em que ela detalha as denúncias contra Douglas Kirchner, com base em depoimentos e laudo médico — e sustenta que o promotor violou a Lei Maria da Penha. Vale muito a pena ouvir.
Abaixo, documentos do próprio MPF que O Globo também omitiu:






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