Beatriz Cerqueira: Aécio transformou aluno em “consumidor” de educação

Tempo de leitura: 3 min

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Educação e meritocracia

por Beatriz Cerqueira*, especial para o Viomundo

No momento em que comemoramos o dia do professor estamos em pleno debate eleitoral. E um dos candidatos apresenta a meritocracia como alternativa para o sucesso da educação.

Mesmo com estudos realizados nos Estados Unidos demonstrando a ineficácia do sistema de bonificação, por aqui insistem nesta proposta.

Em Minas Gerais foi a política do choque de gestão, implantada a partir de 2003, que instituiu a meritocracia na educação. Isso significou uma gradativa responsabilização do professor e da escola pelos resultados obtidos, cabendo à Secretaria, o gerenciamento do sistema, estabelecendo as metas que devem ser alcançadas.

Nesta lógica o aluno deixa de ser um sujeito, um cidadão, e se transforma em consumidor de um produto.

Em cada escola estadual há uma placa indicando a nota da escola no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), como medidor do trabalho dos profissionais da educação.

Com esta política, o Estado deixou de tratar a educação como direito, como política pública. E se tornou gerenciador de indicadores externos de qualidade.

Neste contexto se justificaria uma remuneração variável proposta pelo candidato Aécio Neves.

Aqui em Minas, de acordo com o governo estadual, a qualidade em escolas pode ser diferente, já que as crianças têm acesso a níveis diferentes de qualidade.

As melhores serão reconhecidas. E as escolas que não apresentam o desempenho satisfatório, passam a ficar à margem do sistema.

Ao longo dos últimos 12 anos não foi feito nenhum planejamento para atendimento diferenciado às escolas que apresentaram baixos indicadores.

Na ideia da eficiência que o Estado deve ter, alguém deve estar pensando que está correto, que não se deve valorizar o que está ruim. Mas isso dá certo numa empresa onde executivos disputam as melhores colocações, o empresário pior classificado não trará prejuízo a ninguém.

Uma escola com problemas de qualidade é a negação do direito à educação. E se fosse para ser um produto a ser consumido, não seria um direito, e não seria pública.

Outra característica do modelo de gestão implantado em Minas é a responsabilização do professor e da escola por seus resultados, desconsiderando as condições de estrutura da escola, como é constituído o seu coletivo de profissionais.

Aqui em Minas temos problemas estruturais nas escolas, professores são obrigados a trabalharem disciplinas sem terem formação e os projetos pedagógicos não são discutidos.

Neste modelo, o professor se torna o único responsável pelo sucesso ou fracasso do aluno, mesmo que o educador não tenha como alterar as condições da escola que ele e o aluno estão vivendo.

O professor é tratado como um executor de aulas, que não tem que ser ouvido na definição de políticas e não tem condições para acompanhar o processo de aprendizagem dos seus alunos.

Esta política destruiu a carreira e a perspectiva de futuro dos educadores mineiros. E apresenta muitas contradições:

— o prêmio por produtividade foi uma forma de substituir a valorizar do salário por até um salário a mais por ano. No entanto, o prêmio de 2012 foi pago em 2014 e o de 2013 não tem previsão de pagamento;

— os aposentados, para o governo mineiro, não “produzem”. Portanto, amargam aposentadorias com vencimento básico inferior ao salário mínimo;

— quando o Aécio Neves, em 2003, fez a reforma administrativa, retirou vantagens relacionadas ao tempo de serviço e prometeu o adicional de desempenho, que nunca foi pago a nenhum profissional da educação;

— os professores da rede estadual não recebem vale-transporte para trabalhar. No interior do Estado muitos dependem de carona para se deslocarem até a escola. E são proibidos de comer a merenda da escola.

— não há recomposição salarial na data-base do servidor, nem mesmo da inflação.

Os atuais indicadores de qualidade, de acesso e permanência na escola em Minas demonstram que a meritocracia não é alternativa para uma educação de qualidade.

*Beatriz Cerqueira é Coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) e presidenta da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG)

Aécio não

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Comentários

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Fernando Zeferino

Cara então foi isso de tão grave que o Aecio fez para os Professores em Minas?? moro no Parana e na minha opinião esse projeto tinha de ser estender pelo brasil inteiro, Professores teria seu salario aumentado se mostrace resultado dentro da sala de aula, quem trabalha em empresa não cobrado por resultados ?? onde essa escritora descreve se educação fosse um produto não seria um direito e não seria publica, vergonhoso então quer dizer que eu entendo o seguinte é publica podemos joga qualquer coisa lá que eles tem que aceita, publico nada estamos pagando e muito em forma de imposto,
E acho que o aluno tem que ser tratado como consumidor sim!! e exigi o melhor sempre , pois estudei toda minha vida em escola publica e tinha professores Boms, Regulares, Pessimos e um Lixo muitos faziam da educação uma teta..
Se é isso Parabéns Aécio

Edgar Rocha

Lá em Minas a coisa é mais feia que aqui em São Paulo, mesmo. Em Viçosa, por exemplo tem escola que funciona em casa velha. Aqui em São Paulo, por ser mais uma vitrine, o verniz foi um pouco mais caprichado. Mas, é péssimo por dentro. O que só pioram as coisas. Esta história de meritocracia, associada a política de ciclos foi uma bomba. Ou melhor, um sucesso. Aluno sai do colégio com diploma e, se for fazer um currículo tem de pegar o RG pra ver a data de nascimento. Triste, mas, em termos de números, funciona. Números são a solução pra todos os problemas. Se estão de acordo com as expectativas, dane-se a realidade. A meritocracia considera prioritariamente a eficiência, não a competência. Esta só é considerada mediante denúncia. É por isto que os números em segurança também são tão melhores que no restante do país. Não se emite protocolo, dissuade-se o cidadão a registrar queixas… No caso da educação, se os alunos ganham um diploma, se a escola não confronta a comunidade em nada, se diários e notas estiverem em dia, se não houver evasão, como provar que as coisas vão mal? Os números não mentem: vivemos num estado eficiente. Uma eficiência a serviço dos interesses mais escusos. Só não se faz o que COMPETE ao Estado fazer.

Lafaiete de Souza Spínola

A meritocracia; na educação, dentro de um quadro tão desigual; representa o aumento das injustiças sociais que existem nas diversas regiões.

Como fica, por exemplo, a região do Vale do Jequitinhonha que não recebeu a devida atenção do Aécio Neves durante o seu governo?

Sou a favor da federalização da educação básica em todo Brasil.

Temos que acabar com as grandes diferenças regionais!

Samira

Como professora no Nordeste, reconheço que ainda há muito a se fazer pela educação, e não quero nem imaginar no que se transformaria as escolas públicas no caso deste candidato ser eleito (o que não ocorrerá), pois sem dúvida, não só perderíamos o pouco que conquistamos, como ainda retrocederíamos décadas.
Sou professora e voto DILMA!

Sideraldo Jr.

A meritocracia é benvinda. Mas também deve ser cobrada da administração pública. Se o governo não faz adequadamente sua parte, pagando os benefícios em dia e dando adequadas condições de trabalho para o servidor, a relação se torna desigual. Seria como exigir que o operário produzisse 20 por cento a mais, cortando pela metade o intervalo de almoço.

Marcos Lima

Bombando no youtube e redes Sociais, denuncias de um policial de Minas Gerais.

Romanelli

penso..

1. que se uma escola existe, é pq ela é necessária, senão ..então

2. evidente que se seu desempenho é medíocre, não só seus equipamentos, materiais, como o corpo de professores, a sociedade do entorno, DEVEM ser sempre avaliados, tratados, reciclados.

3. Acho um escândalo, aqui em SP, a quantidade de faltas que um professor pode ter pra justificar.

4. com a política de acesso de crianças deficientes, feito que de forma desarrazoada e na horizontal, ouvi muitas queixas de que os professores NÃO estão (e jamais estarão) preparados pra os receberem de forma adequada ..simplesmente por ser uma atividade que requer dedicação especializada

..aqui parece que é aquilo, uns idealizam pros outros executarem ..FATO é que, por exemplo, além da queda de qualidade do ensino, o BRASIL já começa a enfrentar um APAGÃO de professores para o ensino BÁSICO e intermediário, indicando-nos que há aqui tb algo de MUITO ERRADO acontecendo.

4. Como cidadão, antes aluno, hoje pai, FICO revoltado por ver a CORPORAÇÃO só reclamar por seus salários ..e é grave pra todo lado, NUNCA contra a mais valia, mas sim contra a CIDADANIA ..NUNCA pela qualidade de ensino que há décadas, desde os naos 70, continua em queda livre.

5. finalmente acho que boa parte da solução teria que vir a nível federal ..salário/benefícios, currículo escolar PADRONIZADO, grade horária, plano de METAS etc ..e ISSO TUDO já indexado aos recursos da pré sal que, tudo indica, quando chegar, ninguém saberá o fim que vai se dar..

Agora, francamente, será que Aécio e Dilma pensam o que eu penso ? ..1o que eles não falam, 2o que suas realizações os desqualificam, e 3o que é aquilo, a nossa democracia permite que eles governem sem no entanto se comprometerem e RESPONDEREM por promessas e resultados não cumpridos ..fica difícil

Alemao

É claro que é um produto, um serviço. Se não fosse, os professores não precisariam ser remunerados pelo serviço não é mesmo? E se eles estão sendo pagos por um serviço prestado, os alunos estão consumindo esse serviço, pago por todos os contribuintes. Por acaso sempre pagamos pela gasolina mesmo quando o Petróleo era monopólio estatal.

Poderiam muito bem ter apenas reclamado da falta de saída das escolas com baixo rendimento, como cursos de didática para os professores. Mas não, têm de criar essa falsa e contraproducente agenda de pixar o capitalismo.

Vcs precisam aprender a dialogar e respeitar o interlocutor.

Fábio Lima

“não há recomposição salarial na data-base do servidor, nem mesmo da inflação.” Dilma também não fez a recomposição, nem mesmo da inflação, dos servidores federais!

Messias Franca de Macedo

Situação dos professores em Minas Gerais

comentário postado por Maria Helena

http://www.ocafezinho.com/2014/10/13/a-batalha-final-2/comment-page-1/#comment-52700

VÍDEO PEDAGÓGICO(!)

http://www.youtube.com/watch?v=Dqeb-0E21xI

renato

Aécio para Presidente.
Afinal é um Homem.
É filho de Tancredo (isto deve valer alguma coisa).
Conhece o sertão e o MAR.
Tem faro aguçado.
Sabe como e onde gastar dinheiro.
Sabe como e onde ganhar dinheiro.
Sabe como e onde fazer Universidades.
Sabe com quem se aliar.
Sabe fazer escolas para Pilotos de aeroneves e helicopteros.
Sabe como fazer uma Seleção que ganhe junto com o “GORDO”.
Enfim é um cara de presença….que sabe como desaparecer por tres meses.
Este é o Mágico que o Brasil,
Quer bem longe…

FrancoAtirador

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Hoje, os Conteúdos do Jornal GGN

Estão Bombásticos para o AérioNéco,

O Bonéco de Papelão de FHC (PSDB).

(http://jornalggn.com.br/ultimos-conteudos)
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Urbano

Chamem-no para conversar e perguntem qual o mérito que ele acredita ter, para se arvorar em ser Presidente do Brasil…

    Fábio Lima

    O mesmo mérito que qualquer brasileiro como Collor, Itamar, Lula, Serra, Alckimin, Ciro Gomes, Dilma, Luciana Genro, Marina Silva, Everaldo Pereira, Eduardo Jorge, Levy Felix têm!

    Urbano

    Sinceramente, tu acreditas mesmo nessa embrulhada que fizestes? Caso positivo, parabéns pela tua genialidade.

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