As suspeitas sobre a Gtech nos Estados Unidos

Tempo de leitura: 5 min

Conflitos de interesse marcam a seleção de contratos para a loteria estadual de Illinois

por Scott Reeder, do Statehouse News Online, em 19.04.2012

Springfield — O grupo lotérico Northstar venceu em 2010 um contrato para gerenciar a loteria estadual de Illinois que poderia enriquecer a firma com mais de 300 milhões de dólares em cinco anos, mas uma investigação do Franklin Center descobriu que irregularidades marcaram o processo de seleção.

A GTECH, que controla 80% da Northstar, jogou centenas de milhares de dólares num fundo de campanha que doou U$ 1,5 milhão para a campanha do governador democrata Pat Quinn em 2010.

Apenas seis semanas antes da eleição de 2010, Quinn anunciou que a Northstar receberia um lucrativo contrato para gerenciar a loteria. Ele notou que uma comissão de seu próprio governo, de nove membros, tinha analisado todas as propostas e recomendado a Northstar.

O auditor-geral de Illinois, Bill Holand, divulgou um contundente relatório no ano passado sobre como o governo Quinn lidou com o processo. A auditoria descobriu que seria virtualmente impossível para os integrantes da comissão terem lido, analisado e avaliado as milhares de páginas de documentos submetidos pelos competidores nos poucos dias que tiveram para fazer isso. Sem tempo, alguns dos membros da comissão não documentaram suas avaliações por escrito até depois do anúncio de que a Northstar tinha sido a escolhida.

Numa avaliação em separado, o Franklin Center para Integridade Pública e do Governo descobriu que a proposta por escrito da Northstar identificava um dos membros do comitê governamental como seu futuro executivo encarregado de vendas. Apesar de nomeado para uma posição-chave em uma das propostas, Victor Golden avaliou todas as propostas competidoras, inclusive a da Northstar.

“Parece muito bizarro para ser real. Não acredito que eu tenha outra escolha que pedir uma audiência da comissão auditora para analisar isso. Eles precisam responder publicamente como isso pode ter acontecido”, disse o senador estadual Bill Brady, republicano de Bloomington, ao saber do assunto. Brady disse que estranha que Golden não tenha se declarado impedido por conflito de interesses.

Embora a Northstar tenha conquistado o contrato, Golden, que era e continua sendo um funcionário público, nunca se tornou executivo de vendas da Northstar, como previsto na proposta. Ele ocupa o cargo estadual de vice-superintendente de loterias, um emprego que paga 109.248 dólares por ano.

Sob o contrato de gerenciamento, alguns funcionários da loteria estadual ficam sob a supervisão da Northstar.

A Intralot, uma empresa que também concorreu ao contrato de gerenciamento, alega que embora Golden tenha mantido o cargo público, o conflito de interesses era claro:

* Ele tinha o incentivo da garantia de emprego. Apesar da privatização da loteria, funcionários públicos-chave poderiam ser substituídos por empregados da empresa privada gerenciadora do sistema.

* Golden ganharia o título impressionante de “diretor de vendas” e o potencial de trabalhar diretamente para a Northstar.

* Se ele se tornasse diretor de vendas da Northstar, como funcionário público seria pago pelo estado mas supervisionado e avaliado pela Northstar, dando a Golden incentivos para fazer favores àqueles que o avaliariam e supervisionariam.

Golden não foi encontrado para comentar. Mas o porta-voz da loteria Mike Land disse que não foi antiético da parte de Golden fazer recomendações sobre as propostas, ainda que o nome dele estivesse incluído em uma delas.

Lang acrescentou que o principal critério dos avaliadores foi a renda potencial que seria gerada para o estado e que Golden não foi influenciado pela inclusão do nome dele na proposta da Northstar.

Mas há discordância.

“Isso foi um negócio arranjado”, disse Byron Boothe, vice-presidente de assuntos governamentais da Intralot. “Estava claro desde o começo da concorrência quem as autoridades governamentais queriam gerenciando a loteria. Nós tentamos competir pelo contrato, mas eles já tinham se decidido”.

Outros estados estão considerando privatizar o gerenciamento das loterias.

O governador da Pensilvânia Tom Corbett disse na semana passada que quer que o estado transfira a loteria para gerenciamento privado. Nova Jersey e Michigan também avaliam a privatização. E os estados de Washington e de Ohio analisaram a medida mas decidiram não adotá-la no momento.

Cada estado tem uma coisa em comum – a GTECH.

“Este é nosso negócio e é o que fazemos”, disse Robert Vincent, vice-presidente da GTECH para assuntos corporativos.

Embora o negócio da GTECH seja o jogo, parece que a empresa cerca suas próprias apostas.

Por exemplo, nos dois anos que antecederam as eleições de 2010, a GTECH deu 200 mil dólares à Associação Democrata de Governadores e 200 mil dólares à Associação Republicana de Governadores.

Não foi anomalia. Nos últimos oito anos, a firma doou U$ 1,4 milhão aos dois grupos. A GTECH também tem uma história de contratar lobistas de alto escalão em várias capitais estaduais.

“Estes caras não são guiados pela filosofia política”, disse Kent Redfield, um professor de Ciência Política da Universidade de Illinois em Springfielf e um especialista em financiamento de campanhas. “Eles são guiados pelo desejo de fazer negócios com o estado. É o único motivo pelo qual dão dinheiro para os dois partidos — é uma despesa de negócios. E eles doam indiretamente a candidatos para esconder do público e da imprensa”.

Durante a temporada eleitoral de 2010, o democrata Quinn recebeu U$ 1,52 milhão da Associação Democrata de Governadores.

“Acredite: alguém contou a Pat Quinn que parte do dinheiro estava vindo da GTECH”, especula Boothe, o vice-presidente da Intralot.

Mas Vincent, da GTECH, disse que não foi o caso e que a empresa não tenta influenciar o que acontece nas capitais estaduais com suas doações.

Dias antes das propostas de gerenciamento da loteria de Illinois terem sido apresentadas à comissão estadual, a GTECH formou um consórcio com sua arquirrival, a Scientific Games.

O porta-voz da loteria, Lang, informou que 80% da Northstar pertencem à GTECH e 20% à Scientific Games.

“A GTECH e a Scientific Games trabalhando juntas? São inimigas. É realmente sem precedentes”, disse Richard McGowan, um professor financeiro do Boston College que se especializa em questões lotéricas.

Mas para Boothe, da Intralot, a aliança é mais que suspeita.

“Basicamente, estas duas companhias controlam juntas mais de 90% das loterias instantâneas dos Estados Unidos”, ele disse. “Ao incluir a Scientific Games, a GTECH garantiu que a rival não apresentaria uma proposta competidora”.

Brady, o senador estadual republicano que foi adversário de Quinn na disputa pelo governo estadual e Illinois em 2010, disse que ficou perplexo com a decisão do governo de permitir que rivais disputassem a concorrência juntas.

“Se você estivesse pedindo propostas para construir uma estrada e as duas maiores empresas do ramo formassem um ‘consórcio’ dias antes da concorrência, não serviria de alerta para que o governo fizesse uma nova concorrência?”, disse Brady. “Por que eles não fizeram isso quando as duas empresas de loteria formaram um consórcio dias antes de disputar o contrato de gerenciamento?”.

Mas um porta-voz da Northstar disse que as regras estaduais permitem propostas conjuntas.

Os porta-vozes da loteria estadual, da Northstar e da GTECH se negaram a informar quanto o estado de Illinois vai pagar à Northstar para gerenciar a loteria — apesar de se tratar de dinheiro público.

Mas em 2010, o Chicago Sun Times noticiou que o estado pagaria U$ 15 milhões à Northstar como taxa de gerenciamento e até U$ 300 milhões em cinco anos como percentual da renda auferida pela loteria.

“É uma fórmula realmente complicada a usada para determinar quanto a Northstar recebe, mas se você usar U$ 300 milhões não será exagero”, disse o porta-voz Lang, da loteria de Illinois.

Muito do que se vê como vantagem em esquemas de privatização não poderá ser adotado pela Northstar.

Por exemplo, o contrato requer que a empresa gerencie 80 funcionários públicos que já trabalhavam na loteria antes do gerenciamento ser privatizado. Estes empregos não podem ser preenchidos pelo setor privado.

“É muito difícil separar a política partidária da loteria”, disse o professor McGowan, do Boston College. “Olhem o que aconteceu com o último governador de Illinois. Ele foi para a cadeia por tentar vender uma vaga no Senado dos Estados Unidos. É exagero imaginar que o atual governador seria influenciado por doações de campanha?”.


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Comentários

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Eduardo Souto Jorge

Meu caro Gil Rocha, nao e’ essa a diferenca. A diferenca e’ que aqui nos USA quem pune e’ a justica atraves de provas e julgamento. Ai no Brasil, depois de 2003, quem julga e decreta o veredito e’ o PIG. Essa estoria que voce relata e’ uma denuncia, nada foi provado , julgado. Nada. E voce, soldadinho do PIG, ja condenou o PT.

    Gil Rocha

    Não foi provado?
    Tem certeza?
    Ora amigo, as lanchas existem
    e foram pagas.
    Foram pagas e a maioria sem utilidade
    para o tal ministério do cabide.
    A doação existiu e foi comprovada.
    Declarações foram feitas de que foi
    um “mal feito”, como já é de praxe.
    E eu não condenei o PT, um partido se
    condena quando este tipo de coisa acontece
    e é considerado “mal feito”, e tudo continua
    como antes.
    Antes de tentar colocar a culpa em quem não
    governa, busque as informações corretas.

Taiguara

Bem, agora é só ligar os pontos: GTECH, Danilo de Castro e Aócio. Simples assim…..

Gil Rocha

Bem, eu não vi nada demais,
e sabem porque?
Aqui no Brasil todos fazem a
mesma coisa.
A história mais recente?
A tal empresa de Santa Catarina que
vendeu as lanchas superfaturadas para
o Ministério(inútil) da Pesca.
A empresa faturou mais de 20
milhões, e ainda doou uma graninha
para o PT em Santa Catarina.
Mas existe uma diferença muito grande
dos EUA e o Brasil.
Lá, quando a coisa é descoberta gente vai
para a cadeia.
Aqui, a Comissão de Ética Pública da Presidência
da República arquiva e nada se pode fazer.
Parece que o PT gosta de embarcações marítimas,
mas prefere que elas fiquem em terra como o navio
João Cândido, encalhado e sem condições de navegar.

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