Alexandra Peixoto: Mamãe caiu no golpe do pacote telefônico

Tempo de leitura: 4 min

A transformação do Procon de Florianópolis em SAC da OI

por Alexandra Peixoto, no Boca no Trombone

Minha mãe mora em Florianópolis há quase 6 anos. Quando fomos do Rio para lá, a mudança foi radical. E pra melhor.

Mas alguns problemas recorrentes e profundamente aborrecedores continuaram os mesmos. Aqueles com as companhias telefônicas que adoram nos fazer de idiotas.

De 2005 até 2009 nós éramos vítimas da má fé da Brasil Telecom. Nosso primeiro aborrecimento foi quando eu pedi uma linha telefônica junto com a internet. A linha chegou, depois de um mês, mas a internet, ah, essa estamos esperando até hoje. O mais absurdo é que eles seguiram cobrando a internet por um ano sem fornecer o serviço. Eu perdi a conta de quantas vezes liguei pedindo o cancelamento. Até que finalmente, um dia, eles cancelaram a cobrança e começaram a restituir o que haviam cobrado indevidamente.

Em 2009 a BrTelecom virou a OI, naquela negociação sombria do Daniel Dantas. Eis que então minha mãe agora havia se tornado cliente da OI.

Eu ajudo e muito minha velha. Pago o aluguel dela e ajudo a pagar as contas, pois o salário mínimo que ela recebe de viuvez do meu pai mais o salário mínimo que o companheiro dela recebe por invalidez não dão pra cobrir as despesas que um casal de idosos tem. Ainda bem que eles tem a mim e minha irmã gêmea para ajudar. Quantos não tem essa sorte?

O caso é que sempre eu fico impressionada com os valores das contas de telefone da minha velha, mas não ouso reclamar pra ela, pois eu penso que ao morar longe da família carioca e dos amigos, regular conta de telefone seria uma sacanagem. Então a conta vem e a gente paga. Mas to longe, to aqui em Sampa, não olho os detalhes da conta.

Cheguei no mês de julho desse ano a Floripa, para visitar a família. Minha mãe me pediu pra ir na lotérica pagar a conta atrasada. Fui xeretar o extrato da conta. Quase caí pra trás. Minha mãe paga 3 planos de franquia diferentes, que somados dão conta de mil minutos. Perguntei se ela havia pedido esses planos e, se sim, por que então, mesmo assim, as contas vinham tão altas? Ela me disse que nunca solicitou nenhum plano, que na transformação da Brasil Telecom em OI, eles já enfiaram goela abaixo esses planos, cujos tais nem ela conseguia entender.

Liguei pra Oi. Lá fiquei sabendo que sim, ela estava pagando esse super pacote jumbo família há 3 anos e que o consumo médio da casa era de 180 minutos. OI? Minha mãe paga por mil minutos (3 planos que ela nunca pediu) e usa 180 minutos. Nem preciso dizer o quanto revoltadas nós ficamos. Solicitei o cancelamento de 2 dos 3 planos e o ressarcimento das taxas cobradas indevidamente desde 2009. Primeiramente a atendente me disse que para cancelar um dos planos eu deveria cancelar todos e fazer um novo, cujo custo-benefício seria inferior a um dos planos que já tinhamos. Eu falei: não faz sentido, não é justo e a gente vai pra justiça. Em questão de segundos ela viu que sim, podíamos cancelar os planos sem restrições. É sempre assim, se vc falar manso com os atendentes (que ganham uma miséria e são treinados a não demostrarem nenhum tipo de emoção) a gente não consegue nada. Tem que mostrar, de forma educada e contundente, que sabemos dos nossos direitos e que não somos idiotas. E dizer que estamos gravando a ligação, contando os minutos (e por vezes horas) de atendimento para algo tão simples de resolver.

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Mas o ressarcimento não conseguiríamos assim tão facilmente.

Fiz umas contas por alto, de tudo que havia sido cobrado indevidamente, desde 2009. Falei pra minha velha que se ela fosse ao Procon, ela teria a receber no mínimo uns 600 reias de volta. Ela se animou, afinal, não sou essa mala à toa, eu tenho a quem puxar. E pra quem recebe um salário mínimo por mês, 600 reais é uma grana boa. E não é só pela grana, é porque isso é uma tremenda sacanagem com os pobres. Imagina, eles fazem isso com milhões de pessoas que não percebem que estão sendo extorquidas. E sempre aquelas letras miudas e descrições de serviços ininteligíveis.

Agora vem a parte surreal da história, como se o que escrevi até aqui já não fosse o suficientemente bizarro.

Zezé, minha mãe, foi ao Procon de Florianópolis. Assim que ela chega no balcão, ao informar que era uma reclamação contra a OI, o atendente a encaminha para uma sala toda moderna, com ar condicionado, mobília moderna com dois funcionários para lhe atender… da OI. Cuma? Minha mãe responde, arfando ao telefone: isso mesmo o que você ouviu, eu fui atendida, dentro do Procon de Florianópolis, por funcionários da OI. E isso é o que todas as companhias de telefonia tem feito, desde as privatizações das comunicações e empresas de telefonia feitas pelo nosso maior vendedor de patrimônio público, o Fernando Henrique Cardoso, ou FHC. Em vez de terem um serviço decente de atendimento ao cliente, eles terceirizam um órgão público de defesa do consumidor, que é o Procon.

Zezé sacou logo que ali não conseguiria muita coisa, pois viu que eles estavam ali para desestimular qualquer revolta, mas mesmo assim resolveu fazer sua reclamação e pedir a restituição da grana cobrada indevidamente. A resposta que recebeu foi que a OI só restituiria o último mês e que não adiantava ir até a ANATEL. Tiraram minha mãe de trouxa, né?

Alguém aí já passou por isso? Já tinha percebido essa sacanagem? Só eu fico indignada com um treco desses?

Minha mãe saiu de lá furiosa, direto pro Fórum. Lá foi recebida por defensores que lhes disseram que ela está coberta de razão e no dia seguinte já entravam com a papelada para pedir a restituição da grana e uma indenização.

Em Floripa, uma cidade com quase 400 mil habitantes (pode ser um pouco mais) as coisas funcionam melhor e mais rapidamente do que aqui em São Paulo. E pelo fato da minha mãe ter 69 anos ela tem prioridade nos trâmites na justiça. Estamos aguardando os melhores momentos.

Escrevo isso como um desabafo e também por um pedido da minha velha, que, como diriam os Novos Baianos, “é doida por mim, só porque sou assim”.

Eu não tenho essa inconformidade com as injustiças à toa. Tá no meu sangue, herdei da Maria José Peixoto da Silva, minha super mãe.

E vc, vai continuar sendo sugad@ pelas companhias telefônicas sem fazer nada?

PS do Viomundo: Estas empresas, com este nível de “serviço” ao consumidor, é que farão a banda larga no Brasil. Socorro!

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