Saiba Mais penetra em reunião fechada do prefeito de Natal e flagra empresários sugerindo como fazer funcionários a votar em Bolsonaro

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O prefeito de Natal, o tucano Álvaro Dias (em pé, em frente à mesa, camisa cinza, costas recurvadas) no encontro fechado com empresários na tarde de quinta-feira, 20-10, em hotel da zona Sul de Natal. Fotos: Agência Saiba Mais

Em reunião organizada por prefeito de Natal, empresários sugerem burlar lei e assediar funcionários a votar em Bolsonaro

Da Redação, Agência Saiba Mais

O prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), organizou um encontro fechado com empresários na tarde desta quinta-feira (20), no horário de expediente, em um hotel da zona Sul de Natal.

Em pauta, o apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e estratégias de como aumentar os votos do presidente na capital potiguar.

Em diversas falas, os empresários sugeriram modos de tentar convencer seus funcionários a votar no candidato, apesar dos riscos de exposição na mídia e de serem acusados de assédio eleitoral, como relataram.

Entre os participantes, também estavam integrantes do primeiro escalão do governo Álvaro Dias, como o secretário de turismo Fernando Fernandes, o vereador Kleber Fernandes (PSDB) e o Coronel Hélio Oliveira.

Na plateia, dentre outros, o secretário de infraestrutura, Carlson Gomes. Álvaro Dias só deixou o local após às 17h alegando compromisso em Caicó.

A Agência SAIBA MAIS conseguiu entrar no evento, divulgado apenas entre empresários e militantes bolsonaristas, e gravou as falas.

Parte do conteúdo está divulgado nesta reportagem. Durante o encontro, empresários deram dicas de como enganar o Ministério Público do Trabalho e até debocharam da impunidade caso fossem flagrados e presos.

Lula venceu no Rio Grande do Norte com 62,98% dos votos. Jair Bolsonaro ficou em 2º lugar, com 31,02%. Em Natal, a diferença foi menor. O ex-presidente Lula venceu com 50,15% dos votos e Jair Bolsonaro obteve 42,01%.

Na reunião, o prefeito de Natal preferiu focar sua fala na própria gestão, listando os benefícios trazidos pelo novo Plano Diretor, as ajudas do Governo Federal à cidade e o seu apoio ao senador eleito Rogério Marinho (PL), que não participou do evento.

“Eu disse aqui em Natal, nas reuniões com secretários, com cargos de confiança, nas reuniões nos bairros, nos comícios onde eu fui, eu disse: ‘olha, o candidato não é Rogério Marinho. O candidato a senador aqui em Natal sou eu. Vocês vão votar não em Rogério, vão votar no prefeito da cidade. Vocês me ajudem, porque Álvaro Dias no Senado Federal, Natal tem muito a lucrar com isso, a avançar, caminhar em direção ao futuro’”, apontou o prefeito.

“Realmente esse discurso funcionou, porque a maioria que era de 160 mil votos, terminou em minguados 2 ou 3 mil votos, quase empatada para Rogério Marinho aqui em Natal”, disse, sobre o resultado das urnas contra o ex-aliado Carlos Eduardo (PDT). Na capital, o pedetista teve 163.778 votos, contra 160.575 do bolsonarista Rogério.

Após isso, o prefeito saiu para uma reunião em Caicó com lideranças do Seridó.

O que seguiu foram discursos com ataques à imprensa, comparações de que a esquerda “persegue” bolsonaristas como os nazistas faziam com os judeus e, principalmente, estratégias para convencer os funcionários a voltarem em Bolsonaro e despistar a fiscalização do Ministério Público do Trabalho, que poderia apontar assédio eleitoral contra empregados.

Matheus Feitosa, presidente da Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA), disse que ver gente votando em Lula (PT) é um “absurdo”, e temeu possíveis “retaliações da mídia”, caso fossem flagrados convencendo os funcionários a votar em Bolsonaro.

Se referindo a uma medida do Governo do RN para cadastrar imóveis privados e públicos que não cumpram função social, novamente classificou como “absurdo”.

“A gente tem que compartilhar essas informações com nossos colaboradores, com nossos funcionários da nossa residência, com quem for. Nossos familiares que ainda estão indecisos ou que dizem que vão votar em Lula. Isso é um absurdo que a gente não pode aceitar que aconteça na próxima gestão. Então a gente tem que unir forças, como o prefeito disse aqui, os secretários, coronel Hélio. Muitas vezes a gente já deu voltas no bairro do Alecrim, com General Girão também, para convencer os empresários a conversarem com suas equipes”Matheus Feitosa, presidente da Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA)

“A gente sabe que tem muito medo também de sofrer retaliações na mídia, de ter uma foto, um vídeo gravado por aquele colaborador que é do outro lado, que é petista, mas a gente tem que ver uma forma de conversar com essas pessoas, de tentar convencê-los, de sempre pegar matérias interessantes, de credibilidade, que a gente possa compartilhar nos nossos grupos de WhatsApp. Ou pegar aquela matéria de um recorte do jornal e botar ali no mural da empresa para que aquelas pessoas sintam o impacto dessa realidade na empresa, no seu emprego, na sua realidade de amanhã de colocar a comida na mesa”. Matheus Feitosa, presidente da Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA)

Já o advogado Gladstone Heronildes, que se disse atuante na “área empresarial do turismo” e “representante” de um hotel localizado no bairro de Ponta Negra, culpou os sindicatos por possíveis retaliações sofridas pelos empregadores.

“Nós não podemos chegar dentro da empresa, porque os sindicatos são também petistas, socialistas e comunistas. Como também às vezes até o Ministério Público do Trabalho, e nós corremos o risco de por mero esclarecimento sofrer sanção dentro da empresa, se a gente convencer ou ousar esclarecer”. Advogado Gladstone Heronildes,

Outro empresário, que afirmou ser de uma empresa da zona Norte e foi identificado apenas como Jorge, falou sobre um diretor do seu negócio — doador da campanha de Rogério Marinho — que foi exposto como “apoiador de arma”: “ele tá indignado. Ele nunca pegou em arma e nunca incentivou ninguém a falar de arma”. Em seguida, Jorge comentou como levou o assunto à própria empresa.

“Eu me indigno e passei minha indignação para todos os meus colaboradores, 400 colaboradores. Ontem eu dei seis palestras dentro da minha empresa falando que saiu o nome do meu diretor sobre o negócio que foi feito a distorção das informações.”  Empresário identificado apenas como Jorge, com empresa da zona Norte de Natal.

O mesmo Jorge elogiou o prefeito Álvaro Dias “porque ele atacou a Covid com o tratamento precoce, e fez uma coisa que ajudou muitas e muitas pessoas”.

O empresário se descreveu como um “bolsonarista atuante”. Afirmou ainda que “nesta reta final, eu não tô nem dormindo mais” ao fazer campanha para o presidente. Ele recebeu aplausos dos participantes do encontro.

Jorge também explicou como “facilitar a vida das pessoas” para que elas votem, e sugeriu oferecer transporte.

“Tem que ir atrás de voto. A gente tem que facilitar as vidas das pessoas, para irem e virem. A gente tem que arrumar a condução. A gente tem que arrumar. Tem que convencer, tem que fazer tudo. Ontem um amigo meu disse: ‘rapaz, você vai ser preso’. Eu disse: ‘se for para ser preso brigando pela minha liberdade e do meu filho, eu vou ser preso. Se for pra ser preso eu vou ser preso com alegria, e sei que vai ter gente que vai me soltar, viu Hélio”, disse, ao gracejar o coronel que o ouvia”. Empresário identificado apenas como Jorge, com empresa da zona Norte de Natal.

Outro participante do encontro, não identificado, recomendou aos empresários que tirassem um período de folga dos negócios para focar em fazer campanha. Ele citou que se mudou temporariamente para São Miguel do Gostoso por 15 dias para pedir voto — “como eu já tinha passado um ano de pandemia lá, foi fácil. Deu até vontade de ficar mais”, explicou.

Na sua viagem para a praia, um destino turístico importante no litoral potiguar, o empresário conversou até com “pobre”.

“Fui na rua, conversei com pobre, fui aos 27 distritos, bati nas portas, conversei com as pessoas.Todo mundo aqui é empresário bem sucedido, todo mundo aqui é comerciante. E nós não chegamos onde chegamos sem saber vender, sem saber argumentar e sem saber conversar”. 

“Mas o voto que a gente quer tá naquela mulher que foi sua babá, naquela pessoa que você conhece do interior. Porque a informação que a gente tem não chega ao povo do interior. O filho da * do cara que administra no interior entrega um posto e diz que é ele que tá entregando. Faz um posto de saúde e diz que é ele que tá fazendo”, discursou, com um xingamento.

Para Heronildes, os votos pró-Bolsonaro também devem ser buscados entre a população pobre.

“Eu não sei se vai ser cassado pelo TSE, mas às vezes o verbo, o vernáculo, a concatenação das ideias que nós produzimos nas palavras, não entra na cabeça do sujeito mais humilde de uma forma tão clara. É preciso que mostre para eles um vídeo como esse que mostre o povo comendo cachorro na Venezuela. O povo sucumbindo a uma ditadura sem liberdade como nós já estamos começando a vivenciar, e poderá piorar seguramente. Nós precisamos ir para esses setores da sociedade onde há maior carência, onde estão ainda enganados achando que Lula seria o pai para salvá-los da pobreza”. Advogado Gladstone Heronildes.

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Comentários

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Zé Maria

“Mesmo Após Determinação da Justiça do Trabalho,
Empresa do Interior do RS se ‘Retrata’ por Coação Eleitoral,
mas Divulga Nota atacando Decisão do Tribunal Regional
do Trabalho do Rio Grandes do Sul (TRT4).

Apenas três horas depois da retratação determinada peloTRT4,
Stara desdisse a publicação anterior sob o argumento de ter
havido “censura” do Tribunal.

Nessa quinta-feira, 20, o TRT4 determinou que a indústria de implementos
agrícolas Stara se abstenha de atos de coação eleitoral e divulgue comunicado
reforçando o direito de seus trabalhadores e trabalhadoras de votarem
no candidato que escolherem.

A decisão acontece após comunicado da empresa que ameaçava
“reduzir sua base orçamentária caso Lula (PT) vença a eleição”.

O Caso
No dia 3 de outubro, a Stara Indústria de Implementos Agrícolas, com sede
em Não-Me-Toque e filiais em Carazinho e Santa Rosa, no norte do Rio Grande
do Sul, cujo dono é um político apoiador de Jair Bolsonaro (PL), divulgara
aos seus fornecedores um documento ameaçando “reduzir sua base
orçamentária” caso Lula (PT) vença as eleições.
Antes mesmo da divulgação da carta da empresa aos fornecedores, a Procuradoria do Trabalho no Município em Passo Fundo havia recebido
ainda em setembro denúncias de tentativas de coação eleitoral, inclusive
por meio de áudios, e estava apurando os fatos.
O dono da Stara, Gilson Lari Trennepohl, é filiado
ao Partido Político União Brasil (UB).

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
ele fez doações de R$ 350 mil para a candidatura
de Bolsonaro e R$ 300 mil para a do ex-ministro
Onyx Lorenzoni (PL), Candidato Bolsonarista
que disputa o Segundo Turno para Governador.

A Decisão Judicial
A decisão do TRT4, em caráter liminar, atendeu a pedido do
Ministério Público do Trabalho (MPT) e determinou à empresa
oito obrigações.
Pela decisão, a empresa deve abster-se de veicular propaganda
político-partidária em bens móveis e demais instrumentos laborais
dos empregados; de adotar quaisquer condutas que, por meio
de assédio moral, discriminação, violação da intimidade ou abuso
de poder diretivo, intentem coagir, intimidar, admoestar e/ou
influenciar o voto de quaisquer de seus empregados no pleito
do dia 30 de outubro.

A liminar também determina que a empresa se abstenha de obrigar,
exigir, impor, induzir ou pressionar trabalhadores para realização
de qualquer atividade ou manifestação política em favor ou desfavor
a qualquer candidato ou partido político, bem como reforce, em
comunicados por escrito, o direito livre de escolha política dos
trabalhadores.

O TRT4 também determinou à empresa a responsabilidade de divulgar,
no intervalo de 24 horas, comunicado por escrito a ser fixado em todos
os seus quadros de aviso, redes sociais e grupos de WhattsApp,
dando ciência aos empregados de que a livre escolha no processo
eleitoral é um direito assegurado e que é ilegal realizar campanha
pró ou contra determinado candidato, coagindo, intimidando ou
influenciando o voto dos empregados com abuso da relação
hierárquica entre empregador e trabalhador.

A Stara também deveria divulgar em seu perfil do Instagram garantias
de que não serão tomadas medidas de caráter retaliatório contra
os empregados, como perda de empregos, caso manifestem escolha
política diversa da professada pelo proprietário da empresa.

Stara Cumpre Determinação, Mas Acusa Tribunal
Na manhã desta sexta-feira, 21, a Stara publicou em seu perfil no Instagram
o comunicado que havia sido determinado pelo TRT4.
No texto, diz que “vem a público afirmar o direito de seus empregados
livremente escolherem seus candidatos nas eleições, independente
do partido ou ideologia política, garantindo a todos os seus funcionários
que não serão tomadas medidas de caráter retaliatório, como a perda
de empregos, caso manifestem escolhas diversas das professadas
pelo proprietário da empresa”.

Apenas três horas depois, porém, novo comunicado da Stara
desdisse a publicação anterior sob o argumento da “censura”.

O texto acusa o TRT4 de “ato de censura” contra os empresários da Stara.
Diz que a decisão foi “inconstitucional” e uma “ilegalidade”.
A tentativa de tratar a prática de coação eleitoral como um “direito”
dos empresários vai na mesma direção do discurso alinhado por
apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) nos últimos dias, acusando o
Judiciário de censura nas ações que buscam combater tanto a
coação eleitoral quanto a divulgação de notícias falsas.

Quase Mil Denúncias de Coação Eleitoral
Relatório divulgado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT)
nessa quinta-feira, 20, mostra como seguem crescendo
exponencialmente as denúncias de coação eleitoral, com
empresários tentando forçar os empregados de suas empresas
a votarem em Bolsonaro.
Faltando 10 dias para a realização do segundo turno, a quantidade
de denúncias saltou para 903, relacionadas a 750 empresas de todo
o país.
O aumento de relatos de irregularidades é de 325% em relação a 2018,
enquanto o de patrões denunciados é de 665%.

Centrais Sindicais Disponibilizam Formulário Online para Denúncias
Assédio Eleitoral é Crime!: https://assedioeleitoralecrime.com.br
Não é necessário o/a trabalhador/a se identificar para realizar a denúncia

Frente a esse cenário, nove centrais sindicais produziram e estão divulgando
um folheto sobre o tema, explicando que a prática é um crime previsto
na legislação brasileira e dando informações sobre como e onde os
trabalhadores e as trabalhadoras podem denunciar.
A orientação principal é que esses casos devem ser levados aos sindicatos
que representam o trabalhador ou a trabalhadora, de forma que a entidade
possa atuar no combate ao problema.

https://sintrajufe.org.br/ultimas-noticias-detalhe/apos-determinacao-judicial-empresa-do-interior-do-rs-se-retrata-por-coacao-eleitoral-mas-divulga-nota-atacando-decisao-do-trt4/

marcio gaúcho

Num país como o Brasil, auto sustentável em produção agrícola e agropecuária, com abundância de água e que produz com excedentes para exportação, não dá para comparar com a Venezuela, que tem dificuldades de produção primária, devido ao tipo de solo. Jamais os brasileiros terão que apelar, consumindo gatos e cachorros. A menos que introduza a cultura asiática, que consome tudo o que se mexe. É pura apelação política esse tipo de afirmação. Terrorismo urbano, com certeza.

Mario Borges

Complementando o comentário anterior:

Aliás, eu confesso que estou curtindo muito essa movimentação porque vai complicar ainda mais a situação de vocês. Continuem que está muito legal ‘isso daí’. Bora prá frente pessoal.

Mario Borges

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/10/aliados-de-bolsonaro-protocolam-pedido-de-cpi-na-camara-para-intimidar-institutos-de-pesquisa.shtml

Pergunta que não quer calar: vai adiantar? NÃO! E ainda vai se revelar um tiraço no pé. A ver né senhores.

Mario Borges

RECADO PARA REINALDO AZEVEDO

Caro Reinaldo, eu notei que dentro das falas iniciais do seu programa de hoje (21/10/2022) ‘O É da Coisa’ você citou an passant algo como que Deus estaria com Davi ou algo assim.
Pois então. Não sei se você acredita em paranormalidade, mais estou seguro que você teve um insight deste tipo sem saber.
Sabe por quê?
Porque estamos numa luta entre um gigante que representa Golias e um pequeno que representa Davi. E sabe quem vai vencer a parada mesmo que por via transversa? DAVI. Quando acontecer eu volto aqui para te relembrar.

Aurea

Os discursos dão azia, mas a esquerda tem que aprender com esses caras e fazer melhor. Tem que entender que é guerra por um país mais progressista, mais justo e com comida no prato, principalmente no dos mais pobres. O voto em Lula está no interior.

Nelson

Prática muito comun em regimes ditatoriais. Porém, é óbvio que, perguntados sobre o crime que estão cometendo, 11 em cada 10 desses empresários vão se mostrar amantes ardentes da democracia enquanto juram abominar “ditaduras” como as da Venezuela.

Zé Maria

E o MPT e o TSE fazendo Notinhas sobre como um trabalhador,

que nem Carteira Assinada tem – que dirá Estabilidade no

Emprego ou Sindicato – deve denunciar o Assédio Eleitoral.

O Sistema foi criado para proporcionar a Mentira e a Fraude.

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