Prefeitura de SP anuncia fechamento de maternidade referência para prematuros; sindicato e movimento de saúde protestam

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A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) anunciou que, em agosto, fechará maternidade do Hospital Vila Santa Catarina, que é referência para tratamento de bebês prematuros. Aí, nasceu no final de 2022, Emanuelly Yasmin. Com apenas 335 gramas e 25 centímetros, é a menor bebê nascida na rede pública brasileira. Fotos: Sindsep e reprodução de imagem de TV

Sindsep e movimento de saúde protestam contra fechamento da maternidade Vila Santa Catarina

Por Cecília Figueiredo, Sindsep

Dirigentes do Sindsep participaram, na manhã de terça-feira (18/07), do protesto de usuários e ativistas do Movimento Popular de Saúde Jabaquara/Cidade Ademar contra o fechamento do Pronto Socorro Obstétrico do Hospital Municipal Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho – Vila Santa Catarina, anunciado pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A unidade é conhecida por ser referência no tratamento de bebês prematuros.

Foto: Reprodução imagem TV

Foi na maternidade do Hospital Vila Santa Catarina que, no final de 2022, Emanuelly Yasmin (foto) nasceu. A menor bebê nascida na rede pública brasileira, com apenas 335 gramas e 25 centímetros.

“A luta de homens e mulheres para efetivar os leitos dessa maternidade foi enorme e hoje estamos aqui para lutar em favor que a gestão mantenha esses leitos. Queremos esclarecer que aqui ninguém é contra a ampliação de leitos oncológicos, precisa aumentar mesmo, é necessário no município. Não queremos rivalizar serviços. Leito oncológico é importante e leito para gestantes de risco e bebês prematuros também. Queremos que os dois serviços funcionem aqui no território, como é previsto pelo SUS”, esclareceu Flavia Anunciação, secretária de Trabalhadoras(es) da Saúde do Sindsep.

A gestão justifica que para ampliar o número de leitos e vagas para atendimento de pacientes com câncer, tem que fechar a maternidade. Com isso, gestantes das regiões Sudeste e Sul da Capital estão sendo “empurradas” para fora de seu território para receber atendimento.

Em 2014, as gestantes atravessaram o mesmo problema quando a maternidade do Hospital Municipal Saboya foi fechado.

A novela se repete piorando as condições de atendimento e deslocamento.

“Como pode ser encaminhada uma gestante daqui para o Hospital de Parelheiros? No início podem colocar ambulância, mas depois isso será abandonado e como ficará uma mãe que mora aqui e tem que ir diariamente ver seu bebê prematuro?”, questionou a dirigente.

POPULAÇÃO DEFENDE OS DOIS SERVIÇOS

Na carta aberta entregue à população, “Prefeito Ricardo Nunes fecha maternidade Vila Santa Catarina”, o Movimento Popular de Saúde cita unidades oferecidas pela gestão para acolher as gestantes da região, distantes até 25 quilômetros.

Entre elas, Hospital Geral Pedreira (5 km), Hospital Municipal Guarapiranga (18 km), Hospital Municipal Parelheiros (24,5 km), Amparo Maternal (8 km), Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvea (14 km).

Além de não apresentar estudo técnico, o Sindsep questiona a filantropia que a OSS Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, responsável pelo gerenciamento do Vila Santa Catarina.

“Não pensem que a maternidade vai fechar, já fechou. Ontem uma gestante daqui de nossa região teve que peregrinar por vários hospitais para ganhar seu bebê, conseguiu fazer o parto no Hospital Interlagos”, disse Solange, conselheira gestora.

João Mariano, morador do Jabaquara há 54 anos e militante do Movimento Popular de Saúde, foi defender 63 comunidades carentes da região do Jabaquara, Cidade Ademar e Pedreira, que somam em torno de 720 mil pessoas, e não terão como se deslocar para as alternativas apresentadas pela prefeitura.

O secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Zamarco, se nega a dialogar com a população. Foto: Reprodução

“Não somos contra a oncologia, mas não queremos que feche a maternidade. Será que é viável deixar uma gestante percorrendo duas horas de carro para fazer seu parto? Esses 33 leitos que aqui estão foram [transferidos] do Hospital Saboya. Após seis anos de luta conseguimos reabrir esses leitos aqui, mas a OSS Albert Einstein quer acabar. Eles nunca quiseram urgência, emergência e nem maternidade”, denunciou, ao informar que o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Zamarco, se nega a dialogar com a população. “Desde março do ano passado estamos tentando”.

Erick Ovelha, co-vereador da mandata Quilombo Periférico (Psol), ao classificar a gestão Ricardo Nunes como a pior em São Paulo, reforçou a falta de diálogo e acrescentou que não há nem mesmo resposta a ofícios encaminhados.

Conforme dados da Secretaria Municipal da Saúde, de janeiro a junho deste ano, o pronto-socorro obstétrico do Vila Santa Catarina atendeu cerca de 870 gestantes por mês.

Houve, em média, 162 partos mensais. No ambulatório de alto risco, no mesmo período, foram atendidas cerca de 137 gestantes por mês.

CORTE DE RECURSOS DA SAÚDE

Para a coordenadora de Região Sudeste do Sindsep, Maria Motta, a decisão da gestão municipal é machista, por serem homens decidindo mudanças na política pública para as mulheres, o que as mulheres terão que enfrentar de obstáculos.

“Essa é a cara da gestão do prefeito. Não temos políticas sendo pensadas em favor da população. Sempre que há essa necessidade, as mulheres saem perdendo, são secundarizadas. É uma violência que tenhamos novamente que passar por isso”, salientou Maria, ao mandar um recado ao prefeito: “Ricardo Nunes você não tem possibilidade de parir um filho, então respeite nossas mulheres!”

Em 2022, o orçamento do município foi de R$ 30 bilhões. Este ano, a gestão Ricardo Nunes/Luiz Carlos Zamarco já acumulava R$ 36,6 bilhões no caixa do município, sendo 54% dessa verba sem nem projeto para destinar.

Por outro lado, o orçamento destinado à saúde que, em 2017, representava 21%, no ano passado foi reduzido em R$ 4 bilhões.

Laudiceia Reis denunciou o racismo e machismo praticados pelo governo Ricardo Nunes com a decisão do fechamento da maternidade do Vila.

“A maternidade do Vila Santa Catarina atende, principalmente, mulheres pobres e pretas que moram nessas comunidades periféricas e usam o serviço. São elas que ficarão peregrinando para achar uma maternidade longe de seu território e quem está decidindo isso são mulheres brancas e homens brancos que nem precisam usar hospital público. É inadmissível que no mês das mulheres pretas, quando comemoramos o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela [25 de Julho], a gestão Ricardo Nunes quer desassistir as mulheres negras na saúde”.

Maria do Carmo, moradora da região há 40 anos, reclamou sobre a falta de portas de atendimento SUS e ausência de profissionais para atender e investimento da Prefeitura de São Paulo em serviços de Atenção Básica.

“A maternidade do nosso bairro não pode ser fechada. Não vamos descansar enquanto não tivermos nossa maternidade em nossa região atendendo”.

Representantes de mandatos da deputada federal Juliana Cardoso e do vereador Hélio Rodrigues também afirmaram que seguirão lutando e lembraram que os repasses feitos pela Prefeitura de São Paulo às OSS são oriundos do pagamento de impostos por toda a população.

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