Adilson Filho: Nós não precisamos de violência para sermos ouvidos

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Nós, professores, queremos e precisamos ser ouvidos pela sociedade, mas não queremos e não precisamos de violência para que isso aconteça

por Adilson Filho, especial para o Viomundo

É inadmissível que um Estado submeta os profissionais da educação a essa situação vexatória que atenta não só contra a sua dignidade mas também contra a sua integridade física. Com todos os problemas que possam existir em todos os lados dessa história, o Estado do Rio de Janeiro não pode fugir da sua responsabilidade de garantir a vida dos seus cidadãos em toda sua plenitude.

É inadmissível que as Forças de Segurança do Estado não protejam a população contra a ação de marginais que quebram tudo o que veem pela frente, destroem o patrimônio público indiscriminadamente e são capazes até de atentar contra a vida, como vimos no Centro da Cidade. (Fossem eles favelados fazendo o que fizeram, teríamos assistido a uma chacina aqui no Rio)

É inadmissível que políticos da estirpe de “Fulaninho da SOS” ou “Sicraninha do Posto” decidam o futuro da Educação no Rio de Janeiro. E nesse ponto, é hora daqueles que pegam carona nos Jabores, Mervais da vida, que vivem de demonizar a atividade política nas redes sociais, que façam uma profunda revisão de seus valores para ver a que ponto que o distanciamento pelo ódio, a crítica destrutiva que nada propõe, permite que pessoas como essas ascendam a cargos que destinarão o futuro dos nossos jovens.

É inacreditável e deprimente que uma imprensa comprada (isso mesmo, com-pra-da) produza matérias diárias colocando a sociedade contra os profissionais de educação.De um lado O Dia, a folha oficial do governador, de outro O Globo, que mama seu leite nas tetas da prefeitura com o dinheiro do FUNDEB.

É inaceitável que o partido que preside a nação participe de um governo decrépito, corrupto e covarde, que bate em professores no lugar de tratá-los com o respeito que merecem. O mínimo que esperamos é um pronunciamento da Sra. Presidente enérgico, como ela sabe muito bem ser quando necessário e conveniente.

É igualmente inaceitável que políticos e intelectuais formadores de opinião, que parecem ainda viver com a cabeça no século XIX, tamanho o cinismo das ideias que defendem, instrumentalizem jovens mascarados sem nada na cabeça, para de forma violenta e até assassina (como potencialmente mostraram do que são capazes) fazerem “a revolução” no seu lugar. Covardia, não há outro termo.

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É muito difícil de assistir a uma certa “galerinha revoltada” que vai as ruas fazer a sua revolução (sei que não são todos, mas olha são muitos, podem acreditar). Burgueses mimados que xingam PMs e promovem corre-corre e depredações que simplesmente detonam o movimento de trabalhadores honesto e sofrido como é o nosso dos professores.

Nesse sentido, é também inadmissível que professores ‘incitem’, mesmo que sem se dar conta, alunos da escola pública – que abriga os estratos mais pobres da população – a uma tomada de consciência para se engajarem numa luta, sem que muitas vezes tenham a capacidade de discernir sobre a complexidade dessa causa tão singular e delicada. Será que se fossem alunos da escola particular agiriam assim? Ou melhor, gostariam de ver seus filhos menores de idade se comunicando nas redes sociais e até nas ruas com adultos cujas motivações e interesses não sabem ao certo quais são?

Por fim, é ainda absolutamente inadmissível que um sindicato legitime (mesmo que por omissão) professores exaltando a ação de “aprendizes de marginais” como se fossem anjos guerreiros a serviço da boa causa, vinculando educação a criminalidade. Assim como é espantoso ver alguns “educadores” se misturando nas ruas e nas redes sociais a esses grupos que mostraram que podem ser muito mais violentos do que supúnhamos. O resultado está aí.

Produzir violência para cobrar segurança é a base dos grupos milicianos; arrumar problemas para vender soluções, a base da malandragem de mercado.A diferença é que esses caras, pelo que tudo tem mostrado, só querem status, só isso. Só querem fama. Apenas isso. Se aproveitam, agora, do desespero de uma categoria e da boa fé alheia para dizer que estão solidários àquela causa. Eles estão com todas as causas, claro! Desde que tenha sangue, tiro e bomba para fazerem o playground deles, atiçar a ira de uma polícia despreparada e fascista que responde da única maneira que aprendeu a fazer. Polícia esta, diga-se de passagem, que foi formada pelos antepassados de uma burguesia que hoje vai às ruas “brincar de revolução”, xingar e tacar pedras nos seus “capitães do mato do séc. XXI”, capachos que só lhe servem para pegar o pretinho que roubou a bolsa ou para ser subornado na próxima esquina.

E é nesse estado de anomia social em que vivemos, que, depois de um episódio tão triste como esse, eu digo que só acredito em uma mudança: a que começa por cada um de nós, cada ator, cada personagem – governo, políticos, professores, alunos, sindicatos e a sociedade de uma maneira geral. Que cada um olhe para si nesse momento, observe a sua parte, faça uma profunda autocrítica, reflita bastante sobre o seu papel e veja o que pode fazer para ajudar a transformar radicalmente a Educação na cidade do Rio de Janeiro.

Eu, como professor que ralo pra cacete (me desculpem o termo) e ainda arrumo energia e tempo para dar o meu quinhão nessa luta do dia a dia pela Educação, nas ruas, nas redes e em todos os fóruns possíveis; eu, como trabalhador que quero exercer meu justo direito a manifestação e a livre expressão nas ruas, direito este que me é garantido constitucionalmente, EXIJO do Estado que disponibilize as suas forças de segurança, não para me bater, mas para evitar essa guerra que se transforma TODA e qualquer manifestação.

Segunda-feira, circula nas redes um chamado para o Grande Ato em favor da Educação no centro da Cidade.

Ora, não precisa ser nenhum gênio para saber que de hoje até lá, esse ato será capturado por outros grupos nas redes sociais, que será usado de todas as formas para que os mesmos de sempre se juntem para que tudo termine num imenso quebra-quebra, com bombas, sangue, saques e destruição generalizada. Depois, chegam em casa e correm pro Facebook para postar aquele “vídeo irado” e a foto mais real da guerra que ‘honrosamente’ participaram no do dia anterior.

Pois eu digo, quase tremendo de indignação aqui nesse teclado, que eu, assim como muitos colegas de luta, estou absolutamente farto, saturado disso tudo. Que detenham essas pessoas de forma preventiva, sem violência e sem alarde, e que deixem os profissionais de Educação darem uma grande demonstração de força contra o autoritarismo de um Estado a serviço do poder econômico que está arruinando com a escola pública no Rio de Janeiro.

Nós, professores, queremos e precisamos ser ouvidos pela sociedade, mas não queremos e não precisamos de violência para que isso aconteça.

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