Retórica tucana falha ao reivindicar os méritos dos avanços sociais no Brasil
Por Antonio Machado
Em sua coluna de segunda-feira no jornal Folha de S.Paulo, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB e pré-candidato do partido à presidência da República, ataca o que seria um mito construído pelo discurso petista, de que “o partido detém a exclusividade e a primazia do combate à pobreza no país”.
O argumento definitivo contra “uma das teses mais repetidas pela máquina de propaganda do PT”, segundo o tucano, é a constatação de que o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil, recém-divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), cresceu mais no período de 1991 a 2000 do que de 2001 a 2010.
“Nos anos 90, [o IDHM] saltou de 0,493 para 0,612, o equivalente a 24%, maior do que a [melhoria] verificada na década seguinte, quando subiu para 0,727, ou 19%. Em resumo, na década do Plano Real e da estabilização da economia, de FHC, a performance do IDHM foi superior ao período seguinte, de Lula*”, escreve Aécio.
A afirmação é verdadeira, mas não serve para desmontar a “tese” de que os governos petistas tiveram mais êxito no combate à pobreza do que o PSDB, como pretende o senador tucano.
Em primeiro lugar, é preciso entender que os dados relativos à renda compõem apenas uma das três dimensões do IDHM – os outras se referem a educação e longevidade. Nessa primeira dimensão, a diferença de desempenho do índice em favor da década de 1990 é de apenas 0,16%, embora a média anual do Produto Interno Bruto (PIB) per capita tenha sido menor.
O crescimento mais expressivo do IDHM durante o período governado por Collor, Itamar Franco e FHC seria melhor explicado pelo aumento do fluxo escolar nessa década, quando o acesso à educação básica foi praticamente universalizado no Brasil. Vale lembrar que o cálculo da ONU não considera nenhum dado sobre o aprendizado dos alunos, de modo que não permite qualquer avaliação sobre a qualidade do ensino.
Mas mesmo que o líder do PSDB mencionasse apenas o componente de renda do IDHM, estaria longe de cumprir seu objetivo, pois o “milagre econômico” da ditadura militar já demonstrou que o aumento da renda per capita – único critério utilizado por essa dimensão do indicador – nem sempre está relacionado à redução da pobreza.
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Ao contrário do que leva a crer o artigo de Aécio, o IDHM não trata da distribuição da renda no país. Por isso, não identifica os “extraordinários resultados na redução da pobreza, na superação da miséria e na garantia da segurança alimentar à população”, dos quais a presidente Dilma Rousseff se gabou na chegada do papa Francisco ao Rio de Janeiro.
Não é por falta de estatísticas confiáveis que o PSDB não reconhece as conquistas dos governos petistas nesses aspectos. Com base em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Fundação Getulio Vargas (FGV) demonstrou que a pobreza no Brasil caiu 50,6% nos oito anos de governo Lula, contra apenas 31,9% no período de FHC.
Trocando alhos por bugalhos, Aécio tenta confundir os leitores do jornal e municiar a oposição para as próximas eleições. Seu arsenal, porém, é fraco e não resiste ao simples confronto com a realidade factual.
*Na verdade, o período de 2001 a 2010 também abrange os dois anos finais do governo FHC.
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