Ivan Seixas: É preciso resgatar a história das Divisões de Segurança e Informações

Tempo de leitura: 2 min

por Luiz Carlos Azenha

Ivan Seixas foi preso com o pai, Joaquim, em 1971, quando tinha 16 anos de idade. Joaquim, mecânico, era militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT). Foi morto sob tortura, pela Operação Bandeirante. Financiada por empresários paulistas, a OBAN abrigou o mais famoso centro de torturas do Brasil, na rua Tutóia, bairro do Paraíso, em São Paulo.

A morte de Joaquim foi noticiada em primeira página pelo jornal paulistano Folha da Tarde, do grupo Folha. O jornal foi entregue pela família Frias a gente ligada ao regime. Dizia-se que tinha a maior “tiragem”, não pelo número de exemplares impressos, mas pelo grande número de “tiras”em seus quadros.

A notícia da Folha da Tarde dizia que Joaquim tinha sido morto depois de resistir à prisão.

Ivan Seixas viu a notícia da morte do pai estampada na manchete do jornal. Ele tinha sido tirado da sede da OBAN para uma simulação de fuzilamento, perto do Parque do Estado. Viu o jornal pendurado em uma banca de jornal, quando os policiais pararam numa padaria para tomar café.

Só que, ao voltar à OBAN, Ivan viu o pai, ainda vivo, na sala de torturas.

Para ouvir o Ivan contar o caso, clique aqui.

Hoje, Ivan é integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos e um dos apoiadores da Comissão Estadual da Verdade, já instalada em São Paulo.

Ele acredita que a Comissão Nacional da Verdade, proposta pelo Executivo e aprovada pelo Congresso Nacional, não dará conta de apurar toda a história da repressão, “tenha sete ou sete mil integrantes”.

Ivan diz que é necessário estadualizar e municipalizar o trabalho, para chegar aos órgãos que abasteciam o Serviço Nacional de Informações (SNI), as Divisões de Segurança e Informações (DSIs).

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Eram, no dizer do Ivan, “os olhos e os braços” da repressão, que atuavam em faculdades e locais de trabalho para produzir as listas de estudantes, professores e operários que seriam vigiados e punidos.

“Foi muito pior do que a gente imagina”, diz Ivan, certo de que há milhares de casos espalhados pelo Brasil que nunca foram relatados.

Ivan não dá muita importância aos manifestos lançados por militares reformados nas últimas semanas, dizendo que são “manifestos de torturadores”.

“Militar não é torturador. Torturador pode ser militar ou civil”, ele diz.

Antes de mais nada, ele argumenta, é preciso resgatar toda a História do aparato repressivo, inclusive dos empresários que ajudaram a financiá-lo.

Para ouvir a entrevista, clique abaixo:

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