Flavio Wittlin: O falso pioneirismo da mídia corporativa na Rocinha
Tempo de leitura: 2 minCarta aberta de Flavio Wittlin ao Viomundo, via e-mail
Escrevo para reivindicar a precedência da ONG Viramundo sobre a mídia corporativa no quesito envolvimento participativo.
Chama a atenção a ansiosa agilidade com que ela age agora nas favelas ocupadas pela polícia e/ou FFAA.
Antes parecia não ter músculos para subir o morro.
Agora, que está tudo mais fácil, ela “desbrava” um domínio que já foi desbravado por outros, que correram (ainda correm?) riscos enormes, e procura apresentar-se como pioneira e dotada de viés participativo.
Desde 2003, pelo menos, estamos na Rocinha (e, através da rede Vozes Visíveis, em outras partes da cidade, do país e do mundo) encorajando a participação dos moradores em debates interativos, e a partir de 2007 na roteirização, filmagem e edição de vídeos participativos.
O vídeo “Falando Sobre Saúde, com o Dr. Saúde” [4’52”], realizado na Rocinha pela ONG italiana CO2, é um exemplo vivo deste modo de trabalhar:
A atitude em andamento da mídia corporativa de “pinçar” gente das comunidades para falar da vida na favela, assume ares de oca interatividade, uma vez que carece de pioneirismo, comprometimento e sobretudo raízes.
Nestes dias, viajo para o Senegal para participar de reunião com vistas a tocar um projeto de pesquisa participativa voltado para centenas de jovens da Rocinha, Xangai, Nova Delhi, Joanesburgo, Ibadan e Baltimore, que está sendo coordenado pela Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg.
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A ideia fundamental desta pesquisa é incentivar os adolescentes a protagonizarem em um só passo (i) a pesquisa sobre como eles se informam sobre questões de saúde e são acolhidos pelos sistemas de saúde locais quando necessitam e (ii) a utilização de meios digitais de imagem (foto & vídeo) inteiramente criados pelos jovens para ampliar, fortalecer e legitimar o envolvimento participativo da comunidade.
Encerro reafirmando que para a Viramundo a solução para os grandes dramas da humanidade, não só na saúde, como também na educação, no transporte, na moradia, na segurança pública e na justiça social, virá da interatividade real e inclusiva em relação aos povos, e jamais de intervenções pura ou principalmente verticalizadas e excludentes.
Abraços viramundistas
Flavio Wittlin, diretor-presidente da Viramundo, coordenador do Curso de Educação em Saúde da PUC-Rio e pesquisador honorário da Universidade de Cumbria (UK)
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