Aluna da USP: “Escrevi ditadura e massacre; placa me agrediu muito”

Tempo de leitura: 3 min

por Conceição Lemes

Nessa segunda-feira, 3, o Viomundo denunciou: A USP homenageia as vítimas da “Revolução de 1964″?

Na placa do monumento  às vítimas da ditadura na USP, que está em construção na Praça do Relógio, ao lado do bloco A do CRUSP, estava escrito: “Monumento em Homenagem a Mortos e Cassados na Revolução de 1964”

A ministra Maria do Rosário, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, indignada, detonou no twitter:  Essa placa na USP é um absurdo.

Em seguida, a sua assessoria de imprensa nos enviou e-mail a sua posição:  Farei contato com o reitor para mudar imediatamente a inscrição na placa“.

A Petrobras, também por e-mail, nos informou que o nome do projeto que patrocina é outro

A reportagem foi postada às 16h40. Nas horas seguintes a placa foi pichada.

“Quando eu passei por lá à noite, já estava escrito golpe”, conta Alana Marquesini, 23 anos, estudante de Ciências Políticas da USP. “Aí, escrevi ‘ditadura!’. Voltei hoje  e acrescentei ‘massacre’.”

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“Escrevi ditadura e massacre, porque  me agrediu muito como cidadã, brasileira, estudante de Ciências Políticas”, prossegue Alana, que viu a placa pela primeira vez na terça-feira da semana passada. “Fiquei indignada e fui levando outras amigas. Só quando as pessoas viam é que se davam conta do absurdo. Um erro crasso. ”

Alana mora perto da USP com mais duas amigas, uma delas é a blogueira e cyberativista Alexandra Peixoto, do Boca no Trombone.

“Agora resta saber quem teve a iniciativa provocadora de mandar confeccionar uma placa dessas”,  protesta Alexandra. “É um verdadeiro insulto a todos os estudantes e professores que foram perseguidos e mortos durante os anos de chumbo. Já não basta a militarização ostensiva que a USP sofre atualmente, mais essa agora. É de lascar…”

Alana fez a segunda pichação por volta das 11h de hoje. Voltou lá em torno das 13h. A placa tinha sido retirada. Estava jogada no chão. A retirada  foi feita pela Scopus Construtora e Incorporadora por uma solicitação da USP hoje cedo.  A Scopus tem muitas obras na USP e o seu dono é quem assina como engenheiro responsável pela obra do monumento.

REITORIA DA USP: “HOUVE UM ERRO NA INSCRIÇÃO DA PLACA”

Agora à tarde, Adriana Cruz, assessora de imprensa da Reitoria da USP, nos enviou por e-mail, o seguinte esclarecimento:

“Houve um erro na inscrição da placa. O nome correto é: Monumento em Homenagem aos Mortos e Cassados no Regime Militar. Trata-se de um projeto do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP. A correção da placa será feita o mais breve possível.

Por favor, peço a gentileza de que inclua este esclarecimento em sua matéria, pois o NEV é um grupo de pesquisa reconhecimento nacional e internacionalmente e não pode ser exposto dessa forma por um erro na placa da obra.

Também gostaria de acrescentar que não há nenhum tipo de ligação entre esse Monumento e o fato de a Congregação da Faculdade de Direito ter deliberado o reitor como persona non grata da Unidade. Desculpe-me, mas foi uma associação bastante infeliz”.

Como ficaram  várias dúvidas, solicitei à Assessoria de Imprensa da Reitoria da USP que as esclarecesse para o Viomundo:

1) Pela placa a obra começou em 16 de agosto. Por que decorridos quase 50 dias ninguém da reitoria ou da coordenadoria do espaço físico havia percebido o erro?

2) Quem foi o responsável pela feitura da placa?

3) Como foi contratado o projeto? E a sua execução?

4) Na placa são citadas Petrobras, Scopus, Dezoito Arquitetura e Coordenadoria do Espaço Físico (Coesf). A Petrobras vai financiar o projeto, qual o papel dos demais?

5) Normalmente obras desse porte em órgãos públicos exigem licitação. Será que nessa foi preciso? Que tipo de contrato foi feito? Se foi feita licitação, qual o número?

6) Qual a viagem dos 89 mil reais? A Petrobras passou para a FUSP que repassou para quem?

7) Como é efetuado o pagamento? Mensal? No final da obra?

8) O memorial vai ficar pronto na data prevista?

A assessoria de imprensa respondeu  parcialmente essas questões, comprometendo-se a buscar as informações que faltavam. Porém, não houve retorno até a hora da postagem desta reportagem. Todas elas serão publicadas em outro texto.

Clique aqui para ler A USP homenageia as vítimas da “Revolução de 1964″?

E aqui, Petrobras: Nome do projeto que patrocina é outro

E aqui, a reação da ministra Maria do Rosário no twitter

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