Comissão Interamericana de Direitos Humanos e ativistas sociais têm igual temor: Ataques e retrocessos no governo Bolsonaro; veja vídeo

Tempo de leitura: 4 min

Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA teme retrocessos no Brasil de Bolsonaro

Ativistas sociais denunciaram temor de ataques de novo governo

por Lúcia Rodrigues, especial para o Viomundo

A advogada panamenha Esmeralda Arosemena de Troitiño, chefe da delegação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), ouviu na tarde da última sexta-feira, 9, durante mais de três horas, em São Paulo, relatos de dezenas de ativistas sociais narrando denúncias e temores de ataques do futuro governo Bolsonaro às conquistas democráticas.

A comissária da OEA deixou claro que teme retrocessos no Brasil. E fez questão de registrar seu apoio no enfrentamento do que classificou como o perigo da perda de direitos.

“Nosso compromisso solidário para continuar apoiando e os acompanhando nesta batalha”, enfatizou ao concluir o encontro com os ativistas sociais.

Uma versão preliminar da visita feita a vários Estados pelos membros do organismo internacional em visita ao Brasil será divulgada nesta segunda-feira, 12, de acordo com Esmeralda.

“É um enfoque mais geral. O informe final será apresentado daqui mais ou menos uns seis meses”, antecipa.

Enquanto escutava as explanações, a representante do organismo das Nações Unidas deixou transparecer no semblante, por diversas vezes, a preocupação com os riscos a que ativistas e minorias estão expostos com a eleição de um presidente que zomba dos direitos humanos e defende abertamente a tortura e a eliminação de opositores.

Dezenas de ativistas sociais participaram da audiência. Foto: Lúcia Rodrigues

Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, brutalmente torturada pela ditadura militar, contou para as representantes da Comissão da OEA que, mais de cinco décadas após o golpe de 64, está sendo novamente ameaçada.

O motivo para os ataques é o depoimento dado para o programa eleitoral do candidato petista Fernando Haddad, em que denunciava a violência sofrida por ela e pela família durante os Anos de Chumbo.

O filho de Amelinha, Edson Teles, que hoje é professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a mesma em que a Comissão da OEA recebeu as denúncias dos ativistas, foi levado com a irmã, Janaina, respectivamente com quatro e cinco anos de idade, pelas mãos do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo de Jair Bolsonaro, para ver os pais sendo torturados no DOI-Codi, o principal centro de tortura da ditadura militar.

Assim como a mãe, ele considera fundamental o encontro com as representantes da OEA. “Para nós é importante poder unir nossas denúncias às de outros movimentos. Montar redes de apoio e solidariedade é decisivo (para enfrentar os ataques)”, enfatiza.

Regina Lúcia Santos, ativista do Movimento Negro Unificado, o MNU, conta:

“Quatro dias antes do segundo turno das eleições, eu sofri uma ameaça na rua, de alguém que me parecia ser um policial. Eu tinha acabado de descer de um uber, estava sozinha. Ele chegou numa moto e parou do meu lado e de capacete disse para mim: ‘Você está muito velha para morrer de forma violenta. Fica na sua, porque o Bolsonaro vai ser eleito e vai acabar com esse negócio de movimento negro. Não pense que você ainda está no seu tempo de USP”.

A população LGBTI é outra que está na mira dos bolsonaristas. Foram vários os relatos de gays e lésbicas denunciando o perigo a que estão expostos pelo simples fato de segurar na mão de seus companheiros e companheiras publicamente.

As histórias de quem tomou a decisão de “sair do armário e não pretende voltar para ele” comoveram os presentes.

Portadores de HIV também deixaram claro o temor do descaso de Bolsonaro com a doença. O presidente eleito já disse por diversas vezes que não cabe ao Estado fornecer medicamentos para a população infectada pelo vírus.

Maria Júlia Giorgi, do Movimento Nacional Mães pela Diversidade, emocionou a todos com o relato de quem vive na pele a dor dos filhos. O movimento liderado por ela e que reúne mais de duas mil mães espalhadas pelo país pretende continuar a lutar contra a discriminação.

Ela explica que está disposta a intensificar a conscientização para o tema, mesmo após a eleição de Bolsonaro:

“Nós falamos com autoridade de mães e de nossa experiência, que a criança Lgbt existe. E ela precisa ser protegida. As mães estão dispostas a ir para as escolas combater o preconceito. Nós não vamos falar de sexo, nós não vamos ensinar ninguém a ser gay, lésbica, bi ou transexual. Nós só queremos combater o preconceito”.

A advogada Valdenia Paulino, ativista do Centro de Direitos Humanos de Sapopemba (localizado na zona leste de São Paulo) e da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio da Juventude Negra e Periférica, considera o encontro com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos muito importante.

De acordo com ela, o organismo será o porta-voz no cenário internacional para denunciar as perseguições sofridas no Brasil.

“Podemos contar para o sistema interamericano de direitos humanos o que estamos vivendo, a violência institucional. Isso fortalece a nossa luta. Os organismos internacionais podem nos ajudar a defender nossos direitos”, destaca.

Laura Petit, que perdeu três irmãos na Guerrilha do Araguaia executados pelas forças de repressão da ditadura militar, também considera o encontro muito relevante.

“Estamos vivendo um período sombrio. É de suma importância a presença da Comissão Interamericana no Brasil no momento em que estamos diante de sérias ameaças aos direitos humanos. Bolsonaro já disse que a ditadura matou muito pouco e que se fosse ele teria matado 30 mil, inclusive o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso”.

Ela relembra que o Estado brasileiro ainda não cumpriu a sentença internacional que determina a localização dos restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia e os entregue a suas famílias.

A historiadora Angela Almeida, que perdeu o companheiro Luiz Eduardo Merlino, vítima da tortura liderada pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra durante a ditadura militar, também considera muito relevante a presença da Comissão Interamericana de Direitos Humanos no Brasil neste momento.

“É importantíssimo não só para nossa luta, mas para todos os setores que estão sendo ameaçados por esse novo governo: negros, pobres, favelados, Lgbti… A eleição de Bolsonaro é uma tragédia. A tortura foi totalmente banalizada. As pessoas têm de entender que a tortura é um crime de lesa-humanidade”, ressalta.

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Zé Maria

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“Joaquim Levy aceita convite para presidir BNDES”,
informa assessoria de Paulo Guedes

Ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff, Levy atualmente ocupa cargo de diretor do Banco Mundial, em Washington.
No governo Lula, foi secretário do Tesouro Nacional.

https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/11/12/joaquim-levy-aceita-convite-para-presidir-bndes-informa-assessoria-de-paulo-guedes.ghtml

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