Greve dos metroviários suspensa até a véspera da estreia do Brasil

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Novos uniformes, velha repressão (Fotos Caio Castor)

Metroviários suspendem greve até quinta-feira

Pela manhã, Tropa de Choque da PM reprimiu trabalhadores na estação Ana Rosa e governo anunciou a demissão de funcionários

Por Lúcia Rodrigues

Apesar da demissão de 42 funcionários e de não ter conseguido conquistar nenhum avanço nas negociações com o governo, os metroviários de São Paulo decidiram suspender a paralisação até a próxima quarta, 11, véspera da abertura da Copa do Mundo em São Paulo.

A decisão foi tomada em assembleia que ocorreu nesta noite, 9, depois de a negociação entre a direção do Sindicato e o secretário de Transportes, Jurandir Fernandes, ter terminado sem avanço.

No início da tarde, os trabalhadores já haviam acenado com a possibilidade da volta ao trabalho caso o governador Geraldo Alckmin (PSDB), recuasse nas demissões.

Os cinco dias de paralisação dos metroviários foram marcados pela intransigência e arbítrio do governo tucano.

Na madrugada desta segunda, aproximadamente 60 funcionários foram cercados novamente dentro da estação Ana Rosa e reprimidos pela Tropa de Choque da PM, quando tentavam convencer supervisores que pilotam os trens a aderirem ao movimento grevista.

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Uma bomba de efeito moral foi lançada contra eles por volta das 6h05. Antes disso, às 5h30, spray de pimenta já havia sido usado contra esses trabalhadores.

Um cordão do Choque fechava a entrada da estação que dá acesso ao terminal rodoviário. Nenhum passageiro ou manifestante podiam entrar no local. Até a advogada do Sindicato dos Metroviários, Ana Lúcia Marchioli, foi impedida de prestar assistência aos funcionários detidos no interior da estação.

“Os companheiros querem sair, mas a PM não permite. Estamos vivendo um estado de sítio. O comandante faz o que quer. Mais uma vez a PM tem uma atitude covarde. Os trabalhadores querem sair, mas o Choque não deixa”, criticava Altino de Melo Prazeres Júnior, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

Demissões e bombas

Num momento de descuido da Tropa de Choque, alguns metroviários conseguiram escapar pela saída da Rua Vergueiro. Apoiadores dos grevistas, que estavam do lado de fora, romperam o cadeado e avisaram os colegas. Com o portão liberado, eles correram e ganharam a rua.

Um operador de trem que conseguiu fugir do Choque, mas não quis se identificar com medo de retaliações, conta que a princípio a PM tinha dito que eles seriam liberados, mas depois voltou atrás.

“O pelotão do grupamento de Choque nos manteve em cárcere privado. Conseguimos sair, porque fugimos. Trinta anos depois da ditadura terminar é um absurdo isso acontecer. Estamos retroagindo no tempo. Fomos agredidos covardemente”, frisa o metroviário.

Outro funcionário que trabalha em uma estação da Linha Vermelha e que também conseguiu escapar do cerco policial, mas tem medo de revelar o nome, explica que os PMs do Choque chegaram à estação Ana Rosa em um trem pilotado por um supervisor da segurança.

“Chegaram armados de escopetas, bombas, escudos e cassetetes. O comandante queria prender a gente. Falou que ia qualificar todo mundo (os trabalhadores seriam obrigados a apresentar os documentos para a identificação). Mas qualificar por quê? A gente não depredou nada. Eles é que jogaram bomba em nós. Chegaram a bater em uns diretores com o cassetete”, ressalta.

Choque criou tumulto

Quando os PMs que estavam na estação perceberam a fuga de parte dos trabalhadores, que saíram gritando “não vai ter arrego”, alertaram os colegas que estavam na rua. Foi nesse momento que o Choque avançou sobre os manifestantes lançando várias bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo.

Até aquele instante, apenas a pista sentido centro-bairro da Rua Vergueiro estava obstruída ao trânsito com uma barricada de sacos de lixo incendiados. Com a intervenção da Tropa de Choque da PM, as duas faixas ficaram bloqueadas, assustando motoristas e pedestres que trafegavam pelo local.

O pedreiro Amarildo Matias foi um dos que criticaram a atitude da PM. “Pensei que a polícia tava botando ordem. Mas tá fazendo o contrário. Brincadeira esse policiamento…”, criticou. Morador em Osasco, ele é um dos que utilizam o metrô diariamente para chegar ao trabalho, localizado próximo à estação Ana Rosa.

“Atrapalha a minha vinda para o serviço, mas é um direito deles, reivindicar.”

Na sequência à repressão militar, começou a circular entre os trabalhadores o boato das demissões. Falava-se de uma lista com sessenta nomes. Ao que os trabalhadores e manifestantes do MPL, que já estavam no local, reagiram ecoando mais uma vez a palavra de ordem: “Não vai ter arrego, Não vai ter arrego”.

Com a decisão de demitir trabalhadores, Alckmin repete a atitude de seu colega de partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que demitiu dezenas de trabalhadores durante a greve dos petroleiros de 1995, quando tanques do Exército invadiram quatro refinarias.

Solidariedade

Mas se os metroviários são tratados com mão-de-ferro pelo governo tucano, em contrapartida têm recebido bastante solidariedade de movimentos sociais e populares. Representantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), MPL (Movimento Passe Livre), da Conlutas, CUT (Central Única dos Trabalhadores), UGT (União Geral dos Trabalhadores), do PSTU e PSOL foram alguns dos que engrossaram o ato de apoio aos grevistas nesta segunda.

Por volta das 7h45, os trabalhadores resolveram sair em passeata até à Secretaria de Transportes, no centro da cidade. Enquanto isso, advogados se dirigiram para o 36° DP para soltar os trabalhadores que haviam sido presos pela Tropa de Choque dentro da estação Ana Rosa.

A caminhada fez uma parada na Praça da Sé, antes de seguir para a Secretaria, para esperar 20 ônibus de trabalhadores sem teto que estavam com dificuldade de chegar devido ao trânsito congestionado.

“A postura repressiva do governador Geraldo Alckmin é lamentável. Seu governo tem feito jus ao passado de truculência que se verificou no despejo do Pinheirinho. Mas vai haver resistência. Trouxemos 1.500 sem teto para a manifestação”, advertiu o coordenador do MTST, Guilherme Boulos. “Estamos aqui para exigir que Alckmin reabra as negociações”, completa.

Dirigentes da CUT São Paulo e UGT também criticaram o governador Geraldo Alckmin por romper a negociação com os grevistas. O movimento estudantil seguiu a mesma toada. Representantes do DCE da USP foram alguns dos que discursaram em favor dos metroviários na Praça da Sé.

Maira Vivian, do MPL, representante do movimento que parou São Paulo em junho do ano passado em defesa da redução da tarifa do transporte público, recorda que essa não é a primeira vez que o governo do PSDB age de forma truculenta com os movimentos sociais. “Ao invés de negociar, coloca a polícia. Ele (Alckmin) considera greve, crime. Por isso, estamos solidários com essa luta.”

Uma nova assembleia dos metroviários está marcada para quarta, 11, véspera da Abertura da Copa do Mundo.

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