O que Lula pode ou não fazer no velório da própria esposa, de acordo com os modos e costumes da Casa Grande brasileira

Tempo de leitura: 3 min

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LULA NUNCA SABE O SEU LUGAR


por Wilson Gomes, via Márcia Cunha

Primeiro apareceram os que acusaram Lula de pecado futuro: vai usar a morte da esposa para se fazer de vítima.

Acusar alguém de pecados ainda não cometidos é uma tentativa de fechar ao acusado uma alternativa, de desqualificá-la de antemão: “vai doer, mas chorar você não pode; tente, então, ficar quietinho”.

“Fazer-se de vítima” é uma dessas expressões curiosas da alma brasileira, vez que quem acusa o interlocutor de se fazer de vítima geralmente está fazendo o papel de verdugo.

O carrasco está barbarizando, mas, por favor, tenha compostura, “não se faça de vítima”.

Depois apareceram as condenações pelo “uso político do velório”.

Como pode um sindicalista e político enterrar a própria esposa com um coração de político e sindicalista?

Tinha que ter havido discrição, silêncio.

Como pode um sujeito enterrar a sua companheira de vida, cuja morte foi, no mínimo, acelerada pelo desgosto e por acusações que, segundo ele, são injustas, sem berrar, espernear, acusar?

Não, o certo era ficar quietinho ou, se fosse mesmo para fazer drama, que se cobrisse de cinzas, batesse no peito, em lágrimas, e gritasse “mea culpa, mea maxima culpa!”.

Fosse apenas questão de ser sommelier do luto alheio, até me pareceria razoável.

Afinal, o Facebook é principalmente uma comunidade de tias velhas desaprovando as saias curtas e os comportamentos assanhados dos outros. Mas, é mais que isso.

Pode haver um aluvião público de insultos, augúrios de morte e dor, e difamação à sua esposa, durante duas semanas, mas Lula não pode mostrar-se ultrajado ou ofendido, não pode desabafar do jeito que pode e sabe, não pode espernear.

Em vez do “j’accuse”, o certo seria a aceitação bovina do garrote, da dor, da perda.

Em vez do sindicalista e político, em um ambiente privado do sindicato, velando entre amigos a mãe dos seus filhos, havia de ser um moço composto e calado.

Todo mundo tem direito de velar os seus mortos como pode e sabe, exceto Lula.
Uma parte da sociedade brasileira nunca se cansa de mostrar a Lula o seu lugar. E de reclamar, histérica, quando ele, impertinente, não faz o que ela quer.

Tem sido assim.

Lula já foi insultado de analfabeto, nordestino, cachaceiro, ignorante e aleijado, muito antes de ser chamado de corrupto e criminoso.

A cada doutorado honoris causa de Lula choviam ofensas e impropérios porque ele não tinha todos os dedos, porque era uma apedeuta, porque era um peão.

Qualquer motivo para odiá-lo sempre foi bom o bastante para uma parte da sociedade.

Agora, estamos autorizados a odiá-lo por mais uma razão: o modo como acompanhou a agonia e como velou sua companheira.

Que os cultivados me perdoem a analogia, mas isso me lembra a acusação feita em O Estrangeiro, de Albert Camus, ao sujeito que não conseguiu chorar e sofrer, como aos demais parecia conveniente e apropriado, no funeral da própria mãe: “J’accuse cet homme d’avoir enterré sa mère avec un cœur de criminel”.

“Eu acuso este homem de ter enterrado a sua mãe com um coração de criminoso”.

No surrealismo da narrativa política brasileira, a história se repete: Lula deve ser desprezado porque enterrou a esposa com um coração de político e sindicalista e isso não está direito. Voilà.

Lula nunca vai aprender o seu lugar. Tsc.

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Comentários

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RONALD

Aquela que foi demitida da veja? ah tá !!!!!

RONALD

Quem é vera magalhães ?????????????????????????????????????

Dilma Coelho

Vamos parar de se referir a essa cambada de golpistas, fascistas de “casa grande”. Isto é ridículo. Não fosse o bastante fazerem frequente s propagandas desses bandidos, publicando fotos, na maioria das vezes, rindo (da nossa cara), no “falem mal mas falem de mim”. Essa gente, todos merecem nosso total desprezo. Peçam aos fotógrafos para deformarem as figuras, há programas para isso. Façam como o Altamiro Borges, raramente ele publica uma foto dos canalhas, so caricaturas ou charges.

    Régis

    Casa Grande é uma referencia à escravidao. A escravidao foi implantada no Brasil com a chegada dos portugues. oficialmente, foi extinta com a Lei áurea. mas os ex-escravos, agora “livres”, sem terem para onde ir, sem família, sem ter o que comer e com apenas uma ou duas mudas de roupa, continuaram a ser a escória da sociedade. E isso persiste ate hoje, porém, de uma maneira velada. Afinal de contas como diz o camelinho brasileiro da globo, o racismo no Brasil não existe. Ninguém precisa de cotas, meritocracia basta. Claro que qualquer pessoa que mora num casebre numa favela, que convive diariamente com violencia urbana entrando pra dentro da própria casa por meio de balas perdidas, acoes autoritarias da policia, que vive com 15 reais ou bem menos por dia, que é acusada pelas “autoridades” de grilar terras para construir um misero barraco enquanto os pobres politicos e homens de negocios grilam e esquentam terras de milhares de hectares – quando não desmatam centenas de quilometros quadrados por meio de seus escravos do seculo XXI – claro que todos os brasileiros são iguais perante a lei, em direitos, deveres e condições. Claro que a Casa Grande foi derrubada pela Lei Áurea. Hoje, aqueles que antes compunham a Casa Grande vivem em minusculas mansões milionarias, dignas de filmes hollywoodianos e quando um ex-pobre, como a cantora Ludmila conquista seu lugar ao sol, é tratada como “não passa de uma fanqueirazinha que ganhou alguns milhoes e não se cansa de ostentar”. Mas o João Dória? ah, esse não! ele é um homem digno, empresário, é tudo intriga de gente que não teve competência de chegar ao posto que ele chegou. Chegou, não herdeou. a Casa Grande!

antonio inacio de lima

O futuro Presidente do Brasil não precisa se fazer de vítima para ganhar em 2018. Nós brasileiros acreditamos no homem que olhou para os menos favorecidos deste país e voltará (que vcs queiram ou não) a Presidência do Brasil. Querer derrubar LULA é remar contra a maaaaaaaaaaaaaréeeeeeeeeeeee!

Mauricio

Inauguraram no Brasil a profissão de “comentarista de velório”, mais uma obrada extrema direita fascista. Moro fazendo discurso no enterro do Teori é normal, não tem nenhum interesse por trás de tão nobre atitude. Já o Lula desabafar no velório de sua esposa de quase 40 anos não pode, onde já se viu? É muita estupidez e canalhice, mesmo para eleitores de vermes como CAIado e bolsolixo.

Luiz Hespanha

Case com alguém que não minta ao escrever biografias

Cyssa Magalhães

LULAaaaaaaa, Lulaaaaaa, Lulaaaaaaa, Lulaaaaaaaas…… Aceita q dói menos

    RONALD

    Lula 2018 – meu voto é seu !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Valdeci Elias

O pior enterro que achei, foi o de Eduardo Campos. No enterro, os antigos adversários de Eduardo Campos e Miguel Arraes, fizeram uma queima de fogos de mais de 10 minutos. A Cena de políticos do DEM ,do PSDB e do PMDB, no meio dos filhos e da viúva de DUDU, fazerem uma festa de fogos de artifícios no enterro, foi inacreditável.

    Viviane

    Fora a cena lamentável da Marina Silva dando risada ao lado do caixão…

Elizabeth pretel

Acredito, não, tenho certeza absoluta que não devemos mais dar atenção a comentários dessa espécie. Não vale a pena, essas pessoas, se é que se pode dizer isso (pessoas), estão completamente desprovidas daquilo que se diz humanidade. não podemos tampouco compara-los com os animais, pois apesar de irracionais, (os animais) eles não merecem a comparação com esses seres (?). Talvez seja o que melhor que se adapte a eles.

Pesu Tumcu

A tristeza não é carta aberta para o oportunismo. Muito pelo contrário…

claudio-sc

E a “elite” nunca vai aprender que o lugar de Lula é na presidência da República.

    Danilo

    Na cadeia seria mais adequado para um ladrão e enganador dos pobres que diz defender,mas que afundou cada vez mais com sua quadrilha,

    Régis

    tadinho do Danilo. ele adora tomar banho de mangueira com água batizada da lava jato.

    RONALD

    Dadá, cuidado com este ódio Globular. Você pode matar a família toda em nome de Moro. Cuidado !!!!

Homero Mattos Jr.

[ “A morte de D.Marisa -um ser político na sua essência- marca um tempo político que jamais imaginamos tão duro e obscuro; e, sobretudo, foi política (porque a sacanagem travestida de justiça a torturou psicologicamente até provocar sua morte).
Aos incautos e hipócritas que nessa hora de dor postam que o velório da mulher e companheira de Lula virou um palanque, seguinte: a vida dela sempre foi um palanque de luta, carissimos! O povo que está ali se manifesta politicamente, hipócritas! A vida do casal foi uma história de luta, luta e luta. Luta pela democracia que vocês agora estão enterrando com seu egoísmo, seu sarcasmo, sua indiferença e as suas panelas. #FORÇALULA” ] Verônica Miranda

lulipe

Boquirroto como sempre foi não perderia uma oportunidade dessa para fazer o que faz de melhor, dizer bobagens!!!

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