Até estudos médicos sucumbem ao sensacionalismo

Tempo de leitura: 3 min

A nossa boa e velha mídia, pelo visto, não está sozinha em matéria de distorções e exageros. Acabo de receber um artigo publicado no PLoS ONE, um site interativo para a divulgação da revisão de estudos científicos. O título do artigo é prá lá de sugestivo: “A deturpação de dados da Neurociência pode provocar conclusões enganosas na mídia: O caso do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade”.

Pois bem, três cientistas da Universidade de Bordeaux, na França, decidiram analisar pesquisas científicas, todas publicadas em inglês, sobre a TDAH. Compararam o sumário com as conclusões e os dados da pesquisa. Também analisaram como a imprensa repercute as descobertas anunciadas e como a mídia científica publica e repete os resultados das mesmas pesquisas.

No caso da TDAH, foco exclusivo do estudo, eles constataram que existe uma distorção frequente da literatura científica que pode estar contribuindo para o surgimento de conclusões equivocadas na imprensa. E essas distorções estão reforçando a teoria, ou fortalecendo a visão de que a TDAH é “essencialmente causada por fatores biológicos”. O que, nas pesquisas científicas, nunca foi comprovado. Um dado que também provoca um determinado tipo de tratamento: a medicalização com estimulantes.

Em 360 artigos científicos analisados, Francois Gonon, Erwan Bezard e Thomas Boraud  encontraram dois com grande discrepância entre o conteúdo do estudo e as conclusões apresentadas. Mas ao contrário dos outros, que não tinham inconsistências, esses dois repercutiram muito na imprensa.

O primeiro, da dra. Nora Volkow, afirma ter encontrado provas de que o cérebro de adultos TDAH tem menos neurotransmissores, o que seria a causa da dificuldade de se concentrar, etc. Mas, nos resultados, a dra. Volkow diz que os dados também permitem uma interpretação oposta à que ela apresentou. Ou seja, é uma teoria que ainda não foi comprovada.

Esse detalhe, apesar de fundamental e de colocar em dúvida a tese da descoberta da origem genética do transtorno, é mencionado em apenas dois de 170 artigos publicados sobre a pesquisa, entre 1996 e 2009.

A dra. Volkow também analisou a genética dos TDAH e descobriu uma presença maior, entre eles, de uma determinada variedade do gene DRD4. Mas ressalta que é uma incidência pequena e, por isso, o risco desta variedade genética ser a causa da doença é muito pequeno. Mas essas ressalvas quase nunca são levadas em consideração, como mostra a manchete do Wall Street Journal, sobre a pesquisa da dra. Wolkow, em 7 de agosto de 2007: “Química do cérebro tem papel chave na TDAH, diz estudo”.

Até aí, tudo poderia não passar de déficit de atenção da grande imprensa,  o que não seria grande novidade. Mas o incrível é que, segundo os autores, a literatura científica não fica atrás. Entre a publicação do tal estudo e fevereiro de 2010, 30 artigos científicos citaram a pesquisa e destes, 20 repetiram a conclusão básica sem apontar as inconsistências da pesquisa.

Outro artigo analisado é o do dr. William Barbaresi, que defende o tratamento com estimulantes (vide Ritalina) para melhorar o rendimento escolar das crianças TDAH. Mas vários cientistas dizem que o argumento é fraco porque o remédio funciona, ou seja, provoca melhora no desempenho escolar de qualquer criança. TDAH ou não.

Os autores do trabalho destacam que essas deturpações e exageros têm consequências sociais e de saúde pública porque reforçam uma ou outra maneira de olhar e tratar TDAH. Se a teoria de que o transtorno é basicamente biológico se firma, então  o tratamento será basicamente a base de remédios. E é o que está acontecendo nos Estados Unidos: a sobrevalorização do tratamento médico sem levar em conta a necessidade de intervenção psicossocial.

Mas os cientistas franceses não concentram as críticas no trabalho da imprensa e sim nos colegas. Destacam que muitos exageram os resultados das pesquisas porque acham que assim terão mais chances de publicar o trabalho. E extrapolam o resultado sugerindo possíveis processos terapêuticos. Ou seja, pulam logo para as possibilidades de tratamento porque isso enche os olhos do público e de quem seleciona artigos para publicação. “A competição entre autores, para publicar em jornais de renome, e entre editores distorce a publicação de pesquisas biomédicas em favor do sensacionalismo”.

O texto do trabalho está aqui:

http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0014618


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Comentários

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DICAS / HISTÓRIAS / RECOMENDAÇÕES / SUGESTÕES… | renanbarreto88

[…] Quem nunca? http://www.viomundo.com.br/denuncias/ate-estudos-medicos-sucumbem-ao-sensacionalismo.html […]

Ricardo Gonçalves

Parabéns pela matéria,sugiro a leitura do livro " A verdade sobre os laboratórios farmaceuticos" da Dra Márcia Angell , ex editora chefe do New England Journal of Medicine. É estarrecedor .Pesquisa feita pelo conselho regional de medicina de São Paulo e publicado na Folha em maio de 2010 mostra que 70% dos médicos acham normal a relação anti-ética que mantém com estes laboratórios.

Pedro

Parece que na sociedade capitalista não sobrou lugar senão para mafiosos. Ignorar as condições sociais é o papel sistemático da mídia. Me lembro de uma matéria da Veja sobre o cérebro de Einstein. A mesma visão dos nazistas sobre essa questão. Bom também lembrar aquele filme genial do Herzog quando um monstro, que lembra os Goebbels de lá e de todo o mundo, leva o cérebro de Kaspar Hauser para ser analisado. Hoje abunda essa subliteratura com títulos chamativos sobre as "mentes criminosas". Que o homem é um ser social e que seu cérebro é o cérebro do homem, isto não interessa à mídia dizer.

Regina Braga

Sei lá,vou ficar com a água inglesa…o resto é indigesto!

damastor dagobé

Dr Drauzio Varela na TV a um tempo: dizia que na noite anterior ja sabia qual tipo de doença ia bombar
na manhã seguinte em seu consultorio no hospital da clinicas em SP; o mal que "vitimou" a personagem da atriz principal da novela das 8 na noite anterior… na manhã seguinte podia contar com hordas de mulheres em sua porta com os mesmo sintomas..e dá a entender que esse fenomeno era um tipo de "merchandise" de remedio…é mole ou quer mais???

Wandersno Aguilar

Hum logo, logo meus queridos vão ressucitar o Lombroso e toda a sua corte e ai não sobrar um são na rua todo mundo vai ter cara e DNA de doido em potencial…e o pior disso tudo é que eu nem tenho o olho azul ou madeixas louras dizem que tenho cara de afro-argelino – mas eu não me pareço com Kadafi não tá…vou se um dos primeiros a ser enquadrado como terrorista.

Paulo T Bittencourt

"Medicina é a arte de entreter a doença enquanto a mãe natureza faz o seu papel" e definitivamente não precisamos de tantos remédios assim para entretenimento de doenças; muitas delas forjadas de maneira artificial. Cito este milenar e sábio provérbio Hindu, por perceber a influência nefasta da indústria farmacêutica, do qual infelizmente nos tornamos reféns. E por isso prescrevemos "à bangú". Drogas, legais ou não, exigem sabedoria para delas se tirar algum proveito. Entretanto, existem vários exemplos de propaganda maquiavélica promovendo drogas fajutas (poderiam ser chamadas de placebos caso não tivessem toxicidade importante) ao papel de hóstia terapêutica irresistível. Aliás, são tantos, que com certeza deixariam pessoas leigas estupefatas; mas, assim elas seriam mais críticas em relação ao uso abusivo de medicação, uma das principais causas de internação hospitalar na atualidade. Na verdade, uma peste alimentada por dinheiro sujo da qual tão cedo não nos livraremos. Uma boa iniciativa seria a criação de uma página eletrônica contendo o nome de TODOS os colegas vinculados de alguma forma a indústria farmacêutica. Isso permitiria a população distinguir um Médico verdadeiro de um picareta corrompido e ainda por cima travestido de cientista.
Abraço cordial,
Paulo.
P.S.: 1. Parabéns pela matéria 2. Como sugestão…de uma olhada no uso escandaloso de "drogas para baixar o colesterol" e o estrago formidável que elas fazem no sistema nervoso do usuário.

@gusbru

Sobre o Título, Heloísa, nao diria "sensacionalismo". Interpreto o fenômeno como a repercussao de um discurso dominante que explica muita coisa e agrada a muitos. É uma escuta tendenciosa dirigida por uma crença interna de que lá estao respostas a alguns problemas sociais (e individuais) graves que nos angustiam. Eu acho que é movido mais por uma vontade de ver algo sólido através dos estudos que de causar sensaçao.

Heloisa Villela

Se a ausência de prova não é prova de ausência também se poderia dizer que a ausência de prova, com certeza, não é prova de presença. E aí é que está o erro da mídia, que afirma a presença de algo que não se provou presente, como se houvesse essa prova. Obrigada Dr. Nisembaum, agora o senhor esclareceu o ponto.

    NELSON NISENBAUM

    Perdoe-me, Heloísa, seu raciocínio caiu em um sofisma vulgar. O que está presente não precisa de prova de presença nem de ausência! O aforisma que citei é limitado a si mesmo, e serve apenas à finalidade de não se permitir o sepultamento de teorias por limitações tecnológicas ou metodológicas. A teoria eletromagnética de Maxwell jamais encontrou prova e continua validada pelos achados experimentais, que estão longe de explicar os fundamentos dos fenômenos. A teoria da Relatividade geral de Einstein só se provou quase duas décadas depois de enunciada; A mecânica quântica, então, mesmo sendo a mais bem sucedida teoria do século XX está longe de ter provas concretas de suas bizarrices.

    Mário SF Alves

    Muito bom, Nelson. Fico animado diante da oportunidade de participar de uma discussão deste nível, com tão notável clareza, responsabilidade e simplicidade.
    Mário.

Roberto Locatelli

Os "especialistas" não passam de vendedores de luxo das multinacionais dos medicamentos.

Eles inventam um "transtorno" ou "síndrome" por mês, para venderem mais das suas drogas legalizadas.

Eu sofro de uma síndrome. Chama-se Síndrome da Aversão a Médicos Vendidos aos Grandes Laboratórios – SAMVGL. E não tem cura.

    NELSON NISENBAUM

    Nada como as generalizações, o reducionismo… Por favor, Roberto, respeite-se…

douglas

O primeiro, da dra. Nora Volkow, afirma ter encontrado provas de que….. Mas, nos resultados…. permitem uma interpretação oposta… Ou seja, é uma teoria que ainda não foi comprovada.

"Ou seja, é uma teoria que ainda não foi comprovada."

Já que estamos falando de ciencia..

Não existe Teoria não comprovada, porque a essencia da teoria é sua comprovação. A coisa só se torna teoria, se comprovada. Por isso não existe aquela coisa de A teoria na pratica é outra coisa, porque só é teoria se na pratica se comprovar… Senão é uma hipotese, uma suposição ou com mais aprofundamento um Ensaio.

    NELSON NISENBAUM

    Douglas, teoria é uma coisa e comprovação é outra coisa. Nem sempre a comprovação é possível dadas as limitações metodológicas e tecnológicas. Por exemplo, a teoria das cordas e supercordas, da física, que tem consistência interna, explica diversos fenômenos que os modelos anteriores não conseguiram, mas nem se vislumbra no momento algum método para comprová-la. O mesmo vale para a neurociência do cérebro. Há uma máxima que define o assunto: Ausência de prova não é prova de ausência.

    Sander Fridman

    Teorias não se comprovam: comprova-se sua utilidade provisória. A única prova possível de verdade em ciência é a de sua falibilidade: aquela que derruba a teoria, ou limita-lhe a abrangência. Teorias não se provam: sustentam-se, sobrevivem.

    r godinho

    Douglas, o método científico se define por alguns paradigmas:
    – estabelecer o que se pretende estudar.
    – observar os fenômenos correspondentes, coletando dados.
    – estudar os dados.
    – propor uma teoria, isto é, uma "regra de funcionamento" do que se estudou.
    – avaliar continuamente a compatibilidade entre a teoria e a realidade.
    Teorias podem ser boas ou ruins, conforme a capacidade de suas regras de fazer previsões acertadas sobre aquilo que pretendem explicar.

    NELSON NISENBAUM

    Ufa! existe bom senso por aqui…

@gusbru

Existe uma concomitância entre a reforma dos sistemas educacionais na década de 90, em praticamente todo mundo, e a criaçao do código do TDAH no DSM-IV em 1996 e sua consolidaçao como diagnóstico corrente entre os alunos com "dificuldade de aprendizagem" na educaçao básica. Dois problemas surgiram: falsos diagnósticos e a excessiva prescriçao de Ritalina (a prescriçao quadruplicou entre 2000 e 2010 no Québec). Os especialistas da área psicomédica que pautaram o debate sobre a integraçao escolar na década de 70 perderam espaço na década de 80 para abordagens mais sociopedagogicas e para o ideal de inclusao total. Atualmente vivemos nova fase de valorizaçao do discurso técnico a respeito do indivídio com dificuldades de aprendizado na escola, de “medicalisaçao dos problemas de aprendizagem”, graças, creio eu, a uma combinaçao dos acúmulos da neurociência durante década do cérebro (1990-1999) e além, e algumas características da reforma escolar. A reforma da década de 90 muda a forma de regulaçao dos sistemas educacionais que a utilisar avaliaçoes sistêmicas no final do processo e contratos com a escolar (melhora no IDEB a cada ano), favorecendo o mecanismo da competiçao como forma de estimular a performance escolar. Avaliaçoes internacionais como o Pisa (iniciado em 2000) fazem o mesmo no plano internacional e vários países tem seu sistema. Bom, a reforma atinge os professores, pais e alunos. Vários estudos demontram o efeito da reforma sobre a intensificaçao e a precarizacao do trabalho docente. Finalisada a reforma vemos que aumenta adesao da escola e dos pais ao discurso mais instrumental e individualista sobre a aprendizagem oferecido pelas neurociências. Creio a mídia, composta de jornalistas que também sao pais, refletem e repercutem esta adesao. A ritalina oferece, afinal, melhor performance escolar individual para um sistema cada vez mais competitivo (internacionalmente!) e que se esforça para ter o melhor desempenho possível. Certamente ela atende interesses imediatistas de pais e professores. É claro que atende também o interesse de vários alunos bem diagnosticados, mas ao custo de prejudicar outros mal diagnosticados. É muito importante melhorar os critérios de diagnóstico de forma a isolar as pressoes ambientais pela performance escolar que podem estar induzindo muitos médicos (e jornalistas!) ao erro.

Aracy_

A questão é que médicos também têm ego, e vaidade pode ser doença. Muitos estudos passariam despercebidos pela própria comundade científica se não fossem divulgados no NYT. Segundo o cientista Philips DP e colaboradores ( N Engl J Med 1991; 325:1180-3), quando o trabalho sai no New York Times tem mais chance de ser citado por outros pesquisadores nos 10 anos seguintes.
É triste quando a divulgação científica em saúde se torna mercadoria para consumo. E muitos recordes de venda em banca ocorrem justamente quando a matéria de capa é sobre saúde (dietas, prevenção e novos tratamentos do câncer ou eposição hormonal no climatério, por exemplo).

    NELSON NISENBAUM

    Concordo com você, Aracy, é uma questão delicada mas presente, infelizmente.

beattrice

Um excelente exemplo do grau de distorção e suas conseqüências na divulgação de dados em pesquisas médicas pode ser visto na dramatização "E A VIDA CONTINUA", um clássico que retrata e documenta os primeiros anos de investigação da ocorrência e da descoberta da AIDS e do HIV.

Heloisa Villela

Continuando…
– Quanto aos portadores de TDAH, conheço mais de um e acompanho o que acontece na vida deles. Mas não estou aqui discutindo se a doença existe ou não. Discuto, sim, as afirmações em base que saem na mídia a respeito da origem biológica do Transtorno porque até hoje não existe nenhuma prova científica que permita afirmar isso com segurança. E ninguém sabe exatamente as consequências que o tratamento com estimulantes tem para quem começa muito cedo. Também divulga-se pouco mas existem indícios de que a meditação tem efeitos muito positivos e provoca mudanças mensuráveis no cérebro.

    NELSON NISENBAUM

    Cara Heloísa, há muitas situações na medicina para as quais não temos provas concretas do maior rigor científico. O que não invalida o conhecimento que se tem sobre o assunto, as experiências acumuladas, e até mesmo as teorizações por analogia. Pais com TDAH tem 2 ou 3 vezes mais chances de ter um filho com TDAH do que pais que não tem, o que pressupõe uma origem heredofamiliar, ou seja, genética. Tratamos com sucesso os pacientes depressivos com antidepressivos sem que até hoje tenhamos a menor idéia do que realmente seja esta patologia. Quando dizemos que um paciente tem uma virose, é por que os sintomas e evolução assemelham-se a inúmeras outras ocorrências semelhantes e conhecidas, causadas por vírus, mediante o afastamento de outras hipóteses. Quanto aos tratamentos para o TDAH, não há a menor dúvida que há eficácia na meditação, bem como de outras mudanças conspícuas na estrutura de vida do portador, que normalmente são inviáveis ou pelo custo ou pelo meio social onde o paciente vive. Infelizmente nossa sociedade competitiva não reserva lugar para uma vida mais "calma" e harmônica, e isto sim, é um grande mal.

    haguiar

    Caro Nelson, com todo o respeito,
    O argumento da eficacia e problematico, as vezes.
    Dizem que os aztecas sacrificavam uma crianca todo dia para que o Sol
    nascesse no dia seguinte – era tremendamente eficaz, nunca falhou!
    Freud prescrevia cocaina pra tratar depressao (depois se penitenciou) e
    tambem funcionava.
    Vamos devagar com suposicoes – a maior frequencia de um transtorno psiquiatrico numa familia nao
    pressupoe, necessariamente, origem genetica. Se assim fosse, Morel e Lombroso
    teriam razao (seus escritos eram a ciencia avancada da epoca)
    Obs: desculpe a falta de acentos e cedilhas e acentos. Meu teclado e americano e um pouco burro.

    Helio Aguiar Filho

    (continuacao)
    Sou psiquiatra e convivo com o empirismo (critico ou nao) diariamente. E tambem com representantes de laboratorio que me mostram estudos cientificos (a moda atual e a metanalise) e sugerem nas entrelinhas algo em troca da prescricao de seus produtos (passagens aereas, inscricoes em congressos, participacoes em estudos, palestras, jantares, etc.). Usam a expressao parceria para se referir a relacao entre medicos e laboratorios…
    Continuo a achar a clinica soberana e ignoro estudos propagandeados por laboratorios ou provenientes de revistas medicas financiadae por eles.E acho que os medicos brasileiros deveriam se informar um
    pouco mais sobre o que e etica, sobretudo no que concerne o conflito de interesses.

    sander fridman

    É irreal a noção de que uma causa biológica implica em um tratamento biológico. Talvez o seja apenas para os homeopatas!
    Ora, uma pancada que fratura a perna exige uma pancada para curá-la??? None sense.
    Uma causa biológica pode encontrar uma pessoa fragilizada, e a condição resultante pode ser combatida pelo fortalecimento do hospedeiro (como o resguardo – comportamento – para uma virose – causa biológica; ou como, para o ascaris lumbricoides – um agente infestante – em lugar de um quimioterápico, anti-biótico, um potencializador da resposta imune – como o levamisole).

    Tampouco é possível identificar-se a "causa biológica" de um "doença mental", sem que ela deixe de ser "doença mental". No máximo pode-se encontrar um "correlato" biológico de um fato mental – tipo a coisa e sua sombra, sendo que o fato biológico é a sombra!

    Ora, a sombra não explica o movimento da coisa! Nem o correlato biológico (SPECT, EEGq,RNMf, etc) explica (implica) o fenômeno mental!

Heloisa Villela

Prezado Alexandre,
– Em que momento o artigo nega a existência da TDAH? Me aponte que farei a correção.
– A pesquisa não é tratada como sensacionalismo. Mas o estudo de 3 cientistas franceses mostra como muitas pesquisas são distorcidas e como a mídia ecoa as distorções sem fazer as perguntas que deveria fazer.
– Sou jornalista e não médica. Minha obrigação é perguntar e esclarecer qualquer assunto. Este artigo, em particular, me foi enviado por uma cientista do NIH (Instituto Nacional de Saúde) com quem conversei para entender exatamente o conteúdo.

    Aracy_

    Heloisa, parabéns por se aprofundar no tema. Informação incorreta também faz muito mal à saúde, portanto rigor é fundamental.
    A publicação de estudos médicos na imprensa – sobretudo os epidemiológicos – comumente padece de mudança no significado e interpretação dos resultados, omissão das controvérsias (as cartas ao editor da revista científica) e de notícias contraditórias (numa hora um alimento faz mal à saúde; noutra, faz bem). Ou a ciência cai em descrédito ou provoca pânico na população. É o lamentável "risco-notícia" à saúde humana.

diogojfaraujo

De novo relinchando sobre o assunto…

Alexandre

Prezada jornalista,
Sou advogado, descobri tardiamente ser portador de TDAH. Desmentir a sua existência me parece ser irresponsável e leviano. Percebo a diferença em minha saúde mão apenas e só com o uso de medicamentos, mas pela adoção de estratégias que me permitem conviver com a doença. Me assusta tratar como sensacionalismo a pesquisa e tratamento de doença mental, o que me remete a algumas questões de ordem legal e ética.
Gostaria de perguntar a jornalista: qual é a sua formação na área médica? Se após a leitura dos artigos que cita, caso não seja profissional da área médica e sendo certo que os textos médicos não foram feitos para livre interpretação de leigos, consultou algum psiquiatra para lhe auxiliar na interpretação do texto? Finalmente, a jornalista alguma vez teve curiosidade de entrevistar algum paciente que seja portador de TDAH adulto para saber qual a sua evolução? Finalmente, guardado o segredo que deve haver entre médico e paciente, já buscou comparar a evolução da saúde mental do paciente com a evolução e controle da doença no prontuário médico? Caso não tenha respostas para essas perguntas, posso deduzir que a matéria não possui amparo científico, pois se baseou na interpretação de texto técnico por pessoa leiga.
Ou posso perguntar: a quem interessa esse raciocínio de negar a existência de determinada doença? Responderei a qualquer pergunta que jornalista me faça para entender a visão do paciente, guardados os limites da manutenção da privacidade.
Att.

    Goreth Moreira

    Alexandre, concordo com grande parte de suas considerações.
    Está claro que Heloisa Villela é jornalista. Ela jamais se apresentou como tendo outra profissão.
    Também compreendo que ela é jornalista especializada em saúde. Não mais. Portanto a matéria que estamos discutindo é jornalismo sobre ciência, no qual cabem especulações de qualquer ordem, e não um texto científico. Nele cabe até duvidar da existência da doença. O que não significa absolutamente nada. Há consenso científico que a TDAH existe. Por mais que alguma pessoa insista em desacreditá-la.

    Yes we créu !!!

    Goreth, acho que sua argumentacao vai num outro sentido daquele que se estah discutindo aqui. O que discutimos eh "se estudos médicos sucumbem ao sensacionalismo", e nao jornalismo cientifico propriamente dito. Veja bem, Heloisa nao fez a pesquisa, ela apenas relatou o que leu numa revista cientifica conceituada. E pelo que eu observei, seu relato (o de Heloisa) foi fidedigno as conclusoes dos autores da pesquisa cientifica. No mais e de todo modo, o link do artigo foi apresentado pra quem quiser conferir o conteudo original. Abc.

    Sander Fridman

    Jornalistas e outros podem fazer ciência em torno do comportamento social, cultural e ideológico dos cientistas, de um modo mais consistente e crítico do que podem fazer os próprios cientistas. Parametrizam as conclusões e as modas científicas – e terapêuticas – de modo a tornarem-se indispensáveis ao leitor atento das ciências e seus processos. A qualificação das implicações de suas contribuições é inexcedivel.

    Num momento em que a filosofia se rende à sociologia, e que a matemática se rende à antropologia, quem seremos nós, os médicos, para acharmos que estamos acima do resto da humanidade, a dizer que sabemos, desde sempre, por que agimos como agimos – inclusive em nosso fazer científico?

    Sander Fridman

    Não há consenso científico de que a doença exista. No máximo há um certo consenso de que a DESORDEM exista, o que não é a mesma coisa. Não é por acaso que nem mesmo a Disfunção Cerebral Mínima não era tratada como "Doença Cerebral Mínima", num tempo em que o consenso politicamente articulado acreditava na existência de Doenças Mentais.
    TDAH é cada vez mais diagnóstico de especialistas em TDAH, apresentado por especialistas em TDAH, pesquisados pelo mesmo grupo. Mas na nossa opinião, deve ser considerado diagnóstico de exclusão, pois a atenção é prejudicada na grande maioria das desordens mentais, e em não poucas doenças físicas (viu a diferença?)

    Yes we créu !!!

    Caro Alexandre, o texto da Heloisa estah baseado numa revista cientifica, a Plos One, reconhecida internacionalmente. Ela eh umas das revistas cientificas mais bem conceituadas que eu conheco. Dificilmente um leigo publicaria na Plos One.

    Conceição Lemes

    Yes, créu. A Plos One é EXCELENTE. E a Heloisa Villela, SERIÍSSIMA. abs

    beattrice

    Conceição, preciso falar com vc. Bj

    Mário SF Alves

    Fica claro o rigor de sua preocupação. Porém, vivemos tempos difíceis onde a ideologia dominante já não mais se sujeita a qualquer limite ético. Os fins, mais do que nunca, estão a justificar os meios. E qual seria o veículo mais capacitado para divulgar, sedimentar e/ou consolidar publicamente essa mesma ideologia? Nesse sentido, é interessante ressaltar o trecho do artigo onde a autora ironicamente estabelece analogia entre os vícios da grande imprensa e o TDAH. Creio, contudo, que o que o foco principal da matéria é mesmo essa falta de rigor ético, científico ou metodológico da imprensa. E por que ela age assim e não de outra forma? E que fenômeno seria esse que, simultaneamente, teria pautado toda a imprensa tradicional na divulgação de assuntos relacionados à saúde? Aí, sim, mais do que nunca, caro Alexandre, suas dúvidas são, não somente aplicáveis, mas, absolutamente necessárias. A quem interessa desnortear e criar a ilusão de que vale a pena suportar tudo porque a ciência mais dia menos dia irá resolver tudo? Imagine se o rico acionista majoritário de uma grande corporação que privatizou a água potável de determinado País iria se preocupar se a mídia local está condicionada a iludir ou distrair o povo de onde se privatizou o recurso?
    Att.,
    Mário.

@DirckDisse

É lícito dizer que todo político já nasce com TDAH?!

    Márcia Lopes

    Não, porém a incidência entre eles é altíssima. Parece-me que da ordem de 6%. Vou olhar melhor

Francisco Rabelo

Quem precisa de um "estudo médico" no cérebro é o jornalista do Estadão que publicou essa matéria:

CNJ autoriza ''sesta'' para funcionários do Judiciário

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110413/

Mais uma tentativa patética de desmoralizar os servidores públicos, usando o termo "sesta". Em nenhum momento no corpo da reportagem fica claro que o objetivo é permitir que os servidores público tirem uma "sesta". É a típica manchete sacana, pra tentar desmoralizar.

E o engraçado é que a própria mídia da qual o Estadão faz parte vive publicando matérias com médicos e especialistas que dizem que cochilar meia hora depois do almoço faz muito bem à saúde. Já cansei de ver matérias do tipo na Globo. Com certeza os barões da mídia tiram a sua soneca depois do almoço.

Caracol

Pode-se considerar também que médicos que se ocupam em estudar TDAH e publicam distorções do próprio trabalho talvez o façam por sofrerem, eles mesmos, deste “mal”. Até Freud explica isso.
Quanto aos “jornalistas” sensacionalistas, não há dúvida que lhes faltam neurônios. Ou vocês pensam que se trata apenas de mau-caráter?
Sugiro, portanto que tanto para um quanto para outros, sejam requeridos, além da indispensável diplomação acadêmica, a ingestão constante de altas doses de Ritalina. Quem sabe isso vai melhorar o nível da Medicina e do Jornalismo?

damastor dagobé

sempre foi assim: eles inventam a doença para a qual ja tem um remedio pra vender…

    beattrice

    Um vírus quando já têm o anti-virus para o pc, business is business.

monge scéptico

O bom desse "post", foi essa radiografia dos âncoras e ditores da globo. Sensacional.
Lá no amorim deu que fhc acha que a globo é corrupta; hehehehehehe! Esse tuca-
-no véio estará na muda?.
A questão do sensacionalismo, é ética; há médicos que são pallocianos; para aparecer
é só por uma câmera a sua fente e um microfone do PIG a sua boca.
A exploração sobre o caso das crianças assassinadas por um hiper frustrado, dói mais,
quando vemos a mídia querendo faturar sobre o "sinistro." CALEM A BOCA!!
TDAH, se genético e se não tiver um tratamento possível, experimente meditação pro-
-funda, que pode funcionar onde drogas são inócuas.(perdão pela misturebe aí)

Yes we créu !!!

Eh muito interessante observar como a genetica se tornou uma ideologia a servico de multiplos propositos, nem sempre eticos. Daniel Koshland, o editor da Science, quando foi perguntado por que a sociedade deveria investir recursos no projeto de sequenciamento do genoma humano, em vez de financiar moradia para mendigos, saiu com essa perola: "a sociedade precisa entender que os mendigos sao deficientes ("homeless are impaired", no ingles) e eles se beneficiarao dos estudos da genetica." Depois do gene da timidez, da impaciencia, da violencia, etc., agora me aparecem com esse gene da vitima da exploracao capitalista. Tudo pra livrar Wall Street das mazelas que ocorrem na "Main Street".

Esse caso foi relatado num livro de Richard Lewontin, "It ain't necessarily so: the dream of the human genome and other illusions". Lewontin eh um dos criticos ferozes da biologia molecular "oba-oba". Ele tem tambem um livro editado em portugues chamado "Biologia como ideologia". Vale a pena.

    Mário SF Alves

    Perfeito, Yes! You créu!!!

    beattrice

    Talvez a genética carregue esse "vício" congenitamente, ou geneticamente.
    Desde o chamado darwinismo social, passando pelas ideologias eugênicas da década de 30, que repercutiram inclusive no Brasil, a genética traz uma marca que certamente demanda muita reflexão ética e epistemológica.

    Yes we créu !!!

    Vc disse a senha: eugenia. Nao exatamente nos moldes dos anos 30, mas ainda assim, uma eugenia "edulcorada", centrada na tentativa de explicar a complexidade humana com base nos genes. Essa eh uma luta muito dura, pois contraria gigantescos interesses, os quais tem na classe medica seu maior aliado junto a populacao.

NELSON NISENBAUM

Mesmo no contexto científico é extremamente difícil abordar transtornos de comportamentos e outras condições mentais. Já disse em outras situações aqui neste fórum que a neurofisiologia cerebral ainda não nos permite vislumbrar nem o que é e como funciona um cérebro normal, e tampouco o patológico. Não avançamos muito mais que Hipócrates neste campo. Aliás, Hipócrates descreveu as doenças que conhecemos hoje com precisão extraordinária, invejável mesmo. Vejo que a questão do TDAH provoca paixões e tenho dificuldade de entender o por que de tanta polêmica. A condição clínica existe, afeta profundamente a vida dos portadores, nos mais variados graus, e como já disse anteriormente, o tratamento medicamentoso existe, é seguro e eficaz na maioria dos casos. Do jeito que as coisas andam, vamos ter que dividir o mundo (acho que estamos quase lá) em populações que acreditam na doença, nos médicos e nos remédios e em populações que duvidam ou não acreditam nos mesmos. Que todos sejam felizes e encontem seus caminhos.

    Yes we créu !!!

    Interessante a dicotomia do seu raciocinio: de um lado os que acreditam na doenca, os medicos, e do outro, os que nao acreditam, ou seja, os imbecis. Foi o que eu consegui entender nas entrelinhas do seu comentario. Me corrija se eu estiver errado. Ou melhor, tome um comprimido pra dormir. Acho que vc estah insone.

    Valdeci Elias

    Comprimido pra dormir. Remedio pra fazer a digestão, pra ter relação sexual, pra estudar.
    O homen do sec XXI é doente , más tem cura(temporaria), e está na farmacia da esquina.

Adilson

É INACREDITÁVEL O QUE ESTÃO FAZENDO COM ESSAS CRIANÇAS!

Alguém aqui deixaria seu filho de 10, 12 anos, voltar pro mesmo lugar, pra mesma sala (mesmo que pintada, repaginada) , onde tivesse visto seus coleguinhas serem assassinados com tiros na cabeça, tivessem sido alvejados , fugindo pelos corredores de um louco assassino com disposição ferrenha em lhes tira a vida (e que matava RINDO)?!!

Alguém permitiria isso com um filho que ama? Alguém trabalharia e dormiria tranquilo sabendo que seu filho terá que conviver diariamente com uma tragédia dessa proporção que viveu na pele de forma INTENSAMENTE DOLOROSA com tão pouca idade?!

É INACREDITÁVEL O QUE ESTÃO FAZENDO COM ESSAS FAMÍLIAS!

Adilson

Hebe Camrago entrevista chefe de policia civil do Rio de Janeiro, del. Marta Rocha, sobre o caso.

vejam a última pergunta:

HEBE CAMARGO – " A gente sabe que esse caso teve repercussão internacional, comoveu o mundo inteiro, então eu lhe pergunto: O Rio de Janeiro vai estar tranquilo para a Copa do Mundo e as Olimpiadas?

MARTA ROCHA- Pode ficar tranquila, Hebe, inclusive eu convido todos aqui a visitar a cidade…"

Isso é EXECRÁVEL, isso é MONSTRUOSO!

Desculpem, o mau jeito mas eu quero vomitar.

O_Brasileiro

Ora, ora… Estão abrindo a "caixa de Pandora" da literatura científica…

P.S.: Não é só por interesse da indústria farmacêutica que se supervaloriza o uso de medicamentos, é porque é mais fácil e mais barato dar remédio do que fornecer a intervenção psicossocial.

Pedro Germano Leal

Não diria, até, serem só os estudos médicos. A coqueluche das publicações, estimulada institucionalmente, gera esse tipo de sensacionalismo em praticamente todas as áreas do conhecimento. Mas a crítica não deve ser feita aos autores: deve-se criticar, duramente, as publicações que fizeram vista-grossa no processo de peer review – afinal eles foram publicados.
Um estudo dessa natureza no Brasil, em várias áreas e importantes publicações, seria estarrecedor.

Terezinha Sanches

Heloísa, li sua matéria ainda há pouco e fiquei pensando sobre ela antes de comentás-la.
Tudo o que vc escreveu só demonstra uma coisa: MEDICINA NÃO É MATEMÁTICA! Se acalme amiga.
Também tem muito modismo em medicina. Um dia um remédio é bom, no outro mata. Ai já morreram muitos. Faz parte

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