As sete semanas vividas por Genoino na Papuda deterioram sua saúde

Tempo de leitura: 5 min

por Conceição Lemes

Provavelmente nesta quarta-feira 25, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgará os recursos dos advogados do José Genoino Neto, 68 anos, solicitando que o ex-presidente nacional do PT cumpra a pena em regime domiciliar.

Condenado no julgamento da Ação Penal 470 (AP 470) a 4 anos e 8 meses de prisão em regime semiaberto, Genoino está de volta, desde 1º de maio, ao Centro de Internamento e Reeducação (CIR) da Penitenciária da Papuda, em Brasília.

O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), respaldado em laudo da UnB, revogou a sua prisão domiciliar provisória.

Em reportagem publicada pelo Viomundo em 1° de maio, o cardiologista o cardiologista Geniberto Paiva Campos, ex-professor de Cardiologia na Universidade de Brasília, advertiu: “Genoino não conseguirá atingir o nível ideal de anticoagulação”.

Não deu outra.

A anticoagulação do sangue não só não atingiu o  nível ideal. Piorou. Assim como deterioram outros parâmetros da saúde, desde que ele voltou para a Papuda, em 1º de maio.

É o que demonstra relatório médico do doutor Geniberto Campos, anexado ao pedido de prisão domiciliar encaminhado ao STF (na íntegra, mais abaixo) .

Ele diz (os negritos são desta repórter):

Apoie o VIOMUNDO

Trata-se de paciente hipertenso, coronariopata, portador de aterosclerose carotídea.

Desde seu retorno ao presídio apresentou alguns episódios de crise hipertensiva, com elevação importante dos níveis pressóricos sistólicos, que requereram o uso de medicação de urgência.

O perfil de coagulação foi repetido em 20 de maio de 2014, com RNI = 1,93 que, embora não tendo  atingido o  nível terapêutico ideal, evidenciou melhoras.

Novos controles sequenciais realizados até o momento mostram a perda gradativa do controle terapêutico da anticoagulação, com os seguintes níveis de RNI: em 26.05 => 1,71; em 02.06 => 1,64 e em 09.06 => 1,47.

A perda  constante do nível terapêutico da anticoagulação pode conduzir a  situações potencialmente danosas, mas evitáveis,   como risco  de  AVC (derrame cerebral) e de processos embólicos.

Em contato com os médicos do presídio da Papuda sugerimos, enfaticamente, manter as doses de anticoagulante com as quais, em sua residência, o paciente vinha obtendo controle  terapêutico adequado,  levando-se em conta que o fator dieta é um item fundamental nesse processo.

Considerando que o aumento da doses de anticoagulantes adicionaria riscos de sangramentos (hemorragias), eventualmente fatais, foi tomada a decisão de manter as doses que, comprovadamente, mantinham o paciente em níveis terapêuticos ideais (RNI entre  2 e 3).

Observe-se, ainda, que o paciente, no período de referência, apresentou um ganho de peso significativo – cerca de 1 kg/semana o que, sem dúvida, acrescenta riscos ao seu quadro clínico.

Diante dos dados da sua evolução clínica e a cardiopatia de alto risco de que o paciente é portador, reiteramos a conveniência da continuação de seu tratamento em ambiente doméstico.

Em bom português: as últimas sete semanas vividas por Genoino na Papuda mostram que foram perdidos os controles da pressão arterial, do seu peso corporal e da anticoagulação do sangue.

E a pressão arterial descontrolada pode causar outra dissecção da aorta, novo acidente vascular cerebral (AVC) ou um infarto do miocárdio devido aos fatores de risco associados. Acrescente-se aí o uso de anticoagulante que aumentaria o risco de problemas cardiovasculares.

Vamos por partes.

O aumento do peso, que por si só já aumenta o risco cardiovascsular,  está ligado diretamente à alimentação inadequada.

Quanto à coagulação sanguínea, Genoino tem hipocoagulabilidade, que,cem “leiguês”, significa que o sangue coagula menos do que deveria.

Após a cirurgia para correção da dissecção da aorta, em julho de 2013, Genoino teve um episódio de fibrilação atrial. É uma alteração no ritmo do coração que forma trombos nas cavidades do órgão. Os trombos são coágulos que vão crescendo. Acontece que os trombos se fragmentam, formando êmbolos. Esses êmbolos ganham a circulação do restante do organismo, podendo obstruir a passagem do sangue para áreas nobres.

“No caso do Genoino, os êmbolos foram para o cérebro e provocaram um pequeno derrame [acidente vascular hemorrágico, AVC]“, explicou-nos em outra reportagem o cardiologista Geniberto Paiva Campos. “Por isso, ele toma o anticoagulante varfarina, anticoagulante que atua para não deixar formar trombos.”

O anticoagulante “afina” o sangue, evitando o tromboembolismo.

Para ter esse benefício, é indispensável que o anticoagulante atinja o seu nível ideal no sangue do paciente. Do contrário, persiste o risco de formação de êmbolos e obstrução da circulação.

Por isso Genoino faz periodicamente a dosagem da coagulação sanguínea: TAP/RNI.

Traduzindo. TAP é Tempo de Ativação da Protombina. RNI, Regulação Normatizada Internacional. Esses dois parâmetros indicam se o paciente está ou não anticoagulado. O objetivo é o RNI ficar entre 2 e 3.

No  caso de Genoino, o RNI está  ficando cada vez mais abaixo de 2, que é nível desejado, ou o alvo terapêutico. E isso é grave, pois ele tem risco de novo tromboembolismo, que pode ser fatal.

Vale relembrar que, além da do anticoagulante varfarina, a dieta de Genoino tem de ser com pouco sal, pouca gordura e restrita em alimentos ricos em vitamina K, pois ela interage com o anticoagulante, diminuindo a ação desse remédio.

Isso significa consumir com parcimônia, por exemplo, brócolis, couve-flor, grão-de-bico, espinafre, nabo, beterraba, lentilha, fígado, aipo, feijão verde, abacate, azeite, mamão, agrião, mostarda e salsa.

Resultado: como Genoino não recebe esse tipo de alimentação na cadeia — ele come o mesmo dos demais presos — , ela está dificultando o controle da coagulação. Ao mesmo tempo,  essa dieta aumenta o peso e favorece o aumento da pressão arterial.

— Mas por que Genoino não reclama  do tipo de alimentação? — alguns devem estar perguntando.

Imagine ficar reclamando da dieta da Papuda, como se aquilo fosse um hotel 5 estrelas.

O mais correto seria retornar à prisão domiciliar, que é mais adequada às suas atuais condições de saúde.

Mandá-lo de volta à Papuda foi de uma truculência, desumanidade e covardia sem tamanho.

Por isso, eu, Conceição Lemes, defendo desde o princípio a prisão domiciliar. Deixá-lo no cárcere é uma temeridade. Uma irresponsbilidade.

Sem o controle dos níveis de coagulação, da pressão arterial, da sua dieta e do seu peso corporal – e dando de barato o incalculável estresse psicológico da cadeia – o Genoíno corre riscos elevados. Criminosamente, desnecessários.

***********

RELATÓRIO MÉDICO ANEXADO AO PEDIDO FEITO AO STF

Leia também:

Kotscho: Quem vai pagar por prejuízos causados pelo terrorismo midiático?

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Leia também