Claudia Wanderley: O rei das multidões hindus, o conhecimento do yoga e você

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Por Claudia Wanderley

Manuscrito do Rajastão I, do século 17: Mahabharata, representando Vyasa, narra para Ganesha, o rei das multidões, que serve como escriba. Foto: Wikipedia

Por Claudia Wanderley*

O Sr. Ganesha é um dos seres mais populares da tradição hindu.

Gan significa multidão, Esha, regente.

O Sr. Ganesha é o rei das multidões.

Uma figura simpática com corpo de criança.

Traz a lua na testa, tem cabeça de elefante, tromba curvada, apenas um dente, cor escura e uma grande barriga. Adora doces e o rato é sua montaria.

Escultura de Ganesha produzida no século 1000 dC, durante a dinastia Chandela, que governou grandes áreas da Índia central. A obra está exposta no Museu Rietberg, na cidade de Zurique, Suiça. Foto: Reprodução

É o patrono dos escritores, o deva da sabedoria, do entendimento, do conhecimento, do aprendizado e da prosperidade.

Tem grande habilidade intelectual, capacidade de discriminação e discernimento.

É ele que nos inspira para a curiosidade, que é a base de qualquer início de trajeto.

Os novos começos são abençoados por ele, porque só vamos nos dispor a algo novo cultivando conscientemente a curiosidade intelectual.

Ousar algo novo ocorre quando temos a sorte de ter as condições para inaugurar uma nova vida, uma nova saúde, novas relações, novos trabalhos e/ou nova uma vida espiritual. E, assim, a nossa disposição em conhecer mais sobre nós mesmos e sobre a vida, buscando crescer como seres humanos.

Seja lá o que você quer aprender, o modo de aprender é através do estudo.

Por isso, gostamos tanto de grupos de estudos, como o de Yoga que tivemos na Unicamp — a Universidade Estadual de Campinas.

Por isso, organizamos também na Unicamp um curso sobre Filosofia de Yoga e Interculturalidade, que deve começar em breve.

Aproxime-se de pessoas e livros!

Quando comecei a praticar yoga nos anos 90, a ideia era estar com pessoas que praticavam há mais tempo do que eu, para ganhar conhecimento na área.

Essas pessoas muitas vezes são chamadas de irmãos mais velhos, nas práticas. Não era fácil encontrar essas pessoas, a  yoga não tinha a receptividade, a expansão e a popularidade que tem hoje.

Há também pessoas que desenvolveram um tipo de prática dentro de uma tradição e são reconhecidas por terem compreendido ou realizado o caminho de yoga a que se dedicam.

São mais raras de serem encontradas. É sempre um grande presente poder conviver com elas. Tal aproximação é propícia.

Você pode também se aproximar da yoga por meio de um texto.

O primeiro livro que meus professores me apresentaram foi o Bhagavad Gita.

Uma grande aula sobre o que é yoga dada em situação de emergência gerada por uma disputa familiar.

Mais tarde encontrei o Devi Gita. Também uma grande aula sobre o que é yoga, dada em uma situação de emergência global, gerada por falta de cuidado com o mundo.

Os professores dos dois textos são a própria existência.

Por caminhos diferentes, eles ensinam a mesma coisa: yoga.

São os dois primeiros textos que eu recomendaria, para quem tem curiosidade.

O tesouro que mora em cada um de nós

Yoga é um conhecimento que existe em livros, mas esse conhecimento não mora primordialmente nos livros, segundo a tradição.

O conhecimento mora em quem o pratica, e os livros nos lembram ou complementam o conjunto de conhecimentos da prática de yoga na qual você escolheu se envolver.

Então, quem ensina yoga deveria ser um praticante, deveria estar envolvido com suas próprias práticas e também em práticas com gente mais experiente.

Na melhor das hipóteses, neste processo nos mantemos curiosas, aprendendo e nos aperfeiçoando constantemente.

Por isso, na universidade, quando vamos estudar textos ligados ao conhecimento de yoga, tomamos o cuidado de procurar professores que pratiquem e estejam de alguma forma ligados à tradição de yoga.

Quem está chegando e quer estudar textos de yoga também é convidado a desenvolver a sua rotina pessoal, com práticas regulares de sua preferência.

Estudar é um caminho contínuo. Foto: Freepik

Você como fonte de conhecimento

Yoga quer dizer união.

Existem dois pontos que podemos considerar para fortalecer essa percepção de união.

Um é ser sincero em nossos atos.

O outro é perceber que todos nós queremos ser felizes, é o que nos motiva, independentemente das diferentes compreensões de felicidade que possam existir.

Algumas pessoas, querendo melhorar em algum aspecto, fazem yoga, estudam yoga, festejam yoga, praticam yoga… experienciam yoga.

Se o conhecimento mora em quem pratica, à medida que você desenvolve a sua prática e estudo, você começa a se perceber de maneira diferente e a perceber o que está a sua volta também de outros ângulos.

O conhecimento vai começar a se expressar através de você também. Experimente! É muito bacana viver isso.

Sugestão de meditação

– Tome um banho e coloque uma roupa limpa

– Sente-se confortavelmente virada para o leste

– Dentro do possível, mantenha sua coluna reta, olhe para um ponto à frente no chão em um ângulo de 45 graus

– Preste atenção em sua respiração, respirando profunda e lentamente

– Observe seu corpo, suas emoções e o fluxo de suas ideias, só observe sem julgar

– Fique assim por 5 minutos, respirando profundamente, com atenção no seu coração

– Encerre a prática, e agradeça a experiência

*Claudia Wanderley coordena o grupo de estudos Yoga na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde é também pesquisadora do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência. No programa de extensão da Faculdade de Educação Física da universidade, dá aula de saudação ao sol.

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Claudia Wanderley

Coordenadora do grupo de estudos Yoga na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde é também pesquisadora do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência. No programa de extensão da Faculdade de Educação Física da universidade, dá aula de saudação ao sol.


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