Urariano Mota: O papelão de assessores de imprensa na ditadura

Tempo de leitura: 3 min

Publicado em 19/01/2011

do Direto da Redação

Recife (PE) – Do livro “No Planalto, com a imprensa”, cujos dois volumes reúnem entrevistas de secretários de imprensa e porta-vozes de JK até Lula, prefiro ressaltar frases de assessores que serviram à ditadura brasileira. Nas passagens que o eufemismo recomendaria chamar de momentos menos honrosos, são indicadas  ações vis como se fossem coisas bobas, ossos do ofício de experientes assessores,  entre um riso e outro.

É sintomático do nível geral do jornalismo que ninguém mais se espante com informações graves, como estas cândidas palavras de Carlos Chagas, assessor de Costa e Silva, ao lembrar seus tempos de O Globo:

“As informações sobre o que podia ser veiculado vinham dele, Roberto Marinho. Mas era esporádico, vinham de vez em quando, porque o Roberto Marinho era daqueles jornalistas antigos que não admitiam notícia política, vamos dizer, elaborada pelo repórter. Ele tinha uma orientação clara: ‘Tem que escrever: fulano de tal disse a O Globo, disse a O Globo, disse a O Globo. Aí, publique tudo o que você quiser, na boca do outro’. Era esperto, não? Para O Globo não ser acusado de nada”

Não há sequer um tímido parêntese ou palidez de itálico para o ato de enfiar palavras não ouvidas na boca de terceiros. Nem mesmo para este comportamento de repórteres, no depoimento de Humberto Barrada, assessor de Geisel:

“… Certa vez, um jornalista de O Estado de São Paulo, havia escrito uma matéria com uma declaração do presidente em uma reunião e veio me mostrar. Eu disse: ‘Não foi isso o que ele falou. O senhor está enganado’. E ele insistiu: ‘Foi, sim’. Então, disse eu: ‘Dê-me o papel e espere aí’. Fui ao gabinete do presidente e lhe mostrei a matéria, e ele corrigiu de próprio punho, a lápis… Corrigido o texto pelo próprio presidente voltei ao jornalista e disse: ‘Pronto, está aqui. Com a letra dele. Está satisfeito?’  ‘Pô, é mesmo, foi ele mesmo quem escreveu’.  ‘Claro!’.”

Ou de Saïd Farhat, antes de ser porta-voz de Figueiredo:

“Fui procurado pelo Severo Gomes, então Ministro da Indústria e Comércio. Ele disse: ‘O presidente Geisel me autorizou a convidar você para ser presidente da Embratur. Você aceita?”. Eu respondi: ‘Aceito, sim. O que a Embratur faz?’.” Em outro ponto, ele, assim como todos assessores da ditadura, se refere à campanha para a presidência. Mais de uma vez fala “durante a campanha”… Isso para lembrar a circulação do ditador escolhido, eleito com voto de cartas marcadas, no Congresso Nacional. Como a ditadura gostava de parecer democrática.

Ainda que o livro não tenha qualquer espírito investigativo, pois as palavras dos entrevistados são sempre as últimas, e se aceitam sem qualquer contraditório, aqui e ali saltam atos falhos. A primeira coisa que se ressalta é a banalização da ditadura. É como se um golpe de estado, censura, clima de terror, torturas e assassinatos não fossem o preço necessário para o acesso agradável aos ditadores. Um serviço à ditadura que assim é justificado por Carlos Chagas:

“…ser Secretário de Imprensa do Presidente era um posto no qual se ficava no foco, importante, um passo adiante na carreira… porque era bom conhecer o outro lado, como é que funciona, porque até então eu só conhecia o lado de cá.. eu iria participar da abertura e ia acabar com o AI-5”.

Ou aqui em Marco Antônio Kraemer, segundo assessor de Figueiredo: “Todos nós queríamos liberdade, tinha que acontecer. E era melhor acontecer, como vou dizer… sob controle. Era melhor do que explodir”.

Mas nada se compara a Alexandre Garcia, que esteve numa posição intermediária entre assessor do assessor e secretário do secretário de imprensa de Figueiredo. Ele assim se dirigiu, em suas primeiras horas de poder,  ao general Rubem Ludwig: “Agora, gostaria de ouvir os seus conselhos de como proceder lá dentro, porque costumo vestir a camisa dos lugares onde trabalho”. Sincero o jornalista, sem dúvida.

Para Alexandre Garcia, enfim, nada é mais honroso que  isto, exibido com orgulho em seu currículo: “Condecorado com a OBE (Ordem do Império Britânico) pela Rainha Elizabeth”. Salve, Rainha. Por tal honra, John Reed e semelhantes se torcem até hoje de inveja.


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Comentários

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Urariano Mota: O papelão de assessores de imprensa na ditadura « Blog do EASON

[…] Publicado no Vi O Mundo de Luiz Carlos Azenha […]

Paul Stano

O profissionalismo deste Alex Garcia, e de muitos outror colega do PIG, me faz lembar daquela estória de dois jagunços contratatados para matar um pai de família. Devidamente informados pelo mandante sobre a vítima (aparência, indumentária, hora e local que passaria sozinho por um local ermo, etc.), quando se dirigiam para a execução do serviço um deles perguntou ao comparsa:
– Cê conhece este cara que nós vamos matar?
E o outro:
Conheço não! Mas já tou morrendo de ódio dele!

Kid Prado

O Alexandre Gracinha, assim como os jogadores profissionais que beijam o escudo no dia de sua apresentação à torcida do clube contratante (Flamengo, Atlético Mineiro, Internacional, Corinthians e Bahia), sua a camisa e trabalha com o "grupo" até que seja contratado pelo rival. Aí vem outro beijo no novo escudo e muito suor e muita garra para defender a camisa e agradar a tnova torcida (Botafogo, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras e Vitória.
Jamais foi um mercenário. Nunca!

Jairo_Beraldo

Vi Alexandre Garcia no Redação SporTv, na quinta p.p. e ele disse em alto e bom som…"os melhores assessores de imprensa que tivemos na historia brasileira, foi no período dos militares"… vamos partir do pressuposto, que Garcia não seja democrático, seja ateu, seja mercenario, seja apatriota e não cre nas instituições sagradas como família e presidencia da república, então ele está correto em sua afirmação.

Claudio Ribeiro

Ley de medios já.
http://palavras-diversas.blogspot.com/2011/01/o-l

Desconcentrar é o caminho para o setor, mas a reação dos donos dos grandes veículos de comunicação brasileiros, tachando qualquer iniciativa de regulação da área como tentativa de censura ou controle, demonstra claramente a preocupação destes empresários em defender seus rentáveis empreendimentos

Horacio V. Duarte

Em uma democracia acho que um assessor de imprensa tem um papel, mas na ditadura tudo se resolve com a censura, eram só aspones nada mais do que isto.

Horacio V. Duarte

edv

Hoje em dia qualquer lobby ou (des) construção de imagem passa por assessorias de imprensa.
A Veja já publicou matéria sobre a facilidade e rapidez que quai$quer uns podem criar (e como criar) seus (ou de terceiros) 15 minutos de fama (boa ou má)…
Como gera boa$ receita$, a meninada dos cursos de comunicação é atraída por tais posições, assim como as de propaganda e marketing (formação de tendências, costumes e opiniões).
Ou seja, a matéria prima da comunicação, que é a informação, passou a ser moldada de acordo com os "intere$$es do freguê$".
Informação pura e neutra é a grande derrotada! Cada vez mais, a pepita a ser garimpada!
Portanto, faz-se míster (quanto tempo!) aumentar e diversificar os fregueses, principalmente aquele que "paga menos" e chamamos de interesse público.

Messias Macedo

“Escuta essa”!

“Creio que se a oposição não se articular, não propor um projeto alternativo, não tem gogó que dê certo! A oposição correrá sérios riscos de perder as eleições em 2014!”
Natuza Nery , jornalista da Folha de São Paulo – pérola jornalística proferida no programa 'Fatos e Versões' [GloboNews], edição 22-23/01/2011

NOTA: é para rir mesmo! Qual a dúvida?!

República Desta Grande 'Mérdia' Nativa – oposição à caça de uma oposição formal ao governo Dilma Rousseff
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Messias Macedo

errata:

“Vai, aí, um ansiolítico!”

República de ‘Nois’ Bananas
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Messias Macedo

Vazou uma “suposta” Ley de Medios. É boicote ?
Em http://www.conversaafiada.com.br

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"Vaí, aí, um ansiolítico!"

Com o financista moderado Paulo Bernardo à frente do *Ministério das Comunicações, em vez da Ley dos Medios, nós teremos 'A Lei dos Medos' – da Globo, em especial!
*a propósito, lembrando GAGÁribaldi Alves, a biografia [o currículo] do ex-ministro do Planejamento é compatível com o cargo que ora ocupa?!…
Não diga: Paulo Bernardo compõe a cota do compadrio do governo Dilma Rousseff? Lastimável, se for verdade!

República de 'Nois' Bananas
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Alexandre

[Tem a ver!]
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[Eliane] Cantanhêde [*“da Folha”(!)] escreve o necrológio do Johnbim
em http://www.conversaafiada.com.br

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Fala matuto!
… Um **representante do PIG, olhos esbugalhados, afirmou: "Nesses primeiros dias de governo, a presidente Dilma Rousseff demonstrou que não tem nenhum pudor em demitir 'colaboradores'… Dois já foram 'canetados'!…"
Ou seja, o [o inepto] PIG está descobrindo alguns aspectos inerentes à personalidade da presidente, incluindo o "escreveu não leu, o pau comeu!"
Só falta aos arautos do PIG reconhecer, publicamente, a natureza virtuosa do estilo Dilma Rousseff! Traduzindo: 'o poste' é, na verdade, A Magnífica!
* adendo nosso
**Sérgio Fadul (O Globo) – programa 'Fatos e Versões' [GloboNews], edição 22-23/01/2011

Mais um epitáfio: [recorrendo ao jargão jornalístico] o PIG é experto em 'barrigadas'…

República Desta Grande 'Mérdia' Nativa – oposição à caça de uma oposição formal ao governo Dilma Rousseff
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Alexandre

[Um tributo aos jornalistas-colegas dos patrões do PIG]

Certa vez, um jovem executivo estava saindo do escritório quando viu o presidente da empresa com um documento na mão em frente ao triturador de papéis. “Por favor”, disse o presidente, “isto é muito importante pra mim e minha secretária já saiu. Você sabe como funciona esta máquina?” “Lógico”, responde o jovem executivo. Imediatamente, tira o papel das mãos do presidente, liga a máquina, insere o documento e aperta um botão. “Excelente meu rapaz! Muito obrigado … Eu preciso só de uma cópia. Onde sai?”

República Desta Grande 'Mérdia' Nativa – seus barões patrões e seus colegas-jornalistas (sic)
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Marcilio

É por isso que assistir Chavez é mais produtivo que estes jornalecos de tv e impressos!

Salve a internet!

sujoseempoeirados.blogspot.com

Márcia Aranha

É bom que todos saibam que Alexandre Garcia foi demitido por seu General de plantão porque pousou nú para uma revista gay da época… Ou seja; aqui se faz aqui se paga.

    edv

    É mesmo?!
    Rapaaz!!!

    (nb: a dúvida e o espanto não são contra alguém ser gay ou não, escolha de cada um, mas com a imagem escondida dentro do armário…principalmente de tão eminente figura…)

    jotaefe

    Márcia, que esse calhorda não vale nada nós todos já sabemos.Porem a revista que ele pousou foi a Ele e Ela.Era uma revista destinada ao público masculino.Muita mulher pelada.Editora Bloch.Ao ser defenestrado pelo ditador da ocasião arranjou um emprego com o Adolpho Bloch (Manchete, Ele e Ela, Fatos e Fotos, TV Manchete, etc….)

assalariado.

A COMUNICAÇÃO NA BATALHA DAS IDÉIAS… por Antonio Gramsci em 1916…
"Sob alegação de que exerce uma função social específica (informar a coletividade), a mídia não quer submeter-se a freios de contenção e se põe fora do alcance das leis e da regulação estatal. A opinião pública é induzida ao convencimento de que só tem relevância aquilo que os meios divulgam. Não somente é uma mistificação, como permite, perigosamente, a absorção de tarefas,funções e papéis tradicionalmente desempenhados por instâncias intermediárias e representativas da sociedade (sistema escolar, família, partidos políticos, organismos da sociedade civil, etc.).Os grupos de comunicação sentem-se desimpedidos para selecionar as vozes que devem falar e ser ouvidas — geralmente aquelas que não ameaçam suas conveniências políticas e metas mercadológicas."

Aqui tem mais: http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&am

Saudações Socialistas.

Marat

Quando alguém está engajado num emprego, tem de sê-lo com convicção. Alexandre Garcia e os demais caudatários da ditadura, deveriam assumir e dizer que aquilo era uma ditadura, que lhes dava emprego e salários e ponto final. Não adianta, passados mais de 25 anos, vir com tergiversações: Ou apoiavam o regime e trabalhavam por ele, ou trabalhavam por sobrevivência, mas o combatiam…
No fundo, no fundo, essa turma é mesmo muito suja! Até hoje trabalham a soldo e "vestem a camisa" dada por embaixadas e consulados estadunidenses!

Alvaro Tadeu Silva

Ah, Azenha, você se esqueceu de como o Alexandre Garcia foi demitido pelo Figueiredo: ele posou de cuecas para uma entrevista, acho que foi para a revista Manchete. Figueiredo apenas comentou "que pouca vergonha" e o botou para fora. Sem ressentimentos, quando foi trabalhar na recém-inaugurada Rede Manchete, Alexandre Garcia babou os ovos dos ditadores até passar-se de mala e cuia para a Rede Globo, "indignado" com a cobertura que a Manchete fez do carnaval carioca, mostrando as melhores partes das foliãs com closes históricos.

Nilva

Eles eram assessores de ditadores. Esperar o que? Eles se vangloriam disto e estão certos. Faziam parte da escória e como tal se portavam. Foram pra lá de livre e espontânea vontade. Continuam abjetos.

kalango Bakunin

o Distrito Federal não existe para o PIG, só existem as fofocas sobre a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes para a nossa gloriosa grande imprensa

alguém vê matérias sobre a situação do DF nos jornalões das famiglias?

está assim de notícias do Amapá, São Paulo, Rio, Minas, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Amazonas, o escambau

mas não sai absolutamente nada sobre o DF

onde a saúde, a educação e o transporte público estão totalmente sucateados

todas as obras paralisadas por maracutaias em licitações e contratos

o DF nem pode pedir grana do governo federal porque nos últimos anos parou de pagar o que lhe foi emprestado

não há dinheiro sequer para pagar o funcionalismo

a coleta de lixo não funciona há meses

em outubro do ano passado foi cortada a manutenção das áreas verdes

a ponte JK, um símbolo da cidade foi interditada por segurança, em 20 anos não houve nenhum tipo de manutenção

o novo governador encontrou exatamente ZERO REAIS no caixa do governo

até o correio braziliense, piguista, rorizista, arrudista e demotucanoudenista desde criancinha não consegue esconder o descalabro generalizado, senão vai pros cocos

o PIG não fala nada do DF porque é comprometido com a quadrilha demotucana que destruiu totalmente a capital do Brasil?

ou sai alguma coisa na Internet, ou os brasileiros jamais saberão da catástrofe causada pela maior roubalheira que já houve no País, já que o PIG parece apoiar incondicionalmente a corrupção e a bandalheira que imperava até o último dia de 2010

Francisco Hugo

Urariano,
você chama isso de "papelão"?
Agora todo pilantra quer dar uma de Oskar Schindler?
Quem sabe o Steven Spielberg queira fazer um filme sobre?

Ivan Lima

Duro é ver Alexandre Garcia se postar como "professor" de cidadania e democracia no Bom Dia Brasil. Alguém que serviu à ditadura…

ZePovinho

O Alexandre Garcia serve à Inglaterra ou ao Brasil?????????A condecoração não me deixa dúvidas.
Outro que envio para o Cemitério dos Mortos Vivos do Cabôco Mamadô.

maristela batista

brilhante a materia sobre Marisa Leticia Lula da Silva. Parabens

Gerson Carneiro

"Até segunda, Chefinho. E se espirrar: SAÚDE!"

[youtube hgsQasqrGBQ http://www.youtube.com/watch?v=hgsQasqrGBQ youtube]

geniberto campos

E precisa comentários? A coisa é sórdida, dá náuseas e dispensa maiores comentários. É a nossa velha mídia, ela é o que sempre foi… com as exceções de sempre. E la nave vá.

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