Símbolo da luta contra a ditadura e pela justiça social, Dom Paulo morre aos 95 anos

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Dom Paulo Evaristo Arns

Símbolo da resistência contra a ditadura militar, dom Paulo vai fazer muita falta na luta contra o golpe de Estado de 2016. Na fotomontagem, alguns momentos marcantes da sua trajetória em defesa dos direitos humanos, dos oprimidos e dos pobres. À direita de cima para baixo, no velório do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, na linha de frente pela busca dos desaparecidos e com Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda. Abaixo, no centro, com o educador Paulo Freire, autor de “A Pedagogia do Orpimido”.  Em homenagem recente, dom Paulo fez questão de usar o boné do MST (Foto: Miguel Martins)

Dom Paulo Evaristo Arns morre aos 95 anos

por Redação de CartaCapital, 14/12/2016 

Símbolo da resistência à ditadura, dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, morreu nesta quarta-feira 14 aos 95 anos.

O estado de saúde do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, 95, se agravou na segunda-feira 12. O arcebispo emérito foi internado no Hospital Santa Catarina em 28 de novembro, com um quadro de broncopneumonia. A assessoria do hospital informa que o cardeal morreu às 11h45, em decorrência de falência múltipla dos órgãos.

De formação e hábitos franciscanos, dom Paulo é um missionário que dedicou sua vida à defesa dos pobres e à justiça social. A denúncia da tortura e da perseguição política durante a ditadura está diretamente relacionada à sua pregação religiosa

Em 1966, dom Paulo tornou-se bispo em um momento de renovação na Igreja Católica. Quatro anos antes, o então papa João XXIII deu início ao Concílio Vaticano II, que buscava redefinir o papel da religião na sociedade, com foco em uma nova orientação pastoral voltada para a resolução dos problemas sociais e econômicos.

No Brasil, a cartilha ganhou força após a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em 1968 em Medellín, na Colômbia.

As reuniões foram fundamentais para o desenvolvimento da Teologia da Libertação, preocupada prioritariamente com a promoção da justiça social, e para a consolidação das Comunidades Eclesiais de Base, que buscavam substituir a supremacia das paróquias na organização da vida religiosa pela valorização de comunidades menores, com a presença tanto de integrantes da Igreja quanto de leigos.

Atento à renovação, dom Paulo abraçou a nova doutrina e o modelo descentralizado de comunidades.

Dom Paulo tornou-se arcebispo de São Paulo em um momento crucial. Em 1969, um grupo de dominicanos foi preso pelo delegado Sérgio Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social, sob acusação de manter laços com a Ação Libertadora Nacional, organização de luta armada comandada por Carlos Marighella.

Uma das lideranças dominicanas, Frei Tito foi brutalmente torturado. À época, dom Agnelo Rossi, então arcebispo paulista, preferiu não interceder em favor dos presos.

A repercussão dos relatos de Tito publicados na Europa levou o então papa Paulo VI a substituir Rossi por dom Paulo no comando da Arquidiocese.

Pouco após assumir o cargo, dom Paulo não se omitiu ao tomar conhecimento da prisão do padre Giulio Vicini e da assistente social leiga Yara Spaldini pelo Departamento de Ordem Política e Social em 1971.

O sacerdote foi pessoalmente ao Deops e testemunhou as agressões físicas sofridas por seus colaboradores.

No ano seguinte, por iniciativa de dom Paulo, a Assembleia da CNBB publicou o Documento de Brodósqui, um relatório que denunciava as prisões arbitrárias, a tortura e o desaparecimento de perseguidos políticos após a aprovação do Ato Institucional nº 5.

A partir de 1973, o arcebispo passou a celebrar missas com forte conteúdo político.

O assassinato pelos militares do líder estudantil Alexandre Vannucchi Leme, da ALN, foi respondido com uma missa-protesto na Catedral da Sé para contestar a versão oficial apresentada pela ditadura para sua morte, segundo a qual o estudante teria sido vítima de um atropelamento.

Em 1975, o arcebispo organizou um ato inter-religioso em homenagem a Valdimir Herzog, torturado e assassinado pelos militares.

A cerimônia serviu também para manifestar repúdio à versão de que o jornalista teria cometido suicídio.

Além da resistência aos militares, Dom Paulo foi fundamental para a consolidação das Comunidades Eclesiais de Base, que buscavam substituir a supremacia das paróquias na organização da vida religiosa pela valorização de comunidades menores, com a presença tanto de integrantes da Igreja quanto de leigos.

Segundo Leonardo Boff, expoente da Teologia da Libertação, D. Paulo não enxergava as comunidades como uma simples frente de pastoral ou um prolongamento da paróquia em meios pobres.

O objetivo era valorizar tanto as bases sociais como a participação dos leigos. “Dom Paulo animava-os a decidirem os caminhos da Igreja e aceitava suas sugestões.”

Para reforçar o aspecto pedagógico das comunidades, lembra Boff, o arcebispo convidou o pedagogo Paulo Freire para acompanhar as atividades na periferia. “Além de sua dimensão especificamente religiosa, as comunidades de base eram centros de conscientização, de resistência contra a ditadura e de construção da cidadania”, afirma.

A articulação das comunidades é, por sinal, um dos pontos de partida para a fundação do Partido dos Trabalhadores em 1980.

Boff tem muito a agradecer a dom Paulo. O cardeal foi professor do teólogo em Petrópolis e o ajudou a ingressar na Universidade de Munique.

Em 1982, Boff foi alvo de um processo doutrinário na Congregação para a Doutrina da Fé, antiga Inquisição, por conta da publicação de seu livro Igreja: Carisma e Poder, crítico às instituições católicas tradicionais. O interrogatório foi conduzido pelo então cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o papa Bento XVI.

Dom Paulo acompanhou Boff a Roma para defendê-lo no processo.

“Ao lado do cardeal Aloysio Lorscheider, ele argumentou a Ratzinger: ‘Damos nosso testemunho de pastores de que se trata de uma teologia edificante e boa para a Igreja’”, lembra o ex-aluno do arcebispo emérito.

Dom Paulo convidou ainda o cardeal a “visitar as comunidades eclesiais no Brasil e rezar com o povo”. Em seguida, negociou que Boff e seu irmão apresentassem um documento à congregação para ressaltar a importância da Teologia da Libertação.

Após o fim da ditadura, dom Paulo seguiu no comando da Arquidiocese paulista até 1998, quando renunciou por limite de idade e tornou-se arcebispo emérito.

Nos últimos anos, seu estado de saúde piorou, mas não o suficiente para impedi-lo de comparecer a homenagens.

Em julho, uma missa na catedral da Sé celebrou os 50 anos de sua ordenação episcopal. Em outubro, comemorou-se os 95 anos do arcebispo emérito em evento no Teatro da Universidade Católica (Tuca), na PUC-SP.

Ao lembrarem a enorme contribuição do franciscano em seus anos à frente da Arquidiocese, os convidados presentes ao Tuca usaram o espaço para criticar as medidas impopulares defendidas pelo governo de Michel Temer.

Com dificuldades de se expressar por conta da idade avançada, dom Paulo esforçou-se para homenagear Santo Dias, ativista sindical assassinado no fim da ditadura, e fez questão de usar o boné do MST entregue pelos militantes presentes ao Tuca.

Um de seus principais aliados no período como arcebispo da capital paulista, o bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino afirmou que a resistência de dom Paulo à ditadura é uma inspiração para o atual momento.

“Ele é descendente de alemão, mas o rosto dele é da periferia de São Paulo. Quando imagino dom Paulo, eu o imagino com o cheiro do povo, misturado com os bispos, padres, religiosos, leigos e leigas, anunciando a urgência de resistirmos contra toda a mentira. Naquele tempo, a luta era contra a ditadura civil-militar, mas a resistência a que ele nos convida deve ser permanente no Brasil atual também.”

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Comentários

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Cláudio

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: * * * * 04:13 * * * * .:. Ouvindo As Vozes do Bra♥♥S♥♥il e postando:
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DOM PAULO EVARISTO ARNS :

O profundamente humano Dom Paulo Evaristo Arns é um exemplo de vida voltada para o bem para tod@s, que dignificou todos os seus momentos de vida pública com os mais altos e melhores valores que uma existência verdadeiramente humana possa desejar para si e para tod@s. Um companheiro do bem que se vai. A humanidade só não fica menor porque confia-se que suas lições e exemplo alcancem os corações e as mentes de outros pelo mundo inteiro.
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: * * * * 04:13 * * * * .:. Ouvindo As Vozes do Bra♥♥S♥♥il e postando: A grande mídia (mérdia) é composta por sabujos sujos e sabujas sujas a serviço dos ianque$ e do $ionismo de capital especulativo internacional e outras máfias (como a ma$$onaria) dos e das canalhas direitistas…
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PARA A ENÉSIMA PUTifARIA ( patifaria + putaria ) DA DIREITA:
Foi com muito cálculo que se preparou mais essa para o PT (e/ou as esquerdas, o progressismo/trabalhismo). E, ao que parece, o partido não contava nem se preveniu para essa eventualidade. Aliás, é estranho o número de vezes que o PT é pego de calças curtas, desprevenido e perplexo. E, o que mais espanta, é que seus inimigos nem parecem ser tão espertos assim.
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AS MORDOMIAS DOS MARAJÁS EM PÉ DE GUERRA:
Os 17 mil juízes receberam em média 46,1 mil por mês em 2015;
Os 1,2 mil promotores e procuradores de Justiça recebem salário máximo teórico de 33,7 mil mensais;
Magistrados e promotores têm auxílio-moradia de 4,3 mil mensais. Se morarem juntamente com um cônjuge que também tem direito a auxílio, ambos recebem da mesma forma;
Todos têm 60 dias de férias por ano e, em caso de trabalho fora do local, uma diária equivalente a 1/30 da remuneração mensal;
Pena máxima em caso de punição disciplinar: aposentadoria compulsória com salario integral (i$$o é punição mesmo ou é premiação ?…)
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Poesia contra a distopia (Distopia = Ideia ou descrição de um país ou de uma sociedade imaginários em que tudo está organizado de uma forma opressiva, assustadora ou totalitária, por oposição à utopia. “Distopia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/distopia [consultado em 01-10-2016].)

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O fetiche da mercadoria
ou
dA coi$ificaçãØ do ser humano
……………………………………………………………para o poetamigo e Doutor em Comunicação Laerte Magalhães
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…………………………..ma$$ificaçãoma$$ificaçãoma$$ificaçãØ
…………………………………………………………………………………………………………(Cláudio Carvalho Fernandes)
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O poema acima (O fetiche da mercadoria…) apresenta-se, no original, em forma de cubo, o protótipo da mercadoria.
::
Desalienando a ma$$ificação coi$ificante
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É melhor
Ser um, mesmo que zero, à esquerda
Do que, títere-palhaço, a-penas (só) faz-ser nú-mero$-$$ à direita
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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Poema Z
…………………………………………….Para Dilma, Lula e o PT e todas as forças progressistas brasileiras (e mundiais). Sinta-se homenageado/a, também.
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Penso
Logo(S)
ReXisto
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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Sempre
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A vida
Entre duas pedras:
Sobre
Viver
Ou
Morrer
Sob…
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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Tão duro mas tão terno
.
É preciso
Não ter esperança alguma
Para se construir
Da necessidade (de viver, do viver)
Algo melhor
Do que não ter esperança alguma
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
::
Doce conformismo ?
Ou
Da “queda” da poesia para a história
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As coisas são como são
E não como deveriam ser
Penar por elas é em vão (ou não)
(S)E ultrapassa o próprio viver
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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ReXistência
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Não deixe que aluguem o seu pensamento:
Simplesmente mude de canal ou desligue a TV
Diga “NãO” à Rede Goebbels
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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(En la lucha de clases)
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En la lucha de clases
Todas las armas son buenas
Piedras
Noches
Poemas
…………………………………………….(Paulo Leminski)
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(Não é a beleza)
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Não é a beleza
Mas sim a humanidade
O objetivo da literatura
…………………………………………….(Salamah Mussa)
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A existência precede a essência.
…………………………………………….(Jean-Paul Sartre)
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Por uma verdadeira e justa Ley de Medios Já pra antonti (anteontem. Eu muito avisei…) !!!! Lula (sem vaselina) 2018 neles (que já tomaram DE QUATRO) !!!!
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Bacellar

Grande homem! RIP

Paulo Ribeiro

Em poucos dias, as forças progressistas perderam dois de seus maiores expoentes: Fidel Castro e dom Paulo Evaristo Arns. Para os coxinhas, cristianismo e comunismo podem ser consideradas correntes antagônicas, mas tanto Fidel como dom Paulo provaram ao mundo que a matriz revolucionária de ambos os movimentos são extremamente semelhantes e visam o bem comum da humanidade. Jesus Cristo expulsou os vendilhões do templo por meio do uso da força, assim como Fidel lutou contra o imperialismo ianque pensando unicamente no seu povo. Dom Paulo Evaristo Arns foi um homem dotado da mais extrema dignidade, aliado de primeira hora do Partido dos Trabalhadores, que marcou o seu nome na História brasileira por marchar sempre ao lado dos desvalidos. Assim como Fidel, dom Paulo tornou-se um dos maiores nomes do século 20 e será sempre reverenciado por todos que acreditam na verdadeira Revolução e na causa dos trabalhadores. Hasta Siempre, companheiro dom Paulo.

FrancoAtirador

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Foi Demais para o Bravo Homem que Lutou
Contra a Barbárie, a Crueldade e o Sadismo
do Regime Militar Totalitário de 1964-1985
– Documentados no Livro “Brasil Nunca Mais” –

simplesmente assistir, hoje já Idoso e Enfermo,
a se repetirem no País todas aquelas Atrocidades
Cometidas num Período que parecia Superado
sem que pudesse retrucá-lo com o Vigor da Luta.

Assim, Dom Paulo Evaristo Arns entregou a Morte
como Último Ato de Bravura em Defesa da Justiça,
para que a sua Vida Inspirasse seus Semelhantes.
.
Projeto Brasil Nunca Mais: Para Sempre

http://bnmdigital.mpf.mp.br
http://www.dhnet.org.br/memoria/nuncamais/
.
https://pbs.twimg.com/media/CzpjbTlXEAAEXoy.jpg

https://t.co/tmVabZEvlx
https://twitter.com/uneoficial/status/809068411049353217
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Antonio Passos

Infelizmente para cada dom Paulo, cada dom Hélder, cada Paulo Freire no Brasil, existem dezenas de Barrosos e Bolsonaros. Por isso ainda somos esta porcaria de país.

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