Por Ruben Bauer Naveira*
Essa história das bebidas adulteradas com metanol não cheira nada bem.
À primeira vista, pode até parecer esquema de falsificação de bebidas finas.
A quadrilha pega garrafas vazias, re-enche com a bebida batizada (e com corante para simular a original), lacra a garrafa com um selo falsificado (o que requer um mínimo de industrialização), molda um plástico em volta do gargalo (o que requer mais industrialização), e vende no mercado como se fosse a bebida original.
Para um esquema desses dar lucro, tem que ter escala. E tem que ser minimamente duradouro.
Para isso (ter escala, e perdurar), a bebida falsificada tem que manter um mínimo de similaridade de paladar e cheiro com a bebida original (o que requer mais sofisticação), senão a fraude é rapidamente descoberta.
E mais — como os vidros das garrafas e seus rótulos são altamente diferenciados (marketing), a fraude iria requerer um esquema logístico muito extenso de coleta de garrafas usadas (vazias). E isso iria deixar muito rastro para as investigações.
Ou então a quadrilha teria que ela mesma fabricar as garrafas e os rótulos (além dos selos). Muito investimento para um retorno pra lá de duvidoso.
Para fechar, o golpe não vai longe se as pessoas começarem a morrer depois de beber. Uma quadrilha tão sofisticada não saberia que o metanol é mortal?
Nada disso cheira a golpe. Cheira, isso sim, a terrorismo — e, aí, o buraco é MUITO mais embaixo.
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ATUALIZAÇÃO (02/out) — a atualização postada aqui no dia de ontem (01/out) foi removida, porque continha informações que não puderam ser confirmadas.
De todo modo, reitero a minha leitura quanto a que a adulteração teria por objetivo prejudicar a saúde e a vida dos consumidores, em vez do lucro.
Ruben Bauer Naveira é ativista, pacifista e autor do livro Uma Nova Utopia para o Brasil: Três guias para sairmos do caos.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Comentários
Zé Maria
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Donos de Redes de Bares Renomados de São Paulo
e empresários paulistas do setor de recreação e gastronomia criticam atitude do governador Tarcísio
de proibir a divulgação dos nomes dos estabelecimentos
investigados no trágico escândalo do metanol, nem permitir
que sejam revelados as marcas e os tipos de bebidas
envolvidas.
Numa entrevista à plataforma Paladar, do jornal O Estado
de S. Paulo, Cairê Aoas, proprietário de uma rede com
13 endereços renomados na capital paulista, entre eles
o Bar Brahma, Café Girondino e o Riviera, afirmou estar
apreensivo com seus negócios por conta dessa falta
de clareza do governo de São Paulo, que não torna
públicas essas informações essenciais, para que as
pessoas saibam de quais estabelecimentos, bebidas,
marcas, lotes e de quantos litros de envenenado se tratam.
Em todos os casos similares, quando há qualquer
produto que possa ser nocivo à população, seja por
problemas de fabricação ou por esquemas criminosos
de adulteração e falsificação, as autoridades imediatamente
informam quais são os estabelecimentos e os produtos
envolvidos, definindo lotes e determinando uma recolha
(recall) na mesma hora, investigando se há ainda outros
locais envolvidos. Só que não é o que Tarcísio tem feito.
Em entrevista coletiva, o governador simplesmente
se negou a dizer quais seriam essas bebidas alcoólicas
“batizadas”, assim como os nomes de bares e distribuidoras
que as comercializam.
A atitude gerou um pânico na população, que agora
suspeita de todos os comércios e prefere não consumir
mais esse tipo de drink, quando na verdade deveriam
ser orientados sobre os estabelecimentos sérios que
vendem produtos originais e de qualidade.
[ Reportagem: Henrique Rodrigues | Revista Fórum ]
https://revistaforum.com.br/brasil/2025/10/1/video-dono-de-bares-cobra-governo-de-so-paulo-no-caso-metanol-188895.html
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Miriam Lopes
Realmente, mortes indiscriminadas, aleatórias. É terrorismo. É um negócio muito elaborado, que tá na cara que não daria lucro a partir do momento que as mortes fossem identificadas . Agora as pessoas estão com medo de bebererem destilados.
Bernardo
Faz sentido, mas o fato de comerciantes negociarem com ambulantes mostra que a ganãncia está por trás desse crime. Talvez os terroristas sejam os comerciantes sem escrúpulo e com a goela larga. A falta de fiscalização também contribui e o governo de SP tem que se explicar..