Conheça as únicas charges de Charb publicadas no Brasil

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por Conceição Lemes

Há pouco a Boitempo Editoral publicou  Marx, manual de instruções, o último livro escrito por Daniel Bensaïd, morto no dia 12 de janeiro de 2010.

A obra é ilustrada com cerca de 60 charges de Charb [Stéphane Charbonnier], uma das 12 vítimas do atentado à redação do semanário francês Charlie Hebdo.

Os editores da Boitempo lamentam profundamente a tragédia e os desdobramentos:

Estamos chocados com o atentado ao jornal Charlie Hebdo, não só pela violência e pelas perdas inestimáveis de Wolinski, Charb e Cabu, entre outros, mas porque ele colocará lenha na fogueira da islamofobia, dará munição tanto ao fundamentalismo de direita como aos xenófobos europeus.

Provavelmente as charges no livro de Bensaïds sejam as únicas de Charb publicadas no Brasil.

Charb era um dos mais importantes cartunistas franceses, jornalista e editor-chefe do Charlie Hebdo desde maio de 2009. É o criador dos personagens Maurice e Patapon, um cachorro e um gato anticapitalistas, em quadrinhos homônimos, cuja compilação foi publicada em quatro tomos, de 2005 a 2009, pela editora Hoëbeke. É autor de vários livros, incluindo Le Petit Livre rouge de Sarko (2009), Sarko, le kit de survie (2010) e La salle des profs (2012), pela editora 12 bis.

Seguem a orelha do livro Max, manual de instruções, redigida por  Marcelo Ridenti, e mais algumas das 60 charges de Charb.

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Ler e reler Marx. Eis uma proposta que pode parecer dogmática, como se todos os problemas do presente e do futuro estivessem resolvidos nas sagradas escrituras de um antigo profeta visionário. Não é o caso deste livro de Daniel Bensaïd. Tampouco se trata de descobrir algum aspecto despercebido que daria uma nova chave de leitura à obra do revolucionário alemão, nem de enveredar em discussões sobre seu “verdadeiro” pensamento.

A proposta é fornecer “um manual de instruções possíveis” para interpretar a obra do Mouro, plena de controvérsias, enfatizando o caráter crítico radical de seu pensamento, avesso a ortodoxias e fanatismos, aberto à autocrítica e apto a acompanhar o movimento contraditório e cambiante da vida social, que envolve constante (auto)questionamento. E usar esse instrumental teórico para compreender e transformar o mundo no começo do século XXI, dominado como nunca pelo fetichismo da mercadoria e diante de uma grave crise do capital.

Recorrendo a referências literárias, numa prosa bem-humorada, Bensaïd lança o leitor no rodamoinho do pensamento de Marx. Expõe sua trajetória de vida e destaca trechos de sua obra para tratar de temas como a religião e os fetiches; classes e luta de classes; a atualidade do Manifesto Comunista; a revolução e sua temporalidade; a política, o Estado e o partido; a teoria do valor e a contribuição de O capital; as crises; a ecologia e o produtivismo; a ciência e o comunismo. Por fim, faz um balanço alentador da herança de Marx em pensadores do presente.

Há quem possa contestar o estilo metafórico adotado pelo autor – por sinal, inspirado no “barbudo” –, bem como aspectos da interpretação proposta. Mas são inegáveis sua verve criativa e seu conhecimento do tema. O leitor ganha um apanhado polêmico não só para pensar o clássico pensador alemão, mas também o legado de Bensaïd.

Marcelo Ridenti

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