Paulo Nogueira Batista Jr: Estilhaços (do coração) será lançado terça-feira em São Paulo
Tempo de leitura: 4 minEstilhaços (do coração)
Por Paulo Nogueira Batista Jr.*
Vou me meter em mais uma fria hoje. Resolvi escrever sobre meu novo livro, “Estilhaços”. Tenho uma desculpa: ele está saindo da gráfica e será lançado no dia 3 de dezembro em São Paulo.
Mas por que “fria”? É que escrever sobre a própria obra lança qualquer escritor, artista ou subliterato, gênio ou charlatão, em dificuldades verdadeiramente medonhas.
Se ele fala bem do que escreveu, será visto como pretensioso, cabotino. Se fala mal, para disfarçar, corre o risco de afugentar o leitor. E se adota um tom neutro, provoca tédio, inapelavelmente.
Assim, o autor não deve, em princípio, tentar ser o crítico de si próprio. A obra precisa falar por si mesma, prescindindo de explicações.
Uma forma de fugir dessas armadilhas é escrever uma espécie de pequena continuação do livro, isto é, não procurar propriamente apresentá-lo, destacar a sua estrutura e as suas ideais centrais etc., mas apenas escolher um ou dois temas do livro e discorrer um pouco sobre eles.
Isso talvez proporcione ao leitor uma ideia do que é o livro, do interesse que possa ter – e quem sabe? – suscitar curiosidade.
É o que vou tentar fazer aqui. Vejamos.
Um tema recorrente no livro, bem presente em todas as suas partes, tanto nos aforismos, como nas crônicas e nos contos, é a relação entre arte e realidade, entre memória e fabulação.
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Os não-artistas pensam às vezes que é da natureza do artista imaginar, inventar, fantasiar. Não me parece que seja bem assim. O artista finca raízes na sua vivência e na dos outros. Se não o faz, dificilmente será bem sucedido. Vive, sofre, observa a vida dos outros, sofre com eles, e a partir daí elabora.
Os artistas sabem disso instintivamente e vampirizam a vida. Atracam-se aos acontecimentos, grandes e pequenos, sociais e individuais, felizes e infelizes. Selecionam, adornam, transfiguram, é verdade – mas nunca perdem o contato com a realidade.
É o caso de Truffaut, por exemplo, cujos filmes, vários deles, aparecem recorrentemente nos “Estilhaços”.
Quem sabe um pouco de sua vida, da sua infância de isolamento e abandono, entende melhor vários dos seus personagens masculinos. Ele próprio costumava dizer que os seus filmes eram autobiográficos, biográficos ou uma combinação das duas coisas.
Sobre a história de amor trágica de “A Mulher do Lado”, Truffaut revelou que o roteiro se apoiava em parte na sua história infeliz de amor com Catherine Deneuve. Pelos diálogos, disse ele, deveria pagar direitos autorais a ela.
O que está por trás dessa relação da arte com a vivência?
Talvez a explicação esteja no fato de que a realidade tem uma imensa complexidade e riqueza, uma estrutura interna insondável que confere à vida uma força e um sabor que nenhuma criação ex nihilo alcança.
Na verdade, imaginar é próprio dos subliteratos. Quando a escrita ou qualquer forma de criação se dissocia do real, ela passa a flutuar sem rumo, não convence ninguém e, pior, cai frequentemente no ridículo.
Uma ressalva. Não estou aqui falando de plausibilidade. O implausível tem o seu lugar na arte. Até porque a vida nem sempre é plausível.
Quanto do que nos acontece não é inacreditável?
“Vertigo” de Hitchcock, uma obra prima, trata a plausibilidade aos pontapés. E, mesmo assim, fascina e retém o espectador. Induz, como a ópera wagneriana, à suspensão da descrença.
Os “Estilhaços” são eles mesmos uma pequena demonstração disso – sem que eu tivesse em momento algum planejado o livro dessa maneira. Ele foi se configurando aos poucos, insensivelmente, como uma mistura de reflexões, memórias e ficções. Mas não como compartimentos estanques; são sempre tênues as fronteiras entre esses três gêneros.
O que é memória? O que é ficção? Deixei a critério do leitor fazer a distinção – até porque tive às vezes vergonha, confesso, de assumir certos textos como lembranças.
Isso me traz a um outro tema do livro que gostaria de retomar um pouco hoje – o papel do sofrimento tanto na vida como na arte.
Na apresentação, escrevo que o livro é intensamente romântico. Em outras palavras, ele tem a sua origem no sofrimento. Sem querer subestimar a sensibilidade do leitor ou leitora, lembro que romantismo não é sinônimo e nem mesmo parente de sentimentalismo.
O romantismo não é um passeio no parque. Ao contrário, é uma forma problemática e até sinistra de sentir a vida e o mundo.
Se tivesse que definir romantismo em uma palavra, diria que ele é a exaltação do sofrimento. A exaltação artística, a transfiguração artística do sofrimento. No Ocidente, começa com Cristo na cruz.
E o romantismo, do século 19 em diante, é essa mesma valorização do sofrimento, mas já sem a consolação da religião e da crença em Deus.
Não sei se estou sendo claro. Dou um exemplo. Heinrich Heine, que figura com destaque nos “Estilhaços”, era um crítico feroz do romantismo do seu tempo. Mas não deixava de ser ele mesmo um romântico.
Dele se disse que “estilizava o sofrimento para poder suportá-lo”. Eis aí, nessa pequena frase, toda uma definição do que é o romantismo – ele é todo um esforço, das catedrais ao sonetos, para tornar o sofrimento humano suportável.
Para ser artista, portanto, é preciso, como disse Dostoiévski (outro autor que figura repetidamente no meu livro), “sofrer, sofrer, sofrer” – repetindo a palavra três vezes para dar a devida e dramática ênfase.
Para ser realmente um artista, deve-se ter vulnerabilidade ao sofrimento e, ao mesmo tempo, resiliência e criatividade para suportá-lo e transformá-lo em algo que traga alívio e consolo para todos.
Finalizo dizendo que esse é o meu livro mais pessoal, mais revelador de quem sou ou tentei ser. Dei o meu melhor.
Mas o meu melhor será suficiente? Fiz essa pergunta na apresentação ao livro e a repito aqui, na esperança, meio aflita, de que ele encontrará alguma acolhida, alguma identificação do leitor ou leitora com as vivências e os tormentos que procurei retratar.
PS: aproveito para convidar vocês para o lançamento do livro em São Paulo, que será dia 3 de dezembro, 19h, na Livraria Travessa do Shopping Iguatemi.
*Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor-executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Publicou pela editora LeYa o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém, segunda edição, 2021.
Leia também
Marcos de Oliveira: O complô dos rentistas contra a economia brasileira
Comentários
Zé Maria
https://chicobuarque.com.br/arquivos/Disco/bdc9b1bf-8330-4140-a8e1-0679a0feabc8_medium.jpg
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CADEIA (im)PRODUTIVA
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O MALANDRO
(Chico Buarque de Hollanda)
Por MPB4
O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé
O garçom/No prejuízo
Sem sorriso/Sem freguês
De passagem/Pela caixa
Dá uma baixa/No português
O galego/Acha estranho
Que o seu ganho/Tá um horror
Pega o lápis/Soma os canos
Passa os danos/Pro distribuidor
Mas o frete/Vê que ao todo
Há engodo/Nos papéis
E pra cima/Do alambique
Dá um trambique/De cem mil réis
O usineiro/Nessa luta
Grita(ponte que partiu)
Não é idiota/Trunca a nota
Lesa o Banco/Do Brasil
Nosso banco/Tá cotado
No mercado/Exterior
Então taxa/A cachaça
A um preço/Assustador
Mas os ianques/Com seus tanques
Têm bem mais/O que fazer
E proíbem/Os soldados
Aliados/De beber
A cachaça/Tá parada
Rejeitada/No barril
O alambique/Tem chilique
Contra o Banco/Do Brasil
O usineiro/Faz barulho
Com orgulho/De produtor
Mas a sua/Raiva cega
Descarrega/No carregador
Este chega/Pro galego
Nega arreglo/Cobra mais
A cachaça/Tá de graça
Mas o frete/Como é que faz?
O galego/Tá apertado
Pro seu lado/Não tá bom
Então deixa/Congelada
A mesada/Do garçom
O garçom vê/Um malandro
Sai gritando/Pega ladrão!
E o malandro/Autuado
É julgado e condenado
Culpado pela situação
https://www.youtube.com/watch?v=6lz0_v96DiE&list=PL4sGazkNfnu0fwe16kZHAq0qgrq0ge51W&index=1
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HINO DE DURAN
(Chico Buarque de Hollanda)
Por Chico Buarque & A Cor do Som
Se tu falas muitas palavras sutis
Se gostas de senhas sussurros ardís
A lei tem ouvidos pra te delatar
Nas pedras do teu próprio lar
Se trazes no bolso a contravenção
Muambas, baganas e nem um tostão
A lei te vigia, bandido infeliz
Com seus olhos de raios X
Se vives nas sombras freqüentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de dobermam
E se definitivamente a sociedade
só te tem desprezo e horror
E mesmo nas galeras és nocivo,
és um estorvo, és um tumor
A lei fecha o livro, te pregam na cruz
depois chamam os urubus
Se pensas que burlas as normas penais
Insuflas agitas e gritas demais
A lei logo vai te abraçar infrator
com seus braços de estivador
Se pensas que pensas estás redondamente enganado
E como já disse o Dr Eiras,
vem chegando aí, junto com o delegado
pra te levar…
https://www.youtube.com/watch?v=Ivk5t2DBs54&list=PL4sGazkNfnu0fwe16kZHAq0qgrq0ge51W&index=2
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O CASAMENTO DOS PEQUENOS BURGUESES
(Chico Buarque de Hollanda)
Por Chico Buarque & Alcione
Ele faz o noivo correto
E ela faz que quase desmaia
Vão viver sob o mesmo teto
Até que a casa caia
Até que a casa caia
Ele é o empregado discreto
Ela engoma o seu colarinho
Vão viver sob o mesmo teto
Até explodir o ninho
Até explodir o ninho
Ele faz o macho irrequieto
E ela faz crianças de monte
Vão viver sob o mesmo teto
Até secar a fonte
Até secar a fonte
Ele é o funcionário completo
E ela aprende a fazer suspiros
Vão viver sob o mesmo teto
Até trocarem tiros
Até trocarem tiros
Ele tem um caso secreto
Ela diz que não sai dos trilhos
Vão viver sob o mesmo teto
Até casarem os filhos
Até casarem os filhos
Ele fala de cianureto
E ela sonha com formicida
Vão viver sob o mesmo teto
Até que alguém decida
Até que alguém decida
Ele tem um velho projeto
Ela tem um monte de estrias
Vão viver sob o mesmo teto
Até o fim dos dias
Até o fim dos dias
Ele às vezes cede um afeto
Ela só se despe no escuro
Vão viver sob o mesmo teto
Até um breve futuro
Até um breve futuro
Ela esquenta a papa do neto
E ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo teto
Até que a morte os una
Até que a morte os una
https://www.youtube.com/watch?v=P0ZwsfxkDvk&list=PL4sGazkNfnu0fwe16kZHAq0qgrq0ge51W&index=7
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SE EU FOSSE O TEU PATRÃO[TUA PATROA]
(Chico Buarque de Hollanda)
Por Turma do Funil
Eu te adivinhava
E te cobiçava
E te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Ai, eu te tratava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não prestava mais não
Eu comprava outra morena
Se eu fosse o teu patrão
Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
…
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio te abrandava, moreno
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
…
Eu sempre te dava esperança
D’um futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Seu eu fosse o teu patrão
https://youtu.be/8L8Hw_MM6lU (TV Tupi 1979)
https://www.youtube.com/watch?v=4-yXZBjjMfc&list=PL4sGazkNfnu0fwe16kZHAq0qgrq0ge51W&index=13
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O MALANDRO (2)
(Chico Buarque de Hollanda)
Por João Nogueira
O malandro/Tá na greta
Na sargeta/Do país
E quem passa/Acha graça
Na desgraça/Do infeliz
O malandro/Tá de coma
Hematoma/No nariz
E rasgando/Sua banda
Um funda/Cicatriz
O seu rosto/Tem mais mosca
Que a birosca/Do Mané
O malandro/É um presunto
De pé junto/E com chulé
O coitado/Foi encontrado
Mais furado/Que Jesus
E do estranho/Abdômen
Desse homem/Jorra pus
O seu peito/Putrefeito
Tá com jeito/De pirão
O seu sangue/Forma lagos
E os seus bagos/Tão no chão
O cadáver/Do indigente
É evidente/Que morreu
E no entanto/Ele se move
Como prova/O Galileu
https://www.youtube.com/watch?v=CZs-j4ZRwZc&list=PL4sGazkNfnu0fwe16kZHAq0qgrq0ge51W&index=17
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HOMENAGEM AO MALANDRO
(Chico Buarque de Hollanda)
Por Moreira da Silva
Eu fui fazer um samba em homenagem
À nata da malandragem, que conheço de outros carnavais
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
Que aquela tal malandragem não existe mais.
Agora já não é normal,
O que dá de malandro Regular profissional,
Malandro com aparato de malandro oficial
Malandro candidato a malandro federal
Malandro com retrato na coluna social
Malandro com contrato, com gravata e capital,
Que nunca se dá mal
Mas o malandro para valer (não espalha)
Aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe, chacoalha, no trem da Central.
https://www.youtube.com/watch?v=4hNlT5hMWds&list=PL4sGazkNfnu0fwe16kZHAq0qgrq0ge51W&index=8
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ÓPERA
(Chico Buarque de Hollanda)
Por Cantores Líricos:
Alexandre Trick, Diva Pierante,
Glória Queiroz e Paulo Fortes.
[João alegre]
Telegrama
Do Alabama
Pro senhor
Max overseas
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
[Teresinha]
Chegou a confirmação
Da united coisa e tal
Que nos passa a concessão
Para o náilon tropical
[Max]
Então nós vamos montar
Em São Paulo um fabricão
[Teresinha]
Depois vamos exportar
Fio de náilon pro Japão
[Max]
Sei que o náilon tem valor
Mas comça a me enjoar
Tive ideia bem melhor
Nós vamos ramificar
[Teresinha]
Já ramifiquei, ha ha
Fiz acordo com a shell
Coca-cola, rca
E vai ser sopa no mel
Que beleza
Que riqueza
Tá chovendo
Da matriz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
[Max] que tal juntarmos
Esses capitais
Abrindo um banco
Em Minas Gerais
[Teresinha]
Que brilhante ideia, meu amor
Que plano original
Com fundos no exterior
Você fundar
Um banco nacional
[Capangas]
E eu que já fui
De max um pobre marginal
Sem documento
E sem moral
Hei de ser um bom profissional
Vou ser quase um doutor
Contínuo da senhora
E do senhor
Bancário ou contador
Que sucesso
O progresso
Corta o mal
Pela raiz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
[Chaves]
Irmão
Nem começar eu sei
Receio te inibir
[Max]
Tua vontade é lei
É falar
É mandar
É exigir
[Chaves]
É que
Num mundo tão cruel
Cheio de inveja e fel
Não lhe fará mal
Ter à mão
Proteção
Policial
Quer os meus préstimos?
[Max]
Eu acho ótimo
[Barrabás]
Serve um acólito?
(Auxiliar de chaves)
[Max]
Também vou te empregar
[Lúcia]
Eu não
Tenho com quem deixar
Meu filho que já vem
[Max]
Barrabás é um par
Exemplar
Quer casar
[Barrabás]
E adoro neném
Maravilha
Que família
Dois pombinhos
E um petiz
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
[Vitória]
Só tenho um único
Breve reparo
A tão preclaro
Genro viril
É o esquecimento
Do sacramento
Afinal
Se casou
Só no civil
Oh oh oh
Oh oh oh
Só no civil
Oh oh oh
Oh oh oh
Só no civil
[Max]
Mas nesse ínterim
Mudei de crença
Já peço a bênção
No santo altar
[Vitória]
Que maravilha
Não perco a filha
E um varão
Bonitão
Eu vou ganhar
Ah ah ah
Ah ah ah
Eu vou ganhar
Ah ah ah
Ah ah ah
Eu vou ganhar
[Duran]
Minha filha eu desejo pedir teu perdão
[Teresinha]
Oh, meu pai, isso é bom demais!
Finalmente! Até que enfim!
[Duran]
Não sei como fui pra você tão durão
Tão mandão, tão sem coração
Tão malvado assim
[Max]
Meu sogro, o senhor não sabe
Quanta alegria
Me dá, ao dizer que já se juntou
Aos nossos
[Duran]
Só Deus sabe há quanto tempo
Eu tanto queria
Poder apertar esses ossos
Que euforia
Quem diria
Como os grandes
São gentis
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
[Duran]
Não quero ser
Nas suas costas um fardo
Porém, talvez
Eu necessite um resguardo
[Max]
Tua instituição
Tão tradicional
Vai ter um padrão
Moderno
Cristão e ocidental
[Funcionárias]
Vamos participar
De duran dessa evolução
Vamos todas entrar
Na linha de produção
Vamos abandonar
O sexo artesanal
Vamos todas amar
Em escala industrial
[Todos]
O Sol nasceu
No mar de Copacabana
Pra quem viveu
Só de café e banana
Tem gilete, kibon
Lanchonete, neon
Petróleo
Cinemascope, sapólio
Ban-lon
Shampoo, tevê
Cigarros longos e finos
Blindex fumê
Já tem napalm e kolinos
Tem cassete e ray-ban
Camionete e sedan
Que sonho
Corcel, brasília, plutônio
Shazam
Que orgia
Que magia
Reina a paz
No meu país
Ai, meu Deus do céu
Me sinto tão feliz
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ÓPERA DO MALANDRO (LP Duplo 1979)
(Chico Buarque de Hollanda)
https://www.chicobuarque.com.br/obra/album/22
https://www.youtube.com/playlist?list=PL4sGazkNfnu0fwe16kZHAq0qgrq0ge51W
https://youtube.com/playlist?list=PLjKPgQUCZ3zRQ49xxaL5hyJNvkmWbEk5R
Espetáculos Teatrais:
https://youtu.be/lkH0nPiF7mE (2003)
https://youtu.be/HFukMYL-C1I (2016)
https://youtu.be/YyJ1bO4UyNQ (2020)
(Inspirada na “Ópera dos Mendigos”, de John Gay, e
na “Ópera dos Três Vinténs”, de Bertolt Brecht e Kurt Weill.
O Musical estreou na cidade do Rio de Janeiro, em julho de 1978
e foi recriado na cidade de São Paulo, em outubro de 1979,
ambos sob a Direção de Luiz Antônio Martinês Corrêa)
https://www.discogs.com/release/1628533-Chico-Buarque-%C3%93pera-Do-Malandro
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