O remake de “Amanhecer Violento” (agora com chineses)

Tempo de leitura: 3 min

“Amanhecer Violento” (1984) terá remake… Mas contra a China!

30/5/2010. The Observer, reproduzido em The Guardian, UK, em http://www.guardian.co.uk/world/2010/may/30/red-dawn-remake-china

Tradução de Caia Fittipaldi

O filme [ing. Red Down, 1984] foi peça clássica do cinema para adolescentes dos anos 80s, narrado sobre o pano de fundo da geopolítica paranoica da Guerra Fria. “Amanhecer Violento” trouxe Patrick Swayze e Charlie Sheen como adolescentes norte-americanos típicos, que lideram um movimento armado de resistência contra tropas soviéticas que invadiram os EUA (uma espécie de Hamás-que-a-filha-da-Hillary-curtiu).

Agora, para alimentar a febre de filmes reciclados de Hollywood, “Amanhecer Violento” está sendo refeito com outros jovens simpáticos. Mas com pelo menos uma diferença chave: dessa vez, os exércitos que invadem os EUA são chineses, não soviéticos.

O inimigo remade mostra as mudanças pelas quais passa o mundo desde a queda do muro de Berlin. Primeiro, já nem existe URSS, o que dificultaria os enredos de novelas de ‘resistência’ nos EUA. Segundo, a geopolítica paranoica da Guerra Fria já recomeçou e já atacou toda a política dos EUA, dessa vez ativada pelo crescimento da China.

Só isso explica a distribuição viral de cenas vazadas das primeiras tomadas do filme, mostrando pôsteres de propaganda pró-China – perfeitos para disparar todos os medos dos norte-americanos em tempos de crise econômica brutal. Dado que a culpa não pode ser ‘dos mocinhos’, eles próprios, nem dos banqueiros, agora a culpa será “dos chineses”, que se estariam ‘infiltrando’ no âmago das famílias, seduzindo, primeiro, os adolescentes.

Um dos cartazes de propaganda antichineses, vazados da produção do filme, mostra uma mão amarela (chinesa!) estendida para ajudar um norte-americano esfarrapado “Ajudando-o a reerguer-se”, diz o cartaz. “Reconstruindo seu nome limpo”, diz outro, que mostra uma estrela comunista chinesa impressa sobre o mapa dos EUA, rachado ao meio.

O filme, previsto para ser lançado ainda esse ano, tem orçamento de 75 milhões e, como o original, vem estrelado por várias jovens estrelas ascendentes, não por nomes já consagrados. Entre eles, Connor Cruise, filho de Tom Cruise e Nicole Kidman; Chris Hemsworth, de “Guerra nas Estrelas” e Isabel Lucas, estrela de “Transformers”.

O filme não interessa pelo talento dos atores, mas porque, como o primeiro, é competente ao manifestar os tormentos de uma nação que se sente ameaçada. Na versão de 1984, que teve roteiro de John Milius (autor do roteiro original de “Apocalypse Now”), foi estrondoso sucesso de público, nos EUA, desde a estréia. O hiperpatriotismo e as cenas em que adolescentes arriscam a vida contra a “ameaça vermelha” muito contribuíram para o criar ânimo cenográfico patriótico dos EUA de Ronald Reagan.

Não é filme sutil, mas o sucesso financeiro o habilitou a ser escolhido como o filme favorito dos conservadores de todos os tempos. A operação para caçar Saddam Hussein depois da invasão do Iraque em 2003 foi batizada “Operation Red Dawn”, em homenagem a esse filme.

O remake terá praticamente o mesmo roteiro, embora, onde antes havia o medo dos comunistas, entra hoje o medo do declínio financeiro. Os chineses, agora, invadem os EUA e usam, como pretexto, a mentira de que vêm para resolver os problemas da economia dos EUA. Adolescentes furiosamente patrióticos combatem contra o Exército de Libertação da China Popular e traidores colaboradores que lutam ao lado do invasor. (…)

Cenas que vazaram da produção do filme já chegaram ao jornal Asia Times Online, onde se lia, em manchete, “Paranoia norte-americana, de volta em “Despertar Violento”, o retorno” (8/1/2010, em http://www.atimes.com/atimes/China/LA08Ad01.html).  E dizia o escritor Ben Shobert, no artigo: “O filme e seus vilões dizem muito sobre as atuais inseguranças da sociedade norte-americana” (…)

Mas o mais forte símbolo do real declínio dos EUA e do real crescimento da China, paranoias à parte, não vem nem do roteiro, nem dos personagens, nem do ideário de propaganda que inspira o filme. Vem do fato de que grande parte do filme foi rodado nos semidestruídos (de fato!) bairros industriais da cidade de Detroit. As ruas desertas, as gigantescas fábricas abandonadas são o item realista – que entra como personagem não convidado – e fixa-se na tela, como cenário real das cenas de guerrilha urbana cinematográfica, mas nem por isso menos assustadoramente realista.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Giovani Montagner

após ver o último documentário do michael moore (capitalismo – uma história de amor), não só o desespero das pessoas perdendo suas casas, mas o cenário devastador que aparecem nos arredores dos antigos grandes centros industrias, a indústria hollywoodiano é cada vez mais cortina de fumaça, escorada em temáticas reacionárias patrióticas e ideologizadas (nada contra este questão, porém só aparece um dos lados da ideologia). é impossível não vermos nada dessa realidade nos cinemas. outro ponto é como um pequeno grupo de pessoas foram capazes de tomar atitudes que levaram a maioria da população. esse tipo de pessoa não merece ser ouvido, muito menos respeitada.
não sei onde vai parar os estados unidos, porém não duvido da ideia, dita por um senhor no referido documentário, que os que não tem nada irão se revoltar contra os que tem tudo.

voxetopinio

A paranóia é prima do desespero, eles só conhecem um caminho: a auto-destruição. Agora além da paranóia os americanos tem a marca na pele para queimar toda vez que eles tentarem escapar da situação que vem plantando na sua história (destino manifesto que o diga).

@aliadod

É sempre a velha história, quando não existe um inimigo interno para dar coesão a um projeto autoritário que desvie do que importa e do que ocorre de fato, inventa-se um. No Brasil pós 74, manteve-se o medo da guerrilha mesmo após o desmantelamento de todos os grupos de resistência ativa, na alemanha judeus, no Brasil de agora, bolivianos, e nos EUA primeiro latinos, depois chineses. É só manipular quem são os "eles"que nos causam mal, pois nunca será a classe dominante que nesse movimento passa a compor a união de um "nós" nacional. Às vezes funciona, mas pode abrir a caixa de pandora, por isso não se deve tentar evocar estas figuras, só criaturas muito sinistras se aproveitam disso em momentos de crise, como o Serra agora.

Tweets that mention O remake de “Amanhecer Violento” (agora com chineses) | Viomundo – O que você não vê na mídia — Topsy.com

[…] This post was mentioned on Twitter by Alessandra Carvalho, Lucas Santos. Lucas Santos said: O remake de “Amanhecer Violento” (agora com chineses) | Viomundo – O que você não vê na mídia: http://bit.ly/9WAMT7 via @addthis […]

dvorak

"O remake de “Amanhecer Violento” (agora com chineses)"

Nada mais natural, já que a China é, agora, o grande rival dos EUA.Será que queriam que Hollywood colocasse a Bolívia ou a Venezuela???

eheheheheheehehe

    Jorge Nunes

    Você é pago para escrever qualquer bobagem?

    É o obvio zé mané.

    André

    Já colocaram a Venezuela como cenário de guerra no sci-fi Avatar, sendo citado como uma das campanhas anteriores do Jake Scully. Sabe nada, dvorak.

mariazinha

Pessoas lunáticas e crueis querem mandar no Mundo. Não existe nada que os fará parar a não ser um boicote severo e universal contra eles.
Boicotemos seus filmes, suas bebidas, seus canais de TV, inclusive os brasileiros que bem sabemos quais são.
Eles só entenderão a linguagem do dinheiro, qdo. sentirem no bolso. Deixemos Miami, NY, para lá em nossos passeios. Mesmo pq alguém foi lá e trouxe-me um presente; adivinhem! Fabricado na China! Vamos cortar-lhes as asas pelo money e deixar suas bombas sem munição.

    francisco.latorre

    boicote. já.

    ..

dukrai

Um país dá um mergulho abissal na estupidez quando:
transforma o mega-ataque guerrilheiro num tapa na cara da nação e sai como um cowboy a procura de vingança;
reduz um país às suas reservas de petróleo e delas se apossa;
permite que aves de rapinas das finanças se apoderem da riqueza da nação;
não pune quem enlameia o seu mar e praias, tirando o sustento do seu povo,
Detroit, a metáfora "americana" esteja moribunda, mas nem assim se emociona com a tragédia porque o show precisa continuar;

    dukrai

    Detroit, a metáfora "americana" está moribunda, mas nem assim roliúdi se emociona com a tragédia porque o show precisa continuar …

Marcelo Fraga

Se Chávez aparecer nesse filme com uma estrela vermelha estampada na testa eu não me admiraria.
Panfletagem para dar e vender.

yacov

È a indústria bélica americana cooptando corações e mentes, através do medo instilado pela produção hollywoodiana… Acho que deveríamos enviar uma cópia do filme "LULA, o filho do BRASIL", para apaziguar estes nóias. A CHINA já invadiu a América e o mundo há muito. E não foi com o seu exército vermelho, mas com mercadorias bem baratinhas, bem ao gosto do consumidor empobrecido, marginalizado e excluído do mundo do consumo, no mundo capitalista ocidental. Os chineses ganharam dos americanos no seu próprio jogo. Acho que os "Americans" atingiram o fundo do poço, com esta sua política do "nós, os bons, contra eles, os maus", e "quem não está conosco está contra nós", que está totalmente ultrapassada e tem de ser revista.

"O BRASIL DE VERDADE não passa na glOBO – O que passa na glOBo é um braZil para os TOLOS"

fausto

Não vale mais a pena esperar nada de criativo vindo deste povo. Basta para isso atentar ao último, auto-proclamado, grande filme "Avatar". Da minha parte, mesmo não tendo assistido à esta "maravilha", prefiro os Smufs.

Denilson

Pô! Esse filme passou na sessão da tarde quando eu era molecão (uns 7 ou 8 anos)… Faltpu Falar que Cuba fazia parte da invasão! Agora devem colocar a Venezuela também rsrs

Vinicius

A dois anos atrás roteiristas de filmes estadunidenses entraram em greve, pelo que ví no artigo, não fazem falta nenhuma, o único roteiro que ví com pequenos lampejos de criatividade nesses últmos anos foi: "se beber não case", no restante só ví remakes e adaptações mal produzidas.
A crise não é só financeira, é também cultural, pois houve épocas que mesmo sob fortes censuras, tinhamos material de qualidade para discutir e argumentar, espero que venha algo de novo, para parar com esse ostracismo.

monge scéptico

Não é atoa que se é anti-americano. Da segunda guerra para cá, qual o país do terceiro mundo, quechegou ao nível do bem estar da população? nenhum a não ser uns poucos "tigres" asiáticos, que a custa da soberania e descaracterização cultural, tem um desenvolmento visível pomtualmente.
Se ao contrário do que fazem agora,a USA estivessem se defendendo dentro de suas fronteiras de inimigos reais, e não imagińários lhes dariamos razão. Porém sua agressividade paranóica, agride países que nem sabem porque estão lutando: sabem somente que estão se defendendo, aliás valentemente etc

Filipe Rodrigues

O cinema americano perdeu completamente a criatividade Azenha, Hollywood está precisando de um movimento como aquele dos anos 70 que revelou novos diretores para se reinventar novamente, esses filmes nem são chamados mais de enlatados, agora são os reciclados. O cinema brasileiro está perdendo uma oportunidade de contribuir positivamente para o mundo, tomara que o vale-cultura nos traga o orgulho de voltar a frequentar cinemas, chega de produzir filmes sobre a polícia e a favela, porque não um filme sobre a corrupção na política? Quanto ao tema do filme, pode até ser pertinente, a China invadiria os EUA, se militares mais radicais, menos ligados ao ocidente e mais identificados com os norte-coreanos tomassem o poder em Pequim, hoje os dois países estão mais interligados do que separados. O fato de ser ambientado em Detroit tem haver, por ser a cidade que mais sofre com a globalização, onde suas fábricas migraram para a China, se os EUA param de comprar produtos chineses a China entra numa profunda recessão por ser dependente do mercado externo, em compensação os chineses deixam de investir no dólar e a dívida pública americana dispara, colocando os EUA numa crise igual a européia. As mudanças e os desdobramentos políticos nos dois países seriam inevitáveis.

josilmar

tá aí um filme que não vai render nada…até " eles" estão cansados dessa cantilena.

Paulo A

Só em algumas capitais passam variedade de filmes nos cinemas. Em todas as cidades é só enlatado americanos pra todos os gostos.
Aqui em Floripa tem três redes de cinemas e todas passam os mesmo filmes, um horror.

Paulo

rafael

Bobagem e paranoia, de esquerda. É só mais um filme que vai desaparecer da mente do telespectador no primeiro pedaço de pizza.

Marat

Será que ainda tem bobo que paga para assistir as paranóias estadunidenses nos cinemas?

    Jairo_Beraldo

    Tem, e são muitos. Por que acha que a intolerancia ainda impera no país?

    Marat

    O correto seria taxar esses filmes, com impostos bem altos e limitar em 20 por ano, como faz a China, para não haver essa estúpida invasão cultural!

Leider_Lincoln

É antiamericanismo petista dizer que só por que a economia dos EUA caíram 300 bilhões desde 2008, enquanto a da China cresceu 1.500 bilhões; os EUA têm uma taxa de desemprego/subemprego de 20% enquanto a China crescerá no mínimo 9% ao ano; e o país tem uma dívida externa de muitos trilhões, enquanto a china tem também trilhões, mas para receber.
Afinal, excetuando-se a California, Ohio, Illinois, Michigam, Pensilvânia, Delaware, Nova Jersey, Flórida, Texas, Louisiana, Alabama, Mississípi e mais 38 estados (ah, e também Porto Rico, onde o seccionismo nunca esteve tão forte) os Estados Unidos vão muito bem, obrigado!
Quem são estes The Observer, The Guardian e Asian Times, lidos por uns poucos milhões,para contradizerem o Mais Preparado dos Brasileiros e o Trio Trollura?

    dukrai

    ô véi, cê tá chutando cachorro morto rs

Ramon

Podiam ter feito um filme com jovens promovendo uma resitência no Iraque ou em Gaza. Opa! esqueci que lá os rebeldes são chamados de terroristas.
Uma produção como esta será que ganharia um Oscar? Seria produzido com facilidade em termos de patrocínios?
Pena que o cinema deixou de ser arte para servir a certos propósitos, inclusive ao propósito de imbecilizar o público com a enxurrada de filmes sobre Super-Heróis e outras bobagens do gênero.
O cinema-entretenimento, não acredita que exista vida minimamente inteligente na Terra.
Roteiros que se repetem, direções medíocres, falta de conteúdo e excesso de efeitos especiais e perseguições com veículos.
O pior é que o cinema do mundo hoje se curva a este padrão, só posso lamentar e ter saudades do bom cinema, do papo após o filme sobre as temáticas levantadas pelos mesmos, sobre sutilizas, agora é tudo muito raso e vazio. É uma lástima, não compensa ir a um cinema para assistir a este tipo de produto.
Querem fazer propaganda ideológica e ainda querem que eu pague por isso? É até desrespeitoso.

    Jairo_Beraldo

    A inteligencia, é voce ser intolerante com seu próximo. Tenho observado, que as pessoas hoje, não estão preparadas para serem auxiliadas. Ou querem te tomar, ou querem usar da "esperteza" para conseguirem o que querem. De forma espontanea, não!

Cecéu

Esperemos para ver a reação americana interna a esse filme. Transformar a insatisfação interna em patriotismo guerreiro, a esta altura, talvez já não surta o efeito desejado.

Dilson

E eu achando que o remake de "Karate Kid" na China já era absurdo demais…

Deixe seu comentário

Leia também