Morvan Bliasby: Homenagem a Dennis Ritchie

Tempo de leitura: 4 min

por Morvan Bliasby

O mundo perdeu, neste oito de outubro de 2011, uma de suas mentes mais brilhantes, um dos homens que haverão de ser colocados no panteão dos grandes benfeitores da humanidade, com a envergadura de um Thomas Alva Edson; de um Alan Turing; de um John Eckert; de um Von Neumann; de um Charles Babbage e de uma Ada [Augusta] Lovelace, sua esposa, filha do grande poeta humanista Lord Byron; de uma Grace Murray Hooper; de uns Pierre / Marie Curie, só para citar um grupo de pessoas cujo objetivo era a busca, a pesquisa, e, altruistamente, o bem da raça humana.

Morreu sem qualquer alarde, até porque, malgrado as realizações deste grande homem, como veremos a seguir, como é bastante comum, Ritchie era reservado, como a maioria dos pesquisadores de qualquer área costuma sê-lo.

Desaparecido na mesma semana do passamento de Steve Jobs, pouca ou quase nenhuma atenção foi dada à morte de Dennis Ritchie. Morreu em sua casa, calma e silenciosamente. Um paralelo que fatalmente pode ser traçado quando da morte de Ayrton Senna, em 1994, quando, ainda na na sessão de treinos, em Ímola, morre Roland Ratzenberger, fato pouco noticiado pela mídia. Ali morreram duas pessoas humanas, mas só uma recebeu as condolências (justas, por sinal): Senna, pois era famoso. Quem era Roland Ratzenberger? Um estreante. Mas era um ser humano…

Biografia de Dennis Ritchie

Dennis MacAlistair Ritchie nasceu em Bronxville, Nova Iorque. Formou-se em física e matemática aplicada pela Universidade de Harvard.

Em 1967 começou a trabalhar no Centro de Investigação de Ciências Computacionais dos laboratórios Bell. Foi chefe do Departamento de Investigação de Software de Sistemas da Lucent Technologies. Ritchie fez um notabilíssimo trabalho em linguagens de programação como ALTRAN, B, BCPL e C, e em Sistemas Operacionais como o Multics (precursor da família Unix) e o UNIX.

Contribuições

Para o ex-funcionário da Microsoft, programador e professor de Direito em Nova York James Grimmelmann, “as contribuições de Ritchie são tão grandes quanto as de [Steve] Jobs, apenas menos visíveis”.

Necessário que se faça um pequeno reparo, o que por cabo, acabará por não corroborar a opinião de Jame Grimmelmann: Steve Jobs, malgrado a sua inteligência e o seu gênio criativo, não fazia dispositivos ou concebia ideias com índole altruísta, muito ao contrário, todas as suas ideias tinham fito comercial claro. Não se discuta a genialidade de Jobs, porém é importante relevar o fito de auferir lucro, ante o trabalho de Ritchie, totalmente voltado para melhorias no campo da ciência  da computação.

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Ritchie criou a linguagem de programação C para permitir que programadores pudessem criar softwares capazes de funcionar em mais de um tipo de computador ou plataforma, de modo transparente. Até 1970, muitos programas de computador eram criados em linguagens consideradas de “baixo nível” *1, que eram completamente dependentes do computador (em última instância, da arquitetura) em que seriam usadas.

Além da carência de um Sistema Operacional universal, multiplataforma, tínhamos a barreira das linguagens de baixo nível, o que obrigava o usuário do micro a ser um técnico com bastante conhecimento. O usuário de computador que se senta em sua máquina e produz, de modo transparente o seu trabalho, era uma quimera para a época. Na verdade, a computação era realizada por técnicos com conhecimentos profundos de hardware e de software.

A linguagem C seria, assim, uma linguagem de alto nível, a qual desobrigaria o técnico da tediosa tarefa de escrever tediosos sequencia de códigos, podendo criar seus algoritmos em um formato mais próximo da linguagem humana.

No caso de um Sistema Operacional, o Unix cumpria bem este papel, ao lado do CP/M, ou seja, ambos permitiam ao programador abstrair a maquina e, por conseguinte, a arquitetura destino do software.

O Unix é o precursor de vários sistemas operacionais modernos, inclusive o Linux, seu “filho” mais ilustre, o qual já permite um “fork” para dispositivos móveis, o Android, e o BSD, que por sua vez é base para o Mac OS X, usado pela Apple.

A sintaxe de nível médio da linguagem C tem sido o ponto de partida outras linguagens, como o Pascal, o Perl, o Ruby e o Python. O livro original sobre a linguagem C, “The C Programming Language”, escrito por Ritchie e seu colega Brian Kernighan, é considerado uma “bíblia” para desenvolvedores de programas de computador. Devido ao nome de seus autores, a publicação é frequentemente chamada de “K&R” e tem sido, via de regra, um “best Seller”.

Originalmente desenvolvida em 1973, a linguagem C perdura como uma das mais utilizadas algures, malgrado outras linguagens tenham aparecido com o claro propósito de lhe sobrepujar. O C e seus vários dialetos se complementam, diferentemente do que pensa a maioria das pessoas.

Ritchie, um dos criadores do sistema operacional Unix e da linguagem de programação C, recebendo pelas suas contribuições o prêmio Turing em 1983, a medalha nacional de tecnologia dos Estados Unidos em 1999 e o Prêmio Japão para Informação e Comunicação em 2011, por seu legado em pesquisa sobre linguagem computacional.

*1 – Baixo nível se diz da linguagem próxima ao código binário do computador. Quanto mais próxima da linguagem humana, mais considerada como linguagem de alto nível. Como exemplo de linguagem de alto nível hoje, citaríamos o Python;

*2 – Como técnico e pesquisador, não fico triste em ver a pouca cobertura da mídia ao passamento do grande pesquisador. Wolfgang Amadeus Mozart, um dos maiores gênios da música universal, foi enterrado em cova fria. Passaram-se séculos para a humanidade reconhecer que aquele homem enterrado como indigente era o gênio musical que começara a escrever com 4 (quatro) anos de idade e que em suas partituras não havia rabiscos. Todas as suas músicas eram concebidas em arte final, sem qualquer rasura.

Elos de consulta / aprofundamento:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dennis_Ritchie (página da WikiPedia, em PTG-Br, sobre Dennis Ritchie)

http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2011/10/13/13-dritchie-300.jpg (elo da imagem de Ritchie recebendo o prêmio, no Japão, por sua contribuição no desenvolvimento do Sistema Operacional Unix).

Morvan Bliasby é pedagogo, especializado em orientação educacional e em recursos humanos e psicologia organizacional e ganha a vida como servidor público. Recebeu, em 2008, do Governo do Estado do Ceará, a Comenda “Mérito Funcional”, por ministrar aulas, gratuitamente, sobre Software Livre para todos os colaboradores do Estado.

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