Marcos Coimbra: O problema dos ex

Tempo de leitura: 3 min

O problema dos ex

08/07/2010 17:35:07
Marcos Coimbra

Na Carta Capital

Poderíamos aprender com os americanos a lidar com os que ocuparam a Presidência da República. Lá eles não incomodam

Um dos problemas brasileiros (certamente não o maior) são nossos ex-presidentes. Vira e mexe, um deles causa algum embaraço. Fala o que não deve, se comporta de maneira inconveniente, dá maus exemplos.
Poderíamos aprender com os americanos a lidar com eles. Lá, faz tempo que não incomodam. Os contribuintes pagam para que não sejam forçados a lutar pela sobrevivência, lhes dão um gordo estipêndio e provêm a todos de amplas condições para que se dediquem a fazer nada.

Ficam à frente de suas fundações, disponíveis para missões humanitárias, participações esporádicas no debate público e, se tiverem aptidão, enriquecer no circuito internacional de palestras e consultorias. Os que terminam bem seus mandatos, como Bill Clinton, continuam a merecer o carinho de todos. Os que não, somem (como o último Bush).

Por aqui, quanta diferença! José Sarney zelava pela liturgia do cargo até no corte de seus jaquetões. Se tivesse o mesmo cuidado com verbas públicas e nomeações depois que saiu do Planalto, ninguém reclamaria dele. Fernando Collor era tão jovem e ficou tão pouco tempo no cargo que era natural que quisesse disputar outras eleições. O que não precisava é que fossem tantas, desde projetos bizarros como a prefeitura de São Paulo, ao de agora, de mais uma tentativa de voltar ao governo de Alagoas. Nessa vontade de permanecer a todo custo na vida política, Itamar Franco se parece com ele. Já foi governador de Minas Gerais e, neste ano, pretende ser senador outra vez, mesmo sabendo que o tempo passa para todos.

Ainda bem que os presidentes-ditadores tiveram a boa educação de morrer. Dá para imaginar o que seria se tivessem a longevidade de um Oscar Niemeyer? Contando todos, inclusive os três da Junta Militar, até seis poderiam estar vivos, dois (Geisel e Figueiredo) provavelmente. Quantas conspirações e articulações não estariam fazendo!

E Fernando Henrique? O mais recente e mais ilustre?

Faz tempo, mas FHC já foi considerado o mais importante cientista social do País. Todos gostavam dele, alguns com a exuberância de Glauber Rocha, que o chamava de “príncipe da sociologia brasileira”. E não era só no Brasil que tinha renome. Era respeitado internacionalmente, autor de livros que marcaram mais de uma geração.

De quem esperar uma atuação notável como ex-presidente senão daquele que mais se distinguira antes de assumir o cargo? Com sua biografia, era natural esperar que estabelecesse o padrão para seus sucessores. Depois dele, todos saberiam o que era ser um ex-presidente da República.

Semana passada, Fernando Henrique publicou mais um artigo, como tem feito com frequência nos últimos meses. É sua maneira de intervir no debate sucessório, pois a campanha Serra vê com preocupação qualquer movimento seu de maior aproximação. Ela já tem problemas de sobra com a administração da imagem negativa do ex-presidente e não quer que o candidato seja ainda mais identificado com ele.

No texto, intitulado “Eleição sem maquiagem”, FHC rea-liza uma proeza de malabarismo intelectual: consegue ser, ao mesmo tempo, um sociólogo que abdicou da sociologia e um ex-presidente que não governou.

Chega a ser fascinante ver como descreve os graves riscos que confrontam hoje o Brasil, aos quais o governo Lula estaria respondendo com uma atitude de otimismo irresponsável: “Tudo grandioso. Fala-se mais do que se faz”. Para ele, “a encenação para a eleição de outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que ela diga, especialmente o que o mercado e os parceiros internacionais querem ouvir”.

O comentário é misógino, pois ele nunca se referiria a questões de aparência se o PT tivesse um homem como candidato (por mais vaidoso e preocupado com a aparência que fosse) e não uma mulher. Seu tom choca quem conheceu o Fernando Henrique soció-logo, sempre progressista.

Mas o mais extraordinário é ver como apagou da memória o que foi seu governo e as duas eleições presidenciais que ganhou. Será que esqueceu de como aconteceu sua primeira vitória, uma avalanche provocada pelo Real- lançado 90 dias antes, naquela que foi a eleição onde fatores não políticos mais interferiram no resultado? Será que não lembra como foi a reeleição, escorada em um câmbio artificialmente mantido pelos “parceiros internacionais”, que estourou três meses depois da apuração dos votos?

É ótimo que proponha eleições sem maquiagem. Mas é impossível levá-lo a sério, enquanto não estiver disposto a enfrentar suas verdades. Como ele mesmo diz: assumir a responsabilidade pelo que fez e deixou de fazer, mais do que falar.


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Comentários

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ferrera13

Se ontem FHC nos pediu para rasgar tudo o que já escreveu, como acreditar no que ele escreve agora? Coimbra disse bem: FHC é "um sociólogo que abdicou da sociologia e um ex-presidente que não governou". O que escreve agora denota a mágoa que sente de ver um operário nordestino alcançar aquilo que ele, com toda sua retórica, não conseguiu.

Carlos

"a campanha Serra vê com preocupação qualquer movimento seu de maior aproximação. Ela já tem problemas de sobra com a administração da imagem negativa do ex-presidente e não quer que o candidato seja ainda mais identificado com ele."

Serra não tem como desvencilhar-se de FHC, pois foi ministro durante 62 meses dos 96 meses em que a "equipe FHC" controlou o País:

– 15 meses no ministério do Planejamento (01.01.1995 a 31.04.1996);
– 47 meses no ministério da Saúde.

Armando do Prado

Hoje, apena o ex-professor Cardoso, que segundo as má (boas?) línguas não teria escrito nem sua tese de doutoramento. Pena que Ruth não possa confirmar.

desinformacaonao

No mundo de faz de conta deles, em que crescer 9% num trimestre é sinal de tragédia, acho que até hoje, FHC e Serra, acham que em 2002 quem foi eleito foi o Serra, reeleito em 2006, e que será eleito para terceiro mandato agora. Eles ainda não sabem que no Brasil o Lula foi eleito e reeleito, que o país cresce a níveis nunca vistos na história deste país, e que uma mulher será eleita em primeiro turno para presidência.

É como diz o PHA. As idéias deles envelheceram. Eles ficaram presos em 2002 e estão esperando até hoje o tiro de partida. Se as atitudes fossem outras, teria pena deles.

Melchíades A. Prado

Que vergonha, meu Deus. Nós aqui comentando as cag…..,bobagens e asneiras que o FHC fez e anda fazendo. Eu inclusive, perdendo tempo com este homúnculo desprezível e contagioso. Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

monge scéptico

Infelismente será um mal que a DILMA eventualmente terá que enfrentar. O processo político

(???????????????????????????)

Luiz Rogerio

Gostei do "soció-logo", mas não seria "Sócio-logo"…

    Jairo_Beraldo

    Coimbra é homem sério, caro Luiz….sócio é usado na privataria dos DEMo/tucanos….

monge scéptico

Dá um enorme cansaço ficar ouvindo falar de fhc. Triste BRASIL de povo tão empurrado para um
lado e outro, que já não tem identidade, desmemoriados, o assunto mais importante a discutir em
família são as pôrnonovelas,, como se importante fosse.O fhc é um privatista entreguista.
O que esse infeliz e boquirroto sr. escreve não tem sentido algum. Invejoso, pendurado no pescoço
do serra, com opeso de um BIGORNA, ambos afundarão no ostracismo. CALE A BOCA FHC!!!!

Nascimento

Como relembrar é viver…

É só ler o livro "Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura", da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).

"Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante" (pág. 123).

Este é o "Farol de Alexandria", e mentor do "Almirante Inoxidavel do Tietê" (Zé Alagão).

O Brasileiro

Várias razões para isto:
1) Nos EUA, os partidos têm força e identidade própria. Não dependem só de um ou de outro político afiliado.
2) Há interesses de grupos de mídia na exploração dos ex-presidentes. Ou, no caso de Sarney e Collor, que controlam grupos de mídia, atendem a interesses próprios.
3) A fragilidade dos partidos, que às vezes são extintos, e para os quais políticos populares, como Itamar, ou empresários da mídia, como Sarney e Collor, conseguem arregimentar apoio político e votos.

    beattrice

    A identidade dos partidos democrata e republicano oscila entre a direita e a extrema-direita.

Carlos Cruz

Inveja e incompetencia são os ingredientes do ex-presidente demo-serrista-tucano FHC. Inveja por notar o sucesso do governo de um ex-metalurgico "Iletrado", retirante do nordeste, Lula convive e se orgulha de sua terra natal, de suas lutas no sindicato, dos problemas que resolveu. Já a dupla FHC-Serra incompetencia de (des)governo foi a tonica… Desespero, instabilidade política, e monetária, escandalos, desemprego, moratorias, as 7 pragas do Egito, foram a tonica de seu (des)governo. O primeiro governo é por conta do Real, de Itamar Franco, destruido com o congelamento e o cambio desvalorizado. Moratória. Pires na mão! O segundo pelo escandalo da reeleição, congelamento de salários e do cambio flutuante, imposto tres meses após sua eleição. Hoje rejeitado por seus pares como contagioso, seu ostracismo mostra que, como no Brasil, "em se plantando tuda dá", inclusive rejeição e desprezo nacional.

    Jairo_Beraldo

    Mas tem muitos que ainda se levantam a favor deste ilustre ocupante da caverna do ostracismo.

LuizCarlosDias

Nos anos perdidos do FHC, certa vez indaguei a um ex presidente do IPEA sobre as falas do FHC, que convence mesmo agente sabendo que não era verdade, Esse professor respondeu: isso é mal de professores.Pois é, desde então acho FHC boca mole fala muito.Viva LULA, agora é DILMA

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