Marcos Coimbra: A praça deserta

Tempo de leitura: 2 min

por Marcos Coimbra, no Correio Braziliense, via Clipping do Planejamento

Completamos hoje os primeiros 10 dias do julgamento do mensalão. Confirma-se, até agora, o que se imaginava a respeito.

Nada mais simbólico do que está acontecendo que as fotografias da Praça dos Três Poderes. Nelas, veem-se as grades colocadas para conter os manifestantes. Mas a praça está deserta.

Ninguém que conhecesse um mínimo da opinião pública brasileira acreditaria que ela se interessasse pelo julgamento. Pelo que se constata, não se interessou mesmo.

Não havia razão para supor que se tornasse, para as pessoas, um assunto significativo na mídia. Não se tornou.

Onde isso fica mais visível é na internet.

Ao contrário dos jornais e revistas, que apenas oferecem a informação que seus responsáveis consideram relevante, os sites e blogs da internet fornecem um retorno instantâneo daquilo que interessa aos leitores. Percebe-se rapidamente o que os motiva e o que os deixa indiferentes.

Nos principais portais de informação, em nenhum dos últimos dias as notícias sobre o julgamento estiveram entre as mais acessadas. Pelo contrário.

Em função desse desinteresse, seus editores deslocaram a cobertura para lugares cada vez menores e menos proeminentes. Passou a disputar espaço com fofocas, receitas de bolo e a previsão do tempo.

É possível que, em alguns círculos, seja comum ver gente conversando acaloradamente sobre o andamento do processo. Não se pode excluir que existam espectadores que não desgrudam os olhos da TV Justiça e dos canais pagos que permanecem em vigília.

Mas nada sugere que sejam muitos. A temperatura da opinião pública anda baixa.

Por que deveria ser diferente? Havia alguma razão para crer que o julgamento desses 38 acusados fosse acender os sentimentos populares?

Por mais que as oposições — especialmente os veículos da indústria de comunicação alinhados com elas — tenham tentado devolver relevância ao assunto, não tiveram sucesso. Pelo menos, por enquanto.

A convocação para que o povo enchesse as ruas foi recebida com indiferença. A um protesto no Rio de Janeiro, compareceram 15 pessoas. Nenhum outro foi marcado.

Apesar das manchetes quase diárias nos jornais, do tempo na televisão, das capas de revista, a população acompanha o julgamento com a atenção que costuma dedicar a questões que considera secundárias.

Para ela, há coisas mais interessantes acontecendo — algumas boas, outras más.

A aprovação das cotas sociais e raciais nas universidades federais mexe mais com a vida do cidadão comum que a acusação contra fulano ou a defesa de sicrano. As paralisações de servidores públicos afetam objetivamente milhões de pessoas, mais que especular sobre o que pensa aquele ou aquele outro ministro.

Só havia um modo da aposta que fizeram dar certo: se conseguissem trazer Lula e o PT para o banco dos réus.

Foi o que tentaram (aliás, vêm tentando desde 2005). Mas não deu certo.

Achar que o conseguiriam é, ao mesmo tempo, ignorância e presunção. De não saber o que são o ex-presidente e seu partido aos olhos da maioria da população e imaginar-se capazes de influenciar o país.

 Leia também:

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Um guia para quem quiser se aprofundar na Ação Penal 470


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Comentários

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gabriel

queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee leeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeegalllllllllllllllllllllllllllllllll kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrrsrs

João

podemos ver a “praça vazia” tb como um fracasso da tática de José Dirceu e do PT q tentaram uma “mobilização popular” para defende-los…

viu?

tudo é uma questão de ponto de vista!

Maierovitch: Bastam quatro votos divergentes para um réu pedir novo julgamento « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Marcos Coimbra: A praça deserta […]

RicardãoCarioca

O PiG ainda opera como se a Internet fosse uma fonte de consulta, sem interações, sem troca de ideias.

Estimulam redes sociais, talvez tenha acreditado que as controlariam, mas na verdade criaram um ‘monstro’: que pensa, que se informa, onde as mentiras do PiG são desmascaradas.

No Brasil, governar, um dia, foi fazer estradas. Hoje, é dar emprego e promover a renda. Isso o PiG e os partidos da oposição, até mesmo por causa do seu preconceito e entreguismo, não conseguem entender.

Ótimo.

José Balbino Almeida

Marcos Coimba é um dos homens mais honestos, éticos, confiáveis e corretos do Brasil.

Se existe um homem honesto é confiável neste país, ele se chama Marcos Coimbra.

    João

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    vc foi irônico, né?

    muito boa essa!

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

edu marcondes

Minha experiencia pessoal confirma essa total alienação sobre o assunto. Há semanas venho reparando nas salas de professores onde dou aulas que não se toca no assunto. Ninguem comenta ou pergunta. Mesmo diante dos jornais espalhados sobre as mesas, com manchetes explícitas, fala-se de tudo menos do julgamento. A mesma situação ocorre em sala de aula. Os alunos, normalmente curiosos, não questionam ou pedem informações. É como se o julgamento não existisse.

Fabio Passos

O PIG é cada vez mais irrelevante.

Até a militância do PIG já desistiu desta reedição do golpe de 2005. rsrs

Almir

Dua palavras: QUEBRARAM A CARA.

Mais duas: DE NOVO

Julio Silveira

Esses grandes grupos midiaticos precisam entender que já não convencem como antigamente. Hoje existe contraponto e fica cada vez mais claro que não existem ideais nem idealistas nesta história mercadologica escatologica.

Gerson Carneiro

Eu não quero nem saber quem morreu; eu só quero é chorar.

Eu não quero nem saber quem perdeu o soutien; eu só quero é mamar.

Filosofia do Mensalão.

Marcio Destro

Fecha a conta e passa a régua.

Sds

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