Nassif: Lemann produz o maior rombo da história; Americanas escondeu passivos equivalentes à metade do seu patrimônio

Tempo de leitura: 3 min
Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles são donos da gestora que detém 30% das ações da Americanas.

Lemann produz o maior rombo da história, por Luis Nassif

As Lojas Americanas esconderam passivos equivalentes à metade do seu patrimônio. É o maior escândalo do mercado de capitais brasileiro

Por Luis Nassif, no GGN

Jorge Paulo Lemann primou sempre pelas práticas mais nocivas do capitalismo financeiro. Ele não é um semeador de empresas, não é o investidor que desbrava novos mercados.

Na primeira metade dos anos 90, escrevi uma coluna na Folha mostrando como o mercado de capitais poderia ser um grande fator de reciclagem da economia.

Estava-se em um processo profundo de mudanças, com setores que desapareciam e outros que nasciam. Obviamente, é tarefa impossível a reciclagem ampla dos setores velhos para setores novos.

Aí entra o capital financeiro ajudando a financiar a nova geração de empreendedores ou a reciclagem dos empresários tradicionais.

Na época, ele estava investindo na Companhia de Cervejas Brahma. Recebi um telefonema de Paulo Guedes, que me disse que Lemann tinha lhe telefonado, comentando o artigo. Pela primeira vez, sentia-se participando de algum projeto de construção.

Guedes aproveitou para contar que tinha dito a Lemann para deixar de lado cervejas, porque a rentabilidade da renda fixa era imbatível.

Nem sei se a conversa existiu ou não. Só sei que, logo depois, Lemann adquiriu a Antárctica, em uma das operações mais escandalosas do CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico).

Havia um protocolo do CADE analisando a distribuição dos revendedores pelo país, como um dos indicadores de concentração. O então presidente do CADE, Gesner de Oliveira, deixou de lado o sistema e recorreu a um Guia 4 Rodas para aprovar a operação.

Pouco depois foi constituída a Ambev, a rede de distribuidores da Antárctica foi esmagada e Lemann contratou como diretor Milton Seligman, um dos assessores de confiança de Fernando Henrique Cardoso que, a partir daí, tornou-se lobista da empresa.

Pouco depois, o Banco Garantia, de Lemann, caiu em uma armadilha do destino. O Banco Central iria adquirir títulos da dívida externa brasileira – o que elevaria o preço do papel no mercado internacional.

O Garantia foi informado antecipadamente (o pai de Gustavo Franco, do Banco Central, tinha participação no banco) se empanturrou de títulos, mas explodiu uma crise na Rússia, não prevista, que derrubou todos os títulos da dívida externa.

O Garantia quase quebrou, Lemann passou para frente e concentrou-se na Ambev e em outras empresas, usando as fórmulas mais deletérias do capitalismo.

Das empresas, queria apenas dividendos elevados. Escolheu setores tradicionais para não ter que investir em pesquisa, inovação e crescimento.

Sua estratégia consistia em atuar em mercados cartelizados, valer-se do poder do cartel, cortar custos, não investir em inovação. Só interessava dividendos generosos.

Como no caso na privatização da Telemar, em que seu grupo, mais outros três, adquiriram a Telemar e a depenaram.

Seu estilo começou a ser questionado quando adquiriu uma rede de alimentos e, por falta de pesquisas, não percebeu as mudanças trazidas pelo onda da comida natural.

No Brasil, sua atuação sempre foi deletéria. A forma como se apropriou da Eletrobrás é indecente, fruto de lobby direto na veia do poder público.

Entrou como minoritário, no golpe do impeachment passou a ter poder de indicação dos gestores. Estes reduziram investimentos – que eram relevantes para o país – para garantir dividendos polpudos.

A 3G, controlada por ele, produziu uma avaliação do preço da Eletrobrás indecente, tomando como base o valor contábil da empresa.

O golpe da privatização ocorreu com a empresa emitindo ações, que diluíram a participação estatal, e impuseram um acordo de acionistas pelo qual a União só tem direito a 10% dos votos, independentemente de sua participação acionária. Depois, com o dinheiro em caixa, proveniente do aumento de capital, a Eletrobrás recomprou suas ações.

A mídia comprou totalmente a tese de que a gestão privada seria mais eficiente.

Agora se tem o maior escândalo financeiro do mercado de capitais brasileiro, com a descoberta de que as Lojas Americanas esconderam passivos equivalentes a metade do seu patrimônio.

Não se trata de um rombo recente, mas construído ano a ano há mais de década. E por que isso?

Porque o 3G só se interessava em conferir o balanço trimestral e pressionar a diretoria para melhorar os dividendos.

São eles que passam a controlar a Eletrobrás, e certamente irão impor o poder de cartel da geração de energia, na primeira crise hídrica.

Ontem, o mercado fechou com a AMER3, o papel das Lojas Americanas, quase virando pó: R$ 2,72, 97% a menos do que o pico de R$ 75,19 de 4 de janeiro de 2021.

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Comentários

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Artur

Este pessoal da estrela de davi é perverso, egoísta, desumano e desonesto ao extremo. Dizem que eles e os turcos vendem suas mães, porém eles não entregam.

João de Barros e Flores

Curiosamente, quando vi esse escandalo, logo imaginei que teria algum bolsonarista envolvido. Todavia, então podemos quase afirmar que Americanas vende produtos roubados, pois não paga seus fornecedores?

Nelson

Os órgãos da mídia hegemônica, e seus comentaristas, defendem intransigentemente os interesses do povo brasileiro. Esta é a conclusão a que tu vais rapidamente chegar caso sintonizes apenas esses órgãos para buscar informações.

Porém, se isto é real, fica inevitável a pergunta. Por que tais órgãos e seus comentaristas não denunciaram mais este roubo, mais esta pilhagem feita em cima do povo brasileiro na privatização da Eletrobras?

Na verdade, não há surpresas no comportamento dessa mídia. Fernando Henrique Cardoso “pintou e bordou” entregando dúzias das nossas empresas estatais por valores aviltadíssimos e a grande mídia absolutamente nada divulgou nem denunciou.

    Zé Maria

    Isso aí, Nelson.
    A Mídia Venal
    se corrompe
    pelo Mercado.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FmIP96HXgAExtYI?format=jpg

A Transversalidade da Secretaria de Comunicação Social (SECOM) da
Presidência da República, sob o Deputado Paulo Pimenta (PT/RS).

https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1612869179933134859

Zé Maria

Agentes Econômicos Financiadores de Bolsonaro e afins:

https://twitter.com/ThiagoResiste/status/1613506698026618882

Zé Maria

Apesar das Falcatruas da 3G, a Bolsa subiu e o Dólar caiu,
porque o ‘Mercado’ ficou Bastante Empolgado com o
Adiamento da data do Pagamento do Reajuste do Salário
Mínimo, acima da Inflação.

Francisco

O que mais surpreendente é a bola de neve que veio crescendo ao longo de anos e ninguém percebeu que seriam atropelados por ela.

Caio Gurgel

Esse tubarão arruma um jeito de não perder o dinheiro dele, já os empregados tão na roça.
Me parece que já vão entrar com pedido de falência ou recuperação judicial.
Sempre quem se ferra são os cafés pequenos.
Mas me lembro do livro de autoajuda dele pela livraria sextante. Sempre vi esse livro como marketing pessoal. É tipo o livro do Olavo de Carvalho. Mas com assunto diferente.
O empreendedorismo não é esse mar de rosas que falam para vender cursos mil.
Embora o empreendedorismo desses ricaços seja bem diferente de nós pobres.
Acho que alguém roubou e não foi pouco.

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