Irã diz que Washington queima pontes

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Irã: Washington queima pontes

21/5/2010, Gareth. Porter, Asia Times Online [de Washington]
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LE21Ak01.html

Tradução de Caia Fittipaldi

Um rascunho de Resolução do Conselho de Segurança da ONU, com mais sanções contra o Irã, ocupou todas as manchetes, como resposta do governo Obama à proposta de troca de urânio por combustível para o reator iraniano, levada a bom termo por Brasil e Turquia. Mas a única resposta que implicará consequências graves veio do Departamento de Estado dos EUA na 2ª-feira, de que o governo Obama não aceitará qualquer tipo de entendimento com o Irã, a menos que o país desista completamente de enriquecer seu urânio.

Essa resposta veio acompanhada pela revelação de que o objetivo da proposta original dos EUA, no outono passado, era conseguir que o Irã suspendesse todo o programa de enriquecimento. Até ontem, o governo Obama jamais informara que exigia que o Irã suspendesse seu programa de enriquecimento. Ao contrário disso, o governo Obama sempre fez crer que desejasse alcançar amplo entendimento diplomático com o Irã, entendimento que cobrisse todas as questões que interessam aos dois países.

A ala linha-dura do governo, que descarta agora qualquer engajamento diplomático amplo com o Irã expõe afinal à luz do dia uma situação da qual muitos suspeitavam há muito tempo: que o debate dentro do governo Obama, ano passado, sobre aceitar ou não o programa de enriquecimento de urânio do Irã não passou de cortina de fumaça. Agora se vê que os que pregavam o ‘enriquecimento zero’ já haviam vencido a disputa no final do verão de 2009.

Philip Crowley, porta-voz do Departamento de Estado, disse na 2ª-feira que os EUA não negociarão com o Irã a proposta de o Irã enviar 1.200 kg de urânio baixo-enriquecido [ing. LEU, low-enriched uranium) para a Turquia, a ser trocado por 120 kg de combustível para o Reator de Pesquisas de Teerã, a menos que o Irã desista do objetivo mais amplo de seu programa nuclear e, especificamente, suspenda qualquer procedimento de enriquecimento de urânio. (…)

Crowley observou que o Irã manifestou disposição para discutir com “a comunidade internacional”, mas não sobre o programa nuclear. “Do nosso ponto de vista, a única razão para qualquer discussão é discutir o principal problema, i.e., o programa nuclear iraniano.”

Pela primeira vez Crowley revelou que a proposta original dos EUA, de troca de 1.200 kg de LEU por 120 kg de urânio enriquecido a cerca de 20% cerca de um ano depois “visava a alcançar objetivo mais amplo: levar o Irã a considerar as preocupações da comunidade internacional”.

E explicou que “o fato de que o Irã (…) continue a enriquecer urânio e não considera a possibilidade de cancelar seu programa de enriquecimento é, como se lê nas resoluções do Conselho de Segurança da ONU: “nossa principal preocupação””.

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Crowley sugeriu claramente que qualquer conversação com o Irã, depois de o Irã aceitar a proposta [dos EUA, ano passado], só visariam a por fim ao programa de enriquecimento de urânio e os EUA jamais cogitaram de discutir qualquer outra questão que haja entre EUA e Irã.

O problema é que, em outubro passado, a proposta de troca de urânio por combustível foi apresentada pelos EUA como “medida para construir confiança”, enquanto, alegadamente, ganhava-se tempo para construir diálogo mais amplo entre Irã e EUA. Acertada a troca, como então se disse, o governo Obama poderia argumentar com Israel, sob a premissa de que o Irã havia, pelo menos temporariamente, desistido de acumular capacidade militar, dado que transferira ao exterior a maior parte de seu urânio baixo-enriquecido.

Mohammed El-Baradei, então diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), declarou, dia 21/10, que o acordo de troca “poderia preparar o caminho para uma completa normalização de relações entre o Irã e a comunidade internacional”.

O presidente Mahmud Ahmadinejad do Irã argumentou publicamente que a proposta de troca apresentada pelos EUA em Viena aceitava implicitamente o direito de o Irã enriquecer seu urânio, mesmo que a proposta não o dissesse explicitadamente.

A história da proposta de troca mostra, contudo, que suas origem são interligadas com o objetivo de deter o enriquecimento de urânio no Irã.

O acordo de troca foi pensado por Gary Samore, principal conselheiro de Obama para proliferação nuclear. Em dezembro de 2008, Samore publicou artigo em coautoria com Bruce Reidel, da Brookings Institution, propondo que o governo Obama propusesse que o urânio baixo-enriquecido iraniano fosse enviado à Rússia para ser convertido em combustível para o reator em Bushehr, com o objetivo de “quebrar a capacidade militar” do Irã.

Ironicamente, essa formulação foi sugerida pelo próprio presidente Ahmadinejad, que sugeriu publicamente que o urânio iraniano poderia ser enviado a qualquer país que o enriquecesse e gerasse combustível para o Reator de Pesquisa de Teerã.

Samore simplesmente alterou o foco daquela proposta – do reator de Bushehr, para o Reator de Pesquisa de Teerã – e a coisa toda foi, assim, travestida como se fosse iniciativa do grupo chamado “Irã 6”, ou “o Sexteto”, para, na prática, retirar do Irã cerca de 80% de seu urânio baixo-enriquecido.

Samore era conhecido por ser duro opositor de qualquer programa de enriquecimento de urânio pelo Irã; privadamente, se sabe que várias vezes ele declarou-se convencido de que o Irã trabalhava para construir bombas atômicas. Publicamente, se mostrou pessimista quanto à possibilidade de o Irã aceitar qualquer proposta que implicasse pôr fim ao programa de enriquecimento, se os EUA não apresentassem, além da proposta, também alguma pressão militar consistente; essa ameaça-pressão, na opinião de Samore, poderia ser feita tanto pelos EUA quanto por Israel.

Antes de integrar-se à equipe de governo de Obama, Samore sugeriu que os EUA propusessem ao Irã levantar todas as sanções, garantissem que não forçariam qualquer golpe contra o governo dos aiatolás e garantissem a normalização das relações EUA-Irã, em troca de o Irã aceitar pôr fim ao programa de enriquecimento de urânio.

Nenhum regime iraniano, em nenhum caso, jamais aceitaria incluir a extinção de seu programa de enriquecimento de urânio, como item de acordo com os EUA – o que é evidentemente óbvio, dentre outros motivos porque o programa iraniano de enriquecimento de urânio é considerado uma das principais conquistas tecnológicas do país, motivo de orgulho dos iranianos e objeto de amplo apoio popular.

Mas os proponentes da opção “enriquecimento zero” tanto confiavam no sucesso de sua estratégia, que vazaram para a imprensa a informação de que o principal objetivo de todas as conversações com o Irã sempre fora acabar completamente com o programa de enriquecimento e ‘extrair’ do território iraniano todo o urânio baixo-enriquecido que lá houvesse. O jornal Washington Post noticiou, dia 22/10/2009, que funcionários do governo dos EUA, comentando a proposta de troca de LEU (low enriched uranium) por combustível, “destacaram que a troca seria só o primeiro passo num difícil processo para convencer o Irã a pôr fim às atividades de enriquecimento, e que aí estaria o objetivo básico do acordo.”

Agora, o governo Obama mudou de tática, não de objetivo. Dado que o Irã não desiste de exercer seu direito de enriquecer seu urânio, Obama (e Israel) endureceu (endureceram). As perspectivas futuras são sombrias: as tensões continuarão a subir, entre EUA e Irã, até o último dia do governo Obama.

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Comentários

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Jairo_Beraldo

Acordo com Irã criaria confiança, disse Obama a Lula em carta – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou em uma carta ao seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva que o acerto de troca de combustível nuclear com o Irã criaria “confiança” no mundo, segundo trechos do documento enviado há 15 dias, antes do acordo de Teerã, e obtidos pela Reuters nesta sexta-feira. A Reuters teve acesso a trechos da correspondência e comparou alguns de seus pontos com o acordo assinado na última segunda-feira. Nela, Obama retoma os termos do acordo que o Grupo de Viena havia proposto no ano passado, cujos principais elementos constam no acerto entre Brasil, Turquia e Irã. “Do nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano” de LEU (urânio levemente enriquecido na sigla em inglês), diz Obama, segundo trechos obtidos da carta.

dukrai

não se esqueçam de votar, o graeff passou por aqui dando nota negativa pra todo mundo rs
Ô Jairo, das poucas vezes que eu discordo de vc, votei negativo no seu comentário, não foi o troll não

Pepe Escobar: Irã, Sun Tzu e a Dominatrix | Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Irã diz que Washington queima pontes Do Asia Times […]

john

Se irã ,Síria é tão bom e democratico porque não vão morar lá,pq Lula não visitou a oposição, e os direitos Humanos,apoia regime patrocinador do terrorismo,um país que desobedece resoluções da ONU e IAEA, em 2009 .Tomará que Irã tenha o mesmo destino do Iraque em 80 e Síria em 2007.É um mal a mesmo no mundo.

Guilherme Scalzilli

O acordo com o Irã é uma vitória histórica da diplomacia brasileira, quaisquer que sejam seus desdobramentos. A mídia oposicionista sempre repetirá os jargões colonizados de sua antiga revolta contra o destaque internacional de Lula.
O governo de Barack Obama atua nos bastidores para destruir essa conquista. É uma questão de prestígio pessoal para Obama e Hillary Clinton, que foram desafiados pela teimosia de Lula. Mas trata-se também de uma necessidade estratégica: num planeta multipolarizado e estável, com vários focos de influência, Washington perde poder. E a independência do brasileiro não pode se transformar num exemplo para que outros líderes regionais dispensem a tutela da Casa Branca.
A paz não interessa aos EUA. E ninguém leva a sério os discursos pacifistas do maior agressor militar do planeta. Será fácil para os EUA bloquear a iniciativa brasileira, utilizando a submissão das potências aliadas na ONU ou atiçando os muitos radicais de variadas bandeiras, ávidos por um punhado de dólares. Mas alguma coisa rachou na hegemonia estadunidense, que já não era lá essas coisas.

Maria Dirce

Eles queimam eles mesmos. vivem assustados com qquer pacote nas ruas.

Luiz-AlphaPlus

A frase final do texto acima "As perspectivas futuras são sombrias: as tensões continuarão a subir, entre EUA e Irã, até o último dia do governo Obama", eu mudaria com certeza para "As perspectivas futuras são sombrias: as tensões continuarão a subir, entre EUA e Irã, até o último dia de existência dos EUA", porque não importa se há mudança de governo nos EUA, o objetivo deles não mudará.

Com certeza, depois dessa "conquista" conjunta do Brasil e da Turquia, os EUA tentarão ao máximo tornar este acordo totalmente inútil, mas agora com a clara intenção de mostrar ao mundo que um Brasil e uma Turquia NÃO podem ter forças para fazer acordos que contrariem o desejo dos EUA de dominar o mundo e de fazer realizar os desejos militares racistas de Israel.

dukrai

O Tratado de Não Proliferação concorda que os seus membros não nucleares enriqueçam urânio até 20% mas Israel exige que o Irã tenha no máximo urânio enriquecido a 3,5%, aliás, melhor seria não ter nenhum. O Irã tem a 2ª maior reserva de petróleo do mundo, uma economia forte e com um programa de diversificação exclusiva no Oriente Médio, um regime de representação popular tão democrático quanto Israel, por mais que discordemos dos seus caracteres religiosos, sionista/racista ou islâmico.
Por estes motivos e por ter uma população sem conflitos étnicos ou internos, a não ser os fomentados do exterior, é o único país na região que pode ameaçar Israel como potência regional a médio prazo, e isto que os EUA e os mandantes da sua política externa, Israel, querem inviabilizar, debilitando o seu desenvolvimento tecnológico e científico nas suas áreas de ponta, enfraquecer a sua capacidade econômica, financeira e de defesa e possibilitar uma alternância eleitoral mais palatável ou um golpe interno que destrua o regime, ou se preciso for, estabelecer uma escalada de sanções impossíveis de serem aceitas sem abrir mão de sua soberania até a "legitimação" de um ataque preventivo por parte de Israel.

Ronaldo Irion

O IRÂ é o mais explícita e notória vítima de BULLYING NUCLEAR, praticado pela (pre)potência do norte. Agora, com esta cartada do Lula, o Império teve que se desnudar: praticamente confessaram que estão determinados a invadir o Irã, e por isso, penso que a única chance da provável vítima é conseguir desenvolver rapidamente algum armamento nuclear, como fez a Coréia do Norte. Caso contrário, teremos a infelicidade de testemunhar, impotentes, mais um Iraque…

Allan Erick

Eu sempre defendi que a sobrevivência do Iran depende da construção da primeira arma nuclear Persa, um elemento de dissuasão importante contra o eixo do mal(Israel, EUA e Inglaterra)

valdir

Prezado Azenha: Nos anos de 1850 a 1910 a Persia – Iran atual – era literalmente explorao pela Russia, Japão,França e Inglaterra. esses paises tomavam conta da alfandega, dos correios , emissão de passaportes e outros elementos mais que fazem a vida de uma nação.Mais ou menos por volta de 1909 a 1910 o tesoureiro geral do Iran, mais ou menos o ministro da fazenda hoje, era um cidadão americano chamado MORGAN SCHUSTER.Parece que o senhor Obama que voltar a 100 anos atrás e mandar naquele pais como os estados unidos mandaram no passado.Sugiro ao Azenha que informe melhor aos seus leitores sobre aquele período que a turma de hoje parece querer reviver.Um abraço

Jairo_Beraldo

Claro que é mais um "joguete" do Irã para ganhar tempo. Colocar uma polemica no ar para que atrasem as sanções, e os aiatolás façam a bomba. Estou com a paciencia esgotada com o cinismo EEUU/Israel. Eles não conseguem enganar mais nem a si mesmos.

    Janes Rodriguez

    Porque, afinal, somente Israel, EUA, Russia, Paquistão, India – todos vizinhos do Irã, podem ter bombas nucleares. O que mais dá náuseas é o cinismo e a hipocrisia dos governos desses países.

FatimaBahia

Pouco tempo após e eleição de Obama e toda a empolgação que se seguiu,conhecei um americano que tinha acabado de chegar e tinha sido membro ativo na campanha dele.Quando abordei o assunto com animação ele me falou em outras palavras,que não estava mais feliz com isso e que não acreditava mais no Obama.Acho que preferi não dar valor a isso e ele também parecia extremamente decepcionado e sem vontade de falar sobre o cara de lá,hoje começo a entender o que ele sentiu.
Até a pouco tempo eu ainda achava que o Obama estava em situação semelhante ao Lula,com imensas pressões pra governar e dificuldades pra implementar o que prometia,mas não vejo mais isso e o que parece é que a história se repete:o presidente é só um fantoche e quem realmente governa é o vice(qdo era Bush) e no caso atual,a secretaria Hillary.
É uma pena!

    Jairo_Beraldo

    O presidente dos EEUU, não é fantache de vice e nem de secret´rios de estado, mas sim de Israel, o bárbaro!

Fernando Frota

O gozado é que Israel pensa que pode se manter na atual posição de hegemonia incontrastável no Oriente Médio, perpétuamente e de modo impositivo pelas armas. Isso em um mundo em tão rápida transformação. Nem com a destruição generalizada e indiscriminada isso poderia acontecer. Israel vive somente para o hoje e traz os EUA consigo para abismos insondáveis.

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